Capitulum quartum
As conjugações latinas
Os verbos latinos se dividem em quatro conjugações. Elas são caracterizadas pelos temas. Tema é a junção de radical, parte invariável do verbo, e vogal temática:
- 1ª conjugação: uocā-, cantā-, pulsā- > vogal temática-ā
- 2ª conjugação: tacē-, uidē-, habē- > vogal temática -ē
- 3ª conjugação: pon- sum- disced- > -cons./-ĕ¹
- 4ª conjugação: uenī-, audī-, dormī- > vogal temática -ī
Com exceção da 3ª, as conjugações latinas são facilmente identificadas pelas vogais temáticas. As vogais temáticas fazem a ligação entre o radical e as desinências modo-temporais (DMT) e desinências número-pessoais (DNP) dos verbos latinos.
Modos indicativo e imperativo
O Modo indicativo é o modo verbal usado para afirmar ou para negar algo.
O presente do indicativo latino tem DMT zero. Para formá-lo, basta acrescentar as DNP ao tema:
- 1ª conjugação: uoca-t/ uoca-nt; interroga-t/ interroga-nt
- 2ª conjugação: tace-t/ tace-nt; uide-t/ uide-nt
- 3ª conjugação: pon-it/ pon-unt; sum-it/ sum-unt
- 4ª conjugação: audi-t/ audi-unt; ueni-t/ ueni-unt
O Modo Imperativo é o modo verbal da ordem, dos comandos. O imperativo latino ocorre apenas na 2ª pessoa do singular e do plural. No singular, é a forma verbal mais curta, sendo constituída pelo tema dos verbos. Para formar o plural, basta acrescentar a DMT -te ao tema.
- 1ª conjugação: uoca (imper. 2ª p.s.)/ uocate (impert. 2ª p.pl.)
- 2ª conjugação: tace (imper. 2ª p.s.)/ tacete (impert. 2ª p.pl.)
- 3ª conjugação: pone (imper. 2ª p.s.)/ ponite (impert. 2ª p.pl.)
- 4ª conjugação: audi (imper. 2ª p.s.)/ audite (impert. 2ª p.pl.)
Vocativo
É o caso do latim do chamamento. Quando alguém se dirige a outrem o vocativo é o caso empregado: salue, magister! Fu, pueri! Mater, Marcus Quintum pulsat. Os nomes magister, pueri e mater são vocativos.
Via de regra, pelos exemplos supracitados, o vocativo é formalmente igual ao nominativo em todas as cinco declinações. Exceções ocorrem somente na 2ª declinação, especificamente nas palavras terminadas em -us, nelas o vocativo termina em -e: Daue! Salue, serue! Salue, domine! Os nominativos desses nomes são: Dauus, seruus e dominus. Nomes próprios terminados em -ius, também de 2ª declinação, fazem o vocativo em -i: Iulius (nom.) > Iuli (voc.); filius (nom.) fili (voc.); Antonius (nom.) > Antoni (voc.); Sergius (nom.) Sergi (voc.).
Pronome is, ea, id
Na sentença Medus discedit, quia is pecuniam domini habet (l. 76-7), o nome Medus na primeira parte da sentença, é substituído por is na segunda parte. Esse pronome é anafórico, ou seja, é um elemento da língua que retoma a referência de um outro nome ou sintagma anteriormente empregado. Pode ser traduzido em português por ele ou ela, ou a depender do contexto, esse, essa, isso.
Na primeira Medus é nominativo, sujeito de discedit; na segunda, is (que substitui Medus) é nominativo, sujeito de habet. A forma acusativa de is é eum.
A forma do genitivo sing. do pronome is, ea, id é eius; essa forma de genitivo sing. é a mesma para os três gêneros: In sacculo eius (= Iulii) est pecunia.
Possessivos eius/suus
Nas sentenças, Dauus sacculum eius sumit e Dauus sacculum suum sumit, ocorrem duas marcações de posse: na primeira, a forma genitiva eius, na segunda, o pronome possessivo suum. Por vezes, o português admite a tradução Davo pega o saco dele para as duas sentenças. Há, no entanto, uma importante diferença: eius marca o pertencimento de uma terceira pessoa, ou seja, em Dauus sacculum eius sumit, Davo pega o saco de uma outra pessoa; em Dauus sacculum suum sumit, Davo pega o saco que pertence a ele mesmo.
Assim, em Iam sacculus eius in mensa est, o forma eius marca o pertencimento de uma terceira pessoa em relação a quem enuncia a sentença; já em Iulius pecuniam suam sumit, Júlio pega o dinheiro que pertence a ele mesmo.