Linguística, Dicionário de 

Acrossemia. Redução de uma expressão substantiva a seus elementos (letras ou sílabas) iniciais. E.F.C.B. (Estrada de Ferro Central do Brasil). I.N.R.I., jocosamente atribuído como sigla de Imperator Napoléon rex Italiae, mas que significa para os cristãos Iesus Nazarenus rex Judeorum, embora afirmem alguns tratar-se de frase cabalística Igne natura renovatur integra (“O Fogo, na Natureza, a tudo renova”). Há, também, palavras derivadas adaptadas graficamente: Long-playing, reduzido para Lp (pl. Lps), e televisão, grafado T.V. ou tevê. O fato é válido. (Jota, 1976) 


Afasia. As afasias são perturbações da comunicação verbal sem déficit intelectual; podem atingir a emissão e/ou recepção dos signos verbais,orais ou escritos. Essas perturbações são determinadas por lesões focais (focos lesionais) do hemisfério esquerdo nos destros, e também na maioria das vezes nos canhotos (que apresentam, todavia, características específicas). Nesse hemisfério esquerdo, os trabalhos de neuropsicologia e de neurolinguística definiram uma zona de linguagem e, no interior desta zona, áreas anatômicas, cuja avaria acarreta distúrbios diferentes do comportamento verbal. (Dubois, 2006) 


Alínea. É constituída por um espaço em branco, que se estende do ponto-parágrafo até o final da linha e por um espaço em branco de uma extensão convencional desde o início da linha seguinte. Marca a passagem de um grupo de ideias a um outro grupo de ideias e delimita, deste modo, os parágrafos que, por extensão, adquirem o nome de alínea. (Dubois, 2006)


Apelativo. 1. Os apelativos são termos da língua utilizados na comunicação direta para interpelar o interlocutor ao qual nos dirigimos, nomeando-o ou indicando as relações sociais que o falante com ele estabelece. MINHA SENHORA, está pronta? COMPANHEIROS, todos à manifestação! PAULO, venha cá. Os apelativos são nomes próprios, termos de parentesco ou nomes específicos (papai, mamãe, Excelência, Senhor, etc.). Encontram-se estes termos no enunciado indireto com uma sintaxe particular, situando o interlocutor como uma 3.ª pessoa. P. ex.: numa livraria, o livreiro dirigindo-se à freguesa: A Dona Cecília encontrou o livro que desejava?  

2. Chama-se função apelativa a função gramatical exercida pelos apelativos da comunicação direta. Essa interpelação do interlocutor traduz-se pelo vocativo nas línguas que têm casos, e é, aliás, chamada vocativo em português. (Dubois, 2006) 

 

Aposto. O termo aposto é usado de maneira diferente segundo os gramáticos. Aplica-se sempre à palavra ou à expressão que, colocada depois de um substantivo, designa a mesma realidade que este, mas de outra maneira (identidade de referência) e dele é separada por uma pausa (na língua falada) e uma vírgula (na língua escrita): assim, capital do Brasil é um aposto em Brasília, capital do Brasil, situada no planalto central brasileiro. No sentido estrito, o aposto é, pois, um emprego solto do substantivo e opõe-se ao adjetivo aposto que se vê em corrigida na frase - A criança, corrigida, resolveu não mais recomeçar. O critério da pausa (e da vírgula) não é admitido por todos os gramáticos; de fato, em sintagmas como o professor Ribeiro, o monte Pélion e a cidade de Paris, analisam-se também Ribeiro, Pélion e Paris como aposições a professor, monte e cidade. Enfim, por última extensão da palavra, o adjetivo solto acabou sendo chamado também aposto. (Dubois, 2006)

 

Apóstrofe. Do grego apostrophe de despertar. 1. Interrupção do discurso para que o orador ou escritor se dirija a alguém ou algo (p.ex.: Ouça, paciente leitor, o que na verdade aconteceu). 2. Interpelação direta e indelicada. (DEIL, 2007)

Apóstrofe. Interrupção que o orador faz para dirigir-se a pessoas ou coisas reais ou fictícias. "Deus, ó Deus! onde estás, que não respondes?" (Oliveira, 1999)

Apóstrofe. Diz que uma palavra está em apóstrofe quando serve para designar por seu nome ou seu título uma pessoa (ou algo personificado), a quem nos dirigimos durante a conversa. Tiago é apóstrofe (está em apóstrofe) em Cale-se, Tiago! Deve-se distinguir a apóstrofe da ênfase em certas frases nominais de dois elementos. Tiago, mãos à obra! oferece um exemplo de apóstrofe se se dirige a Tiago, mas de ênfase se se dirige a qualquer outra pessoa (exclamação). Em contraposição  se se admite que, vendo Tiago, se possa falar dele na terceira pessoa para exprimir o espanto, a forma e o contexto não permitirão a distinção. (V. apelativo.) (Dubois, 2006)

Apóstrofe. Interpelação que faz o autor a pessoa ou coisa personificada: Todos seremos sacrificados. E vocês, que farão vocês pelos seus filhos? A apóstrofe se pode evidenciar diretamente, num discurso, quando o orador interpela o ouvinte, mas sem pretender resposta; e indiretamente, quando o escritor supõe diante de si leitor, interpelando-o então. (Jota, 1976)


Aspas. Notação gráfica usada, de modo geral, para distinguir citações alheias: Posso garantir que "quem com ferro fere com ferro será ferido". Posso afirmar: "Quem com ferro fere com ferro será ferido". Por vezes assinalamos com aspas palavras estrangeiras: Comeu ovos com "petit-pois*". Ainda as usamos para evidenciar palavras tomadas apenas no seu caráter morfológico: A palavra "assim" é advérbio. Nesses dois últimos casos, pode-se dispensar a aspas, assinalando o termo com qualquer outro meio gráfico (versalete, grifo, etc.). (Jota, 1976)

* Ervilha verde sem casca.


Canal (termo técnico da teoria da comunicação). É o meio pelo qual são transmitidos os sinais do código, no curso do processo da comunicação; é o suporte físico necessário à manifestação do código sob a forma de mensagem. Estão neste caso os cabos elétricos para a telegrafia ou para a comunicação telefônica, a página para a comunicação escrita, as faixas de frequência de rádio, os sistemas mecânicos de natureza diversa. No caso da comunicação verbal, o ar é o canal pelo qual são transmitidos os sinais do código linguístico. (Dubois 2006)


Comentário. É a parte do enunciado que acrescenta algo de novo ao tema, que dele "diz algo", que informa sobre ele, por oposição ao tópico, que é o sujeito do discurso, o elemento dado pela situação, pela pergunta do interlocutor, que é o objeto do discurso, etc. Assim, em Pedro veio ontem, Pedro é o tópico e veio ontem é o comentário, que nas línguas indo-europeias se identifica com predicado. (Dubois 2006)


Conotação. Conjunto de fatores, sejam linguísticos (como as funções apelativa e expressiva), sejam extralinguísticas, que evolvem a denotação, isto é, o núcleo do significado. Se digo, para quem comigo passeia, "Olha o abismo", há nisso predominância do caráter informativo. Mas se digo o mesmo para quem, distraído, se aproxima perigosamente de precipício, eis que a frase, já agora com carga emotiva e apelativa em alto grau, e pela situação que envolve o fato, muda completamente de figura. Tudo isso que se acresceu à frase intelectiva (a entoação, as circunstâncias do momento etc.) é que constitui a conotação. // Caráter de relação entre a palavra empregada e outra (s) a que ela, fortuita ou necessariamente, se prende por algum laço semântico ou morfológico. Exemplo: boca conota beber, comer, falar, dente etc. (Jota, 1976)


Cuneiforme. A escrita cuneiforme caracteriza-se por seus elementos em forma de cunhas, ou cravos, que representam a impressão que deixou o caniço talhado dos escribas da Mesopotâmia em tabuinhas de argila fresca. Herdada do sumério, foi sobretudo utilizada para transcrever o acádico e depois o hitita. (Dubois 2006)


Desinência. Chama-se desinência o afixo que se apresenta no final de um substantivo, de um pronome ou de um adjetivo (desinências causais) ou no final de um verbo (desinências pessoais) para constituir com a raiz, eventualmente provida de um elemento temático, uma forma flexionada. Assim, o nom. lat. dominus é constituído do radical domin, da vogal temática o passada aqui a u, e da desinência causal (do nominativo) s. O pl. cantemos é formado da raiz cant, da vogal característica modal e e da desinência pessoal mos. (V. caso, declinação, flexão) (Dubois 2006)


Diacronia. Estudo da língua através dos tempos e, consequentemente, estudo das transformações que sofre a língua em sua evolução. Opõe-se a sincronia. A linguística, portanto, já que pode estudar a língua diacronicamente, ou se limitar ao seu estudo em determinado tempo de sua evolução (sincronia), se divide em diacrônica e sincrônica. (Jota, 1976)


Dicionário. É um objeto cultural que apresenta o léxico de uma ou mais línguas sob a forma alfabética, fornecendo sobre cada termo certo número de informações (pronúncia, etimologia, categoria gramatical, definição, construção, exemplo de emprego, sinônimos, idiotismos); essas informações visam a permitir ao leitor traduzir de uma língua para outra ou preencher as lacunas que não lhe permitiam compreender um texto na sua própria língua. O dicionário visa também a dar o domínio dos meios de expressão e a aumentar o saber cultural do leitor. O modo de leitura do dicionário é a "consulta".  (Dubois 2006)


Disfasia. Na criança, a disfasia é uma perturbação da realização da língua, cuja compreensão foi pouco atingida, e que se deve a um retardamento na aquisição e no desenvolvimento das diversas operações que garantem o funcionamento da língua. // sinônimo de afasia. (Dubois 2006)


Dislexia. É um defeito de aprendizagem da leitura caracterizado por dificuldades na correspondência entre símbolos gráficos, às vezes mal reconhecidos  e fonemas, muitas vezes mal identificados. Tal perturbação interessa de modo preponderante tanto à discriminação fonética quanto ao reconhecimento dos signos gráficos ou à transformação dos signos escritos em signos verbais  (ou reciprocamente). (Dubois 2006)


Elipse. Supressão de palavra facilmente subentendida: Teve (bom) êxito. Preciso (de) dinheiro. "Quem a paz quer conservar, nada ver, nada ouvir, nada falar". Por vezes, subentende-se um termo pelo fato de já ter sido anunciado ou vir a ser anunciado, caso em que toma o nome de zeugma. (Jota, 1976)


Encadeamento. Propriedade que tem a palavra de tomar o sentido de outra, por encadeamento ocasional de ideias sugeridas pela contiguidade. Ex.: farra é cognato de farina e de farreus, que se dizia de certo pão (panis farreus), muito apreciado nas festas de casamento, festas essas que, não raro, se transformavam em orgia, daí passando farra a ter o sentido que hoje conhecemos. Eis o encadeamento do fr. toilette: pequena toalha ==> toalha que cobre o lavabo ==> objetos do lavabo para enfeites ==> ato de enfeitar-se. // Em poesia, ato de um verso completar-se sintaticamente no seguinte - "Se se pudesse o espírito que chora / Ver através da máscara da face..." Conhecido também por encavalgamento, o termo mais empregado, contudo, é o enjambement. (Jota, 1976) 


Entonação. Chamam-se de entonação as variações de altura do tom laríngeo que não incidem sobre um fonema ou uma sílaba, mas sobre uma sequência mais longa (palavra, sequência de palavras) e formam a curva melódica da frase. São utilizadas, na fonação, para veicular, fora da simples enunciação, informações complementares, de que um certo número, as mais simples, são reconhecidas pela gramática: a interrogação (frase interrogativa), a cólera, a  alegria (frase exclamativa), etc. 

A entonação interrogativa é marcada por uma elevação da voz na última sílaba. A entonação enunciativa é marcada por um tom descendente que termina a frase. A curva descendente é mais forte ainda para uma frase imperativa. Na frase enunciativa, o tom descendente final se combina o mais frequentemente com uma entonação interrogativa na primeira parte, se a frase compreende vários grupos de palavras. Em português, as duas frases Ele vem? e Ele vem opõe-se unicamente pela entonação (elevação do tom na interrogação, descida do tom na enunciação).  (Dubois 2006)


Entoação. Linha melódica determinada pela variação de tons das sílabas, no encadeamento da palavra e da frase. Em altura, por exemplo, o tom é decorrente da tensão das cordas vocais. Na chamada entoação normal a tensão é mais ou menos uniforme, movendo-se as cordas vocais em torno de uma só nota; é a entoação que se observa quando o falante se expressa naturalmente, sem emprestar à enunciação nenhum caráter de emotividade, expressividade, pergunta, exortação etc., casos esses em que a entoação pode ser expressiva, emocional ou afetiva (exprimindo estados de emoção, ironia, tristeza etc.), intelectiva, intelectual ou lógica (exprimindo aspectos do intelecto, como dúvida, desejo etc.). Pode ainda, sob outro aspecto, ser ascendente, descendente, ascendente-descendente etc. (Jota, 1976)

Entonação e entoação são sinônimos. 


Escrito-falado. O termo escrito-falado designa o tipo de discurso no qual o falante lê ou declama um texto completamente redigido por ele ou por outro. O escrito-falado tem assim regras próprias que o diferenciam dos enunciados produzidos oralmente, nas mas também textos redigidos para serem lidos pelo destinatário e não retransmitidos oralmente. (Dubois 2006)


Étimo. É qualquer forma dada ou estabelecida de que se pode derivar uma palavra; o étimo pode ser radical, base a partir da qual se criou, com um afixo, uma palavra recente (assim, automóvel é o étimo de automobilista, Trotski o de trotskista e o latim turbare, "turvar", o de perturbador). O étimo também pode ser a forma recente: assim, em fr. sanglier, "javali", tem por étimo singularis, abreviação de singularis porcus, "solitário". Enfim, o étimo pode ser a forma hipotética ou a raiz estabelecida para explicar uma ou várias formas modernas da mesma língua ou de línguas diferentes. (Dubois 2006)


Eufemismo. Modo de disfarçar palavra ou expressão que pareça desagradável: homem de cor (por negro), fraqueza pulmonar (por tuberculose), entregar a alma a Deus (por morrer) etc. O eufemismo, pela frequência do emprego, deixa de sê-lo exatamente porque acaba por identificar-se semanticamente com o nome que procura disfarçar. Noutros casos, o objetivo do disfarce pode desaparecer. A tuberculose era um pavor, e por isso o nome era encoberto; hoje, o quadro é bem diferente, pelo que o tabu tende a desaparecer. Há o medo supersticioso de que proferir determinados nomes provoca o aparecimento daquilo que representa, principalmente na mentalidade dos antigos, para quem a palavra era a própria cousa. O eufemismo pode, em alguns casos, apenas encobrir palavra de cunho popular. O francês soutien (aport. sutiã) disfarça nosso porta-seios, já que algumas senhoritas se coram diante da palavra. (Jota, 1976)


Extensão. Conjunto de seres a que uma palavra se aplica. Quanto maior (ou menor) a extensão de um nome, tanto menor (ou maior) sua compreensão. Animal, de grande extensão, tem reduzida compreensão; com quadrúpede, diminuímos a extensão, mas aumentamos a compreensão; fazemos o mesmo, em escala maior ainda, se dizemos cão, ou porco, etc.  (Jota, 1976)


Fala. Correntemente, a fala é confundida com a linguagem. Nas teorias inatistas, a fala é a "faculdade natural de falar". Definir assim a fala é fazer dela um ato como o ato de caminhar, comer, atos naturais, isto é, instintivos, inatos, que repousam sobre bases biológicas específicas à espécie humana. Se a fala, nas teorias behavioristas, como escreve E. Sapir em A Linguagem (trad. fr. p. 11), "parece tão natural ao homem como o andar [ ... ], não é preciso senão um instante de reflexão para nos convencer de que este modo de julgar não passa de uma ilusão. O processo de aquisição da fala é, na realidade, absolutamente diferente do de caminhar [ ... ]. O caminhar é uma função biológica  inerente ao homem  [ ... ]. A fala é uma função não instintiva, mas adquirida, uma função da cultura. Se o indivíduo fala, comunica sua experiência, suas ideias, suas emoções, ele deve esta faculdade ao fato de ter nascido no seio de uma sociedade. Eliminemos a sociedade, e o homem terá todas as possibilidades de andar; ele jamais aprenderá a falar." (Dubois 2006)


Flexão Verbal. Mudança na parte final do verbo para expressar as categorias de modo, tempo, número, pessoa e voz. Mesmo entre as línguas que conhecemos como flexivas, é fácil verificar que cada uma apresenta fases distintas em relação às outras. O inglês tem apenas duas formas para a conjugação; o francês três (apenas graficamente são todas diferentes); o português tem as seis (quero, queres, quer, queremos, quereis, querem). No inglês, tão manifesta é a ação do pronome, que ele usurpa o acento do conjunto, ocasionando reduções no verbo: I have > I've; it is > it's; You are > You're. (Jota, 1976)


Fonema. Menor unidade fonológica, isto é, o menor conjunto de traços capaz de distinguir um som vocálico dos demais. Noutras palavras, é o som articulado; é a formalização do femema (que seria a substância) para quantos admitem ser a forma a parte material, ficando a substância para referir o conjunto de rasgos pertinentes do fonema. Embora de caráter abstrato, ele não é forma pura, pois a forma mantém em potencial a possibilidade de concretizar-se; não tem substância, mas tem substancialidade. (Jota, 1976)


Glossolalia. O termo glossolalia, distinto de glossomania, designa os delírios verbais de certos doentes mentais. É caracterizada pela criação voluntária de palavras deformadas, associadas sistematicamente ao mesmo sentido e resultando numa linguagem incompreensível /para/ o /que/ não "conhece" o seu vocabulário. Essa perturbação da linguagem está próxima das línguas convencionais, como as gírias; os termos novos são alterações de termos da língua por adições, supressões ou inversões sistemáticas. (Dubois 2006)


Glossomania. O termo glossomania, distinto de glossolalia, designa o delírio verbal de doentes maníacos. É caracterizada por jogos verbais, desprovida de um caráter sistemático. O doente, que pretende poder falar tal ou tal língua, desconhecida ou imaginada, emite sequências de sílabas sem sentido e sem regras sintáticas definidas. (Dubois 2006)


Glossário. Dicionário especial que consigna vocábulos sobre os quais pode o leitor comum ter dificuldades. Normal é a anexação de glossário em livros especializados, a fim de explicar as palavras técnicas usadas no texto. (Jota, 1976)


Gramática. É a descrição completa da língua, isto é, dos princípios de organização da língua. Ela comporta diferentes partes: uma fonologia (estudo dos fonemas e de suas regras de combinação), uma sintaxe (regras de combinação dos morfemas e dos sintagmas), uma lexicologia (estudo do léxico) e uma semântica (estudo dos sentidos dos morfemas e de suas combinações). A gramática é o modelo de competência. (Dubois 2006)


Gênero. É uma categoria gramatical que repousa sobre a repartição dos nomes em classes nominais, em função de um certo número de propriedades formais que se manifestam pela referência pronominal, pela concordância do adjetivo (ou do verbo) e por afixos nominais (prefixos, sufixos ou desinências casuais), sendo suficiente um só desses critérios. Assim, conforme esses três critérios, definem-se em português duas classes, os masculinos e os femininos. Em latim, definem-se três classes, os masculinos, os femininos e os neutros. (Dubois 2006)


Gíria. Linguagem especial de conteúdo expressivo vigente em um grupo social. Há uma gíria característica dos malfeitores, por isso mesmo revestido de caráter secreto. De duração efêmera, a gíria logo desaparece para dar lugar a novas criações, quer por ter perdido a expressividade, quer porque, mesmo a de caráter secreto, acaba por perder tal característica, por óbvios motivos. (Jota, 1976)


Heterogêneo. É o substantivo que muda de gênero ao mudar de número. Assim, o latim caelum "céu", é neutro no singular, mas o plural caeli, "céus", é masculino. Nas línguas românticas, são sobretudo o francês e o italiano que apresentam esse fenômeno; em francês, os casos mais famosos de palavras heterogêneas são amour, "amor", délice, "delícia" e orgue, "órgão" (masculinos no singular e femininos no plural). (Dubois 2006)


Idioma. Língua como instrumento de comunicação de uma comunidade organizada; língua de uma nação em face das demais. (Jota, 1976)


