Canto XVI

Os feitos heroicos de Pátroclo ou a Patrocleia

Áctor (Ἄκτωρ): Actor é um herói tessálio, as vezes era apresentado como (1) filho de Mírmidon e de Pisídice, sendo esta uma das filhas de Éolo, outras vezes como (2) um lápida, filho de Forbas e de Hirmine, a filha de Epeu, outras vezes, ainda, como filho de Hirmine e Éolo. Quanto à descendência, as tradições também não variam menos. Ora é considerado como (1) pai de Menécio (cf. Il. 11.785; 16.14) e, por conseguinte, avô de Pátroclo, ora como (2) pai dos Moliónidas Eurito e Ctéato, e da dinastia de Élide. Actor reinava em Feras, na Tessália, e foi para junto dele que se dirigiu Peleu quando, expulso por seu pai por ter matado Foco, procurava alguém que o quisesse purificar. Actor consentiu nisso, conservou-o junto de si e, ao morrer, legou-lhe o reino. Nesta versão, a lenda atribuiu a Actor um filho, Eurítion, que participou na caçada de Cálidon, e uma filha, Filomena.

Aquiles tratando um ferimento de Pátroclo.

Automedonte: Automedonte é o condutor do carro de Aquiles e, como tal, o seu companheiro de combate. Também era um chefe que chegara a Troia à frente de dez navios, com um contingente de Ciros. Desempenha um papel ativo nos combates diante de Troia. Depois da morte de Aquiles continua a servir o filho deste Pirro/Neoptólemo.

Xanto e Balio - os cavalos imortais de Aquiles (cf. Il. 16.149, 19.400) nascidos da Harpia Podarga e do vento Zéfiro; foram dados a Peleu como presente de casamento dos deuses (cf. Il. 16.381 e 867, 17.443-4, 23.277-8). Em Il. 19.404-17, Xanto, induzido pelas Erínias, adverte Aquiles quanto ao discurso de Hera.

Automedonte domando Xanto e Balio.

Éaco (Αἰαχός): Éaco, o mais piedoso de todos os Gregos, é filho de Zeus e da ninfa Egina, filha do deus-rio Asopo. Nasceu na ilha de Enone, a que mais tarde foi dado o nome de sua mãe, Egina. Era uma ilha deserta. Com desejos de ter companhia e um povo para governar, Éaco pediu a Zeus transformasse em homens as formigas que pululavam na região. Zeus acedeu às suas súplicas e o povo assim criado recebeu o nome de Mirmídones (palavra derivada de μύρμηχες, que em grego significa «formiga»).

Éaco desposou depois a filha de Círon, Endeis, de quem teve dois filhos: Télamon e Peleu. Contudo, alguns autores (seguindo, supõe-se, a versão mais antiga da lenda) não reconhecem qualquer parentesco entre Télamon e Peleu, apresentando apenas este último como filho de Éaco.

Mais tarde, Éaco desposou a filha de Nereu, Psâmate, de quem teve um filho chamado Foco. Para escapar à perseguição apaixonada do herói, Psâmate que, como a maioria das divindades marinhas e fluviais, possuía o dom da metamorfose, transformou-se em foca. Não conseguiu, contudo, impedir que Éaco concretizasse os seus intentos e o filho que dele gerou recebeu o nome de Foco, em memória da metamorfose da mãe. O jovem foco era exímio em provas atléticas, o que suscitou a inveja dos seus irmãos, Peleu e Télamon. Decidiram mata-lo: Télamon lançou o disco de modo a atingir a vítima na cabeça, causando-lhe assim a morte. Com a ajuda de Peleu, Télamon enterrou o cadáver num bosque, mas o crime foi descoberto, Éaco expulsou de Egina os filhos.

A reputação de piedade e justiça de que Éaco desfruta (que deriva, sem dúvida, do severo julgamento que levou a condenar os próprios filhos) valeu-lhe a honra de ser escolhido para dirigir a Zeus uma prece solene, em nome de todos os Gregos, quando um período de esterilidade flagelava os campos da sua região. A calamidade devia-se à cólera de Zeus, revoltado contra Pélops, que havia mutilado o cadáver de Estínfalo, seu inimigo e rei da Arcádia, espalhando os pedaços do corpo da vítima. Éaco conseguiu apaziguar a cólera do deus.

Após a morte, o herói teria ficado nos infernos como juiz das almas dos mortos. Mas tal crença é relativamente recente; é ignorada por Homero, que menciona apenas Radamante como juiz dos infernos. Platão é o primeiro a atribuir a Éaco tal prerrogativa.

