10 Livros que Todo Conservador Deve Ler (Notas do Livro)

Introdução

A ideia para este livro veio de leitores de outro dos meus livros, Dez livros que estragaram o mundo - e outros cinco que não ajudaram em nada. É como uma resposta às perguntas dos entrevistadores e leitores: "Por que você não escreve um livro sobre bons livros?"

Este é um livro sobre ideias conservadoras, conceitos chaves, princípios essenciais. Como no primeiro Dez livros, a premissa é que as ideias têm consequências. Más ideias têm consequências ruins, mas boas ideias tem consequências boas. 

Não os dez livros preferidos, mas as escolhas foram feitas com base no que os conservadores devem ler à luz de nossa condição atual. Vivemos em uma cultura que está definida em grande parte pelo liberalismo, mas há uma grande reação conservadora. 

O conservadorismo é muito mais do que economia — por essa razão incluiu filosofia, filosofia política, teologia e literatura. Em se tratando de economia, escolheu O caminho da servidão de Friedrich Hayek e não A riqueza das nações de Adam Smith.


Parte  1 — O que exatamente é conservadorismo?

Este livro está dividido em quatro partes: natureza do conservadorismo, fundamento da América, economia e a importância da formação da imaginação conservadora. Conservadores sabem que o conservadorismo não é (um grande Estado, socialismo, impostos altos, casamento homossexual). Dizer que alguém é "conservador" não diz muita coisa, pois a questão primordial é saber o que ele quer conservar. Não podemos, também, reduzir o conservador à defesa da "tradição".

Conservadorismo é algo mais profundo. Nesta primeira parte, quer-se chegar às raízes profundas do conservadorismo.


Capítulo 1 — A Política / Aristóteles

Chamar Aristóteles de pai do conservadorismo político dá aos conservadores um sentimento de alívio. O conservadorismo é muito mais velho que a América. O conservadorismo é uma filosofia perene e seu texto fundador é A Política de Aristóteles. 

Aristóteles defende que a vida política e a moral são naturais. Os sofistas defendem que a vida política e a moralidade são inteiramente criações humanas. Os conservadores seguem uma política cautelosa, porque eles acreditam que o homem não é inteiramente maleável; e acreditam que moralidade é objetiva e coloca limites no que os seres humanos podem ou devem fazer. Os liberais tendem a acreditar o contrário: que a moralidade é relativa, e que o homem é maleável e pode ser legitimamente sujeito à manipulação política para promover alguma noção inebriante de bem comum ou agilizar algum grande projeto "progressista".

Conservadores, como Aristóteles, preferem experiência à teoria. Eles desconfiam da política da razão abstrata, isto é, a razão separada da experiência. Aristóteles afirma que os jovens não são bons "ouvintes" de palestras sobre política — não tem experiência suficiente da natureza humana e da vida política, e como são impetuosos, eles são propensos a acatar regimes impulsivos e destrutivos para revisar a sociedade. 

Aristóteles inicia A Política com um argumento implícito contra os sofistas. O ponto de partida da sociedade é a união natural do homem e da mulher; é a família. De várias famílias surge a vila e da união de várias vilas, a cidade. A família é, por extensão, a cidade "pertencem às coisas que existem por natureza", de onde podemos concluir "que o homem é por natureza um animal político". 

Aristóteles argumenta que a moralidade não é um conjunto de regras arbitrárias e artificiais, mas que surge do nosso princípio natural, e por isso, também, é natural. Aristóteles ficaria horrorizado com a moderna tendência progressista, presente no marxismo e no progressismo liberal, para desintegrar a família natural e com a trama de tornar o estado num tipo de superfamília em seu lugar. 

Conservadorismo não é aceitação cega, mas a consideração cuidadosa, e isso inclui a reconsideração. Aristóteles acreditava erradamente que a escravidão é natural. Ele estava errado sobre outras coisas também. Devemos também ressaltar que foi o cristianismo que historicamente permitiu a correção de Aristóteles em relação à escravidão, bem como o aborto e o infanticídio. 