Impressionismo. Linguagem que procura expressar não a realidade dos fatos, mas a impressão que nos causam: o relógio soou 10 horas  (fez soar). O sol secou a roupa  (a roupa secou). A estrada caminha por muitos quilômetros. As árvores desciam o muro. O rio corre.  O impressionismo explica, pois, a preferência pela qualidade das cousas (a beleza da moça), e não pelas cousas qualificadas (a moça bela), a impessoalidade (faz frio), o emprego de caráter humano a cousas inanimadas. (Jota, 1976)


Informação. No sentido que dá a este termo a teoria da informação, a informação é a significação que se atribui a dados com  a ajuda das convenções empregadas para representá-los; esse termo designa, portanto, tecnicamente falando, tudo o que se pode colocar, de alguma forma, sob uma forma codificada. Para os teóricos da informação, o termo informação - ou a "mensagem" - designa uma sequência de sinais que correspondem a regras de combinação precisas, transmitida entre um emissor e um receptor por intermédio de um canal que serve de suporte físico à transmissão dos sinais. Para a teoria da comunicação, o sentido dessa sequência de sinais codificados não é considerado como um elemento pertinente. (Dubois 2006)

Informação. No sentido mais geral o termo é utilizado por muitos linguistas como base para uma explicação teórica da estrutura das mensagens. Postula-se que a fala pode mostrar uma "estrutura de informação", com "unidades de informação" formalmente identificáveis. A entonação fornece o principal sinal para estas unidades. O grupo/unidade de tom representa uma unidade de informação e o tom nuclear marca o foco da informação. (Crystal, 2000) 


Jargão. O jargão foi, primeiramente, uma forma de gíria, utilizada em uma comunidade, geralmente marginal, que sente a necessidade de não ser compreendia pelos não-iniciados ou de distinguir-se do comum (nesse sentido, falou-se do jargão das preciosas). Por extensão, jargão é empregado para designar uma língua que julgamos deformada, incorreta ou incompreensível: fala-se, assim, do jargão de um mau aluno, do jargão de um filósofo. (Dubois 2006)


Linguagem. É a capacidade específica à espécie humana de comunicar por meio de um sistema de signos vocais (ou língua), que coloca em jogo uma técnica corporal complexa e supõe a existência de uma função simbólica e de centro nervosos geneticamente especializados. Pelos problemas que apresenta, a linguagem é o objeto de análises muito diversas, que implicam relações múltiplas: a relação entre o sujeito e a linguagem, que é domínio da psicolinguística; entre a linguagem e a sociedade, que é domínio da sociolinguística; entre a função simbólica e o sistema que constitui a língua; entre a língua como sistema universal e as línguas que são suas formas particulares; entre a língua particular como forma comum a um grupo social e as diversas realizações dessa língua pelos falantes, sendo tudo isso o domínio da linguística. Esses diversos domínios são necessária e estreitamente ligados uns aos outros. (Dubois 2006)


Linguística. Estudo da língua em sua função comunicativa. Nessa acepção, poder-se-ia falar em linguística da expressão, já de caráter individual, psicológico, que se identifica com estilística. Para Saussure há uma linguística da língua e outra da fala. // Ullmann resume a linguística no seguinte 


diagrama:


Os três planos (fonologia, lexicologia e sintaxe) podem ser encarados sob o aspecto sincrônico ou diacrônico, e sob o aspecto morfológico e semântico (Só à fonologia falta o caráter semântico). (Jota, 1976)


Léxico. Conjunto de vocábulo de uma língua: vocabulário. Se ordenado, e geralmente o é, constitui o dicionário. // Conjunto de palavras, isto é, vocábulos providos de semantema. // É o léxico o elemento mais instável da língua, porquanto em perpétua mobilidade. Por isso mesmo, não pode ele emprestar à língua sua característica. // Há quem prefira léxico como repositório da língua, reservando vocabulário para a fala, dando o nome de lexema à unidade do léxico e vocabulário ao lexema atualizado. (Jota, 1976)


Língua. No sentido mais corrente, língua é um instrumento de comunicação, um sistema de signos vocais específicos aos membros de uma mesma comunidade. Para F. de Saussure, para a escola de Praga e o estruturalismo americano, a língua é considerada como um sistema de relações, ou, mais precisamente, como um conjunto de sistemas ligados uns aos outros, cujos elementos (sons, palavras, etc.) não têm nenhum valor independentemente das relações de equivalência e de oposição que os unem. Cada língua apresenta esse sistema gramatical implícito, comum ao conjunto dos falantes dessa língua. É esse sistema que F. de Saussure chama efetivamente a língua; o que depende das variações individuais constitui para ele a fala.  (Dubois 2006)


Macho. Na categorização semântica dos animados (pessoas ou animais), o termo macho representa a classe dos "seres machos" na oposição de sexo. Assim, o substantivo aluno tem o traço semântico distintivo [ + macho], enquanto o substantivo aluna tem o traço semântico distintivo [ - macho] (fêmea). "Masculino" e "macho" não se confundem: uma palavra pode ser "feminina" e "macho", p. ex. sentinela. (V. gênero) (Dubois 2006)


Masculino. É o gênero gramatical que, numa classificação em dois gêneros, opõe-se ao feminino e que, numa classificação em três gêneros, opõe-se ao feminino e ao neutro. O masculino representa frequentemente, mas não constantemente, o termo "macho" no gênero natural que repousa sobre a oposição de sexo entre "macho" e "fêmea". A palavra vendedor é indicada [+ masculino], [+ macho], mas sentinela é [- masculino], [+ macho]. A palavra tamborete é apenas indicada [+ masculino], opondo-se a mesa [- masculino]. (V. Macho) (Dubois 2006)


Mensagem. Tecnicamente falando, para os teóricos da comunicação, mensagem designa uma sequência de sinais que correspondem a regras de combinação precisas e que um emissor transmite a um receptor por intermédio de um canal. Este serve de suporte físico à transmissão. Para a teoria da comunicação, a significação da mensagem não é considerada como um elemento pertinente: o que é transmitido é uma forma e não um sentido. Essa forma varia conforme a natureza do sistema de comunicação e do código que serve para transmitir a mensagem: vibrações sonoras, luzes, movimentos, impulsos mecânicos ou elétricos, etc. Sendo essa forma codificada, a significação da mensagem é depreendida quando da operação de descodificação: o receptor-destinatário, máquina ou ser humano, "procura na memória" os elementos do código que foram selecionados para a transcrição da mensagem a transmitir numa forma codificada, que é a forma transmissível da mensagem. (Dubois 2006)


Morfologia. Estudo da parte formal das palavras, seja na estrutura ou formação (mórfica), seja nas flexões (flexionismo ou campenomia), seja na classificação (taxionomia). A morfologia é uma das divisões da gramática, ao lado da sintaxe, da fonologia e da semântica. Em línguas casuais, é difícil separar a sintaxe da morfologia. (Jota, 1976)


