Camber-VW "Patinho Feio"

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A história da Camber começa com quatro rapazes de Brasília: Alex Dias Ribeiro, José Álvaro Vassalo, Helládio Toledo Monteiro Filho e João Luiz Fonseca, que resolveram, em 1967, colocar em prática os conhecimentos de mecânica que possuiam. A primeira "cobaia" foi Vemaguete Pracinha da mãe de José Álvaro, que a cedeu com a condição de que as modificações resultassem em redução do consumo de combustível, mas que acabou transformando do o carro em sensação nas corridas de rua. Isso levou os garotos a montar uma oficina chamada Camber, um barraco de madeira no fundo do quintal da casa de José Álvaro.

Como o número de clientes era pequeno, eles perceberam que precisariam de um carro próprio para testar suas idéias de preparação, carro que foi doado pelo pai de Alex: um Fusca 1200 condenado após um acidente. Os trabalhos começaram, a lataria foi removida e chassi, motor e câmbio foram reformadas com peças usadas. Eles chegaram a dar algumas voltas com esse chassi depenado, até que a realização dos 500 Quilômetros de Brasília foi anunciada. para participar, contudo, seria necessária uma carroceria, que inicialmente deveria ser semelhante ao Ford GT40. Conseguiram uma máquina de solda a oxigênio e começaram a construir a partir de tubos de conduítes de eletricidade com a ajuda do Moyses, o dono da máquina de solda. Devido à falta de conhecimento deste sobre automóveis, o resultado não poderia ter ficado mais discrepante daquilo que foi idealizado, nas palavras no próprio Alex Dias Ribeiro:

"A máquina ficou pronta no dia da corrida. Era vermelha como uma Ferrari e terrivelmente feia. Os quatro faróis de milha parafusados do lado de fora dos pára-lamas dianteiros davam-lhe um ar de um gigantesco gafanhoto de quatro olhos. A enorme tomada de ar frontal parecia a boca do bicho-papão. Os pára-lamas traseiros, em forma de asas de abelha, completavam o quadro. Algumas pessoas disseram que era o protótipo de um formigão mecânico, daqueles de filme de ficção científica".

Na corrida, o carro com o número 17 largou em uma das últimas posições, mas com o desenrolar da prova vários concorrentes de peso abandonaram, como o Karmann-Ghia Porsche 2000 de Aylton Varanda, o Alfa Romeo Giulia TIS de Emílio Zambello e o Fusca 1500 de Ênio Garcia. Na parte final, o Camber estava em 3°, devido a uma corrida consistente da dupla Alex Ribeiro/João Fonseca, atrás do Alfa Romeo GTA da equipe Jolly e do Renaul R8 de Marivaldo Fernandes, que queimou a junta do cabeçote e acabou abandonando, o que deu o segundo lugar aos até então desconhecidos jovens de Brasília. Nessa corrida também que o carro ganhou o nome pelo qual se tornaria mais conhecido, pois, tal como o Patinho Feio da história, acabou se tornando um cisne no final. Ainda em 1967, o carro conseguiria um 13° lugar nos 200 Quilômetro de Goiânia com Ribeiro/Fonseca e um 5° lugar em Brasília com Ribeiro e Vassalo.

A estréia do Camber nos 500 Quilômetro de Brasília em 1967.

Para 1968 o carro ganhou motor 1600 e rodas de 13", conseguindo a 12° posição nos 1000 Quilômetros de Brasília, novamente com Alex Ribeiro e João Fonseca ao volante. Na segunda etapa do brasileiro, as 500 Milhas da Guanabara, o carrinho voltou a chamara atenção, dessa vez por envolver-se em acidentes com o protótipo Bino de Luiz Pereira Bueno/José Carlos Pace e com o Interlagos Mk. I de Bird Clemente/Luiz Terra Smith, mas ainda assim conseguiu a quarta colocação geral. Nesse ano ainda destacam-se os 2° lugar com Zeca Vassalo em Anápolis e com Alex Ribeiro/João Fonseca nos 500 Quilômetros de Brasília. Esses bons desempenhos fizeram com que a Camber ficasse conceituadíssima em Brasília, movendo-se para um endereço alugado, agora com o nome de Camber Mecânica de Automóveis e Representação.

O Patinho Feio na especificação 1968, nas 500 Milhas da Guanabara (primeiras duas fotos) e nos 100 Quilômetros de Anápolis (última foto).

Em 1969 recebeu motores mais fortes, primeiro 1800 e depois 2000 e também um aerofólio móvel ao estilo do Chaparral 2E, que era acionado por uma alavanca ao lado do banco do piloto. O aumeto de potência, entretanto, acabou aumentando a tendência do carro em sair de frente, devido ao grande entre-eixos e baixa altura, o que gerou acidentes nos 1000 Quilômetros de Brasília e nas 100 Milhas de Brasília. Ainda assim, bons resultados vieram, como o 4° lugar nas 100 Milhas de Belo Horizonte e 3° no GP Nordeste em Fortaleza.

Participação nas 1000 Milhas de Brasília de 1969.

Em 1970 abandonou os 500 Quilômetros de Belo Horizonte e os 1000 Quilômetros de Brasília e chegou em 7° nos 100 Quilômetros de Goiânia, mas o carro ficou obsoleto com a implantação da Divisão 4, e acabou abandonado até 1972, quando o tricampeão mundial de Fórmula 1 Nelson Piquet, que era mecânico da Camber, o reformou, encurtando seu entre-eixos para participar do Campeonato Brasiliense junto com Ruyter Pacheco. Este campeonato consistiu de diversas etapas disputadas em um traçado montado no estacionamento do estádio Pelezão, e foi onde o Patinho Feio obteve sua única vitória na classificação geral. Ao fim do ano o carro foi novamente abandonado, dessa vez por cerca de 20 anos, até ser resgatado e restaurado por Alex Dias Ribeiro e João Luiz da Fonseca.

Piquet ao volante em 1972 no Pelezão.

O carro foi totalmente restaurado para seu aniversário de 40 anos em 2007. Na primeira foto os quatro criadores e a criatura reunidos para a comemoração.

Histórico em competições: