Escultura & Texto

Figura 1: Procissão do Encontro na Semana Santa – Feira de Santana, BA, 2019

Fonte: PASCOM – Paróquia Senhor dos Passos, em 17/04/2019


Figura 2: A imagem do Senhor dos Passos sendo conduzida em Procissão na 23ᵃ Festa do Senhor dos Passos - Feira de Santana, BA, 2019

Foto: Débora Regina de Macêdo Santana, em 29/09/2019


Figura 3: Procissão na 23ᵃ Festa do Senhor dos Passos, Feira de Santana, BA, 2019

Fonte: PASCOM – Paróquia Senhor dos Passos, em 29/09/2019



SENHOR DOS PASSOS: DEVOÇÃO EM FEIRA DE SANTANA NA BAHIA


Escultura: Senhor dos Passos

Autoria/Atribuição: Não identificada

Técnica:Imagem de vestir (roca)

Dimensão aproximada: 114 cm (alt.) X 67 cm (larg.) X 117 cm (prof.)

Origem: Não identificada

Procedência: Igreja Senhor dos Passos, Feira de Santana, BA

Época: Século XIX ou XX


A história da devoção ao Senhor dos Passos na cidade de Feira de Santana teve como marco inicial a construção de uma Capela, por parte do comendador Felipe Pedreira de Cerqueira e sua esposa. A capela de inspiração barroca concluída no ano de 1852 fazia parte de um complexo urbanístico, que também contava com um sobrado e um cemitério. A importância desta à época pode ser mensurada tendo em vista ter recebido a visita do Imperador D. Pedro II no dia 07 de novembro de 1859.

Uma nova página em torno desta devoção começou a ser escrita quando os ares da Belle Époque se fizeram presentes em Feira de Santana nos primórdios do século XX. Estando a Capela do século XIX já em ruínas idealizou-se a construção de um novo templo em honra ao Orago, sendo escolhida uma planta em estilo neogótico.

Pesquisas em jornais nos revelaram detalhes da devoção ao Senhor dos Passos na cidade de Feira de Santana, bem como o papel social e religioso das imagens em manifestações de fé, especialmente do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores, as quais podemos dizer que ainda hoje cumprem sua função devocional junto a seus fiéis.

Uma referência encontrada em um jornal datado de 15 de outubro de 1921, que tratava da colocação da primeira pedra do novo templo ao Senhor dos Passos dava ênfase a presença das imagens na procissão: “Pouco depois das 8hs, sahiram da capella de S. Vicente1 as imagens do Senhor dos Passos e N. S. das Dores, que foram condusidas processionalmente até o local da construcção onde o rvdmo. sr. conego Tertuliano Carneiro da Silva, (...), celebrou missa campal” (AO SENHOR..., 1921, p. 1).

Uma segunda informação foi encontrada em um outro jornal, sendo este datado de 06 de janeiro de 1933. Este ressaltava que uma multidão de fiéis, por meio de um cortejo religioso, percorreu as ruas da cidade e conduziu as imagens ao templo. “O anseio justissimo da população feirense e, em especial, dos devotos fervorosos do Senhor dos Passos, que são muitissimos nesta cidade, em ver recolhidas as veneradas imagens do Orago e da Santíssima Virgem das Dores ao seu bello templo (...) teve, afinal, plena satisfação” (A IMPONENTE..., 1933, p. 1). Vale ressaltar que as imagens em questão foram levadas ao novo templo bem antes da conclusão e inauguração da igreja que só aconteceu em 24 de dezembro de 1979.

As imagens de vestir (roca) constituíram-se em importantes expressões do barroco, assim era comum a presença das mesmas em igrejas do século XVIII no Brasil, sendo que a realização de procissões fez com que elas se popularizassem no período e permanecessem até os dias de hoje cumprindo sua função. “A procissão é uma manifestação pública de fé, um gesto de comunhão eclesial com os irmãos que partilham da mesma fé e da mesma esperança” (ZILLES, 2018, p. 162).

Na atualidade, a Igreja Senhor dos Passos preserva a realização de procissões2, particularmente em 2 (dois) momentos: Semana Santa e Festa do Senhor dos Passos e nestes a presença das imagens sacras é de importância fulcral. “De acordo com São João da Cruz, havia uma relação recíproca, entre Deus e os fiéis, que era mediada pelas imagens. Assim, por meio das imagens de devoção, inflamavam-se as orações e, por meio de ambas, Deus continuava a conceder as graças e milagres” (FLEXOR, 2005, p. 165).