O cerne da Política de Aristóteles é a divisão de regimes políticos em vários tipos. Estamos acostumados a pensar que os regimes políticos se dividem em dois tipos, a democracia e todos os outros. De acordo com Aristóteles, regimes políticos podem ser divididos de acordo com o número de pessoas que governam e o tipo de regra, boa ou ruim. Se uma pessoa governa para o verdadeiro bem comum, é um governo nobre; se uma pessoa governa apenas para o seu próprio proveito é uma tirania. Se alguns governam para o bem comum de verdade, é uma aristocracia; se esses poucos governam apenas para sua própria vantagem, é uma oligarquia. Se muitos, a maioria governa pelo verdadeiro bem comum, o regime é chamado de político; se muitos, a maioria governa para sua própria vantagem privada ao invés do bem comum, o regime é uma democracia

Cícero traduziu a palavra grega politeia (política) usando o termo em latim respublica.

Para Aristóteles, é melhor viver sob um bom rei do que em uma democracia ou oligarquia, ou em uma boa república, do que sob o jugo de um tirano. Aristóteles nos diz que quase todos os homens são "maus juízes com suas próprias coisas". Uma sociedade com uma classe média dominante é onde "uma política duradoura é capaz de existir". A República Americana, obviamente, seguiu o conselho de Aristóteles — e ainda hoje nossos dois grandes partidos políticos refletem aspectos de seu argumento, especialmente em como eles caracterizam um ao outro. 

Para Aristóteles, a "maior divisão em facções talvez seja entre a virtude e a depravação".


Capítulo 2 — Ortodoxia / Gilbert Keith Chesterton

O romancista Gilbert Keith Chesterton é muito citado, mas pouco lido. O conservadorismo, onde quer que ocorra, aceita a natureza como fundamentalmente boa e a natureza humana como norma fundamental da bondade moral humana. Conservadores falam de leis baseadas na natureza e na natureza de Deus. 

Chesterton se declara um "patriota cósmico", uma amante e defensor da plenitude da criação e mais especialmente do homem. Pode parecer contraditório o termo "patriota cósmico", pois patriota é o amor por um determinado lugar — e Chesterton amava seu lugar na Inglaterra. Mas também amava o mundo — na verdade, o cosmos — como se fosse um pequeno e encantador condado. 

Ortodoxia é contra inúmeros erros modernos que levaram a um tipo de insanidade civilizacional. O mais louco dos erros foi o materialismo.

Os homens modernos são levados a aceitar explicações reducionistas para a vida: e a teoria reducionista mais popular é o "materialismo". Um materialista pensa que todo o pensamento humano pode ser reduzido a reações químicas no cérebro. Chesterton diz: "os materialistas e os loucos nunca têm dúvidas". Agimos livremente cada minuto do dia, mas nenhum cientista consegue explicar o livre-arbítrio. Em consequência, seria útil aceitamos de bom grado os mistérios da vida. 

Marxistas pregavam que todo o pensamento é apenas um reflexo dos modos de produção materiais. Neurologistas vão mais longe e nos informam que nossos pensamentos são meras reações químicas no nosso cérebro. 

Chesterton entrou no âmago da moralidade: que temos o livre-arbítrio para fazer algo ou não fazê-lo — esta é a verdade misteriosa na qual se baseia toda a moralidade; é isso que faz com que os moralistas sejam perigosos. 

Nós somos animais políticos, tal como dizia Aristóteles, e isso significa que uma parte de nossa perfeição é ser político. Ele disse: Nunca pude entender de onde as pessoas tiraram a ideia de que a democracia de alguma forma se opõe à tradição. É óbvio que a tradição é apenas a democracia estendida através do tempo". 

A "liberdade de pensamento" dos chamados liberais na verdade significa a aceitação acrítica do "dogma do materialismo".


Capítulo 3 — A nova ciência da política / Eric Voegelin 

Sugere que comecemos no quarto capítulo do desse livro, ou seja, "Gnosticismo — a Natureza da Modernidade" que tem seu foco no marxismo, liberalismo e na utopia moderna. 

As obras de Voegelin de repente "desapareceram" de circulação, e Voegelin foi marcado como um inimigo do nacional-socialismo. Depois de passar algum tempo como refugiados na Suíça, ele e sua esposa encontraram seu caminho para os Estados Unidos (tornou-se cidadão dos Estados Unidos em 1944).  

Certa vez Chesterton disse, "é sempre fácil deixar a vida mudar a sua cabeça; o difícil é manter a sua própria cabeça". Essa é a crítica de Eric Voegelin à nossa era. 

