* - Razão do Irracional

Razão do Irracional

Vou jogar a dor pro alto, agora, e vou viver,

Vou rasgar a identidade mesmo sem pensar

Que o contexto social por certo vai querer

Ver meu escalpo pendurado lá na feira... Azar!...

Vou comer a carne humana, qual um canibal,

Vou cantar qualquer mulher que passe em minha frente,

Mas só vai valer se for mulher do general,

Ou melhor, ainda, se ela for do presidente.

Vou jogar a bomba atômica em Moscou e Pequim,

Só pra ver o gládio russo-americano-chin,

Nas notícias de jornal, rádio e televisão,

Vou pra ilha tirar férias, lá no Bananal,

E, só então, vou refletir tal qual o irracional:

“– Como é doce não se possuir mais a razão!...”

Raul Santos

Porto Seguro/BA, outubro de 1988.