Outra lenda relativa ao herói conta que ele participou na construção das muralhas de Tróia, ao lado de Apolo e de Posídon. Quando a obra ficou concluída, três serpentes se aproximaram do muro. Duas delas atacaram a parte construída pelos deuses e morreram; mas a terceira conseguiu derrubar a parte da muralha erguida pelas mãos do mortal. Apolo interpretou o presságio: "Tróia [disse] seria tomada duas vezes, primeiro por um filho de Éaco [foi Héracles quem tomou pela primeira vez a cidade, combatendo ao lado de Peleu e Télamon], e depois de três geração, por Neotólemo, bisneto de Éaco e filho de Aquiles."

Polimela (Πολυμήλα): (1) Uma das heroínas com este nome é a filha de Fila, que teve de Hermes um filho chamado Eudoro. Mas tarde, desposou Equeles, descendente de Actor. (2) Polimela é também o nome da filha de Éolo, senhor dos ventos, que durante a permanência de Ulisses na corte de seu pai foi amante do herói. Quando este partiu, deixou transparecer os seu desgosto de tal modo que o rei percebeu os sentimentos que a invadiam, decidindo-se então, a puni-la, mas Diores, seu filho, apaixonado pela própria irmã, conseguiu acalmar a ira paterna, obtendo permissão para se casar com Polimela (eram habituais os casamentos entre os filhos de Éolo). (3) Outra heroína era a filha de Actor que, segundo certas tradições, teria sido esposa de Peleu antes de este ter se casado com Tétis. É por as vezes apresentada como filha de Peleu.

Eudoro (Εὔδωρος): Eudoro é um filho de Hermes e de Polimele, a filha de Filas. Foi criado pelo avô e na altura da Guerra de Tróia seguiu Aquiles, chefiando um dos cinco batalhões dos Mirmídones. Aquiles manda-o acompanhar Pátroclo, quando este avança para o combate, durante a «aristia» do herói, filho de Menécio.

Sarpédone (Σαρπηδών): figura como filho de Zeus e Laodâmia (cf. Il. 6.198-99), filha de Belerofonte; noutras versões do mito, ele aparece como filho de Zeus e Europa, tendo por irmãos Minos e Radamantes. Chefe do contingente dos Lícios. É morto por Pátroclo (Il. 16.538-40), e pelo seu corpo se desenvolve um intenso combate.

Epigeu (Ἐπειγεύς): Era filho de Agacles, rei de Budíon, na Tessália. Por ter causado a morte do seu primo, teve de se refugiar na corte de Peleu e acompanhou Aquiles na expedição contra Tróia. Foi morto por Heitor.

Cebríones (Κεβριόνες): Filho de Príamo com uma concubina (Il. 16.738), logo, meio-irmão de Heitor. Após a morte de Arqueptólemo, passou a servir como cocheiro de Heitor (cf. Il. 8.318-9). Foi Cebríones que instigou Heitor a ajudar os Troianos que enfrentavam Ajaz (Il. 11.521-33). Ele esteve entre os guerreiros troianos que romperam os muros gregos (Il. 12.91) e em seguida participou da batalha junto aos navios (Il. 13.789-92). Deve uma morte terrível pelas mãos de Pátroclo; é justamente na luta por seu corpo que Pátroclo enfrenta Heitor. Os gregos tomam o corpo e as armas de Cebríones. No entanto, o desfecho do combate termina com a morte de Pátroclo pelas mãos de Heitor, mas não sem o auxílio do deus Apolo e de Euforbo, filho de Panto (Il. 16.788-828).

Euforbo (Εὔφορβος): Euforbo é um herói troiano, filho de Pântoo, que se destaca em momento crucial na Il.: a morte de Pátroclo. Foi ele quem desferiu o primeiro golpe no amigo dileto de Aquiles. No canto 17, é morto por Menelau. Ainda no canto 17, Euforbo se orgulha de ter ferido Pátroclo primeiro e, diálogo com Menelau, revela sua pretensão de "alcançar alta glória entre os Teucros" (cf. Il. 17.16). O escudo de Euforbo, recolhido por Menelau, foi deposto no templo de Hera em Argos. Pitágoras julgava ter sido, numa das suas anteriores encarnações, o herói.

Pântoo (Πάνθοος): Pântoo figura na Ilíada como um dos mais velhos troianos companheiros de Príamo (cf. Il. 3.146-53). Tem três filhos: Hiperénor, Euforbo e Polidamente. A sua mulher é Frôntis. Contava-se que este Pântoo era natural de Delfos e estava consagrado ao culto de Apolo. Quando Héracles tomou pela primeira vez Tróia, Príamo enviou uma embaixada para consultar o oráculo de Delfos. Os emissários regressaram, levando consigo Pântoo, a fim de conservarem duradouras as relações com o santuário. Segundo outra versão, o embaixador de Príamo, um dos filhos de Atenor, apaixonou-se por Pântoo, um sacerdote de Apolo em Delfos, e levou-o à força para Tróia. Para reparar a ofensa cometida contra Pântoo, Príamo fê-lo sacerdote de Apolo em Tróia. Viria a ser morto por ocasião da tomada da cidade.