Canto VIII

A luta interrompida

Esboço do canto

v. 1-29 Zeus proíbe os deuses de intervirem na batalha, prometendo mostrar a sua potência e jogá-los no Tártaro escuro, caso desobedeçam. Enquanto isso, todos os deuses e deusas seguem imóveis e calados diante da violência das palavras do Cronida.


v. 30-40 Palas Atena de olhos glaucos, a única a interferir, suplica para que ela possa aconselhar os Argivos, temendo que todos sejam dizimados. Zeus responde, rindo à filha querida, que a decisão é final; o soberano, no entanto, muda o tom por não desejar se indispor com Atena.


v. 41-52 Tomada a decisão, Zeus prepara seus cavalos de crinas de ouro ondulantes e de cascos de bronze; veste a armadura de ouro puro, empunha o chicote e com uma chicotada desperta os cavalos que seguem, velozes pelos caminhos entre o céu e a terra até o monte Ida. O Cronida desatrelar os cavalos ao carro, envolve-os em densa neblina e senta a contemplar, radiante de glória, a cidade de Troia e os navios Argivos.


v. 53-74 Gregos e troianos ceiam e logo aprontam-se para o combate, alguns a pé, outros de carros. Os inimigos se encontram e se chocam com lanças e escudos; os que vencem gritam com entusiasmo, os que perdem, lamentam. Durante toda a manhã, os dardos se cruzam, muitos perecem. Ao meio-dia, Zeus, em áurea balança, a pesa as sortes funestas de troianos e gregos: a sorte dos Aquivos baixa até o chão, a dos Teucros se eleva ao céu.


v. 75-86 Nesse momento, Zeus lança um raio no meio do exército Aqueu. Tomados pelo medo, ninguém ousa permanecer, nem Idomeneu, nem Agamémnone, nem os Ajazes, exceto Nestor, porque Páris havia lhe ferido um cavalo.


v. 87-117 Heitor se aproxima de Nestor; Diomedes incita Odisseu à luta com o objetivo de salvar Nestor; Odisseu, no entanto, não ouve as palavras e segue para os navios. Diomedes, sozinho, avança à frente até chegar ao velho Nestor. O velho sobe ao carro do Tidida, deixando que Eurimedonte e Esténelo cuidem dos cavalos. Nestor toma o comando das rédeas do carro de Diomedes, em pouco tempo aproximam-se de Heitor.


v. 118-29 Diomedes arremessa a lança, que em Heitor não acerta, mas sim em seu escudeiro Eniopeu, filho de Tebaio, que perde a vida ali mesmo. Grande pesar sente Heitor com a morte do seu auriga. O chefe troiano segue em busca de outro guia; ele encontra Arqueptólemo, filho de Ífito.


v. 130-57 Os troianos seriam encurralados se não tivessem sido notados pelo pai dos deuses e homens que um raio joga diante do carro de Diomedes. Chama horrorosa eleva-se. Os corcéis ficam tomados pelo medo; Nestor se volta ao Tidida e diz que Zeus favorece Heitor. Diomedes, contrariado com a vitória de Heitor, concorda com Nestor. O Tidida faz os cavalos voltarem.


v. 158-83 Heitor e os troianos atiram setas nos Aquivos que fogem; Heitor debocha da fuga do valente Diomedes, que, ao ouvir as palavras, pensa em retornar e enfrentar Heitor. O filho de Príamo dirige-se aos Lícios, Dardânios e Teucros celebrando a intervenção de Zeus. Lembra o nobre guerreiro que o deus potente os antecede, a eles concede vitória e fama, aos gregos, apenas trabalhos; Heitor desdenha do muro e do fosso e planeja chegar aos navios gregos na praia, atear fogo e matar ali muitos Argivos.


v. 184-97 Heitor exalta o cuidado de sua amada Andrômaca, filha de Eecião, para com seus cavalos, Étone, Lampo, Podargo e Xanto. Heitor incita os cavalos contra os gregos, desejoso de espoliar as armas de Nestor e Diomedes. Heitor acredita que essa conquista forçaria os gregos a entrarem nos navios, e o plano de incêndio seria concluído.


v. 198-211 Hera, fazendo tremer todo o Olimpo, mostra-se indignada com o plano de Heitor. Ela se dirige a Posido sugerindo que os deuses protetores dos gregos expulsem os troianos de perto dos Dânaos. Posido, furioso, recusa a ideia, reconhecendo o que Zeus é mais poderoso do que os olímpicos juntos.


v. 212-27 Enquanto os deuses trocam conversas, por toda parte carros e guerreiros se amontoam. Heitor, que premia os gregos, decerto incendiaria os barcos, se Hera não tivesse lançado em Agamémnone o desejo de encorajar os outros gregos; o chefe dos gregos escolhe um lugar central, o navio de Odisseu, donde todos poderiam ouvi-lo, desde a tenda do forte Ajaz até a de Aquiles, ambas localizadas nas extremidades do acampamento.


v. 228-52 Desse lugar, Agamémnone reprova o comportamento dos gregos. O chefe suplica a Zeus que não os castigue, pois sempre oferecera a ele sacrifícios e honrarias; Agamémnone clama, aos prantos; o Cronida potente mostra-se abalado e manda um sinal: uma águia carrega nas garras um pequeno gamo e solta-o ao passar pelo altar. Os guerreiros entendem o sinal do deus. O espírito bélico grego é renovado.