Para Voegelin, a chave para compreender a violência política do século XX é reconhecer que o termo "ciência" tem sido pervertido pelo materialismo no positivismo. Positivismo é a negação sistemática de tudo além dos nossos sentidos, algo que não pode ser medido cientificamente. A desconsideração pelas verdades elementares passa a ser uma das características da atitude positivista.  

A grande ruína da ciência política surgiu, argumenta Voegelin, quando certos pensadores modernos decidiram que a vida política deve ser entendida "objetivamente", isto é, de acordo com a grade materialista, tratar os seres humanos e a ação humana da mesma forma que os químicos tratam as ações e reações de produtos químicos ou o físico trata a queda das pedras".  

Conforme argumenta Voegelin, Roma era caracteristicamente franca e prática, e a filosofia romana foi a filosofia grega feita para servir o Estado. Depois de murmurar: "O que é a verdade?", Pôncio Pilatos ordenou lamentavelmente a crucificação de Cristo.  

Para Voegelin, Gnosticismo define a natureza da modernidade, ou mais exatamente, de uma corrente particular, virulenta e destrutiva do pensamento moderno, uma corrente que inclui o liberalismo, o marxismo e o nacional-socialismo.  

Os conservadores são muitas vezes surpreendidos pela auto-confiança dogmática dos liberais modernos, mas que é, como Voegelin aponta, a auto-confiança da elite gnóstica que acredita ter visto toda a verdade.  


Capítulo 4 — A abolição do homem / C. S. Lewis  

Nesse livro, Lewis tem como principal preocupação a tentativa moderna de dominar completamente a natureza, uma tentativa, adverte Lewis, que terminará na sujeição da própria natureza humana pelo controle tecnológico completo e pela manipulação, uma tirania de algumas poucas pessoas sobre a massa da humanidade.   

Aristóteles usa para descrever a democracia extrema. É por isso que o desejo inerente do liberalismo para remover todos os limites da humanidade inevitavelmente levará à transformação etapa por etapa, de uma forma de governo no seu mal oposto, uma república em uma democracia leve, uma democracia leve em democracia extrema, e uma democracia extrema em tirania.  

Clive Staples Lewis, um dos apologistas cristãos mais amados do século XX, era um irlandês. A experiência de Lewis da transcendência, uma experiência que a maioria das pessoas sentem que têm uma vez ou outra, de várias maneiras, exemplifica a afirmação de Voegelin que o homem "se experimenta como um ser aberto para a realidade transcendental".  

Lewis começa se concentrando num livro de gramática para estudantes do ensino médio. "Eu duvido que se dê atenção suficiente para a importância de textos escolares elementares". Caio e Tício ensinavam que nós não podemos falar a verdade, ou mais exatamente, que quando pensamos que estamos dizendo algo verdadeiro sobre a realidade, nós estamos descrevendo os nossos próprios sentimentos subjetivos.  

Contra a visão liberal de Caio e Tício, Lewis define outro, que ele chama de O Caminho, mas que também poderíamos chamar de "lei natural" ou "moralidade tradicional", ou como os chineses se referem a ele (e Lewis concorda), o Tao.   

Partindo da tese darwinista, em que o homem surgiu acidentalmente, ou seja, pela evolução em um universo sem deus, então, a própria natureza humana é considerada inconstante e, portanto, infinitamente maleável.  

Lembrando Voegelin, esse impulso tem raízes mais profundas no gnosticismo. Gnósticos antigos argumentam que a matéria era má, criada por um deus do mal. Gnósticos modernos afirmam que a matéria é má porque foi acidentalmente maquinada.  


Parte 2 — A democracia e a criação do regime americano 


Capítulo 5 — Reflexões sobre a revolução na França / Edmund Burke 

Edmund Burke (1729-1797) era o político mais perspicaz de seu tempo. Se seus conselhos tivessem sido atendidos, o governo britânico teria entendido que tributar os colonos americanos só poderia conduzir para uma rebelião desastrosa. Burke foi um dos maiores críticos do liberalismo e é hoje visto como um dos fundadores do conservadorismo moderno; um reformador cujo objetivo era sempre defender a tradição.  

