História

Ramsés II 

(Reinou de 1301-1234 a.C.)

Sua majestade massacrou todos eles; caíram diante de seu cavalo, e sua majestade estava sozinha, ninguém com ele.

Inscrição nas paredes do templo de Luxor

Ramsés II foi o 3º faraó da 19ª dinastia. Reinou durante 67 anos (1301-1234)

Ramsés “Criado por Rê”, acrescentado de um epíteto que completa o nome: Me(r)y – Amon, “o amado do Amon” (o deus tebano). Elevado a rei, ele mesmo seleciona um nome de entronização, que o colocará sob a proteção de Rê. Ouser-maât-Rê, “Rê é poderoso em equidade”, também acompanhado de um epíteto: Stetep-n-Rê, “o eleito de Rê”.

Seu contato direto com os homens, sua curiosidade por desvendar a verdade íntima dos fatos, sua inquietude por conhecer sua missão e o jogo de interesses que agitavam à sua volta são traços marcantes de sua personalidade.

Com 25 anos tinha três “esposas reais” e numerosas concubinas que lhe deram 111 filhos e 50 filhas.

Robusto, enérgico, corajoso, Ramsés II pode encetar e levar a bom término, durante dois terços de século, as guerras, negociações, tratados, construções e empresas de todo o gênero que tanto contribuem a dar-lhe fama imorredoura.  (1)

(1) Coleção os Titãs em 10 volumes





Salomão

ca.1000-928 a.C.

Bendito seja o Senhor teu Deus, que teve agrado em ti, para te pôr no trono de Israel; porque o Senhor ama a Israel para sempre, por isso te estabeleceu rei, para fazeres juízo e justiça.

A rainha de Sabá para Salomão, 1 Reis 10:9

Muitas mulheres teve Salomão; a Bíblia fala em 700 esposas e 300 concubinas.

História. Quando dormia profundamente em Jerusalém, apareceu-lhe o senhor em sonho:

"Naquela noite, o SENHOR Deus apareceu num sonho a Salomão e perguntou: — O que você quer que eu lhe dê? Ele respondeu: — Tu sempre mostraste grande amor por Davi, meu pai, teu servo, e ele era bom, fiel e honesto para contigo. Tu continuaste a mostrar a ele o teu grande e constante amor e lhe deste um filho que hoje governa no lugar dele. Ó SENHOR Deus, tu deixaste que eu ficasse como rei no lugar do meu pai, embora eu seja muito jovem e não saiba governar. Aqui estou eu no meio do povo que escolheste para ser teu, um povo que é tão numeroso, que nem pode ser contado. Portanto, dá-me sabedoria para que eu possa governar o teu povo com justiça e saber a diferença entre o bem e o mal. Se não for assim, como é que eu poderei governar este teu grande povo? Deus gostou de Salomão ter pedido isso e disse: — Já que você pediu sabedoria para governar com justiça, em vez de pedir vida longa, ou riquezas, ou a morte dos seus inimigos, eu darei o que você pediu. Darei a você sabedoria e inteligência, como ninguém teve antes de você, nem terá depois". (1Reis 3:5-12) (1)Davi e Salomão foram governantes do reino israelita no século X a.C. no ápice de seu esplendor, poder e riqueza. Davi uniu as tribos israelitas e fez de Jerusalém a sua capital, enquanto seu filho Salomão foi o fundador do Templo de Jerusalém, o rei cujo mito transcendeu as informações básicas e exíguas da história bíblica para encampar habilidades extraordinárias como um sábio, poeta, amante e domador da natureza. (1)

Davi e Salomão foram governantes do reino israelita no século X a.C. no ápice de seu esplendor, poder e riqueza. Davi uniu as tribos israelitas e fez de Jerusalém a sua capital, enquanto seu filho Salomão foi o fundador do Templo de Jerusalém, o rei cujo mito transcendeu as informações básicas e exíguas da história bíblica para encampar habilidades extraordinárias como um sábio, poeta, amante e domador da natureza. (2)

(1) Coleção os Titãs em 10 volumes

(2) MONTEFIORE, Simon Sebag. Titãs da história


O Buda

ca. 563-483 a.C.

— Você é um ser celestial ou um deus?

— Não; não sou um ser celestial nem um deus.

— Bem, então, será que você é algum tipo de mágico ou mago?

— Não sou nem mágico nem mago.

— Você é um homem?

— Também não sou um homem.

— Bem, meu amigo, então, afinal, quem você é?

— Eu sou um Desperto.

Sidarta Gautama, o Buda, indagado
na estrada após sua iluminação

Os ensinamentos de benevolência, tolerância e compaixão do Buda têm um apelo universal que se estende muito além daqueles que seguem expressamente o budismo. 

Sidarta Gautama (o título Buda – “o iluminado”, “aquele que sabe a verdade”, “aquele que despertou” – foi conferido a ele mais tarde). Seu nome próprio, que significa “aquele que realiza todos os desejos”, “aquele cujo objetivo é realizado”, era uma alusão às previsões sacerdotais de que ele alcançaria a grandeza como governante ou como professor de religião.

Posteriormente, ao avistar um sereno e sorridente andarilho de cabeça raspada e manto amarelo, cujo rosto irradiava paz profunda e dignidade, Gautama fez a “Grande Renúncia”, abandonando o luxo principesco na esperança que uma vida religiosa austera pudesse trazer uma maior realização espiritual. Depois de olhar pela última vez sua bela esposa e o filho recém-nascido adormecidos, ele saiu do palácio na calada da noite para abraçar a vida de asceta errante.

A busca de Gautama pela iluminação espiritual levou-o a dois renomados sábios e filósofos, mas quando suas habilidades superaram a de seus tutores, ele recusou a proposta de que se tornassem seus discípulos. Em vez disso, acompanhado por cinco ascetas, Gautama se retirou para o vilarejo de Uruvela, onde passou seis anos tentando alcançar seu objetivo supremo e derradeiro, o nirvana – o fim do sofrimento. O jejum e a negação, no entanto, mostraram-se pouco recompensadores. Com braços e pernas “parecendo trepadeiras ressequidas” e “nádegas feito um casco de búfalo”, Gautama formulou outro de seus princípios fundamentais: o caminho para a iluminação está em uma vida de moderação – o “Caminho do meio”, a vida equilibrada e disciplinada. Os brâmanes ascetas ficaram tão escandalizados com esse conceito que abandonaram Gautama. Meditando em total solidão, Sidarta, então com 35 anos, encontrou uma enorme figueira, e durante 49 dias permaneceu sentado de pernas cruzadas sob a árvore Bodhi, transcendendo todos os estágios da mente até atingir a iluminação. Enquanto passava as vigílias da noite, ele lutou contra o demônio e triunfou, viu todas as suas próprias vidas passadas e todas as vidas passadas e futuras de todo o mundo, e com sua alma purificada emergiu como o Buda: “Minha mente foi emancipada […] a escuridão foi dissipada, a luz surgiu”.

O Buda prontamente converteu os cinco ascetas e passou o resto da vida ensinando o caminho para a iluminação. Ele treinou seus seguidores para converter outros, e sua comunidade de monges (o título pelo qual o Buda se dirigia a seus discípulos) floresceu. Pressionado por seguidores ávidos, mais tarde instituiu uma ordem de freiras. Professor incomparável, o Buda entendia instintivamente a capacidade de cada aluno. Quando, antes de morrer, perguntou a seus discípulos se eles tinham alguma dúvida que gostariam de esclarecer, nenhum deles o questionou. Os que o procuravam determinados a se opor a ele acabavam se convertendo. Quando até mesmo um famoso assassino se tornou monge, os adversários do Buda o acusaram de ser uma espécie de mago que tinha na manga algum “truque sedutor”.

Aos oitenta anos, o Buda anunciou sua intenção de morrer e o fez logo depois de ter comido um prato de carne de porco preparado por um seguidor leigo. Apesar dos pedidos de seu discípulo mais íntimo, Ananda, ele se recusou a nomear um sucessor. Antidogmático até o fim, o Buda afirmava que seus ensinamentos deveriam ser tratados como um conjunto de princípios racionais que cada pessoa deveria aplicar por si própria. Descansando em um sofá – que em breve seria seu leito de morte – colocado entre duas árvores em um parque, ele instruiu seus discípulos a deixar que a verdade que é o dharma (ordem natural) “seja seu mestre quando eu partir”. (1)

(1) MONTEFIORE, Simon Sebag. Titãs da história




Platão

ca.428-347 a.C.

Coragem é saber o que não temer.
Platão

Pupilo de Sócrates e professor de Aristóteles, Platão demonstrou em seu pensamento tamanhas perspicácia e originalidade que ainda hoje permanece sendo a segunda figura mais importante do formidável triunvirato que lançou as bases do pensamento ocidental.

Nascido em uma família ateniense nobre e rica, Platão descendia de uma linhagem que remontava aos últimos reis de Atenas. Discípulo e fervoroso admirador do plebeu Sócrates, cuja recusa em se sujeitar às regras e abrandar suas ideias provocou seu suicídio forçado, sob a acusação de blasfemar contra os deuses e corromper a juventude, em 399 a.C.

Desapontado com a demagógica democracia de Atenas, Platão viajou para o exterior, foi para a Itália e para Siracusa. Em seu retorno a Atenas, fundou em 387 a.C. a Academia, instituição que formou os maiores pensadores da geração seguinte, da qual Aristóteles foi a estrela mais brilhante. Lecionando na Academia até sua morte, quarenta anos depois, Platão escreveu suas maiores obras, incluindo os muitos diálogos socráticos protagonizados por seu inspirador tutor, e sua monumental A República, na qual descreve em linhas gerais o Estado ideal.

Já se disse que a filosofia ocidental existe como notas de rodapé para Platão. Racionalista extremo, Platão era um defensor do filósofo-governante de A República, que reinaria apenas segundo a razão. Mas, como a experiência sugeria que nenhum homem era capaz de tamanho comedimento, ele propôs que as leis deveriam circunscrever rigidamente as ações de um governante. Platão adotou as ideias de Sócrates ao argumentar que o bem é um conceito ou “forma” imutável e fundamental. Embora a opinião possa mudar, Platão teorizou, o conhecimento é eterno e invariável; a bondade é objetiva, inextricavelmente ligada à justiça e ao bem-estar pessoal.

Platão foi o primeiro pensador relevante a expressar a ideia de que as funções superiores da mente (psyche) estão, ou deveriam estar, no controle das paixões e apetites básicos do corpo. Sua crença de que a alma é uma prisioneira dentro do corpo foi contestada pela visão de Aristóteles de que ela é uma parte inerente do corpo. No entanto, apesar dessas divergências filosóficas, seu discípulo Aristóteles estimava Platão, para quem era “extrema blasfêmia até mesmo louvar” tamanho gênio. (1)

 (1) MONTEFIORE, Simon Sebag. Titãs da história



Galileu

1564-1642

Não me sinto obrigado a acreditar que o próprio Deus que nos dotou de sentidos, de discurso e de intelecto, tenha querido, postergando o uso destes, dar-nos por outro meio os conhecimentos que podemos conseguir por meio deles.

Galileu Galilei, “Carta à senhora Cristina de Lorena,
grã-duquesa da Toscana” (1615)

Galileu Galilei ajudou a transformar a maneira como as pessoas olhavam para o mundo – e o universo além. Físico, matemático e astrônomo, Galileu fez descobertas fundamentais acerca da natureza do movimento e do movimento dos planetas. Galileu percebeu a importância da experimentação e defendeu a ideia que a matemática era a melhor forma de compreender o mundo físico. Sua insistência na noção de que o universo deveria ser analisado por meio da razão e de evidências o colocou em rota de colisão com a Igreja, mas suas descobertas duraram mais que a Inquisição que procurou sufocá-las.

Matriculou-se, em 1581, na Universidade para estudar medicina. Com a desaprovação de seu pai, Galileu passou a maior parte do tempo debruçado sobre a ciência dos números e abandonou a universidade em 1585, sem obter o diploma.

Continuou a estudar matemática nos quatro anos seguintes, ganhando dinheiro com aulas particulares até ser nomeado para uma cátedra universitária em 1589. Foi durante esse período que supostamente demonstrou sua teoria da velocidade de objetos em queda, largando pesos do alto da torre inclinada de Pisa.

Suas ideias pouco ortodoxas renderam-lhe a reprovação por parte das autoridades universitárias e, em 1592, Galileu foi obrigado a se mudar para Pádua, onde lecionou até 1610. Em apuros por causa das exigências financeiras de sua família após a morte do pai, ganhou dinheiro extra vendendo bússolas matemáticas caseiras, enquanto continuava a dar aulas para alunos particulares.

Em 1609, ouviu falar de um estranho dispositivo inventado nos Países Baixos, um instrumento composto de duas lentes em um tubo e capaz de fazer com que objetos distantes parecessem próximos. Era o telescópio, e Galileu imediatamente pôs mãos à obra para construir o seu próprio. Um ano depois já estava investigando os céus com um aparelho que oferecia uma ampliação aparente de vinte vezes. Foi um ponto de inflexão na sua carreira.

