Pasteur, Louis (1822-1895)

Louis Pasteur

A Europa de 1815, assistiu à derrota de Napoleão em Waterloo. Em1831, Charles Darwin partiu para a sua viagem à volta do mundo para estudar as origens das espécies. Entre estes dois acontecimentos, nasceu a 27 de Dezembro de 1822, em Dolle, no Leste de França, Luís Pasteur. Seu pai foi sargento da Armada Napoleônica, condecorado em campo de batalha, mais tarde ele se tornou um curtidor e industrial de peles, terceiro filho de Jean. Louis frequentou a escola de Arbois e em 1839, entrou para o Colégio Real e Besançon para cursar Letras e Ciências, completando sua educação secundária. Pasteur não foi um aluno especialmente aplicado ou brilhante na escola e nem mesmo na universidade em que estudou. Quando era jovem, tinha um gosto especial pela pintura e fez diversos retratos de sua família. Aos dezenove anos, abandonou a pintura para se dedicar à carreira científica, que perdurou por toda a sua vida. Em 1842, obteve o bacharelado em ciências e sendo lhe atribuída uma nota de medíocre em química. Em 1843, é admitido na Escola Normal Superior de Paris, onde inicia seus estudos sobre cristais e direcionou suas pesquisas aos estudos do mesmo. Nesta época ele assistiu as palestras de Balard e Dumas na Universidade da Sorbonne, mais tarde Pasteur tornou se um assistente de Ballard. .

Em 1847, apresentou sua tese de doutoramento em física e química na Escola Normal Superior de Paris. Em 1848, Pasteur descobriu que os cristais de ácido tartárico são caracterizados por incontáveis pequenas facetas, que já tinham sido observadas por Mitscherlich similares às facetas hemiedrais e observado por Haüy em quartzo opticamente ativo.

Os cristais de quartzo podem ser divididos em dois grupos: direito e esquerdo. Segundo à posição das facetas, as duas formas que têm a relação de um objeto e a sua imagem num espelho. Herschel observou que isso estava provavelmente conectado com a observação de Biot, que alguns cristais de quartzo rodavam o plano da luz paralisada para a direita e outros para a esquerda.

Quando Pasteur iniciou o seu trabalho sobre o ácido tartárico, já existiam consideráveis quantidades de informações disponíveis e as conexões entre a forma cristalina e a atividade ótica já estava bem estabelecida. A sua importante descoberta foi que pela cristalização lenta de uma solução de racemato amônio de sódio dos cristais, obtidos alguns tinham facetas viradas para a direita e outros virados para a esquerda. Pasteur então separou cuidadosamente os cristais que eram hemidraéticos para a direita, dos que eram hemidraéticos para a esquerda e examinou as suas soluções separadamente em um aparelho de polarização. Então ele percebeu que os cristais que tinham as faces hemidraéticas à direita desviavam o plano da polarização para a direita e o contrário acontecia com os cristais que possuíam as faces hemidraéticas à esquerda. E quando ele tomou o mesmo peso de cada espécie de cristal, os tornou em uma solução mista, esta se tornou indiferente à luz em consequência dos dois desvios opostos um para a direita e outro para a esquerda, ocorreu a neutralização não havendo nem desvio para a polarização à direita e nem para à esquerda.

Pasteur observou que Biot, por mais de trinta anos empenhou-se em vão em persuadir os químicos a partilhar de sua convicção, que o estudo da polarização rotatória oferecia o meio mais seguro de todos, para se obter um conhecimento da constituição molecular das substâncias.

Os dois ácido tartárico e metatártarico obtidos a partir dos sais liberaram calor na mistura da solução de seus compostos e originou o ácido racêmico oticamente inativo que cristalizou. A interpretação dos resultados de Pasteur em termos de constituição química foram dadas independentemente, em 1874 por Van’t Hoff e Le Bel. Por essa descoberta Pasteur recebeu a concessão da Legião de Honra da França aos 26 anos de idade, recebendo um prêmio de 1500 francos e foi nomeado professor de física no Liceu em Dijon, neste mesmo ano de 1848, falece sua mãe Jeanne Etiennete.

Em 1852, ele obteve a nomeação de professor suplente de química na universidade de Estrasburgo. Casou-se com Marienne Laurente, filha do reitor da Academia. Em 1853, explicou as substâncias racêmicas ou oticamente inativas usando a cristalização fracionada com um ácido ou base oticamente ativas, ou pelo crescimento de um bolor o qual preferencialmente apresenta-se em uma única forma. Em 1854, foi nomeado decano na Universidade de Lille. Em 1857, Pasteur tornou-se diretor da Escola Superior Normal em Paris, na mesma instituição de ensino onde apresentou sua tese de bacharelado. Neste ano ele descobriu os ácidos tártarico e metártarico, ele forneceu provas experimentais para a teoria.

Luís Pasteur já entrara na História pela sua descoberta, mas a sua contribuição para a humanidade foi muito maior. O estudo da fermentação o levou a descobrir o porquê dos vitivinicultores, de diversas zonas do seu país verificarem com tanta frequência, que os seus vinhos se transformavam em vinagre, sendo uma enorme perda para a economia francesa. Estudou a seguir a formação do vinagre e a doença dos vinhos. O vinagre seria o resultado da oxidação do vinho, sob a ação de um fermento, o "Mycoderma aceti". A doença do vinho seria também devida a um fermento particular para cada caso.

E isto passou a ser particularmente grave a partir de 1860, depois de assinado o tratado comercial entre a França e a Grã-Bretanha, por se verificar que grande porcentagem dos vinhos não resistiam à viagem, estragando-se irremediavelmente. Nessa época a França produzia 50 milhões de hectolitros de vinho por ano. A perda do precioso líquido era uma calamidade. O imperador Napoleão III (sobrinho de Napoleão Bonaparte), pediu a Pasteur que investigasse o porquê da fermentação do vinho e proporcionou-lhe as melhores condições de trabalho, equipando laboratórios para que o grande químico pudesse dedicar-se inteiramente a essa investigação. Foi criado em 1867, o laboratório de físico-química expressamente para Pasteur, na Escola Normal Superior. Depois de árduos estudos o cientista descobriu que submetendo o vinho a um aquecimento elevado durante alguns segundos, e logo de seguida, a um repentino abaixamento da temperatura a menos de dez graus, matava os germes que alteravam os líquidos. Este sistema foi utilizado na cerveja vinho e leite, daí o termo “Pasteurizado” que todos conhecemos. Além da pasteurização hoje é sabido que o ácido meta tartárico é usado para impedir o crescimento dos cristais de bitaratarato de potássio e tartarato de cálcio, tornando o vinho estável contra as precipitações tartáricas. O seu elevado índice de esterificação de 38 a 41, permite um efeito protetor de longa duração. Isso significa que os processos de estabilização pelo frio podem ser reduzidos quando não há capacidade de frio suficiente ou quando são demasiadamente caros, tornando o vinho estável contra as precipitações tartáricas.

Em certos casos a adição de ácido tartárico é necessária, quando a presença do mesmo está abaixo do teor especificado. O ácido tartárico é normalmente encontrado no vinho, sendo um acidulante, ele modifica beneficamente a composição do vinho diminuindo o índice de acidez volátil e realçando a cor o que melhora a qualidade da bebida. Para Pasteur num dos maiores experimentalistas de todos os tempos. Estudar a fermentação foi um desdobramento natural das investigações de Pasteur, como todas as demais atividades científicas que se seguiram. Esses estudos foram iniciados em 1855, quando ele era catedrático de química e decano da recém criada Faculdade de Ciências da Universidade de Lille. O resultado das pesquisas foi à formulação da teoria dos germes como explicação para os processos de fermentação. Por essa teoria, a fermentação só ocorreria se houvesse a presença de germes (no sentido de sementes) no meio e Pasteur diz textualmente: “pela palavra germe, eu não estou falando de uma causa vaga e indeterminada em sua natureza, mas de um objeto visível e tangível que já tem todos os caracteres de uma organização completa e se multiplica em profusão, desde que as condições sejam favoráveis” (Étude sur le vin, 1868), em suma um ser vivo. Esta teoria porém chocava-se frontalmente com a da geração espontânea e veio a ser lançada no interior de um debate científico, que se arrastava desde o século XVIII. A teoria proposta desde 1626, pelo médico, filósofo e químico J.B van Helmont (1579-1644), para explicar as doenças era de que elas eram causadas pela invasão do organismo por seres estranhos ao mesmo (arqueus), os quais utilizavam as forças vitais em seu próprio beneficio e produziam resíduos que envenenavam a vítima. A teoria rival por sua vez, estabelecia que as doenças foi originadas por um mau funcionamento do organismo, o qual intoxicava a si próprio. Nos casos em que as condições externas intervinham, as causas eram mal fluídos (mal’aire) e não organismos hostis. A implantação das teorias que levaram às atuais concepções sobre as doenças exigiam, portanto a superação de três obstáculos para entendê-las e preveni-las: que elas resultavam do ataque de microrganismos, que estes não podiam ser gerados espontaneamente e que o processo de vacinação introduzido por Jenner, ainda no século XVII, no caso da varíola fosse estendido e generalizado. A teoria da geração espontânea não era uma visão ingênua de nossos antepassados, mas fundamentada em experimentos e técnicas de pesquisa tão rigorosos quanto permitiam às condições e conhecimentos da época, em que se iniciaram os debates. Em 1858, quando Pasteur passou a dedicar-se ao assunto, a teoria era formulada por Pouchet, naturalista de Rouen e membro correspondente da Academia de Ciências, em termos da existência de uma força vital, um primus move no ar responsável pelo surgimento de novas formas de vida no meio fermentativo. O problema com esse postulado, era que não sendo possível provar a existência da força, também era impossível provar a sua não existência. O próprio Pasteur reconheceu esse argumento em aula proferida na Sociedade Química de Paris em 1861, observando que seu objetivo ao abordar o assunto, era mostrar que todos os experimentos que sustentavam a teoria apresentavam conclusões falsas e não negar a existência da força. Simultaneamente efetuou uma série de experiências que demonstraram que existindo ou não uma força, os responsáveis pelas fermentações eram os microrganismos agregados à poeira do ar. O debate que se seguiu com Pouchet, levou a Academia de Ciências a constituir uma comissão para estudar o assunto, a qual deu ganho de causa a Pasteur. Foi um dos golpes mortais na teoria da geração espontânea.