Reflexões sobre a Revolução na França de Burke (1790) é considerado por muitos como a primeira grande obra-prima conservadora moderna, um livro escrito no espírito de Aristóteles com o poder retórico de Cícero.  

Como Aristóteles, Burke acreditava que a sociedade é natural para o homem; ela não é, como os liberais e radicais gostariam, algum tipo de contrato social artificial — uma visão defendida na época de Burke por Jean-Jacques Rousseau e acatada pelos radicais da Revolução Francesa.  

Para Burke, uma "nação", um "estado", ou um "povo" são coisas particulares, com as suas próprias condições específicas, história, leis, tradições, costumes e preconceitos, e se estas têm durado por qualquer período de tempo, eles devem ter algum fundamento na natureza humana.  

Burke chama a Revolução Francesa de uma "revolução filosófica", uma etiqueta satírica para se referir aos philosophes, os radicais secularistas do Iluminismo como Voltaire e Diderot, que procuraram substituir a sociedade tradicional — e mais especificamente a Igreja Católica — por uma sociedade baseada inteiramente na razão.  

Revolução Francesa não é algo morto e enterrado; o mesmo espírito percorreu as devastações do marxismo; ele está acontecendo agora através do liberalismo secular. Tudo isso mantém as profecias de Burke atuais, sua análise ainda dolorosamente precisa — somente os personagens e países mudaram.  

O paralelo entre os philosophes que iniciaram a Revolução Francesa e os liberais seculares de hoje deveria ser óbvio — a dominação dos meios de comunicação, a releitura politicamente correta da história, especialmente o desejo de "denegrir e desacreditar" o Cristianismo tradicional.  

Cheios de zelo reprimido há anos em discussões nas cafeterias sobre o que eles fariam se tivessem o poder, de repente, o poder é deles, e todas as coisas parecem possíveis se apenas eles pudessem centralizar o poder e aplicar a energia suficiente. Como eles são teóricos em vez de realistas, eles têm pouca compreensão da política prática, ou da natureza humana, ou mesmo dos princípios básicos da economia.  

A revolução, e o caos inevitável e a má gestão que se seguiu, causa o colapso da indústria e os homens com dinheiro ficam ansiosos para escondê-lo. Como precisavam de dinheiro, o jeito foi imprimi-lo. Explicação: A teoria econômica diz que há três maneiras de financiar o governo: tributação, confisco e impressão de papel-moeda sem valor. A tributação não é viável depois da revolução; o confisco, menos ainda; só sobrou a emissão de dinheiro.  

É claro que a inflação descontrolada causada pela impressão de mais dinheiro produz ainda mais especulação, afastando as pessoas do trabalho produtivo que faz a riqueza de longo prazo, e forçando-as por medo a se tornar especuladores de curto prazo preocupados apenas em evitar que seus ativos desapareçam do dia para a noite.  

A crise econômica provocada pelos revolucionários teve o efeito natural da concentração de poder em poucas mãos na cidade de Paris. 

Burke cita Cícero: "Cedo qui vestram rempublicam tantam amisistis tam cito?" "Diga-me, como você fez para perder uma república tão grande quanto a sua tão rapidamente?" É uma pergunta que nossos filhos poderão um dia nos fazer. 


Capítulo 6 — Democracia na América / Alexis de Tocqueville 

É de um aristocrata francês de 25 anos de idade "o melhor livro já escrito sobre a democracia e o melhor livro já escrito sobre a América" (Harvey Mansfield). Neste livro, Tocqueville descreve os pontos fortes e as fraquezas do caráter americano.  

Alexis nasceu um ano depois que Napoleão Bonaparte se coroou imperador da França. Alexis de Tocqueville certamente viu o lado destrutivo do governo popular, mas ele acreditava que a democracia era uma força ambígua irresistível — o governo de muitos poderia, como Aristóteles observara, assumir formas positivas ou negativas.  

Tocqueville escreveu no primeiro volume de A Democracia na América: "Busquei a imagem da própria democracia, com suas inclinações, suas características, seus preconceitos, suas paixões; eu queria me familiarizar com ela só para saber o que nós devemos esperar ou temer." 

Tocqueville definiu: se você quiser entender uma nação, você deve primeiro compreender os "preconceitos, hábitos, paixões dominantes, tudo o que compõe o que é chamado de característica nacional", tudo o que é encontrado nas primeiras experiências de um povo.  

