* - O Salvador Inesperado

O Salvador Inesperado

Do Espírito: Maria Dolores

Psicografia de: Chico Xavier

Era uma Jovem Artista diferente,

Contava apenas quinze primaveras,

Mas atraia muita gente:

Interesse, atenção,

Bondade, simpatia,

Sabia interpretar

Mensagens de alegria

E enriquecer canções

Que o Público aplaudia

Em Palmas e Ovações.

Mas, em casa, essa Jovem

Tomava outra figura,

Parecia uma Fera Caprichosa:

Trazia externamente

A beleza da Rosa,

E, por dentro de si,

Todo um Arsenal de Espinhos.

O Pai, viúvo e só, notava isso,

E, ao ver a filha única, vaidosa,

Ele, humilde Operário,

Agarrado ao serviço

Começou a beber,

Buscando o esquecimento,

Lamentava a viuvez,

A Dor e o Desalento.

E, ao estragar-se um dia,

Ouviu a Filha, em dura Rebeldia,

A expulsa-lo do Lar:

“Vá-se embora daqui,

Disse a Filha, a gritar,

O Senhor já não mora nesta casa,

Um Pai bêbado é nódoa para mim,

A Tolerância sempre chega ao fim,

O seu vício me arrasa,

Saia, saia daqui,

O seu lugar é na Rua.

O Velho Pai mal pôde levantar-se,

Mas ergueu, e recua,

E vai cambaleando na Calçada,

Enquanto a Filha tranca a Porta

E vai dormir mal humorada.

Seis anos se passaram sobre a cena,

A Menina fizera-se famosa,

Num Circo de alto luxo, ela domina,

Parecia, em trapézio,

Uma Estrela Divina,

Ou Borboleta Humana

Bailando soberana.

Era a dona dos Prêmios, e era vista

Por beleza sem par,

E Modelo de Artista.

Veio uma grande noite,

Aplausos, alegria,

A Plateia delira

E a Multidão, das palmas,

E o Número da Moça

É quase que magia:

Há espanto nos olhos,

Êxtase nas almas,

O Trapézio voava,

Ela saltava e ria,

De corpo seminu,

Em leve fantasia.

Nisso, ocorre um Imprevisto:

Ante a Plateia atenta,

Surge um Curto-Circuito

E faísca violenta

Ateia fogo em cima

E arrasam-se estruturas.

A Jovem Trapezista

Atrapalha-se e agarra

Uma viga de amarra

Que fica nas alturas.

Ela, a Estrela da Equipe,

A Moça Bela e Forte,

Grita e roga socorro,

Ao conhecer-se em presença da Morte.

O Incêndio se desata,

O Circo se esvazia,

A Jovem grita!

Grita, e ninguém a escuta!

A Multidão, de longe, apenas segue

Os detalhes cruéis

Daquela imensa luta.

Mas, um Velho Palhaço,

Um Canastrão de Arena,

Vara o Fogo e se eleva em Corda Frágil,

Eis que o Povo lhe exalta

A coragem serena.

Certa viga ao cair

Espanca-lhe a Cabeça,

Ele, porém, não para,

E, ante a Fumaça espessa,

Alcança a Moça aflita,

E, tomando-a nos braços,

Desce devagarinho,

Procurando caminho

Nos bancos chamejantes, em pedaços,

Mas, ao depor no chão

A Moça linda e salva,

Ela sorri feliz,

O Povo aplaude, prazenteiro,

Entretanto, cai, exausto

O Truão do Picadeiro.

Tomba, mostrando a boca

Em larga flor de sangue,

Era uma chaga só

Aquele corpo exangue;

Arfa-lhe o Peito enorme,

A Morte se aproxima,

Alguém chega e o reanima:

É um velho amigo que reaparecera

E que lhe arranca a Máscara de Cera.

O Povo se aglomera.

Ante a Cera que cai,

A Moça empalidece,

Ajoelha-se e grita, como em Prece:

“Meu Deus, ele é Meu Pai!”

E, Ele, nela fixando o olhar,

Que se despede, e brilha,

Num resto de Calor e de Ternura,

Tão somente murmura:

Deus te guarde e abençoe,

Filha do Coração!

Meu Amor, Minha Filha!”