Neurolinguística. É a ciência que trata das relações entre as perturbações da linguagem (afasias) e os prejuízos das estruturas cerebrais que elas implicam. A hipótese fundamental da neurolinguística é que existe uma relação entre as formas de desorganização verbal, que podem ser descritas conforme os diversos modelos linguísticos (distribucional ou estrutural, transformacional e gerativo), e os tipos patológicos estabelecidos pelo neurologista na base da localização da lesão responsável. (Dubois 2006)


Neutro. É um gênero gramatical que, numa classificação em três gêneros, opõe-se ao masculino e ao feminino. O neutro representa frequentemente, mas não constantemente, o termo "não-animado" no gênero natural, quando este repousa sobre a oposição entre os animados, pessoas e animais, de um lado (classificados em "macho/masculino" e em "fêmea/feminino") e os objetos não-animados, de outro lado. Assim, o latim templum (templo) é neutro, opondo-se por suas desinências a dominus e a domina (senhor/senhora). Em português, a oposição entre animado e não-animado aparece nos pronomes: este/isto, todo/tudo. (Dubois 2006)


Onomasiologia. Parte da linguística que se ocupa de focalizar os vários significantes de um significado. Ao mesmo objeto ou ideia, em determinado domínio linguístico, podem corresponder variadas designações, no tempo ou no espaço, que é objeto da onomasiologia. Entre nós, os conceitos de diabo, aguardente são talvez os de maior número de significantes. Autores há que identificam onomasiologia com semasiologia. (Jota, 1976)


Oximoro. Chama-se oximoro uma figura de retórica que, numa aliança de palavras, consiste em reunir duas palavras aparentemente contraditórias, por exemplo, um silêncio eloquente. (Dubois 2006)


Oxítono. Do grego tonos, "acento", e oxus, "agudo". É uma palavra acentuada na última sílaba, como em português jacá; tratava-se, para os gramáticos gregos, somente do acento de altura e não do de intensidade. Em francês, todas as palavras são oxítonas. (Dubois 2006)


Palavra. Unidade linguística portadora de significação externa. Parece óbvio que a significação não existe por si mesma, mas pode comparar-se à alma, digamos assim, de um corpo (entidade material, fônica) e, como tal, diferente de corpo para corpo, sendo, pois, cada um deles portador de determinada função. É a unidade mínima autônoma capaz, por si mesma, de formar uma frase. A palavra despida de significação é apenas vocábulo. // Há um conceito bem mais amplo de palavra, que pode abranger cada um dos elementos: vocábulo (palavra no aspecto fônico, objeto da fonética) e palavra propriamente dita; vocábulo-morfema; e o termo, palavra como elemento da frase. (Jota, 1976)


Palimpsesto. Manuscrito em pergaminho. Tais manuscritos raspados, e polido o pergaminho com marfim, permitia novo manuscrito. Atualmente, através de técnica, consegue-se reconstruir o manuscrito primitivo. (Jota, 1976)


Palíndromo. Palavra ou frase que se pode ler de trás para frente: Roma (amor). (Jota, 1976)


Mais exemplos:

Socorram-me subi no ônibus em Marrocos.

Ato idiota. 

Luz azul. 

Roma é amor. 

Morram após a sopa marrom.

Orar é raro.


Parágrafo. Chama-se parágrafo à unidade do discurso constituída de uma série de frases que forma uma subdivisão do enunciado longo e definida tipograficamente por uma alínea inicial e pelo fecho do discurso ou por uma outra alínea. (Dubois 2006)


Parênteses. Notações sintáticas usadas geralmente no caso de não ter a frase intercalada nenhuma relação sintética com o todo onde intervém: Quando me viste (tu nem sabias que eu havia chegado) logo te mostraste surpreendido. A oração parentética, de entoação própria, normal, carreia interrupção na entoação do pensamento principal. Os parênteses podem substituir as vírgulas, no caso de ser extensa a frase intercalada. Sem vantagem, porém; o delongar frases parentéticas bem pode prejudicar a clareza. (Jota, 1976)


Performance. Termo do inglês que pode ser usado para substituir desempenho, uma noção da gramática gerativa, que vê a língua como um conjunto de enunciados específicos produzidos por falantes nativos. Opõe-se assim, à concepção idealizada de língua, conhecida como competência. (Crystal, 2000)


Pleonasmo. 1. Uma sequência de palavras é pleonástica desde que os elementos de expressão sejam mais numerosos do que o exigido para a expressão de um conteúdo determinado: muito suficiente é um pleonasmo. (V. redundância)

2. Chama-se pleonasmo, ou transformação pleonástica, a uma transformação de adição que, sem modificar o sentido da frase inicial, nada lhe acrescenta do ponto de vista qualitativo. Assim, pode-se dizer que a frase Eu estou sentindo uma dor no meu braço esquerdo é a transformação pleonástica de Eu estou sentindo uma dor no braço esquerdo. (Dubois 2006)


Ponto-e-vírgula. Notação sintática para separar orações de certa extensão, como partes de um raciocínio. Não há limites rígidos entre a vírgula e o ponto-e-vírgula. Quando a oração já tem vírgula, ou se faz extensa, o ponto-e-vírgula, de pausa maior, é aconselhável; não, porém, obrigatório. Em certos casos, evita entoação defeituosa. Ex.: Todos irão; ela, porém, ficará. Claro que eu não irei lá; nem ela havia de desejar tal. Observe-se que na 2.ª a vírgula pode ser usada; na primeira, no entanto, pode induzir-nos a entoação inadequada. (Jota, 1976)


Pontuação. Para indicar os limites entre os diversos constituintes da frase complexa ou das frases constituintes de um discurso, ou para transcrever as diferentes entonações, ou ainda para indicar as coordenações ou subordinações diversas entre as preposições, utiliza-se um sistema de signos chamados pontuação. O sistema se constitui no francês, como no português, de ponto (.), ponto de interrogação (?), ponto de exclamação (!), de vírgula (,), de ponto e vírgula (;), de dois pontos (:), de reticências (...), de parênteses (( )), de colchetes ([ ]), de aspas (" "), de travessão (—), de asterisco (*) e de alínea. 

O ponto assinala o fim de uma frase, mas é também utilizado para destacar uma preposição subordinada da principal à qual se deseja dar realce. Em relação ao enunciado oral, o ponto corresponde a um silêncio ou a uma pausa. É também utilizado depois de toda abreviatura ou elemento de uma sequência de abreviaturas, com em O.N.U.

O ponto de exclamação corresponde à entonação descendente seguida de uma pausa, e se emprega seja no final de uma simples interjeição, seja no final de uma locução interjectiva ou de uma frase exclamativa. 

O ponto de interrogação corresponde à entonação ascendente, seguida de uma pausa, da interrogação direta e se emprega unicamente no final das frases que as exprimem.