A Revolução Francesa com todos os seus excessos foi o resultado do ceticismo do Iluminismo, a Revolução Americana e seus sucessos podem ser atribuídos aos princípios cristãos particulares dos colonos americanos.  

Na América, o governo não foi algo imposto de cima, mas algo que cresceu a partir de sementes plantadas em solo nacional. Não foi um ponto de partida teórico, mas sim muito prático.  

Tocqueville realça a importância dos municípios. Algo parecido com a "aldeia" de Aristóteles, uma comunidade de famílias. 

Nos séculos XX e XXI, os europeus são muito mais facilmente levados ao socialismo de cima para baixo, enquanto os americanos se arrepiam com ele.  

Tocqueville concorda com Aristóteles que a democracia extrema leva a uma tirania, embora na América ela tome a forma de de uma tirania da maioria. 

Outro risco para a democracia na América é o materialismo, mesmo em relação à religião. Os americanos sempre tiveram um forte traço de materialismo: eles chegaram a uma terra não desenvolvida, e tiveram que provisionar para si mesmos, concentrando-se em primeiro lugar no seu bem-estar físico.  

Mas um grande perigo sobre o qual Tocqueville nos advertiu vai ocorrer. Nossas paixões características (inveja igualitária, impaciência inquieta, desejo intenso de gratificação imediata de bens materiais que se deseja) estão em perigo de superar a nossa prudência característica de classe média. 


Capítulo 7 — Os documentos federalistas / Alexaner Hamilton, James Madison e John Jay

Este e o próximo capítulo dizem respeito à ratificação da Constituição dos EUA. Grosso modo, os Federalistas argumentaram para ratificação, e os Anti-Federalistas argumentaram contra. Os federalistas queriam um governo nacional forte e os anti-federalistas temiam isto, colocando sua confiança nos governos estaduais e locais em vez disso.  

A palavra latina Constituere significa "configurar". A Constituição é literalmente "a configuração" do governo, ou mais especificamente, o governo federal; os governos estaduais foram estabelecidos muito antes da ideia de uma união.  


Capítulo 8 — Os antifederalistas 

Os Antifederalistas é realmente uma coleção de ensaios públicos escritos por uma variedade de diferentes adversários da constituição proposta.  


Parte III — O lugar da economia para os conservadores 

Há uma tendência lamentável entre alguns conservadores de reduzir o conservadorismo a meras considerações econômicas, como se ser conservador significava conservar mercados econômicos livres. O conservadorismo deve conservar todo o homem, e é por isso que o tratamento econômico vem agora. 


Capítulo 9 — O estado servil / Hilaire Belloc

Hilaire Belloc (1870-1953), filho de mãe inglesa e pai francês, é reconhecido por, juntamente com os outros católicos (G. K. Chesterton, Cecil Chesterton, Arthur Penty), haver previsto o sistema sócio-econômico do distributismo.  Em abril de 1900, conheceu G. K. Chesterton, que se tornou seu amigo e co-inspirador intelectual.  

Belloc sabia que, para entender economia, temos de começar pelo início. O melhor lugar é a etimologia. Economia vem de oikos (casa) e nomos (costume ou lei), e o termo grego oikonomia refere-se à gestão familiar, e não ao PIB. Aristóteles escreveu um tratado intitulado Oikonomikos, cuja tradução adequada é Sobre a gestão da casa. O ponto conservador: igual a política, a economia começa em casa; assim como nós somos animais sociais por natureza, nós também somos animais econômicos.  

O cerne da economia. Nós trabalhamos em materiais ou na terra para produzir o que precisamos, e o que quer que vá além disso em excedente. Todo esse conjunto é a nossa riqueza. A nossa riqueza que não é imediatamente necessária é o capital. Além disso, os materiais e a terra que possuímos, juntamente com a riqueza que obtivermos a partir de nosso trabalho, é nossa propriedade.  

Como podemos nos proteger contra o totalitarismo econômico? Belloc fala-nos em 'Distributismo", um termo com o qual ele e Chesterton são indissociáveis. É outro nome para o princípio da subsidiariedade. Ele é simplesmente o senso comum e o princípio conservador de que a propriedade econômica e a responsabilidade devem ser distribuídas através da ordem econômica, não reunidas no topo. 