Com a utilização de uma vidraria de labora chamada pescoço de cisne, Pasteur colocou um caldo nutritivo em um balão de vidro, de pescoço curvo e ferveu o caldo existente no balão, o suficiente para matar todos os possíveis microrganismos que poderiam existir nele. Cessado o aquecimento, vapores da água proveniente do caldo condensaram-se no pescoço do balão e se depositaram, sob forma líquida, na sua curvatura inferior. Quando Pasteur rompeu o pescoço do balão, permitindo o contato do caldo existente dentro dele com o ar, constatou que o caldo contaminou-se com os microrganismos provenientes do ar.

Pasteur já havia descoberto as causas das fermentações e constatou que cada fermentação era produzida por um fermento diferente, ele já demonstrara como os micro organismos destruíam a matéria orgânica, ele havia descoberto os micro organismos anaeróbicos. Seu estudo sobre as doenças do vinho e a solução que apresentara capacitaram no para o desafio, que sempre foi o alvo de seus estudos as doenças contagiosas. Ele tinha certeza que as culturas de suas fermentações lhe permitiriam isolar os germes e cultiva-los num meio de cultura estéril deixando que eles se reproduzissem isoladamente, ele poderia descobrir as causas das doenças.

Por volta da década de 1860, a indústria da seda francesa teve um problema grave: as larvas morriam e os poucas que vieram a se desenvolver, fabricam muito pouca seda. Tão importante era seda no território do sul de França, que as amoreiras eram chamadas de "árvore de ouro", mas a região estava arruinada. A pedido do governo francês, Dumas e Pasteur, foram verificar "in loco", o que estava acontecendo.

Pasteur não tinha a menor ideia de bichos da seda. Após a chegada, sem desembalar e até mesmo acomodar sua família, ele desempacotou sua arma: seu microscópio, e virou-se para olhar dentro das larvas doentes.

Ele aprendeu que os bichos fazem um casulo em torno de si mesmo e tornam-se pupas dentro dos casulos; tais crisálida se transformam em borboleta saindo do casulo e põe ovos que ao eclodirem, dão origem a novos grupos de larvas na primavera seguinte.

Os criadores ficaram revoltados ante a crassa ignorância de Pasteur, disseram-lhe que a doença se chamava Pebrina e era a causa das pequenas manchas negras parecidas como pimenta, que cobriam as larvas doentes. Pasteur tinha muitas teorias a respeito da doença, mas os únicos fatos conhecidos em relação a mesma eram as pequenas manchas pretas e uns curiosos glóbulos vermelhos, dentro dos vermes doentes, só visíveis ao microscópio.

