Fraseologia Brasileira 

Ausência. Brilhar por sua __. Fazer-se notar justamente por não ter comparecido onde devia ir. Atitude de acintoso desdém. A expressão vem de uma observação de Tácito ao narrar o funeral de Júnia, viúva de Cássio e irmã de Bruto. Os romanos costumavam colocar junto ao cadáver as efígies dos antepassados e parentes falecidos do morto, mas neste funeral faltaram as imagens daqueles dois, malvistos por suas ações contrárias a Augusto, e por isto mesmo brilhavam pela ausência. (1)


Bedelho. Meter o __. Intrometer-se no que não lhe diz respeito, meter-se em conversa alheia. Bedelho é um ferro chato, colocado horizontalmente numa porta, o qual, levantando-se ou abaixando-se, serve para abri-la ou fechá-la. (1)


Bezerro. O __ de ouro. O dinheiro. Reminiscência do bezerro de ouro que os hebreus obrigaram Aarão a fazer enquanto Moisés estava no Sinai recebendo as tábuas da lei e que eles adoraram. V. Êxodo, 32. Chorar como um __ desmamado. Chorar fazendo alarido. 


Cachimbo. Fumar com alguém o __ da paz. Mostrar que não tem más intenções em relação a esta pessoa. Prática dos peles-vermelhas. Ser um __ apagado. Ser uma pessoa esgotada, inútil, nada podendo fazer que se aproveite. 


Cadeira. Arraste a __ e senta no chão. Maneira jocosa de avisar a alguém que tem de ficar de pé por falta de cadeira. Falar de __. Conhecer perfeitamente o assunto e por isso poder dar lições a respeito dele; saber bem o que diz por ser assunto de sua especialidade. Representar para as __s. Haver pouco espectadores. 


Calcanhar. Dar aos __es. Fugir. Não chegar aos __es de alguém. Ser-lhe muito inferior. Reminiscência do que S. João Batista disse em relação a Cristo. V. S. João, I, 27. Ter seu __-de-aquiles. Apresentar um ponto vulnerável. Reminiscência do que se passou com aquele herói grego. Para conferir-lhe a imortalidade, Tétis, sua mãe, a conselho dos deuses, mergulhou-o no Estige, mas a água não tocou no ponto onde ela o segurou para fazer a imersão e neste ponto foi que Páris feriu o herói na guerra de Troia. V. Quinto Esmirna. Posthomerica, III, 6. 


Calo. Criar __s na paciência. Habituar-se a sofrer. Pisar nos __s. Irritar, magoar muito, incomodar. Pisar no __ de estimação. Pisar o que dói mais. 


Lágrima. __s como punhos. Grossas e abundantes. __s de crocodilo. Pérfidas, fingidas, traiçoeiras, de tristeza, de arrependimento. Acreditava-se outrora que o crocodilo fingia gemer para atrair a presa. __s de mostarda. Falsas, como as determinadas pelo ardor da mostarda. Chamar __s aos olhos. Fazer chorar, causar dó ou enternecimento. Enxugar as __s. Consolar, minorar os infortúnios. Ter __s na voz. Falar em tom comovente, enternecedor. 


Rato. __ de biblioteca. Indivíduo que vive lendo pelas bibliotecas. __ de hotel. Ladrão que age em hotéis. É muito esperto mas não caça __. Não é tão esperto quanto se pensa. Esperto como um __. Muito esperto. Estar como um __ no queijo. Muito satisfeito. Não escapou nem __. Houve aniquilamento total. 


Quinto. Mandar para os __s. Mandar para o diabo, para um lugar longe, mandar que se retire, que suma, que se vá embora. Quinto era um imposto de vinte por cento, cobrado pelo erário português, das minas de ouro do nosso país. Chama-se nau dos quintos a que levava ao reino esse imposto. Daí, ir à nau dos quintos significar ir degredado para o Brasil, lugar longínquo e desconhecido nas eras coloniais.  (1)

Fonte de Consulta

(1) NASCENTES, Antenor. Tesouro da Fraseologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.