De acordo com Belloc, "Esse acordo de sociedade em que um número considerável de famílias e indivíduos são forçados por uma lei positiva a trabalhar para o benefício de outras famílias ou indivíduos e carimba toda a comunidade com a marca de tal trabalho, que chamamos de estado servil".  

Belloc pensou que, em última instância, a única defesa real contra o socialismo e o estado servil era a fé cristã: só ela podia reacender o nosso desejo de viver livremente como seres humanos morais; só ela poderia afirmar com sucesso que há bens mais elevados do que o conforto material.  


Capítulo 10 — O caminho da servidão / Friedrich August Hayek 

O mal-entendido principal é que O caminho da servidão é exclusivamente sobre economia. Não é. Seu título foi tirado de A Democracia na América de Tocqueville. Ele começa o capítulo 7, "Controle Econômico e Totalitarismo", com uma citação de Hilaire Belloc de O Estado Servil", "o controle da produção de riqueza é o controle da própria vida humana". O livro de Hayek não é meramente uma livro sobre economia; é sobre os efeitos humanos que um sistema socialista político-econômico tem no indivíduo. Hayek lamentou que um dos principais pontos de O Caminho da Servidão inteiramente esquecido por seus críticos é que "a mudança mais importante que o controle de grandes governos produz é uma mudança psicológica, uma alteração no caráter do povo".  

Hayek argumentava que o "Estado deve limitar-se a estabelecer regras aplicáveis aos diversos tipos de situações e deve dar aos indivíduos liberdade em tudo o que depende das circunstâncias de tempo e lugar, porque só os indivíduos interessados em cada caso podem conhecer plenamente estas circunstâncias e adaptar suas ações para ela".  

O mal vem "da paixão pelo controle consciente de tudo", que é a essência do totalitarismo. Hayek molda o seu processo para a liberdade econômica em termos de responsabilidade moral individual. Isto não é livre mercado, mas o mercado controlado por um conluio entre a indústria e o governo, que é a principal fonte dos monopólios econômicos.  

Hayek ganhou o Prêmio Nobel de Economia, mas não devemos esquecer que ele se considerava um filósofo político e moral tanto quanto economista.  


Parte IV — A história conservadora, e histórias conservadoras 

Capítulo 11 — A tempestade / William Shakespeare 

Capítulo 12 — Razão e sensibilidade / Jane Austen 

Capítulo 13 — O senhor dos anéis / J. R. R. Tolkien 


Capítulo 14 — A bíblia de Jerusalém 

Para redescobrir a história da Bíblia, não podemos pisar suas páginas como um caminho já explorado. Ela deve se tornar uma aventura novamente.  

A Bíblia foi escrita em uma variedade de estilos e perspectivas, usando descrições diretas, metáforas, parábolas, provérbios, poesia e didatismo.  


Capítulo 15 — A revolta de Atlas / Ayn Rand 

Ela considerava Friedrich Hayek outro falso conservador, escrevendo na margem de sua cópia de O caminho da servidão, "O homem é um babaca, sem nenhuma concepção de sociedade livre".  


Conclusão 

Espera que esses catorze livros possam aprofundar o debate conservador e nos elevar da nossa era de twitter, de mensagens de texto e de mídia debilitada para ver o conhecimento que cresce da experiência.  

O melhor texto para os conservadores não é realmente um livro; são as lições da natureza e da natureza humana, que são abertas a todos. Os conservadores acreditam no governo local gerido pela população local justamente porque acreditam que as fontes de sabedoria prática são comuns.  

O hábito de juntar conhecimento prático em um livro é antigo e digno. Tais são os provérbios do Antigo Testamento. A palavra "antigo" aqui é importante também. O preconceito moderno diz que antigo é sinônimo de ultrapassado e insensato.  

Parte da razão dos conservadores temerem governos grandes é que governos grandes tomam todo o poder para si mesmos, e este enorme poder é então manejado por um número muito pequeno de pessoas sobre todo o resto. 


WIKER, Benjamin. 10 Livros que Todo Conservador Deve Ler: Mais Quatro Imperdíveis e um Impostor. Tradução de Mariza Cortazzio. Campinas, SP: VIDE Editorial, 2016.