Larvas saudáveis foram alimentados com folhas de amoreiras manchadas com excrementos de bichos da seda e morreram no espaço de 72 horas, em vez de lentamente como era o normal da doença.

Desanimado Pasteur suspendeu os experimentos, seus assistentes fiéis estavam preocupados. Gernez foi enviado ao norte da França, para estudar os bichos-da-seda de Valenciennes e Pasteur sem um motivo bem definido, lhe escreveu recomendando que repetisse a mesma experiência que tinha falhado antes. Gernez escolheu quarenta larvas saudáveis ​​e alimentadas com folhas de amoreira boas e saudável, que não havia sido usadas por larvas doentes. Esses bichos da seda teceram vinte e sete belos casulos e nas borboletas que deles saíram, não foram encontrados células sanguíneas ao se usar o microscópio.

Pegou folhas manchadas com borboletas doentes e deu essas folhas como alimento para larvas nascida, no dia seguinte ela morreram lentamente cobertas de pontinhos pretos.

Com mais folhas contaminadas com borboletas doentes, alimentou bichos da seda que já estavam se preparando para tecer casulos e as borboletas originadas por esses bichos da seda estavam com suas células sanguíneas e as larvas esperadas provenientes dos seus ovos, não nasceram.

Gernez foi presa de grande agitação, que aumentou quando as noites que passou colado lhe mostrou que as células infectadas aumentavam a medida que os bichos da seda se aproximavam da morte.

Gernez apressou a encontrar-se com Pasteur e lhe disse: – O problema está resolvido, os glóbulos vermelhos estão vivos, são parasitas que causam a doença nas larvas.

Levou seis meses para Pasteur se convencer da explicação dada por Gernez, mas quando se convenceu ele reuniu o Comitê dos Sericultores e lhes disse:

Os glóbulos vermelhos não são apenas os sinais da doença, mas também a causa. Os glóbulos estão vivos se multiplicam e se infiltram nos corpos das borboletas.

Ele explicou o que eles tinham que fazer era deixar as borboletas colocarem os ovos e em seguida sacrifica-las e o observarem ao microscópio. Se vocês não encontrarem os glóbulos vermelhos, podem ter certeza que são saudáveis .

Os membros do Comitê da Seda, olharam com suspeitas para o microscópio um aparelho estranho, tão estranho quanto a ignorância de Pasteur sobre a sericicultura.

Nós não sabemos como lidar com este dispositivo.

- Que absurdo! - Respondeu Pasteur - Eu tenho no meu laboratório uma menina de oito anos, que lida com o microscópio e é perfeitamente capaz de observar esses glóbulos, corpúsculos eu ensinei. E você, homens crescidos, você vai me dizer que vocês não podem fazê-lo?

Com um argumento como este, eles aprenderam a lidar com o microscópio. Pasteur não era um homem de deixar as pessoas em paz. Quando o Comitê comprou microscópios, Pasteur viajou por toda a região produtora de seda ensinando os sericultores a utilizarem os microscópios utilizarem os microscópios, continuou orientando seus assistentes a realizar experiências que ele não tinha tempo de fazer e passava as noites ditando, a madame Pasteur, trabalhos científicos ou conferências; na manhã seguinte estava a trabalhar sem novamente sem descanso.

Naqueles dias Pasteur, sofreu uma hemorragia cerebral que o colocou às portas da morte, mas ao saber que havia sido suspenso de seu trabalho em seu novo laboratório ficou furioso e decidiu viver. Ele estava paralisado de um lado, mas decidiu continuar seu trabalho com toda a energia X. Quando ele deveria ter continuado na cama ou ter ido para refazer-se a beira mar. Se pôs de pé vacilante e saiu coxeando para pegar o trem para o sul da França , alegando indignado que seria criminoso não salvar os bichos de seda, quando tanta pessoas pobres estavam morrendo de fome.

Pasteur lutou seis anos contra Pebrina, não havia acabado de solucionar o problema quando surgiu uma nova doença atacando os bichos da seda, mas com a experiência adquirida no combate a Pebrina, Pasteur levou pouco tempo para descobrir no micróbio, a nova praga.

O problema era complexo porque as larvas sofriam de duas doenças, que se sobrepunham a Pebrina e Flancherie ou Fraqueza, embora Pasteur não determinasse com precisão as suas diferentes etiologias, mas ele sabia diferencia-las perfeitamente.

