Escultura & Texto

Figura 01: Nossa Senhora da Conceição, Sec. XIX

Foto: Edilton Mascarenhas, 2020.


Figura 02: Detalhe da túnica com uma borboleta em meio a decoração da túnica.

Foto: Edilton Mascarenhas, 2013.


Figura 03: Detalhe da túnica onde aparece o beija flor e uma dália.

Foto: Edilton Mascarenhas, 2013



PASSAROS E INSETOS NA POLICROMIA DE UMA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO


Escultura: Nossa Senhora da Conceição

Autoria/atribuição: não identificada

Técnica: Escultura em madeira dourada e policromada

Dimensão aproximada: 1,23 cm altura

Propriedade: Paróquia de Nossa Senhora da

Conceição da Feira, Bahia

Época: Possivelmente primeira metade do século XIX


Trazemos aqui a imagem de Nossa Senhora da Conceição (Figura. 1), padroeira da cidade de Conceição da Feira, Bahia e as particularidades encontradas na decoração de sua policromia. Venerada no retábulo mor da igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição da Feira, a obra possui características típicas das imagens retabulares, que segundo Beatriz Coelho (2005, p. 1), se identifica por meio da direção do olhar voltado para baixo juntamente com restrições decorativas na parte de trás. No entanto, notamos o uso do douramento de maneira integral no manto, na túnica e no véu, diferente do bloco de nuvem e do globo, onde a folha metálica dourada aparece apenas na parte frontal.

Dentre as singularidades dessa imagem, destacamos aqui os elementos que integram sua ornamentação. Nela, o artista se distanciou do padrão clássico dos florões dourados com buquês de flores ao centro, os quais marcam a escola baiana de policromia. Ao abandonar essas formas repetidas à exaustão nas oficinas dos artistas baianos (RIBEIRO, 2000, p. 61), ele usou uma grande quantidade de elementos como ramagens, dálias, arabescos, volutas, curvas, contracurvas e círculos (Figuras 1 e 2). Somam-se a esse conjunto de formas, a execução de pinturas que simulam rendas, bordados e esgrafitos cobrindo toda extensão das vestes da santa. Chama atenção outra particularidade nessa policromia que são as representações de uma borboleta e um beija-flor, itens incomuns nas imagens dos santos. Esses animais aparecem discretamente do lado esquerdo na túnica da imagem, escondidos entre a ornamentação fitomorfa. Ali, o artista utilizou o douramento existente como base para compor os desenhos zoomorfos destacando-os do fundo bege esgrafiado, a partir de linhas traçadas a pincel em um tom ligeiramente esverdeado para as áreas de sombra e branco para ressaltar as áreas iluminadas.

Enquanto na ornamentação tradicional das imagens de procedência baiana os florões recebiam o complemento de pintura a pincel (ressaídos) que os destacavam do fundo colorido, os motivos que se observam nessa imagem se sobressaem a partir de um contorno em dois tons, conferindo o efeito de luz e sombra. As rosas, principais elementos do padrão florão, foram substituídas por dálias (Figura 3) que se delimitam sobre o douramento brunido apenas com o trabalho a pincel.

Encontramos outras imagens onde detectamos o mesmo padrão decorativo, localizadas em igrejas em Salvador, Bahia-BA, e no acervo do Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia (MAS-UFBA). No interior desse estado, além do exemplar que apresentamos aqui, encontramos mais duas obras semelhantes numa pequena capela de uma comunidade rural, porém, desse total, apenas em três obras consta a presença de aves e insetos.

A má conservação ou mesmo a perda de documentos nos arquivos paroquiais, representam grande obstáculo para o trabalho de pesquisadores. Até o momento não encontramos registros que comprovem a origem e a autoria dessa imagem. Notamos que algumas obras se assemelham quanto ao tipo de decoração e outras se destacam pela representação dos animais em meio à profusão ornamental.

Seriam os elementos zoomorfos da policromia determinantes de um mesmo autor ou oficina? Essa é uma possibilidade que não podemos descartar, visto que esses animais se encontram praticamente escondidos como uma assinatura na própria obra. Tudo, porém, é muito incerto, pois, ao analisarmos a destreza na execução dos ornamentos, é possível verificar mais de um artista trabalhando na policromia dessa imagem de Nossa Senhora da Conceição, onde também identificamos diferentes traços no esgrafito em caminho sem fimou vermiculura, em pontos distintos da túnica. A pesquisadora Cláudia Guanaes Fausto (2012), que estuda esse mesmo tema, sugere o nome de Atanásio Seixas como um possível autor desta padronagem. Todavia, a pesquisa continua e acreditamos existir muito a ser descoberto.

Edilton Mascarenhas Gomes

Salvador, 14 de Janeiro de 2022.


Referências Recomendadas:


COELHO, Beatriz. In: Devoção e Arte imaginária religiosa em Minas Gerais. (org.). in: Materiais, técnica e conservação. São Paulo, EDUSP, 2005, p. 233- 280.

FAUSTO, Cláudia Guanais. Os policromadores e suas pinturas nas imagens religiosas na Bahia setecentista e oitocentista. 19&20, Rio de Janeiro, v. VII n. 3, jul./set. 2012. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/obras/cg_policromadores.htm>.

RIBEIRO, Miriam Andrade. A Imagem Religiosa no Brasil. In: ARTE BARROCA: Mostra do Redescobrimento. Brasil 500 Anos. Artes Visuais e Fundação Bienal de São Paulo, 2000.


Autor(a):

Edilton Mascarenhas Gomes

edilton1masc1@gmail.com

https://orcid.org/0000-0003-3376-777X

http://lattes.cnpq.br/7918808405821324


Data de recebimento: 27/01/2022

Data de aprovação: 06/02/2022