Observando a Figura 1, que ilustra um dos momentos mais simbólicos da Semana Santa: a Procissão do Encontro, podemos ter uma noção da reciprocidade que envolveu imagens e fiéis e entender a essencialidade das mesmas nas procissões. Na figura em questão podemos observar o encontro da Mãe com seu Filho Jesus, que representa a 4ᵃ Estação da Via Sacra. O Arcebispo de Feira de Santana, “Dom Zanoni, em sua reflexão disse que as dores da Mãe são as dores da humanidade. Mais um momento onde cada um faz o seu encontro pessoal com Jesus e com Maria, na expectativa do tríduo pascal” (CRISTO..., 2019, p. 4). (Figura 1)

As Figuras 2 e 3 apresentam mais um momento em que a imaginária devocional exerceu sua função social e religiosa. Elas retratam a procissão que marcou a 23ᵃ Festa do Senhor dos Passos, ocorrida no ano de 2019, a qual caracterizou-se por conter “vários andores com os Santos e Santas da nossa Igreja, inclusive Dulce dos Pobres, todos acompanhados dos seus devotos, (...) crianças caracterizadas de anjos, (...), Santo Antônio, Madre Tereza de Calcutá, Nossa Senhora Aparecida (...), encerrando com a belíssima imagem Senhor dos Passos” (23ᵃ FESTA..., 2019, p. 8). Tratou-se de uma manifestação popular onde a expressão de fé teve como aliada a arte religiosa, representada por imagens devocionais de longa tradição e de devoções contemporâneas. “A Igreja jamais celebra Maria ou um santo dissociado dos mistérios de Cristo” (SCOMPARIM, 2013, p. 48). (Figuras 2 e 3)

Estes tipos de manifestações envolvem fortemente a participação dos fiéis. Que já se mostra ativa muitas vezes na preparação das imagens devocionais para que sejam conduzidas na procissão. “Esta imaginária existe plenamente quando está exercendo sua função social e religiosa exigindo portanto, a participação do espectador, no caso o fiel. É a arte religiosa que não assume um caráter somente contemplativo, mas sim participativo. (QUITES, 1997, p. 43).

Historicamente a procissão tem marcado a devoção ao Senhor dos Passos em Feira de Santana, que, além de ocorrer na Semana Santa, encerra a festa do Orago da Igreja, a qual tem calendário específico, onde se celebra o setenário, geralmente na última semana de setembro. A procissão está incorporada de devoções múltiplas e entre permanências e rupturas ao longo do tempo, o Senhor dos Passos continua como personagem principal e expressão da fé do povo nas manifestações religiosas dos feirenses.

Débora Regina de Macêdo Santana

Feira de Santana, 22 de março de 2022

Notas:

1 As informações encontradas, até então, nos levam a acreditar que quando a Capela do Senhor dos Passos, construída no século XIX, entrou em ruínas, as imagens do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores foram abrigadas na Capela de São Vicente, sendo posteriormente transladadas para o novo templo.

2 Nos anos de 2020 e 2021 a pandemia da COVID 19 interferiu diretamente na realização das procissões, visto que foi necessário atender as exigências de decretos governamentais.

Referências Recomendadas:

A IMPONENTE transladação das imagens do Senhor dos Passos e da Senhora das Dôres. Folha do Norte, Feira de Santana, p. 1, 7 jan. 1933. BSMG/MCS.

AO SENHOR dos Passos: A primeira pedra do novo templo. Folha do Norte, Feira de Santana, p. 1, 15 out. 1921. BSMG/MCS.

CRISTO Ressuscitado! Ilumine a todos pelo compromisso incansável em favor da dignidade humana! Jornal Nossos Passos, Feira de Santana, p. 4, abr. 2019.

23ᵃ FESTA do Senhor dos Passos. Batizados e Enviados. Jornal Nossos Passos, Feira de Santana, p. 8, set. 2019.

FLEXOR, Maria Helena Ochi. Imagens de roca e de vestir na Bahia. REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA. Ano 2, n° 2, outubro 2005. Disponível em: http://www.revistaohun.ufba.br/pdf/Maria_Helena.pdf. Acesso em: 09 jan. 2022.

QUITES, Maria Regina Emery. Imaginária Processional na Semana Santa em Minas Gerais. Estudo realizado nas cidades de Santa Bárbara, Catas Altas, Santa Luzia e Sabará. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais – Escola de Belas Artes – CECOR. 1997. p. 133.

SCOMPARIM, Almir Flávio. A iconografia na Igreja Católica. São Paulo: Paulus, 2013.

ZILLES, Urbano. Significação dos símbolos cristãos. 7 ed. Porto Alegre: EST Edições, 2018.

Autor(a):

Débora Regina de Macêdo Santana

deborasantana25@gmail.com

https://orcid.org/0000-0002-0116-4846

http://lattes.cnpq.br/9583302180801035

Data de recebimento: 04/03/2022

Data de aprovação: 22/03/2022