Munido de seu telescópio, Galileu descobriu as quatro luas de Júpiter e notou que suas fases indicavam que elas orbitavam em torno de Júpiter. Essa evidência abalou o modelo ptolomaico do Universo, aprovado pela Igreja – um sistema cosmológico geocêntrico, de acordo com o qual a Terra está no centro do Universo e os outros corpos celestes, planetas e estrelas, descrevem órbitas ao seu redor. Galileu também viu estrelas que eram invisíveis a olho nu. Imediatamente publicou suas descobertas em um livreto dedicado a um de seus ilustres alunos, Cosimo II de Médici, grão-duque de Florença. Como recompensa, Cosimo levou-o de volta à Toscana em triunfo.

Agora com maior liberdade financeira, Galileu pôde dar prosseguimento a suas investigações em ritmo acelerado. Estudou os anéis de Saturno e descobriu que Vênus, assim como a Lua, passava por fases – indicação de que se movia em torno do Sol. Em virtude dessas descobertas ele se engajou com a teoria – proposta por Nicolau Copérnico um século antes – que era o Sol, e não a Terra, que estava no centro do Universo.

Flertar com o conceito de heliocentrismo coperniciano era perigoso para Galileu, e por volta de 1613 isso fez com que ele atraísse a atenção da Inquisição. Ele viajou a Roma para defender o modelo heliocêntrico de Copérnico, mas foi silenciado e, em 1616, advertido explicitamente a não divulgar as ideias de Copérnico como teoria verdadeira.

Em 1632, sentiu-se incapaz de manter em silêncio o copernicanismo e publicou seu Diálogo sobre os grandes sistemas do Universo, que reuniu todas as principais linhas de pensamento sobre a natureza do Universo e as discutiu por meio da boca de vários personagens fictícios.

Galileu foi declarado suspeito de heresia e arrastado para Roma no ano seguinte de modo a se explicar para a Inquisição; argumentou que obtivera permissão eclesiástica para discutir o copernicanismo de maneira hipotética. Infelizmente, não obteve permissão para ridicularizar o apego papal a argumentos mais antigos, o que ele fizera com bastante desdém. A Inquisição condenou-o à prisão perpétua.

Felizmente para Galileu, seu aprisionamento equivalia a pouco mais que o exílio interno que o restringia a sua casa nas colinas da Toscana, onde ele se viu livre para continuar seu trabalho de uma forma mais branda e na surdina. Embora estivesse ficando cego, continuou estudando, concentrando-se na natureza e na força dos materiais e contrabandeando para fora da Itália outro livro [Discursos e demonstrações matemáticas sobre duas novas ciências], que foi publicado na Holanda em 1638. Morreu quatro anos depois, aos 77 anos. (1)

(1) MONTEFIORE, Simon Sebag. Titãs da história


 


Abraham Lincoln

1809-1865

Todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão, que esta nação com a graça de Deus venha a gerar uma nova liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da Terra.

Discurso de Lincoln na inauguração do cemitério de Gettysburg (19 de novembro de 1863)

Nasceu em Kentucky. O pai morreu quando ele tinha 10 anos de idade. Para ajudar a sua mãe foi, sucessivamente, pastor, lenhador, barqueiro e, por fim, fabricante de travessas e palissadas, donde lhe veio a alcunha de Rail-Splitter, que conservou depois. Mais tarde fez-se condutor de jangadas; nas horas de descanso lia quantos jornais e revistas baratas podia adquirir. Agrimensor, mercedário, professor de crianças e advogado.

Os seus concidadãos elegeram-no para a legislação de Illinois, tornando-se em breve chefe dos Whig. Sua oposição à guerra de México e sua fervorosa campanha em prol do abolicionismo deram-lhe fama; em 1858 era eleito senador, e em 1860, Presidente. Reeleito em 1864 conduz a guerra que, em 1/04/1865, termina com a vitória de Grant sobre Lee.

Acabada a luta, Lincoln pensa unicamente em apagar rumores, suavizar feridas, acalmar os ânimos e fortalecer a União, iniciando um futuro de prosperidade e de grandeza. A bala assassina de um fanático escravagista do sul, em abril de 1865, põem tudo a perder. (1) 

A liderança de Lincoln talvez tenha, em última análise, mantido unidos os estados do país, mas sua eleição foi o catalisador da divisão da nação. Em 1858, Lincoln fez uma declaração famosa: “Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir. Acredito que o governo não pode manter [o país] permanentemente metade escravocrata e metade livre”. A preferência de Lincoln pela liberdade era bem conhecida, e mesmo antes de ele assumir a presidência, em 1861, sete estados do sul declararam-se uma nova nação – os Estados Confederados da América. Respeitando a Constituição, Lincoln não abriu hostilidades – foram os Confederados que iniciaram a guerra civil quando dispararam contra o forte Sumter –, mas, recusando-se a aprovar uma secessão permanente, ele aferrou-se com firmeza a sua resolução: a União não seria rachada.

