Canto XXIV

O Resgate do corpo de Heitor

Esboço do canto

v. 1-17: terminados os jogos, Aquiles ainda matinha viva lembranças de quando Pátroclo estava vivo e lamentava a ausência do amigo dileto. Ao amanhecer, o Pelida ultraja o corpo de Heitor: ele ata o corpo desnudo ao carro e dá três voltas ao redor do túmulo de Pátroclo.

v. 18-54: os deuses se incomodam com o ultraje e se apiedam do corpo do chefe troiano; Apolo cuida do cadáver; os deuses concordam em solicitar que Hermes roube o corpo de Heitor, mas Hera, Posido e Atena se opõem; o filho de Leto discursa em defesa da piedade de Heitor enquanto vivo e critica a postura desses deuses diante do comportamento de Aquiles.

v. 55-76: Hera entende que, por se filho de uma deusa, Aquiles merece tratamento especial. Zeus intervém e recomenda que, ao invés de enganar Aquiles, Tétis seja trazida até ele para convencer o filho a suspender os ultrajes ao cadáver de Heitor, que desagradam os deuses, e a aceitar o pagamento de Príamo em resgate.

v. 77-119: Íris é enviada a Tétis e encontra a nereide rodeada por outras deidades e chorando o destino do filho, morrer em Troia, longe da torrão de nascença. Ao lado de Zeus, Tétis ouve a proposta do pai dos homens e dos deuses de não enganar Aquiles, mas convencê-lo a aceitar o resgate pelo corpo.

v. 120-42: Tétis vai até a tenda do filho e encontra Aquiles a chorar pela morte do amigo; a nereide lhe transmite a mensagem de Zeus. Aquiles aceita o pagamento em resgate.

v. 143-87: Íris se dirige imediatamente a Troia para levar as orientações de Zeus a Príamo: o rei troiano deve ir sozinho até a tenda do Pelida levando muitos presentes. A deusa mensageira encontra Príamo; a morada do rei é só lamentos, os filhos que restam, filhas e noras choram ao redor do velho. Íris transmite as orientações ao monarca.

v. 188-236: Príamo ordena que seu carro seja aprestado e explica a Hécuba as ordens divinas que recebera. A rainha considera as ordens sem nexo e teme pela vida do marido. Príamo pede que Hécuba não interfira em sua decisão de obedecer à mensageira dos deuses. O monarca parte com o carro repleto de presentes.

v. 237-79: Príamo se prepara para partir pronunciando muitos insultos aos troianos que estão no pórtico; nem os filhos são poupados dos insultos. Os filhos do rei trazem o carro.

v. 280-322: estando de partida, Hécuba suplica que o rei preste reverência a Zeus e lhe conceda um sinal de bom augúrio pelo voo dos pássaros. Príamo assim o faz; Zeus concede o sinal: uma águia surge alçando voo pela direita sobre a cidade.

v. 323-403: Príamo se dirige ao acampamento grego; Zeus observa o monarca e pede que Hermes o acompanhe até a presença de Aquiles. Príamo e seu piloto percebem a aproximação de Hermes na figura de um jovem. O rei e o deus trocam algumas palavras.

v. 153, Argicida (Ἀργειφόντες) - famoso epíteto de Hermes. O deus mensageiro é figura conhecida no mito de Io de Argos, o bisneto do filho de Zeus e Níobe, de mesmo nome (Argos); há várias descrições para esse personagem, a mais comum é de que foi um gigante de cem olhos; uma reza que possuía um só olho, outra que possuía quatro olhos, um par olhava para frente e o outro par para trás, outra que possuía uma infinidade de olhos espalhados por todo corpo. Por ordens de Hera, Argos ficou encarregado de vigiar Io, sua sacerdotisa na Argólida: Zeus se apaixonou por Io e uniu-se a ela; para proteger sua amante, Zeus transforma Io em uma vaca extraordinariamente branca; por vezes o próprio Zeus se transformava em touro para unir-se a Io. Hera, desconfiada, exigiu que Zeus consagrasse a vaca a ela; sem mais argumentos para convencer a esposa e ocultar seu romance, ele concede. Hera, então, coloca Argos como guardião de Io. Hermes recebeu de Zeus a ordem de libertar Io matando Argos; há diferentes versões para o modo como isso aconteceu: Hermes teria matado Argos com uma pedra atirada de longe; outra versão reza que Hermes adormeceu o gigante ao som da flauta de Pã e depois mergulhou-o em um sono profundo. Hera, como recompensa pelo serviço prestado do gigante, transfere seus olhos para a plumagem do pavão.