Capitulum septimum
O reflexivo
Na sentença Puella sē in speculo uidet et sē interrogat, as formas sē são acusativos (estão empregados como complementos de verbos transitivos) que se referem ao sujeito da própria sentença, puella; esse tipo de emprego é chamado reflexivo: "A menina se vê (= vê a si mesma) no espelho e se pergunta (= pergunta a si mesma)".
Note a diferença entre o emprego do acusativo com referência a uma outra pessoa e o emprego reflexivo:
- Puella Syram in speculo uidet et eam interrogat > "A menina vê Sira (não a menina) no espelho e lhe (Sira) pergunta"
- Iulia Syram post sē in speculo videt > "Júlia vê Sira no espelho atrás de si (da própria Júlia)"
Obs.: o pronome sē marca o acusativo reflexivo; as formas eum, eam (acus. sing.) e eos, eas (acus. pl.) são empregadas para marcar uma terceira pessoa.
In + acusativo
Em Iulius in uillā est, temos o emprego da preposição in + abl., marcando a circunstância de "lugar onde". Já em Iulius in uillam intrat temos o emprego da mesma preposição in, porém, acompanhando acusativo (uillam). Acompanhada de acusativo, a preposição in carrega uma nuance de movimento "para dentro de".
- Syra in cubiculum intrat.
- Venī in hortum, Iūlia!
Interrogativos: num... nonne
Perguntas introduzidas por num esperam do interlocutor uma resposta negativa; perguntas introduzidas por nonne têm efeito contrário, esperam uma resposta afirmativa:
- Num nasus meus foedus est? > Pergunta feita por Júlia; ela espera que a resposta de Sira seja negativa: não!
- Nonne formosus est nasus meus? > Pergunta de feita por Sira; ela espera que a resposta de Júlia seja afirmativa: sim!
1) Pergunta: num... est? > resposta esperada: non est.
2) Pergunta: nonne... est? > resposta esperada: est... (no texto, Júlia frustra completamente a expectativa de Sira e responde com immo, ou seja, "muito pelo contrário" = "não").
Preposição Ex/ē + ablativo
Já conhecemos a redução da preposição ab para ā: podemos empregar ab quando a palavra seguinte começa por vogal ou "h" (por vezes com consoante); e empregamos ā quando a palavra seguinte começa por consoante, exceto o "h".
O mesmo princípio ocorre no emprego da preposição ex/ē: Iulia ē cubiculō exit. Outros exemplos:
Caso dativo
O dativo é o caso latino que marca a noção do "do ato de dar". A pessoa ou coisa para quem algo é dado (em benefício ou em prejuízo) vai para o dativo. Esse caso se confunde com o objeto indireto do português. Formalmente, as desinências do dativo singular são -ae (para 1ª decl.) e -o (para 2ª decl.); as desinências de dativo plural são -is (para 1ª e 2ª declinações).
Iulius Syro et Leandro mala dat > Júlio dá maçãs a Siro e Leandro (os beneficiários do ato de dar)
Iulius ancillīs mala dat > Júlio dá maçãs às servas (as beneficiárias do ato de dar)
A forma cui é o dativo dos pronomes interrogativos e relativos:
Interrogativo: Cui Iulius malum dat? > Para quem Júlio dá uma maçã?
Relativo: Puer/puella cui Iūlius mālum dat est fīlius/fīlia eius > O menino/a menina para quem Júlio dá a maçã é filho/filha dele.
Quadro do dativo:
- sing.: -ae | -o
- plur.: -is | -is
Plenus + genitivo
Observe as sentenças:
- Hic saccus plenus malorum est > Este saco está cheio de maçãs
- Oculi Iuliae pleni sunt lacrimarum > Os olhos de Júlia estão cheios de lágrimas
Note que o adjetivo plenus tem o sentido completado por um genitivo: plenus malorum (gen. pl.) "cheio de maçãs", plenus... lacrimarum "cheio de lágrimas". Esse genitivo completa a transitividade do adjetivo "cheio"; ou seja, o genitivo também pode ser empregado como complemento nominal.