Lincoln queria salvar a União em nome da unidade do país e para preservar um ideal de autogoverno democrático que ele considerava um exemplo para o mundo. Em seu discurso de Gettysburg, em 1863, Lincoln vinculou a nação “concebida na liberdade e baseada no princípio de que todos os homens foram criados iguais” aos princípios da democracia e da igualdade sobre os quais fora fundada em 1776: “esta nação”, proclamou ele, assistiria “à renascença da liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da Terra”. Lincoln reafirmou um sonho ideal de nação e sua identidade que perdura até hoje.

A liderança de Lincoln em tempo de guerra garantiu a vitória da União.

Baleado na parte de trás da cabeça por um tiro disparado pelo radical sulista John Wilkes Booth enquanto assistia a uma peça de teatro com sua esposa Mary, em 14 de abril de 1865, Lincoln tornou-se o primeiro presidente dos Estados Unidos a ser assassinado no exercício do cargo. Alguma confusão envolve as palavras ditas por John Stanton, o secretário de Guerra, enquanto Lincoln dava seu último suspiro. Mas a bem da verdade Lincoln pertence “aos anjos” e “às eras”. (2)

 (1) Coleção os Titãs em 10 volumes

(2) MONTEFIORE, Simon Sebag. Titãs da história







Pasteur

1822-1895

Não existem duas ciências: há a ciência e a aplicação da ciência; estas duas estão tão interligadas quanto o fruto à árvore.

Louis Pasteur

O microbiologista francês Louis Pasteur foi um cientista cujos diversificados e inovadores estudos contribuíram enormemente para o combate a doenças em humanos e animais. Foi dele a maior parte do trabalho pioneiro no campo da imunologia, produzindo, principalmente, a primeira vacina contra a raiva. Suas investigações sobre os microrganismos que causam a deterioração dos alimentos tiveram fundamental importância para as indústrias francesa e britânica, ao passo que o processo de pasteurização que ele desenvolveu ainda é extremamente importante para preservar alimentos e prevenir doenças.

Pasteur veio de uma família de curtidores de couro. Quando criança, foi um artista entusiasmado e talentoso, com gosto especial pela pintura, mas estava claro para seus professores que ele era muito capaz em termos acadêmicos. Em 1843, foi admitido na escola de formação parisiense da École Normale Supérieure. Tornou-se mestre em ciências em 1845, e em 1847 apresentou uma tese sobre cristalografia que lhe valeu um doutorado.

Com uma formação acadêmica de prestígio e algumas pesquisas arrojadas e inovadoras sobre química e física no currículo, Pasteur obteve uma cátedra na faculdade de ciências da Universidade de Estrasburgo, onde lecionou química. Lá conheceu Marie Laurent, a filha do reitor da universidade; eles se casaram em 1849 e tiveram cinco filhos, dois dos quais viveram além da infância.

Depois de seis anos em Estrasburgo, Pasteur mudou-se para Lille. Ele mantinha a firme concepção de que os aspectos teóricos e práticos da ciência deveriam atuar lado a lado, por isso começou a dar aulas noturnas para jovens trabalhadores da cidade, levando seus estudantes regulares para visitas às fábricas dos arredores de Lille. E também começou a estudar o processo de fermentação; uma de suas primeiras realizações, em 1857, foi mostrar que a levedura poderia se reproduzir na ausência de oxigênio. Isso ficou conhecido como o efeito Pasteur.

Em 1857, Pasteur estava de volta à École Normale Supérieure, onde deu continuidade a sua pesquisa sobre fermentação e demonstrou com um rigor experimental incomum que o processo era impulsionado pela atividade de organismos diminutos. Em 1867, o imperador francês Napoleão III eximiu Pasteur de seus deveres de magistério e lhe concedeu um laboratório de pesquisa. Com nova liberdade de estudos, Pasteur começou a resolver, de uma vez por todas, o grande debate científico sobre a geração espontânea – a questão de saber se germes e microrganismos poderiam simplesmente “aparecer” do nada. Ele descobriu que os germes eram na verdade transportados no ar e que os alimentos se decompunham porque estavam expostos a eles.

