Abortamento

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, abortamento consiste na interrupção de gravidez antes de 20 semanas ou peso fetal de nascimento abaixo de 500 gramas. O Ministério da Saúde considera abortamento como a expulsão ou extração de produto da concepção sem vida, com menos de 500 gramas e/ou menos de 22 semanas de gestação.

O abortamento pode ser classificado em: ameaça de abortamento, abortamento completo, abortamento incompleto, abortamento inevitável, abortamento retido, abortamento infectado, abortamento habitual e abortamento terapêutico.

Ameaça de abortamento

SINAIS E SINTOMAS:

sangramento: tipo borra de café ou vermelho-vivo, pequena a moderada intensidade

cólicas: normalmente pouco intensa

EXAME ESPECULAR:

observar se o sangramento flui pelo orifício cervical externo e a intensidade do sangramento

TOQUE VAGINAL:

colo uterino fechado

EXAMES COMPLEMENTARES:

-Tipagem sanguínea e fator Rh

-Ultrassonografia (de preferência, endovaginal): não é necessário realizar com urgência, mas deverá ser solicitada para avaliar e presença de embrião com batimentos cardíacos e afastar abortamento incompleto

CONDUTA:

-Avaliação geral da paciente e condições hemodinâmicas.

-Proscrição do coito

-Antiespasmódicos e analgésicos: se cólicas

-Reavaliação se o sangramento persistir

Abortamento completo

SINAIS E SINTOMAS:

sangramento: habitualmente cessa ou diminui após a expulsão do saco gestacional

cólicas: cessa após a expulsão do produto conceptual

EXAME ESPECULAR:

sangramento pode estar presente ou não

TOQUE VAGINAL:

colo entreaberto logo após a expulsão e, a seguir, fechado

EXAMES COMPLEMENTARES:

-Tipagem sanguínea e fator Rh

-Ultrassonografia (de preferência, endovaginal): geralmente se observa ausência de saco gestacional

-Hemoglobina e hematócrito, se sangramento abundante

CONDUTA:

geralmente, não há necessidade de intervenção cirúrgica ou internamento

Abortamento incompleto

SINAIS E SINTOMAS:

sangramento: abundante, intermitente, com coágulos

cólicas:

de moderada a forte intensidade, persistente

EXAME ESPECULAR:

sangramento vermelho-vivo flui pelo orifício cervical externo

TOQUE VAGINAL:

colo entreaberto, algumas vezes possibilitando a identificação de restos

EXAMES COMPLEMENTARES:

Tipagem sanguínea e fator Rh

-Hemoglobina e hematócrito, se sangramento abundante

-Ultrassonografia: nem sempre é necessária, pois o diagnóstico pode já ter sido dado no exame ginecológico.

CONDUTA:

pode -se adotar conduta expectante, aguardando expulsão completa do material ou realizar internamento para intervenção cirúrgica (curetagem ou aspiração à vácuo- AMIU)

Abortamento inevitável

SINAIS E SINTOMAS:

sangramento: moderado ou abundante, com coágulos

cólicas: rítmicas, intermitentes, moderada intensidade

EXAME ESPECULAR:

observa-se orifício cervical externo dilatado, sem exteriorização do material ovular

TOQUE VAGINAL:

colo aberto (orifício cervical interno pérvio)

EXAMES COMPLEMENTARES:

-Hemoglobina e hematócrito, se sangramento abundante;

-Tipagem sanguínea e fator Rh

-Ultrassonografia (de preferência, endovaginal)

CONDUTA:

se quadro clínico estável, aguardar 7 a 14 dias para definição (evolução para abortamento completo ou incompleto)

Abortamento retido

SINAIS E SINTOMAS:

sangramento: inexistente ou escasso

cólicas: ausentes

EXAME ESPECULAR:

sem sangramento

TOQUE VAGINAL:

colo fechado

EXAMES COMPLEMENTARES:

-ultrassonografia (de preferência, endovaginal): geralmente se observa ausência de batimentos cardíacos

-tipagem sanguínea e fator Rh

CONDUTA:

pode -se adotar conduta expectante, aguardando expulsão completa do material ou realizar internamento para intervenção cirúrgica (curetagem ou aspiração à vácuo- AMIU)

Abortamento infectado

SINAIS E SINTOMAS:

sangramento: geralmente discreto, de odor desagradável, podendo associar-se a corrimento amarelo-esverdeado

cólicas: intermitente ou contínua, moderada ou grande intensidade

febre

taquicardia taquipneia

EXAME ESPECULAR:

restos ovulares podem ser vistos exteriorizando-se pelo canal cervical ou conteúdo purulento

TOQUE VAGINAL:

vagina aquecida; colo pérvio;

anexos dolorosos à palpação

EXAMES COMPLEMENTARES:

-tipagem sanguínea e fator Rh;

-VDRL;

-hemograma;

-urocultura

-ultrassonografia (de preferência, endovaginal)

CONDUTA:

internamento para antibioticoterapia venosa e intervenção cirúrgica.


O abortamento espontâneo habitual consiste em três ou mais perdas sucessivas da gestação, podendo ser primário ou secundário (quando as gestações são precedidas por gestação normal). Ocorre em 0,5% de todas as gestações e a investigação acontece, em geral, fora do período gestacional, habitualmente em serviço terciário.

O abortamento terapêutico trata das interrupções previstas em lei, nas seguintes situações:

-gestação que apresenta risco de morte da gestante;

-gravidez resultante de estupro; -anencefalia fetal

- menores de 14 anos por ser considerado estupro de vulnerável.

No Recife, é importante conhecer na rede de saúde os serviços que realizam a interrupção da gravidez nos casos previstos em lei.


Cuidados após o abortamento

Recomenda-se a prescrição da imunoglobulina anti-D, na dose de 300 mcg, independentemente da idade gestacional, nos casos de abortamento. Os períodos menstruais normais voltam em um ou dois meses após o abortamento.

O abortamento, geralmente, é um evento estressante para as mulheres e seus parceiros. Para muitos, representa a perda de um bebê mesmo em gestações iniciais, e isso pode ser exacerbado por problemas anteriores de fertilidade ou gestacionais. A perda gestacional é acompanhada de luto, que não deve ser negligenciado pela equipe de saúde. Tratar mulheres que abortam com respeito e sensibilidade, explicar os procedimentos e as opções, e dar a elas tempo para tomar decisões, quando clinicamente possível, podem fazer diferença na experiência do aborto. Quando as mulheres desenvolvem ansiedade ou depressão após uma perda gestacional, elas podem se beneficiar de aconselhamento e suporte psicológico.