A vírgula corresponde a uma pausa de pequena duração ou distingue grupos de palavras ou de proposições cuja separação ou isolamento são úteis para a clareza do conteúdo. Ela é empregada igualmente para separar os elementos de função idêntica que, nos assíndetos, não estão ligados por uma conjunção coordenativa: Vendeu tudo: carro, cavalos, terras, casa. Ela permite também isolar todo elemento que tenha um valor puramente explicativo ou alguns complementos circunstanciais: Seu pai morreu, ele deverá educar os irmãos e irmãs.  

O ponto e vírgula corresponde a uma pausa de duração média, intermediária entre a que marca a vírgula e a que marca o ponto. Numa frase, delimita as proposições da mesma natureza que possuem certa extensão. 

Os dois pontos correspondem a uma pausa muito breve e têm um valor lógico: permitem introduzir uma explicação ou uma citação mais ou menos longa. 

As reticências correspondem a uma pausa, sem que haja queda na linha melódica, no final da palavra que as precedem: é uma expressão do pensamento não concluída por uma razão sentimental ou outra (conformidade, prolongamento do pensamento sem expressão correspondente, etc.). Elas possibilitam, igualmente, muitas vezes, enfatizar o que será dito a seguir. 

Os parênteses introduzem e delimitam uma reflexão incidental, considerada como menor importante e dita num tom mais baixo. Quando à direita do lugar onde se "abre" o parêntese, a frase necessita de um signo de pontuação, este vem colocado após o fechamento dos parênteses. 

Os colchetes, são utilizados algumas vezes, como os parênteses, ou melhor, para isolar as sequências de palavras que contêm, elas próprias, unidades entre parênteses. 

As aspas correspondem geralmente a uma mudança de tom que começa com a abertura das aspas e acaba com seu fechamento. Constituem um meio de indicar que se recusa assumir a palavra ou sequência de palavras assim isoladas (marcas de rejeição). As aspas são também um meio de introduzir a citação de um discurso direto ou de uma sequência de palavras estrangeiras no vocabulário usual e sobre a qual se deseja chamar a atenção. 

O travessão indica, no diálogo, a mudança de interlocutor e serve, assim, à mesma função dos parênteses, isto é, isola uma sequência de palavras que desejamos destacar do contexto para fins diversos. 

O asterisco tem valores diferentes, conforme os discursos científicos. Em linguística, se indica pelo asterisco que tal forma ou frase não foi atestada ou que é agramatical. 

A alínea é constituída por um espaço em branco, que se estende do ponto-parágrafo até o final da linha e por um espaço em branco de uma extensão convencional desde o início da linha seguinte. Marca a passagem de um grupo de ideias a um outro grupo de ideias e delimita, deste modo, os parágrafos que, por extensão, adquirem o nome de alínea. (Dubois 2006)


Predicado. Numa frase de base constituída de um sintagma nominal seguido de um sintagma verbal, diz-se que a função do sintagma verbal é a de predicado. Assim, em Pedro escreveu uma carta à sua mãe, o sintagma nominal é o sujeito (isto é, o tema da frase) e o sintagma verbal escreveu uma carta à sua mãe é o predicado (isto é, o comentário do tema). (Dubois 2006)


Radical. Chama-se radical uma das formas assumidas pela raiz nas diversas realizações das frases. O radical é, pois, distinto de raiz, forma abstrata que serve de base de representação de todos os radicais, que são suas manifestações. Assim, dir-se-á que a raiz / est / "estar" tem três radicais, est, estiv, estej, que se realizam com a adjunção de desinências gramaticais, daí resultando estamos, estive, esteja, estivessem, etc. Do mesmo modo, a raiz / noit / "noite" tem três radicais noit, noct e not que se realizam nas formas noitada, anoitecer, noctívago, noturno, noturnal, etc. Uma raiz pode não ter senão um radical; nesse caso, raiz e radical se confundem. (Dubois 2006)


Raiz. De um modo geral, chama-se raiz o elemento de base, irredutível, comum a todos os representantes de uma mesma família de palavras no interior de uma língua ou de uma família de línguas. A raiz é obtida após a eliminação de todos os afixos e desinências; ela é portadora dos semas essenciais, comuns a todos os termos constituídos com essa raiz. A raiz é, portanto, uma forma abstrata que conhece realizações diversas; falar-se-á, assim, da raiz verbal est, que significa "estar" e que comporta três radicais: est / estiv / estej; ela se realiza nas formas estamos, estive, esteja, etc. (Dubois 2006)


Redundância. Presença de algum traço relevante desnecessário em certas oposições. // Repetição desnecessária de conceitos através de expressões diferentes. V. pleonasmo. // Todo e qualquer processo de que se vale a língua a fim de melhor assegurar a percepção da mensagem, neutralizando, quanto possível, o ruído. Calcula-se ser superior a 50% a redundância na fala normal. Se alguém nos diz ou supomos ouvi-lo dizer atanhã irei ao cinema com fua irmã, entendemos perfeitamente que se disse amanhã irei ao cinema com tua irmã. O conhecimento que temos da língua, aliado ao contexto, restabelece com exatidão o que se disse ou se pretendeu dizer. Redundantes são os sufixos em divinal, subitâneo, avarento, etc., porquanto tais nomes equivalem respectivamente a divino, súbito, avaro  etc. Redundante é a presença dos pronomes, quando a própria flexão verbal evidencia o sujeito: eu vou, tu vais etc. Apesar do nome, portanto, a redundância não é superfluidade; ela é até relevante no processo de comunicação; é previsível. Irrelevante é o que não é nem distintivo, nem redundante; é o supérfluo. De fato, embora pareça ilusório, a redundância assegura a informação, não raro prejudicada pelos ruídos e pela ausência de marca distintiva de algumas palavras. Ela permite, também, assegurar a concatenação entre os elementos de um sintagma ou dos sintagmas entre si; ainda que se varie a ordem desses elementos. (Jota, 1976)

Redundância. O termo redundância foi tomado de empréstimo à retórica pelos teóricos da comunicação e pelos linguistas. Para os retóricos, era uma figura de estilo, tinha quase o mesmo sentido que repetição e designava comumente um excesso nos ornamentos do estilo. 

Depois, a cibernética, a teoria da informação ou a teoria da comunicação tomaram esse termo de empréstimo à retórica, dando-lhe um sentido técnico e preciso. A teoria cibernética da informação define a redundância como uma relação cujo desvio da unidade habitualmente é medido em porcentagem entre uma quantidade de informação dada e seu máximo hipotético. 

Redundância é definida como a diferença entre a capacidade teórica de um código e a quantidade média de informação transmitida; ela se exprime por uma porcentagem da capacidade total. Diminuição de capacidade resulta em repetir sinais. 

