Crase. É o nome de um fenômeno. Que fenômeno? Fenômeno da fusão de duas vogais (a + a = à). Em rigor, não é nome de acento grave. Esse acento apenas indica que houve fusão de duas vogais, ou seja, que houve crase. (1)
Crase é a fusão de duas vogais da mesma natureza, ou seja, iguais.
Regra geral: Haverá crase se existirem duas situações:
- o termo regente exigir a preposição A
- o termo regido aceitar o artigo A/AS
Nunca ocorre crase:
1) antes do masculino: Ver a olho nu. Andar a pé. Bife a cavalo.
2) antes de verbo: Começou a chorar.
3) antes de pronome de tratamento: Peço a Vossa Excelência licença para retirar-me.
4) antes de pronomes em geral (desde que não aceitem artigo): Falei a ela. Deu a cada uma um pacote. Não se referiu a ninguém.
5) nas expressões formadas por palavras repetidas: Ficaram cara a cara. Tomou o remédio gota a gota.
6) antes de nomes de cidades e da palavra casa sem determinação: Foi a Taubaté. Dirigiu-se a Campinas. Voltou a casa tarde. (Quando o nome da cidade ou a palavra casa estiverem determinados, haverá crase: Fomos à velha Taubaté. Dirigiu-se à Campinas de Carlos Gomes. Voltou à casa paterna).
7) com a palavra terra, quando ela se opuser a bordo: Os marinheiros voltaram a terra. (Quando terra for sinônimo de planeta ou terra natal, haverá crase: Meu avô voltou à sua terra).
Sempre ocorre crase:
1) na indicação de horas: Chegou à meia-noite. À zero hora fecharam-se as portas. Chegou às duas horas não à uma como o combinado.
2) na expressão à moda de mesmo que as palavras moda de venham ocultas (é um dos casos em que o masculino aceita crase): Bife à milanesa. Sapato à Luiz XV.
3) nas expressões adverbiais femininas: Cheguei à tarde. Vestiu-se às pressas. Estou à procura de selos tailandeses. Fez tudo às ocultas. Exceção: com expressões adverbiais de instrumentos não há crase. Escreveu a tinta. Cortou o cabelo a navalha.
4) nas locuções conjuntivas e prepositivas: À medida que subimos, o ar se rarefaz. À força de muito estudar, passou no concurso.
Pronomes
1) AQUELE(S), AQUELA(S), AQUILO: sempre que o termo regente exigir preposição, haverá crase.
Dirigiu-se A aquele lugar. Dirigiu-se àquele lugar.
2) A QUE (= aquela que): Houve uma sugestão anterior a a(aquela) que você deu. Houve uma sugestão anterior à que você deu.
Regra prática: substituir-se sugestão por uma palavra do masculino; se der AO, haverá crase no término. Ex.: Houve um palpite anterior AO que você deu. (2)
Crase com horas + Até à
Na grande maioria dos casos coloca-se o acento indicativo de crase diante das horas, isto é, escreve-se às na indicação de determinado horário.
Os bancos abrem às 10 horas.
Às 21h30 começará a ser servido o jantar.
O enlace matrimonial se realizará às dezoito horas do dia vinte de maio.
Precisamente às 20h43min teve início o espetáculo.
À uma hora
Sabe-se que não existe crase diante de artigo indefinido, como em:
Falou a uma multidão.
Entreguei o papel a uma das secretárias.
A revisão do passado não é tarefa restrita a uma nação arrependida.
No caso de uma hora, todavia, o à precedente configura uma crase porque aí se trata não do artigo indefinido mas do numeral "uma", que acompanha e determina a primeira hora, como o fazem os numerais até 24 [as duas horas, as três horas etc.]. Portanto:
O eclipse da Lua poderá ser apreciado melhor à uma hora da madrugada.
Para as 12 horas
Sendo a crase a fusão da preposição A com o artigo A, não se poderá acentuar o AS das horas quando se empregar outra preposição (que não seja A). São quatro as possibilidades: para, desde, após, entre. Com elas é proibido o AS craseado, para que não haja uma superposição de preposições. Exemplos:
A conferência foi marcada para as 10 horas da noite.
Desde as duas estou te esperando!
Não atendemos após as 18 h de sábado.
A Celesc avisa que faltará luz na Serrinha entre as 20 h e as 22 h.
Reafirmando: este as não leva crase porque é puro artigo. Nesse último exemplo pode-se verificar mais claramente tratar-se de artigo ao se trocar “as 20 h” por um horário do gênero masculino: Faltará luz na Serrinha entre o meio-dia e as 22 h.
Até as ou Às
Os portões permanecerão abertos até as 23 horas.
Os portões permanecerão abertos até às 23 horas.
Embora tenhamos dito acima que a crase é proibida depois de uma preposição, é possível – embora desnecessário – usá-la junto com ATÉ na frente da hora. Ocorre que a preposição “até”, excepcionalmente e por motivo de clareza, pode ser seguida da preposição “a”. Sendo assim, escrever até as 23 h ou até às 23 h é indiferente, porque neste caso não há o perigo de confusão com a partícula inclusiva.
Explica-se: a partir do séc. XVII começou-se a usar as preposições até e a combinadas para dar maior clareza ao pensamento, uma vez que até tem igualmente o sentido de inclusão = mesmo, inclusive, ainda, também. Mudança de significado pode ocorrer em frases do tipo:
(1) Queimou todo o cabelo até a raiz. [inclusive a raiz]
(2) Queimou todo o cabelo até à raiz. [até junto à raiz]
(3) Rabiscou tudo até a porta. [a porta também]
(4) Rabiscou tudo até à porta. [dá a noção de limite: parou na porta]
Naturalmente nas frases 1 e 3 a ambiguidade poderia ser evitada com uma vírgula: “Queimou todo o cabelo, até a raiz / Rabiscou tudo, até a porta”. (3)
Fonte de Consulta
(1) SACCONI, Luiz Antonio. Corrija-se! de A a Z. 2.ed., São Paulo: Nova Geração, 2011.
(2) OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de. Minimanual Compacto de Redação e Estilo: Teoria e prática. São Paulo: Rideel, 1999.
(3) PIACENTINI, Maria Tereza de Queiroz. Não Tropece na Língua: Lições e Curiosidades do Português Brasileiro. Curitiba: Bonijuris, 2012 (www.linguabrasil.com.br)