Sempre existiram incrédulos, mas o que caracteriza bem Pasteur, eram sua energia, determinação e segurança para aquele que se apresentava com dúvidas. Pasteur lhe dizia:

Você não sabe nada sobre os meus trabalhos, os meus resultados e os princípios que me permitiram estabelece-los e nem de suas consequências práticas, você não leu nada do que escrevi e se leu não entendeu.

E como quiseram mais uma vez colocar Pasteur a prova, em 1869, a Comissão de seda de Lyon lhe pediu uma amostra de ovos que fossem garantidos como saudáveis. Pasteur respondeu com quatro lotes: Um de ovos saudáveis, outras que estavam contaminados com Pebrina, um terceiro contaminado com Flancherie ou Fraqueza e o último contendo as duas doenças e anexou uma nota:

"Eu creio que a comparação dos resultados desses quatro lotes, mostrará a Comissão os princípios que eu estabeleci com mais clareza do que o envio de um único lote saudável".

Poucos meses depois a Comissão reconheceu o acerto de todas as predições de Pasteur.

Em 1862, Pasteur é eleito membro da Academia de Ciências de Paris, em 1867 é nomeado professor de química da Sorbonne.

Na Inglaterra em 1865, o cirurgião Joseph Lister aplicou os conhecimentos de Pasteur para eliminar os micro-organismos vivos em feridas e incisões cirúrgicas. Em 1871, o próprio Pasteur obrigou os médicos dos hospitais militares a ferver o instrumental e as bandagens que seriam utilizados nos procedimentos médicos.

Pasteur sustentou polêmicas memoráveis com os membros da Academia de Medicina ao declarar taxativamente, que as doenças contagiosas eram causadas por agentes exteriores, recomendando medidas profiláticas especiais.

Afirmou ainda que a triquinose é a doença da triquina, a sarna do ácaro (que lhe é próprio) e ainda encontra o vibrião que é responsável pela septicemia; verifica que a bactéria carbunculosa é aeróbia e o vibrião séptico é anaeróbio, ou seja, pode viver sem oxigênio do ar o que torna necessário seu cultivo no ácido carbônico. Essa descoberta é uma resposta à experiência de Paulo Bert, pois mostra que a pressão do oxigênio, que fora injetada no sangue destrói as bacterídias filamentosas e não os vibriões.

Os micróbios, palavra introduzida por Sédillot, passam a ser perseguidos por Pasteur nos hospitais que percorre, pois a febre puerperal, era responsável por dizimar milhares de mulheres, devido a falta de higiene dos médicos, que saiam de uma sala de autópsia e sem mesmo lavar as mãos iam fazer um parto. Ao mesmo tempo abre assim, o pesquisador, caminho para novas descobertas e atende aos pedidos do mundo para resolver os males da peste bubônica, a cólera dos homens e dos animais, o mal rubro e a raiva.

Na primavera de 1879, Pasteur tinha certeza de que tinha isolado o patógeno, que causa a cólera de frango, os testes mostraram que as galinhas inoculadas com uma solução contendo o patógeno suspeito, se tornaram infectadas com a doença. Deixando de instruções para os seus alunos para inocular aves diferentes em momentos específicos, Pasteur deixou seu laboratório para umas férias em Paris. Enquanto ele se foi um lote de cólera patógeno ficou por acaso à secar. Os alunos ficaram consternados ao descobrir que as galinhas que receberam este patógeno danificado, não adoeceram. Quando Pasteur voltou passaram a inocular as galinhas com um novo lote de patógeno da cólera. Poucos dias depois, Pasteur notou que as galinhas, as que tinham sido dadas o patógeno "inútil" não mostraram nenhum sinal de estarem infectadas. A observação de Pasteur o levou à descoberta de que a virulência de um patógeno, pode ser alterada artificialmente.

O dia 2 de junho de 1881, uma quinta-feira, entrou para os anais da história da microbiologia: a fazenda do veterinário Hippolyte Resigno, localizada na pequena cidade de Pouilly-le-Fort, serviu de cenário para o primeiro teste da vacina para o combate à carbunculose, organizado por Pasteur e seus principais colaboradores. A doença para os criadores franceses de ovelhas da época, significava grandes prejuízos econômicos. O resultado e o próprio Pasteur, sabia disto quando entrou na fazenda, em razão de uma mensagem enviada a ele naquela manhã; encheu de glórias o time de pesquisadores, a vacina funcionou. Dos 50 carneiros, 25 morreram, os demais todos vacinados, sobreviveram a carbunculose.

