* - As Dúvidas Do Joãozinho

AS DÚVIDAS DO JOÃOZINHO

Raul Santos

Joãozinho, perguntador,

Perguntava até demais,

Uma pergunta após outra,

Azucrinava seus pais,

Qualquer coisa que ele via,

Era sempre essa agonia,

Não descansava jamais.

Um certo dia, na escola,

De governo ouviu falar,

Não sabendo o que seria,

Ao seu pai foi perguntar,

O papai que já sabia,

Desconversar, não podia,

Começou a lhe explicar:

“– Prefeito no Município

E governador no Estado,

Presidente da Nação,

Majestade no Reinado,

Nosso lar, pra ser feliz,

A sua mãe é quem diz

Como ele é governado!...”

No outro dia, vem Joãozinho

Para ao seu pai perguntar

O que é Poder Econômico,

E ele passou a explicar:

“– Sua mãe é quem governa

E para não ter baderna,

Eu tenho que financiar!...”

Outra vez, voltou Joãozinho,

Pra de novo perguntar

Se o seu pai, por acaso,

Poderia lhe tirar

Outra dúvida, de novo,

Desta vez, o que era povo,

E o pai voltou a falar:

“– Filho, sua mãe é o Governo

Que dá diretriz no lar,

Eu sou o Poder Econômico

Pronto pra financiar,

Nossa empregada executa

As tarefas, nessa luta,

Ela é o Povo a trabalhar!...”

Mais uma vez, vem Joãozinho,

Sempre querendo obter

Respostas pra suas perguntas,

Desta vez para saber

De maneira bem sutil,

O Futuro do Brasil,

O que poderia ser?

De fato, o pai respondeu,

Dando a sua opinião:

“– Escute o que vou dizer,

Preste bastante atenção,

Se militar ou civil,

O Futuro do Brasil

São você e o seu irmão!...”

Para o conceito infantil,

“Mãe dá determinação,

Pai é o Poder Econômico,

Paga as contas, compra o pão,

Nossa empregada é o povo

E o jovem, por ser mais novo,

É o Futuro da Nação.”

Em certa noite, o Joãozinho,

Assustou-se, muito aflito,

Percebendo no seu quarto

Um cheiro meio esquisito,

No claro, viu o irmãozinho,

No berço, todo sujinho,

E, pensou: “– Está bonito!...”

Foi pedir ajuda ao pai,

Mas só viu a mãe, dormindo,

E, para não despertá-la,

De mansinho foi saindo,

E pensou que a empregada

O tirava da enrascada

E pra o quarto foi seguindo.

Abriu a porta do quarto

Devagar e bem atento,

Viu seu pai com a empregada

Ofegante e suarento,

Ele, um passo recuou

E na mente se formou

Bem depressa um pensamento:

“– Enquanto o Governo dorme

Um sono bom, sossegado,

Deixa o Poder Econômico

Traçar o Povo, coitado,

E o Futuro do Brasil

Escorre pelo funil

E fica todo cagado!...”

Um dia, a mãe do Joãozinho

Foi ao shoping, passear,

Mas, nesse dia, uma amiga

Foi também lhe visitar,

Joãozinho não viu que o pai,

De surpresa, quase cai,

Quando ela foi se sentar.

Olhos muito arregalados,

Quando as pernas encruzou,

No colo do pai, Joãozinho,

Rapidamente, sentou,

Vendo aquela maravilha,

O pai não viu a armadilha

Que muito esperta ela armou.

Conversa vai, papo vem,

Mais sensual ela ficava,

Joãozinho, muito curioso,

Pra aquela beleza olhava,

A qualquer instante, ouvi-lo

Perguntar o que era aquilo

O pai, nervoso, pensava.

Pensamentos embotados,

O suor frio escorrendo,

Estremeceu quando o filho

A pergunta foi fazendo:

“– Papai, me diz o que é

Que está ficando de pé

E está aqui me suspendendo?...”