Presença romana na Hispânia

Deixo, Deuses, atrás a fama antiga,

Que co'a gente de Rômulo alcançaram,

Quando com Viriato, a inimiga

Guerra Romana, tanto se afamaram;

Também deixo a memória que os obriga

A grande nome, quando alevantaram

Um por seu capitão, que, peregrino,

Fingiu da cerva¹ espírito divino.

Lus. 1.26

1. Os dois últimos versos aludem a Sertório que, possuindo uma corça branca, dizia ter sido ela mandada pela deusa Diana. A corça sagrada era uma mensageira da deusa nas questões da guerra. (cf. Lencastre, 1927, p. 82)

Viriato (180-139 a.C.)

Pastor lusitano que escapou do massacre liderado por Sérvio Sulpício Galba (em 150 a.C.). Tornou-se o principal guerreiro e líder de seu povo em 147 a.C. Viriato fez um grande esforço para manter a Lusitânia independente das leis romanas. Sob sua liderança, a pequena guerrilha lusitana venceu uma série de confrontos contra comandantes romanos e contra tribos celtiberas, habitantes pré-romanos da Península Ibérica. Depois de derrotar Quinto Fábio Máximo Serviliano, Viriato estabeleceu paz com povos da região (confirmada pelos romanos) e uma aliança em ca. 140 a.C. O sucessor de Fábio, Servílio Cépio, porém, persuadiu o senado romano a autorizar a rendição dos inimigos e, por meios escusos, articulou o assassinato de Viriato. Os lusitanos se renderam em 138 a.C.; Viriato, no entanto, permanece como herói nacional da história portuguesa. (cf. Ernst Badian & Christoph F. Konrad, 'Viriatus' in OCD, 4ª ed.)


Desta¹ o Pastor nasceu, que no seu nome

Se vê que de homem forte os feitos teve,

Cuja fama ninguém virá que dome,

Pois a grande de Roma não se atreve.

Esta, o Velho que os filhos próprios come,

Por decreto do Céu, ligeiro e leve,

Veio a fazer no mundo tanta parte,

Criando-a Reino ilustre; e foi desta arte

Lus. 3.22

1. da Lusitânia

Quinto Sertório (ca. 126-73 a.C.)

Um eques (cavaleiro romano) da Nursia Sabina (ca. 100 km de Roma), famoso combatente das guerras címbricas sob o comando de Servílio Cépio e Caio Mário; na Espanha, combateu sob o comando de Tito Dídio. Foi questor em 91 a.C. e oficial nas "Guerras Sociais" (91-87 a.C.). Foi frustado por Sula na candidatura a tribuno (89-88 a.C.) e aliou-se a Cina. Dividiu a responsabilidade da tomada de Roma em 87 a.C. e as subsequentes execuções. Tornou-se pretor em 85 ou 83 a.C. Por suas críticas à condução da Espanha, foi proscrito e expulso de Roma em 81 a.C. Abrigado na Mauritânia (noroeste da África), chegou à Espanha a convite de lusitanos e romanos exilados. Rapidamente Sertório ganhou amplo apoio por sua bravura, justiça e religiosidade. Considerado já um rebelde, foi bem sucedido em lutas contras comandantes romanos, notadamente Cecílio Metelo Pio, na Espanha; por volta de 77 a.C., toma diversas regiões hispânicas. Ao agir como procônsul romano, traiu a confiança dos líderes hispânicos romanizados, confiando fortemente nos exilados romanos. Numa espécie de senado paralelo, fez da Espanha uma província de resistência contra o regime posterior a Sula em Roma. Sertório fez uma aliança com Mitrídates VI. Com a chegada de Marcos Perpena Vejento e substanciais remanescentes do exército de Emílio Lépido, tomou uma ofensiva contra Pompeu, então em campanha pela Espanha. Foi derrotado por Pompeu em Lauro (77 a.C.). Esta e outras derrotas consumiram muito de seus recursos militares e políticos: sua confiabilidade por parte de hispânicos e romanos exilados ficou enfraquecida. Tornou-se um déspota e foi assassinado por Perpena. (cf. Christoph F. Konrad, 'Sertorius Quintus', in OCD, 4ª ed.)



Eis a nobre cidade¹, certo assento

Do rebelde Sertório antigamente,

Onde ora as águas nítidas de argento

Vêm sustentar de longe a terra e a gente...

Lus. 3.66.1-4

1. Évora