Neste sentido, a redundância é um elemento positivo na transmissão e na recepção de uma mensagem. Com efeito, no curso do procedimento de transmissão de uma mensagem, causas diversas vêm diminuir a quantidade de informação transmitida, entravando a boa marcha da transmissão: canal de transmissão defeituoso, má recepção devida a causas técnicas ou, simplesmente, ruídos, no sentido usual do termo; estas causas diversas, seja qual for sua natureza, são chamadas de ruídos. A perda de informação no curso da transmissão deve ser compensada pelo excedente de informação. Finalmente, a perda de informação compensada pelo excedente de informação, concretizado pela recepção dos sinais, é que constitui, na teoria da comunicação, a chamada redundância. 

As restrições linguísticas podem ser resumidas:

Em conclusão: a redundância é inerente ao funcionamento do código, compreendendo-se aí o código linguístico; ela é necessária à conservação da informação mascarada pelos "ruídos", mesmo se, em alguns pontos, ela diminui a capacidade teórica do código. Por outro lado, como todo código implica um número restrito de unidades e uma escolha das combinações destas unidades, a redundância é um dos fatores essenciais ao funcionamento deste código. Neste sentido, é graças à redundância que um código pode ser econômico, isto é, que ele pode transmitir o máximo de informação com um mínimo de signos. Enfim, definidas em termos de redundância, portanto de probabilidade, as relações sintáticas e léxicas podem ser apreciadas em função de seu conteúdo de informação ou quantidade de informação; elas podem, pois, ser quantificadas, medidas, formalizadas. (Dubois 2006)


Referente. 1. Chama-se referente aquilo a que remete o signo linguístico na realidade extralinguística, tal como ela é segmentada pela experiência de um grupo humano. 

2. Dá-se, muitas vezes, o nome de referente à situação (ao contexto) à qual a mensagem remete; falar-se-á de função referencial quando mensagem estiver centrada no contexto. (Dubois 2006)

Referente. A cousa, o objeto, destituído de significação; sem referência, pois. A referência é o conceito. Por exemplo, vemos uma cousa (um animal) — eis o referente. Esse animal tem um conceito (animal quadrúpede, de porte grande, etc.) — eis a referência. A esse animal, para o fim de nos podermos comunicar com outras pessoas, emprestamos um sinal — cavalo. Claro que tal símbolo é gráfico e fônico, é o vocábulo escrito e sua correspondente imagem acústica. Ver escrito cavalo é como se ouvir (ka-vá-lu). Autores há, contudo, que, sem menção à referência, empregam referente como equivalente do conceito.(Jota, 1976)


Regência. O termo regência indica o fato pelo qual uma palavra ou sequência de palavras (substantivo ou pronome) depende gramaticalmente de outra palavra ou frase; esta, que governa ou rege as outras, chama-se regente e os termos que dela dependem são os regidos. Assim, dir-se-á que na frase Pedro lê o jornal, o jornal, objeto direto, é regido por lê.

Regente. Na terminologia de L. Tesnière, o regente é constituído, numa conexão, pelos termos dos quais dependem os outros termos, ditos "subordinados". Assim, na frase O velho homem fuma seu cachimbo representada pelo 

gráfico abaixo:

fuma rege homem e cachimbo, homem rege o e velho, e cachimbo rege seu

Reger. Uma palavra rege (ou governa) outra palavra, que é seu complemento, se a forma gramatical desta última parecer determinada pela natureza da primeira: dir-se-á, assim, que a preposição latina ex rege o ablativo. Faz-se, assim, abstração, entre outras, da noção expressa primitivamente pelo caso. a palavra que parece governar o caso ou a forma gramatical da outra é chamada regente; a que parece ser governada é chamada regida. (Dubois 2006)


Reticências. Indicam interrupção do pensamento por hesitação, por deliberado propósito de deixá-lo incompleto, ou por estar ele claramente subentendido. Senhor, meu filho deseja... deseja saber... / Devo dizer que teu pai... Bem! Deixe isso para lá! / Quem com ferro fere... Por vezes a interrupção é motivada pelo interlocutor: — Eu ia pela... Como? Numa citação, as reticências indicam supressão de alguma parte. Podem, pois, estar no início, meio ou final da citação. // sinal de pontuação para referir ou interrupção do pensamento, ou omissão de palavras numa citação: Se eu quisesse dizer tudo que sei... (Jota, 1976)


Rima. Existe rima, quando, no final de certas palavras vizinhas ou pouco distantes, ou no final de certos grupos rítmicos (dos versos, por exemplo), encontra-se a mesma vogal, (rima pobre) com em café e sapé, ou a mesma vogal seguida da mesma consoante (rima suficiente) como em sonhar e cantar, ou da mesma vogal, precedida e seguida das mesmas consoantes, ou das mesmas consoantes ou das mesmas sílabas, como em partir e sentir. (Dubois 2006)


Semântica. Parte da lexicologia que trata da significação das palavras e suas modificações através do tempo e do espaço. Nesse sentido, tal qual o empregou Breal, é de caráter diacrônico. Hoje, entretanto, tem-se a semântica como estudo da significação da palavra, que se fará atendo-se a uma fase da língua (semântica descritiva, estática ou sincrônica), ou observando as mutações significativas por que passa a palavra através do tempo (semântica diacrônica, histórica ou dinâmica). De uma ou de outra, ou de ambos através dos fenômenos observados em várias línguas, chega-se à semântica geral. Pela semântica descritiva tomamos conhecimento com a sinonímia, antonímia, polissemia, etc. É, pois, a ciência do significado, deixando à semântica histórica a mudança do significado, que se processa por causas variadas (sociais, psicológicas, linguísticas e históricas) isoladas ou combinadas. V. semiologia e onomasiologia. (Jota, 1976)


Sentido. Significação da palavra na fala, isto é, no texto. Não raro, cada palavra evoca em nossa mente uma multiplicidade de sentidos, cujo amálgama constitui a significação. Pode-se crer seja a significação apenas o sentido fundamental enquanto língua, tomando, na fala, vários sentidos, de acordo com o texto. Em decorrência, o sentido pode ser fundamental (esta flor é bela) ou acessório (és uma flor), concreto (estrada poeirenta) ou abstrata (estrada da vida), próprio (homem cansado) ou figurado (terra cansada), primitivo (flor viçosa) ou derivado (flor da idade, flor da sociedade). Pode ainda ser o sentido afetivo, cognitivo, apelativo etc., conforme nele predomine alguma das funções da linguagem. (Jota, 1976)


Sigla. Abreviatura de expressões substantivas próprias: M.D.B. (Movimento Democrático Brasileiro); SIMCA (Société indsutrielle de mecanique et de carrosserie automobile). Não há motivo para se considerarem siglas apenas as abreviaturas de livros e revistas, deixando as demais expressões substantivas próprias para a acrografia. As siglas, não raro, geram derivados, segundo normas demasiado evidentes: de D.A.S.P., daspiano; de M.D.B., emedebista, etc. (V. acrografia, acrossemia, e palavra cruzada) (Jota, 1976)


Sinal. Objeto através do qual o sujeito toma conhecimento de outro objeto. A fumaça, p. ex., é sinal de fogo. Assim, pois, podemos dizer que fumaça significa (é sinal de) fogo, sendo algo impróprio um objeto ser sinal de si mesmo. A palavra fumaça é, por sua vez, sinal daquilo que a nós se manifesta como objeto em si mesmo. Podem os sinais ser formais e instrumentais, subdividindo-se estes em naturais e convencionais. // Para alguns, sinal se identifica com ícone. // Face concreta, material, de um signo; significante. (Jota, 1976)


Sincronia. Conjunto dos fatos linguísticos num dado estádio de sua evolução. A sincronia é objeto de estudo da linguística sincrônica ou estática. Como um estado de língua abrange determinado espaço de tempo, tempo suficiente para que haja alguma variação sincrônica, é claro que esta, sob certo ponto-de-vista, não se distingue da evolução diacrônica. V. diacronia. (Jota, 1976)


Sintagma. O termo sintagma é seguido de um qualificativo que define sua categoria gramatical (sintagma nominal, sintagma verbal, sintagma adjetival, etc.). O sintagma é sempre constituído de uma cadeia de elementos e ele próprio é um constituinte de uma unidade de nível superior; é uma unidade linguística de nível intermediário. Assim, o sintagma nominal é o constituinte do nódulo da frase na gramática gerativa, sendo este nódulo formado pela cadeia: sintagma nominal + sintagma verbal (Pedro + chegou em casa). (Dubois 2006)


Sintaxe. Parte da gramática que estuda as palavras como elementos da frase, isto é, estuda as relações que as palavras mantêm entre si, quer concordando umas com as outas (sintaxe de concordância), quer subordinando-se umas às outras (sintaxe de regência), quer ainda dispondo-se na frase segundo determinada ordem (sintaxe de colocação). (Jota, 1976)


Sotaque (fr. accent). Chama-se sotaque ao conjunto dos hábitos articulatórios (realização dos fonemas, entonação, etc.) que conferem uma coloração particular, social, dialetal ou estrangeira à fala de um indivíduo (sotaque ou pronúncia caipira, nordestina, alemã, etc.). (Dubois 2006)


Timbre. O timbre, ou  colorido, de uma vogal ou de uma consoante é uma qualidade acústica ou um conjunto de qualidades acústicas resultante do reforço e da audibilidade de certos harmônicos, no momento da passagem da onda sonora pelas diferentes cavidades do aparelho fonador. 

Este termo frequentemente é empregado também como sinônimo de qualidade acústica. Pode-se dizer também que a voz tem um timbre mais ou menos agudo, segundo o comprimento das cordas vocais e seu grau de tensão. 

A vogal [u] tem timbre velar por oposição à vogal [i], que tem um timbre palatal. As consoantes [p,b] têm um timbre labial. A vogal [ã] tem timbre nasal. (Dubois 2006)


Tópico. Constituinte imediato que explicita a pessoa ou coisa sobre que se acrescenta algo (o comentário). Embora tal ocorra com frequência, o tópico nem sempre coincide necessariamente com o sujeito (nem o comentário com o predicado). Nem o tópico há de sempre preceder o comentário, segundo creem faça Hockett acreditar. Ao tópico, isto sim, costuma-se dar realce, pelo fato de ser o elemento sobre o qual se tecerá alguns comentários, mas isto não significa não possamos, nalguma circunstância, dar maior relevo ao comentário. O livro do meu colega ainda não pude ler:  apesar de objeto direto, o tópico é o livro de meu colega, a respeito do qual se teceu o comentário: Ainda não pude ler. Mas se desejamos enfatizar o comentário: O presidente ainda não leu a carta que lhe enviei. (Jota, 1976)


Verbo. Palavra variável que exprime um processo, isto é, algo que se processa através do tempo (de caráter dinâmico, portanto). Chover, por exemplo, é o ato de cair a chuva (uma ação, um processo, diferindo de chuva / nome da cousa, abstraída da ação). Metafisicamente, o verbo é o processo; o substantivo é o nome desse processo: chover é a ação; chuva, o nome de tal ação. Noutras palavras, o verbo é o nome dinamizado e o nome é o verbo extatizado. Correr implica movimento; corrida, no entanto, é apenas o nome desse movimento. (V. flexão verbal) (Jota, 1976)


Vernáculo. Termo usado na sociolinguística para indicar a língua ou dialeto de uma comunidade de fala, como o vernáculo do Rio, da cidade do Porto, etc. O estudo do "vernáculo do inglês dos negros" nos Estados Unidos deu margem a diversas pesquisas linguísticas desde a década de 60. As línguas pidgins às vezes são chamadas de vernáculos de contato. Os vernáculos geralmente são vistos em contraste com língua-padrão, língua franca etc. (Crystal, 2000)


Versus. O termo convencional versus (abreviatura vs) significa "contra" ou "contrário a" nas notações como masculino vs feminino, nominativo vs acusativo, etc. (Dubois 2006)


Vocabulário. Conjunto de vocábulos de uma língua: Vocabulário ortográfico, ortoépico; vocabulário de nomes próprios. Via de regra, opõe-se vocabulário, mero repositório de vocábulos (palavras sem as respectivas significações), a dicionário, conjunto das palavras e significações. Mas numa extensão muito natural, também se empregam, por vezes, léxico, vocabulário e dicionário como sinônimos. (Jota, 1976)


Vocábulo. Palavra abstraída de sua significação, encarada, portanto, sob seu aspecto natural, sonoro; é o significante, é o sinal. (V. Palavra) (Jota, 1976)


Voz. A voz é uma categoria gramatical associada ao verbo e a seu auxiliar, e que indica a relação gramatical entre o verbo, o sujeito ou o agente e o objeto; cada voz se manifesta por flexões verbais específicas (desinências ou prefixos, formas diferentes dos auxiliares, etc.).

Quando o sujeito do verbo é o agente de uma ação que se exerce sobre um objeto, o verbo está na voz ativa, e a oração é uma oração ativa. Pedro chamou Paulo

Quando o sujeito da frase é de fato o objeto de um verbo ativo numa frase subjacente, o verbo está na voz passiva e a frase é passiva. Assim, João foi ferido por Paulo provém da frase Paulo feriu João; nesse caso, Paulo, sujeito da frase ativa subjacente, tornou-se agente da frase realizada (agente da passiva) e o objeto João tornou-se sujeito. (Crystal, 2000)


Bibliografia 

CRYSTAL, David. Dicionário de Linguística e Fonética.Tradução e adaptação de Maria Carmelita Pádua Dias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000.

DEIL - DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO ILUSTRADO LAROUSSE. São Paulo: Larousse, 2007.

DUBOIS, Jean et al. Dicionário de Linguística. Tradução coordenada por Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 2006.

JOTA, Zélio dos Santos. Dicionário de Linguística. Rio de Janeiro: Presença Edições, 1976.

OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de. Minimanual Compacto de Redação e Estilo: Teoria e prática. São Paulo: Rideel, 1999.