Canto XIII

A batalha pelas naus

Hipomolgos (Ἱππημολγοί) - Apolodoro de Atenas considerou os Hipomolgos como lendários (cf. Estrab. 7.3.7, 12.3.27), mas outros autores antigos (Estrab. 7.3.7, Ptol. 6.14.12) associavam-nos a uma tribo nômade de cítios e samartinos que cruzou o Danúbio com os Massagetas "bebedores de leite", conforme Heródoto, Hist. 1.216, (cf. Il.Comm. Vol. 4, p. 42). No contexto do v. 5 do canto XIII, alude a uma nação do norte da Europa, um dos lugares donde Zeus observa a batalha. Seu costume, conforme o nome sugere, está associado a “éguas leiteiras” (a origem do elemento μολγ-, no entanto, é controversa; talvez um nome tarentino para βόειος ἀσκός ["pele ou coberta bovina"], cf. Chantr. Vol. 2, p. 709); são descritos como nobres e comedores de leite (γλακτοφάγων).

Egas (Αἰγάς), v. 21 - Em Homero, a palavra aparece apenas duas vezes (Il. 13.21 e Od. 5.381), não como uma cidade (na época de Heródoto, a Acaia era dividida em 12 regiões e cidades, começando com Pelene, passando por Egeira e Egas, terminando em Tritaia, cf. Hist. 1.145), mas como o domicílio de Posido, um suntuoso palácio (cf. Papadopoulos, J. K. Enc.Hom., vol. 1, p. 20).

Calcante (Κάλχας) - Célebre adivinho de Micenas ou Mégara, o mais hábil intérprete do voo dos pássaros [arúspice - mesmo que harúspice -, v. 70 (traduz a palavra grega gr. οἰωνιστής, "aquele que prevê o futuro pelo voo e canto dos pássaros", cf. LSJ, p. 1211); a solução de Carlos Alberto Nunes se aproxima mais do sacerdote da Roma antiga que predizia o futuro pelo exame das entranhas das vítimas sacrificadas (cf. "harúspice" in Houaiss)] e dos sonhos, conhecedor do passado, do presente e do futuro (cf. Il. 1.69-70). O dom da profecia foi-lhe dado por seu avô, o deus Apolo; ele figura como filho de Testor. É o principal adivinho grego. Nos mitos relacionados à guerra de Troia, foi Calcante que interpretou a razão de os gregos não conseguirem zarpar de Áulis, saber, porque Agamêmnon havia matado uma cerva consagrada a Ártemis; em compensação o general da frota grega deveria sacrificar sua própria filha à deusa. É Calcante também que descobriu, no Canto I da Il., a razão de uma praga dizimar o exército grego: Apolo estava irado por Agamêmnon não devolver Criseida, filha do sacerdote do próprio Apolo, Crises.

Deífobo (Δηίφοβος) - Um dos filhos de Príamo e Hecuba, irmão predileto de Heitor. Foi no momento do combate entre Heitor e Aquiles, que Atena, sob a forma de Deífobo, engana Heitor, incitando a resistir, o que causou, consequentemente, sua perdição. Deífobo, além disso, reconheceu Páris Alexandre quando dos jogos fúnebres em que venceu todos os seus irmãos. Depois de Páris falecer pelas mãos de Filoctetes, Deífobo teve por prêmio a mão de Helena, em competição com seu irmão Heleno, mesmo este sendo bem mais velho que ele. Quando a cidade de Tróia foi tomada, Ulisses e Menelau lhe atacaram a casa, apoderando-se, assim, dela. A sua morte ocorreu pela mão de Menelau, que o matou e, também, o mutilou. Além disso, sua sombra aparece a Eneias nos infernos (cf. Grimal, p. 113).

Teucro (Τεῦκρος) – não confundir com a referência aos troianos que alude a um antepassado, acolhido por Dárdano e casado com sua filha Batíia (ou Arisbe), da família real de Troia. No canto 8 da Il., Teucro figura como filho de Telamão e Hesíone (filha de Laomedonte e irmã de Príamo), logo meio irmão de Ájax por parte de pai, e da família real troiana por parte de mãe. É mais jovem que seu meio irmão e o melhor arqueiro de todo o exército grego. Na luta contra seu tio Príamo, é autor de façanhas notáveis: em Il. 8.274ss, ele mata em sequência vários troianos; em seguida, ele fere seu irmão troiano Glauco, é ferido por Heitor, outro irmão troiano, e é salvo por Ájax, seu irmão grego. Seu regresso de Troia foi conturbado; chegou sem grandes problemas a Salamina, onde reinava Telamão, mas na viagem de volta sua embarcação separou-se de seu sobrinho Eurísaces. Por essa razão e por não ter protegido e vingado Ájax, Telemão criticou seu retorno e expulsou da cidade. Conta-se que antes de se exilar fez um discurso na baía de Freatis, da proa de seu barco, contra as acusações de Telamão. No Canto 13 (v. 170ss), desempenha um papel de destaque, sendo o primeiro guerreiro grego a matar um troiano, Ímbrio, logo que os muros foram transpostos.

Ímbrio (Ἴμβριος) e Medesicasta (Μηδεσικάστη) - Personagens menores na Il. Ímbrio, filho de Mentor, era de Pedeu, na Tróade; lutou em Troia logo que foi informado da chegada dos gregos. Foi morto por Teucro e seu corpo foi terrivelmente mutilado por Ájax Oileu (cf. v. 20: "do tenro pescoço a cabeça lhe corta"). Medesicasta, por sua vez, é uma filha espúria de Príamo (a única filha ilegítima citada nos épicos), nascida de uma concubina. Em Apolodoro (Epit. 6.15c), ela é irmã de Príamo (cf. Enc.Hom., vol. 3, p. 407 e 501).

Anfímaco (Ἀμφίμαχος) - filho de Ctéato e um dos líderes dos epeios no catálogo das naus (cf. Il. 2.260); no Canto 13, é morto por Heitor.

Otrioneu (Ὀθρυονέυς) - guerreiro de Cabeso, localidade desconhecida, que lutou pelos troianos. Chegado de pouco em Troia, pediu a Cassandra, filha de Príamo, em casamento; o pedido inusitado, porém oportuno, não incluía pagamento de dote, mas tão somente a promessa de expulsar os gregos das praias de Troia. Príamo anuiu ao pedido. Otrioneu, no entanto, foi morto por Idomeneu.

Ascálafo (Ἀσκάλαφος) - Junto com Iálmeno, chefe do contingente vindo de Orcômeno. Ambos são filhos de Ares e Astíoque, filha de Actor (cf. Il. 2.511-15). Em Il. 9.80-88, eles figuram entre os sete guerreiros gregos que fazem a guarda dos muros que protegem o fosso e as naus por conselho de Nestor. Cada um deles chefia cem homens; ao todo, setecentos soldados fazem a proteção dos muros. Em Il. 13.518-9, Ascálafo é morto por Deífobo.