Em 1862, Pasteur testou pela primeira vez o processo, agora conhecido como pasteurização, em que leite, cerveja, vinho e outros líquidos são esterilizados por meio da exposição a uma temperatura elevada a fim de eliminar bactérias nocivas. Com o tempo, esse processo revolucionaria a forma como a comida era preparada, armazenada e vendida, poupando assim muitas pessoas de infecções. Pasteur também aplicou seu trabalho teórico à indústria francesa de produção vinícola e vinagreira e à indústria cervejeira britânica, permitindo que as empresas envolvidas produzissem mercadorias que não pereciam tão rapidamente. Foi como resultado de uma sugestão de Pasteur que o cirurgião britânico Joseph Lister (1827-1912) começou, na década de 1860, a adotar métodos antissépticos durante as operações.

Em 1865, Pasteur salvou a indústria francesa da seda, ajudando a identificar e erradicar um parasita que estava matando bichos-da-seda. Em 1881, desenvolveu técnicas para proteger as ovelhas do antraz e as galinhas contra o cólera. Pasteur observou que criar uma forma enfraquecida de um germe e vacinar com ela os animais propiciava imunidade eficaz. Foi um importante desdobramento do uso anterior que Edward Jenner (1749-1823) fizera de germes da varíola para criar a vacina contra a moléstia.

A vacina mais importante que Pasteur produziu foi contra a raiva. Ao manipular os sistemas nervosos secos de coelhos raivosos, ele criou uma forma enfraquecida da terrível doença e conseguiu inocular os cães contra ela. Ele havia tratado apenas onze cães em 1885 quando tomou medidas dramáticas para salvar a vida de um menino de nove anos que havia sido mordido por um cão raivoso. Foi extremamente arriscado, mas totalmente bem-sucedido. Pasteur figurou como um herói do establishment médico até sua morte, após uma série de derrames, em 1895. Foi enterrado na catedral de Notre-Dame, em Paris, e depois teve seu corpo transferido e sepultado em uma cripta no Instituto Pasteur.

Pasteur foi um dos muitos cientistas responsáveis por realizar milagres médicos que em muito contribuíram para aliviar o sofrimento humano. Edward Jenner foi um dos primeiros, ao imunizar uma criança contra a varíola em 1796. A partir de 1860, Joseph Lister iniciou seu pioneiro trabalho sobre assepsia em cirurgias, usando o ácido carbólico como antisséptico para reduzir o risco de infecção. As operações já haviam se tornado muito mais seguras nas décadas anteriores graças ao médico John Snow (1813-58), que introduzira o uso da anestesia para permitir cirurgias indolores. Snow também foi responsável por reduzir a incidência de cólera ao demonstrar que sua causa estava ligada ao abastecimento de água contaminada.

Em 1895, o físico alemão Wilhelm Röntgen (1845-1923) descobriu os raios X, abrindo caminho para imensas melhorias no tratamento de ferimentos internos. Em 1928, o bacteriologista Alexander Fleming (1881-1955) descobriu a penicilina, o primeiro antibiótico, quando percebeu que o mofo em uma placa de cultura suja impedia o crescimento das bactérias. Na década de 1950, o trabalho do imunologista francês Jean Dausset (1916-2009) levou a grandes avanços em nossa compreensão de como o corpo luta contra a doença. Em 1953, Francis Crick (1916-2004) e James Watson descobriram o formato de dupla hélice do DNA. Todos aqueles que trabalharam nesses projetos merecem ser lembrados como heróis da medicina. (1)

No âmago da ciência, há um elemento denominado acaso. Muitas de suas descobertas surgiram como um insight, a ponto de Luis Pasteur, o pai da teoria dos germes e um dos criadores do método de pasteurização, dizer: "O acaso favorece quem está intelectualmente preparado". Não basta ter sorte; o importante é estar no lugar certo e na hora certa. 

(1) MONTEFIORE, Simon Sebag. Titãs da história


 


Thatcher

1925-2013

Eu sou extraordinariamente paciente, contanto que no fim as coisas sejam feitas do meu jeito.

Margaret Thatcher

Margaret Thatcher entrou pela primeira vez no Parlamento em 1959, e proferiu seu discurso de abertura apenas um ano depois. Entrevistada em 1970, à época secretária da Educação, ela disse: “Levará anos até que uma mulher chefie o Partido Conservador ou se torne primeira-ministra. Não creio que isso venha a acontecer enquanto eu viver”. Nove anos depois, ela sucedeu o trabalhista James Callaghan como primeira-ministra e passou 11 anos e 209 dias na Downing Street, no 10, período em que transformou o panorama político, econômico e social britânico. Foi a primeira-ministra mais longeva em 150 anos e a primeira mulher a ocupar o cargo no Reino Unido.

