A Galinha Atropelada
Raul Santos
Foi Assim:
Na década de Oitenta, meu Pai vendeu a farmácia para Antônio Denti, recebeu três cheques, mas o comprador abriu falência e o pagamento da farmácia desapareceu.
Daí, meu Pai entrou no ramo das confecções, mas, apesar da experiência nos negócios, por incrível que pareça, confiava cegamente em algumas pessoas, ao ponto de entregar várias peças de mercadoria, sem ao menos uma Nota Promissória assinada.
Eu tive a segunda Autoescola de Eunápolis, e, nas horas vagas, saía em campo para fazer cobranças.
Numa dessas oportunidades, fui a Itapebi tentar receber das mãos de uma mulher, mas o próprio pai dela me desestimulou.
Desci a ladeira para a BR-101 e, enquanto esperava o ônibus para Eunápolis, chegou uma garotinha com uma galinha morta na mão, e disse:
– Olha, Mãe, a galinha que o carro matou!
Ao que a mãe respondeu:
– Deixa essa porcaria aí, Menina!
A garota soltou a ave dentro do barraco e saiu. Instantes depois, a mãe pegou a galinha morta, examinou e soltou junto à porta da cozinha, dizendo:
– Essa porcaria não presta mais não!
Mais alguns instantes, pegou novamente a ave pela perna, examinou, jogou para dentro da cozinha, e disse:
– Vou jogar fora essa imundícia!
Daí, pensei:
– Jogar fora, sim, depois que passar pela panela!
BR-101, 08 de outubro de 2016.