Diabetes gestacional

DIABETES MELLITUS GESTACIONAL (DMG)

A resistência à insulina é uma característica da gestação. A associação de resistência à insulina combinada às alterações metabólicas e endócrinas que visam garantir o aporte nutricional ao feto podem contribuir para o desenvolvimento de diabetes mellitus na gestação.

O principal fator de risco para o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2, em mulheres, é o antecedente de diabetes na gestação. A hiperglicemia durante a gestação também compromete os filhos destas mulheres, pois aumenta os riscos das crianças desenvolverem obesidade, síndrome metabólica e diabetes na vida futura.

A utilização de fatores clínicos de risco como forma de rastrear gestantes para DMG não é ideal, pois apresenta baixa sensibilidade.

O diagnóstico de diabetes mellitus na gestação deve ser considerado uma prioridade na assistência à saúde e determinado conforme quadro abaixo:

Primeira consulta pré-natal

Solicitar glicemia de jejum (8-12 horas de jejum)

Interpretação dos resultados e conduta:

< 92mg/dl: ausência de diabetes prévio à gestação.

≥ 92 e < 126 mg/dl: confirmado o diagnóstico de diabetes mellitus gestacional.

Encaminhar gestante ao pré-natal de alto risco.

≥ 126 mg/dl: confirmado o diagnóstico de diabetes mellitus diagnosticado na gestação (diabetes prévio). Encaminhar a gestante ao pré-natal de alto risco.

Entre 24 e 28 semanas

Todas as pacientes com glicemia de jejum < 92mg/dl devem realizar o TOTG, com sobrecarga de 75g de glicose e jejum de 8 -12 horas.

Valores de referência para diagnóstico de DMG:

Jejum: ≥ 92 mg/dl

1 hora após sobrecarga: ≥ 180 mg/dl

2 horas após sobrecarga: ≥ 153 mg/dl

Interpretação dos resultados e conduta:

TODOS os valores abaixo do valor de referência: negativo para diabetes gestacional

UM ou MAIS valores alterados: diagnóstico de diabetes gestacional. Encaminhar gestante ao pré-natal de alto risco.

VALOR ≥ 200 mg/dl após 02 horas: diabetes mellitus diagnosticado na gestação (diabetes prévio). Encaminhar a gestante ao pré-natal de alto risco.

Observações

1-Na impossibilidade de realização do TOTG-75g, frente a recursos escassos, pode-se repetir a glicemia de jejum entre 24 e 28 semanas, mantendo os mesmos valores de referência usados no 1º trimestre.2 – O TOTG deverá ser realizado no Laboratório

Municipal Julião Paulo de Souza, localizado na rua major Codeceira, 194 - Santo Amaro. Telefone :(81) 3355.2049


  • Além do pré-natal de alto risco, a gestante com diabetes também deverá manter o acompanhamento na Atenção Básica, com a periodicidade das consultas menor do que a recomendação habitual.



Monitoramento da DMG

No início do acompanhamento, o ideal é que sejam realizadas quatro avaliações diárias: glicemia de jejum e glicemias pós-prandiais com 01 hora ou 02 horas. Nos casos em que há adequado controle glicêmico, as avaliações podem ser realizadas a intervalos maiores, a cada 02 ou 03 dias, por exemplo. Os objetivos do controle glicêmico estão descritos abaixo:

Glicemia de jejum: 95 mg/dl

Pós-prandial com 01 hora : 140 mg/dl

Pós-prandial com 02 horas: 120 mg/dl

Fonte: American Diabetes Association (2017) e American College of Obstetricians and Gynecologists (2017).

É importante solicitar que a gestante faça o registro do monitoramento da glicemia, assim como o resumo da alimentação e da atividade física para melhor acompanhamento do caso.

Além do acompanhamento com nutricionista a partir do PNAR, o médico ou enfermeiro, com apoio do NASF deve realizar as seguintes orientações:

- Três refeições principais e dois a quatro lanches ( objetivo: reduzir flutuações glicêmicas pós-prandiais e reduzir longos períodos de jejum);

- Redução do consumo de açúcares refinados e gorduras trans (bebidas açucaradas, achocolatados, salgadinhos, biscoitos);

- Aumento da ingesta de fibras (objetivo: diminuir as variações da glicemia e melhorar a constipação).

Sinais de hipoglicemia: Sudorese, tontura, mal estar, visão turva, confusão mental, palidez e sonolência. Conduta: aferir a glicemia e caso glicemia <70, orientar alimentação com açúcar. Caso não melhore após a ingestão do alimento, procurar emergência obstétrica.

Avaliação pós-parto

A maioria das mulheres que tiveram diabetes na gestação irão apresentar normalização da glicose após o parto, porém há um risco significativo de desenvolver diabetes mellitus tipo 2 ou intolerância à glicose ao longo da vida. O TOTG com 75g de glicose é considerado padrão-ouro para o diagnóstico de diabetes após a gestação.

Avaliação da glicemia pós-parto

Seis a oito semanas pós-parto:

TOTG com 75 g de glicose (jejum e 02h pós-sobrecarga)

Interpretação dos resultados e conduta:

Jejum < 100 mg/dl e 2ª hora < 140mg/dl: normal. Realizar anualmente avaliação com glicemia de jejum ou TOTG.

Jejum entre 100 e 125 mg/dl e 2ª hora < 140mg/dl: glicemia de jejum alterada. Orientar modificações na dieta e estilo de vida. Reavaliar periodicamente.

Jejum < 126 mg/dl e 2ª hora entre 140 e 199 mg/dl: intolerância à glicose. Orientar modificações na dieta e estilo de vida. Reavaliar periodicamente.

Jejum ≥ 126 mg/dl e 2ª hora ≥ 200 mg/dl: diabetes mellitus. Orientar modificações na dieta e estilo de vida. Iniciar tratamento individualizado. Solicitar apoio ao NASF, principalmente de nutricionista e educador físico para elaboração do plano de cuidados, com dieta adequada e prática de atividade física regular. Fonte: MS, 2017

Todas as unidades de saúde devem se responsabilizar pelo acompanhamento dessas mulheres para a realização do rastreamento pós-parto, a fim de reduzir as complicações cardiovasculares provenientes do diabetes.