Nascida Margaret Hilda Roberts em 1925, filha de um dono de mercearia de Grantham, Lincolnshire, que também era um pregador metodista leigo e vereador da cidade, Thatcher era de uma família de classe média e frequentou uma escola secundária preparatória para meninas. Após receber uma bolsa de estudos para Oxford e uma breve carreira como pesquisadora em química (durante a qual fez parte de uma equipe que ajudou a desenvolver emulsificantes para sorvetes), formou-se em direito. Nas eleições de 1959, Thatcher venceu como deputada pelo Partido Conservador pelo distrito de Finchley, incentivada por seu marido Denis, um astuto e rico homem de negócios que apoiou firmemente a carreira política da esposa. As mesmas características de Thatcher criticadas pela empresa química Imperial Chemical Industries (ICI) em uma entrevista de emprego pós-universidade, relatando que “essa mulher é teimosa, obstinada e perigosamente presunçosa”, certamente ajudaram a rápida ascensão dela em Westminster.

Em 1975, Thatcher, concorrendo como azarão, derrotou Edward Heath na eleição pela liderança do Partido Conservador, tornando-se a líder da oposição; a princípio ela teve uma postura conciliatória, mas aos poucos inclinou-se a radicais políticas de livre mercado, à medida que o país sob o governo Trabalhista sucumbia a ondas de greves industriais, culminando no chamado “inverno do descontentamento”. Isso foi o suficiente para assegurar aos conservadores a vitória na eleição geral de 1979, e Margaret Thatcher foi empossada como primeira-ministra. A Inglaterra estava podre e enfraquecida, o doente da Europa, mas ela rejuvenesceu o país.

Uma vez que o Partido Trabalhista estava desorganizado e assolado pelo extremismo, o característico conservadorismo não paternalista de Thatcher seduziu as aspirações dos eleitores mais ambiciosos das classes operárias, e ela venceria mais duas eleições.

“A dama não recua”, declarou ela em uma frase famosa durante a conferência do partido em outubro de 1980, defendendo sua política econômica ante os críticos, quando todos ao seu redor recomendavam insistentemente a transigência e o meio-termo. Sem hesitar, ela rompeu com o que via como o derrotismo político predominante desde 1945, e injetou com sucesso na vida nacional um novo orgulho e vigor churchillianos. Thatcher privatizou as indústrias estatais mal administradas, para reverter o envolvimento do Estado na economia e na vida das pessoas. Sua declaração “Não existe essa coisa de sociedade” é muitas vezes retirada do contexto. No entanto, ainda assim, ela acreditava firmemente que o próprio indivíduo deveria arcar com o ônus da responsabilidade por seu bem-estar.

Quando a junta militar argentina invadiu as ilhas Malvinas, em 1982, parecia impossível que a Inglaterra pudesse travar uma guerra a 13 mil quilômetros de distância, mas Thatcher ordenou a criação de uma força-tarefa, inspirou a nação a derrotar a agressão tirânica e reconquistou as Falklands.

O parceiro político de Thatcher no exterior foi Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos de 1981 a 1989, um ex-ator afável e nem um pouco intelectual, muito ridicularizado na Europa, embora fosse um excelente orador. Ironicamente, com seus ideais claros e grandiosos e seu charme gentil, e apesar da loucura do escândalo do caso Irã-Contras, Reagan tornou-se um dos mais extraordinários presidentes da era moderna. Seu ódio ao totalitarismo soviético – o “Império do Mal” – conduziu à corrida armamentista que por fim deu aos Estados Unidos a vitória da Guerra Fria e, por sua vez, gerou a dissolução da União Soviética. Reagan morreu em 2004, mas seus diários atestam sua estreita parceria com Thatcher. Ela comungava do anticomunismo de Reagan, e ganhou da imprensa russa o apelido de “Dama de Ferro”, que ela adorava (certa vez o presidente francês François Mitterrand a descreveu como tendo os “olhos de Calígula e a boca de Marilyn Monroe”, uma singular mistura de agressividade e feminilidade que os satiristas transformaram em caricaturas). Reagan e Thatcher tinham boas relações com o novo líder soviético, Mikhail Gorbachev, a quem ela definiu como “alguém com quem podemos negociar”, incentivando as reformas políticas e econômicas do estadista russo e seu afastamento da opressão e do império.