v. 253-77 Diomedes incita os cavalos e não hesita em voltar à batalha; o Tidida mata Agelau com a lança; acompanham-no Menelau, Agamémnone, os Ajazes, Idomeneu, Meríones, Eurípilo e, na nona posição, Teucro, munido de arco e flecha, abrigado sob o escudo de Ajaz Telamônio. Teucro alveja muitos inimigos: Orsílico, Détor, Crômio, Ormeno, Ofelestes, Licofonte, Melanipo e Amopáone; todos são mortos por Teucro.


v. 278-319 Agamémnone se alegra ao notar os feitos de Teucro; o Atrida promete a Teucro prêmio e honrarias; o filho de Telemão dedica-se à batalha e lança uma flecha na tentativa de acertar Heitor, mas acerta outro filho de Príamo, Gorgitíono. Teucro novamente investe contra Heitor, Apolo, porém, desvia a lança que acerta seu auriga, Arqueptólemo. Cebríones, meio-irmão de Heitor, lhe serve como auriga.


v. 320-34 Heitor pula do cavalo, pega do solo uma pedra e lança em Teucro, que preparava para flecha; a pedra lançada por Heitor atinge perto do ombro, adormecendo seu punho; Ajax, irmão de Teucro, ao vê-lo caído, corre e o envolve em seu escudo gigante. Dois companheiros também amparam a Teucro, Alástor e Mecisteu.


v. 335-49 Zeus novamente favorece os troianos, os Argivos recuam. Heitor, orgulhoso de sua força, avança. Os guerreiros gregos passam pelas estacas e fosso; muitos morrem nas mãos dos troianos, os que restaram, reuniram-se próximo aos navios; os Dânaos suplicavam com as mãos levantadas a todos os deuses.


v. 350-80 Hera sente piedade dos gregos, dirige-se a Palas Atena e questiona se elas não hão de demonstrar compaixão diante da ferocidade de Heitor. A Tritogênia ressalta que há muito deveria ter sido morto Heitor; Palas Atena mostra-se injuriada com o contempto de seu pai contra os Dânaos; Atena lembra as vezes em que auxiliou Herácles, filho de Zeus, quando dos trabalhos de Euristeu; ela ressalta que tamanha crueldade de Zeus se deu após a promessa que havia feito a Tétis.


v. 381-96 Hera e Palas Atena preparam os cavalos; com suas armas ingressam ao caminho da guerra; Palas atrela os corredores, ela sobe ao carro provida de sua lança; Hera estimula os cavalos a passar pelas portas do céu, que estão sob proteção de as Horas.


v. 397-425 Do Ida, o Cronida as enxerga trapaceando as regras impostas; imediatamente manda Íris para que as impeça de intervir, receando as possíveis consequências: o deus do raio tem o poder de, mesmo distante, quebrar o carro e ferir gravemente as deusas. Íris voou ao encontro de Atena e Hera e lhes entrega o recado; Íris retorna após haver cumprido a missão.


v. 426-37 Hera argumenta com Atena que não vale a pena lutar contra o Cronida por causa dos homens; como o destino quiser, assim será o caminho dos Dânaos: a uns a Morte arrebatará, outros seguirão com a vida. Somente Zeus pode distribuir a justiça; as duas retornam.


v. 438-68 Zeus do monte Ida, atrela os cavalos ao carro e vai para o alto Olimpo; Hera e Palas Atena silenciosas ficaram; o Cronida, em tom de provocação, dirige-se a elas e lembra a todos os deuses novamente sua grande força. As duas mordem os lábios com força; Palas Atena continua silenciosa, Hera magnífica não se contém se enraivece com Zeus.


v. 469-84 Hera reconhece o poder do Cronida e pede permissão para somente conselhos transmitir aos gregos. Zeus em resposta diz que os gregos só voltam à glória quando Aquiles retornar ao combate logo após a morte de Pátroclo. Esse é o decreto divino. Hera, de cândidos braços, então, nada disse em resposta.


v. 485-88 A luz do sol desce para o oceano, deixando a escuridão nos campos de guerra; os troianos veem com tristeza a noite chegar e os gregos celebram com alegria o cessar do dia.


v. 489-96 Heitor convoca a assembleia dos Teucros, em um lugar limpo, onde não haviam mortos e longe das naves; todos descem dos cavalos e escutam, atenciosamente, Heitor grato a Zeus.


v. 497-541 Heitor discursa longamente e passa as instruções para a refeição da noite aos troianos e aliados; ele ordena que grandes fogueiras sejam espalhadas a fim de observar o movimento dos argivos; manda mensageiros à cidade para anunciar que jovens e velhos velem nos muros e torres, enquanto as mulheres troianas mantenham o fogo das casas acessos: é importante manter vigilância na cidade enquanto o exército luta fora dos muros. Nesse tempo, Heitor rogará a Zeus e aos demais deuses a expulsão dos gregos; o chefe também pede vigilância ao exército; tão logo a Aurora lance os primeiros raios, a guerra recomeçará; Heitor esperar fazer Diomedes recuar ou talvez tirar-lhe a vida.

v. 542-65 Os troianos aplaudem o discurso de Heitor. Os corredores são preparados para cumprir o pedido de Heitor; os Teucros oferecem o sacrifício aos deuses. Os Eternos, no entanto, recusaram o sacrifício, pois todos odiavam Troia sagrada. Os guerreiros seguem esperançosos aguardando a Aurora chegar novamente.

Por Vitória Albuquerque