Em 1984-5, Thatcher enfrentou a greve dos mineiros, iniciada em resposta aos planos governamentais de fechar minas estatais e cortar milhares de empregos. Thatcher considerou essa greve uma tentativa de derrubar seu governo, e a debelou por meio de uma inflexível postura de desgaste dos trabalhadores, quebrando o domínio do sindicalismo e mobilizando a polícia e o exército para controlar os protestos dos grevistas. Foi um teste para a liderança da primeira-ministra, mas também a derradeira tentativa de sindicatos antidemocráticos de dominar o governo britânico recorrendo a greves como chantagem.

Contudo, mais tarde, o novo imposto comunitário (chamado de Poll Tax) de Thatcher causou motins. A oposição da primeira-ministra a uma cooperação mais estreita no âmbito da Comunidade Europeia minou sua credibilidade no momento em que seu chanceler já havia renunciado. Em 1990, Geoffrey Howe, o último membro restante do gabinete original de Thatcher de 1979, renunciou a seu cargo de vice-primeiro-ministro. Esse fato acelerou o fim do mandato de Thatcher, e o discurso dele desencadeou eleições para a liderança do Partido Conservador. Thatcher foi derrubada por um golpe palaciano, abandonada por quase todo o seu gabinete, e deixou Downing Street em lágrimas. A baronesa Thatcher assumiu sua cadeira na Câmara dos Lordes dois anos depois, e seu marido recebeu um título de nobreza.

Com o presidente Reagan, Thatcher foi fundamental para engendrar o triunfo das democracias capitalistas sobre o comunismo na Guerra Fria. Ela ajudou a desmantelar a Cortina de Ferro e deu liberdade a milhões de pessoas. Venceu uma guerra aparentemente impossível, transformou a esclerótica Inglaterra em um país saudável e revigorado, converteu Londres no centro financeiro da Europa, despedaçou o poder dos sindicatos e se tornou uma estrela política global. Nunca mais houve alguém como ela. O primeiro-ministro do Partido Trabalhista Tony Blair admitiu que era, em muitos aspectos, herdeiro de Thatcher. Nenhum primeiro-ministro britânico dos tempos modernos provoca opiniões tão fortes: ela ainda é odiada pela esquerda. Mas para qualquer pessoa que mora no Reino Unido hoje, a sociedade ao seu redor é, em grande parte, uma criação de Margaret Thatcher, a mais extraordinária líder britânica desde Churchill.

 


Titãs da História, por Montefiore

São mais de 170 biografias de personalidades que todos devem conhecer, histórias que não podem ser esquecidas. Como uma agradável, interessante e instigante “bíblia” da História, Simon Sebag Montefiore oferece neste livro sua seleção dos homens e mulheres que criaram o mundo que vivemos hoje. Ele afirma esperar que essas biografias incentivem e inspirem os leitores a descobrir mais sobre esses indivíduos extraordinários. O livro começa com Ramsés, um dos maiores imperadores do Egito, e vai até os dias atuais com os vilões Saddam Hussein e Osama bin Laden. As biografias trazem curiosidades, na sua maioria, desconhecidas do grande público. Em mais de três mil anos de história, há espaço para todos: Garibaldi e Napoleão; os conquistadores Cortés e Pizarro; a família de ditadores coreanos Kim Il-Sung, Kim Jong-Il e Kim Jong-Un; Cícero e César, Cleópatra e Catarina, a grande; Davi, Maomé, Buda e Jesus; Tchaikóvski e Mozart; Balzac e Oscar Wilde; Proust e Dickens; Platão e Aristóteles. Não faltam, é claro, as figuras carimbadas como Hitler e Mussolini; Stálin e Churchill; Shakespeare e Michelangelo; Einstein e da Vinci; Galileu e Darwin; Thatcher e Anne Frank. Professor de História na Universidade de Cambridge e autor de vários best-sellers que foram sucesso de público e de crítica, Montefiore tem um carinho especial por Titãs da História porque acredita que “a História não se repete, mas contém muitas advertências e lições”.

“Instrutivo e divertido. Todos os perfis oferecem detalhes fascinantes, muitas vezes desconhecidos.” SUNDAY TELEGRAPH

“Uma leitura compulsiva. Não vamos ao fundo desses gigantes, mas experimentamos uma pitada do que eles representaram.” THE TIMES

“Uma pesquisa das grandes figuras da nossa história que favorece os vilões. Montefiore encontra espaço para alguns homens e mulheres do bem, mas suas realizações não têm o mesmo peso para a nossa civilização quanto as maldades dos ditadores.” THE OBSERVER

MONTEFIORE, Simon Sebag. Titãs da história: os gigantes que mudaram o nosso mundo. Tradução de Renato Marques. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018.