O desfecho previsto e alardeado com muita antecedência por Pasteur, realmente ocorreu. A preconcepção do ideal pasteuriano ganha um novo reforço apenas agora, mais de cem anos depois de sua morte. Os bastidores do teste da carbunculose são emblemáticos. Servem para entender não apenas o procedimento científico da época, mas também do próprio autor.

Independentemente do resultado prático obtido com os animais, a comunidade científica precisava saber mais. Em questões cruciais como a da vacina contra a carbunculose, o método como ela foi preparada ganha um peso enorme. Neste ponto, além de aniquilar cientificamente os próprios adversários na corrida por esta conquista, Pasteur protagonizou um grande engodo. Pelos relatos da época, fica a impressão de que as vacinas tinham sido preparadas a partir da exposição de culturas do micróbio ao ar atmosférico. Como um ano antes, Pasteur tinha usado o mesmo método para combater a cólera entre as galinhas, tudo se encaixava, tudo fazia sentido aos olhos e ouvidos da sociedade científica de Paris.

Os dados apresentados agora por Geison, mostram uma a outra versão. Citando o diário de Pasteur a questão se resolve por completo. As vacinas, na verdade, foram atenuadas pela utilização do bicromato de potássio. Esta informação fora omitida na época porque Pasteur não queria abrir mão do método que acreditava ser o ideal. É verdade também que em nenhum de seus trabalhos o cientista francês declarou ter usado um método diferente do que realmente utilizou. Ele nunca detalhou como obteve a vacina. Os dados apresentados agora por Geison mostram uma a outra versão. Citando o diário de Pasteur a questão se resolve por completo. As vacinas, na verdade, foram atenuadas pela utilização do bicromato de potássio. Esta informação fora omitida na época porque Pasteur não queria abrir mão do método que acreditava ser o ideal.

Apesar do grave equívoco, está muito longe da verdade atribuir ao fato a denominação de fraude científica. Anos mais tarde, o método que Pasteur gostaria de ter usado no primeiro teste com os carneiros realmente seria definido como regra. O que merece destaque é que com medo de fracassar completamente, Pasteur resolveu utilizar uma forma de atenuar os micro-organismos, diferente daquela que ele acreditava ser a melhor. Isto ocorreu, porque naquela época usar o bicromato, era uma forma mais segura de se conseguir preservar o animal que fosse vacinado. O mérito de desenvolver este mecanismo era de Charles Chamberland, um dos assistentes do herói francês, ele assim como outros pesquisadores ao lado do mestre; Émile Roux era um dos mais queridos de Pasteur; eles sempre viveram à sombra do principal nome da microbiologia mundial daqueles tempos.

Apesar disto, não apenas estes dois assistentes, mas todos aqueles que trabalharam ao lado de Pasteur, ajudaram e muito, na construção de um mito, logo após a morte dele. Na verdade eles também dependiam desta relação. Quanto mais altos estivessem os ideais pasteurianos, mais altos estariam eles próprios. Os trabalhos publicados pelos discípulos de Pasteur, após a morte do mestre, mesmo que discutissem alguns de seus conceitos, jamais deixaram de lado a apologia ao mito e ao herói. Pasteur recusou receber 100.000 francos pelos direitos da vacina contra o carbúnculo, que até então dizimava os carneiros da África do Sul. Enquanto pesquisava sobre o carbúnculo Pasteur descobre o vibrião Séptico, causador de uma septicemia gangrenosa nos animais.

Por essa época o médico e cientista Robert Koch (1843-1910), prémio Nobel da Medicina em 1905, descobrira com base nas investigações de Pasteur, que o germe do antraz (doença grave detectada primeiro nos animais e de fácil propagação aos humanos), poderia ser estudado em laboratórios. Koch descobre a cura da tuberculose, que foi conhecida como "bacilo de Koch". Mas Pasteur também tinha as suas intolerâncias e não quis trabalhar com Koch, porque este além de alemão, tinha sido militar e lutado contra a França na sangrenta guerra franco-prussiana entre 1870-1871.

Em 1882, Pasteur voltou sua atenção para o problema da raiva. A raiva é transmitida pelo contato com os fluidos corporais de uma vítima infectada, incluindo saliva. A mordida de um animal raivoso é muito perigoso e muitas vezes fatal. Pasteur examinou a saliva e de tecidos de animais irracionais, ele foi incapaz de descobrir o microrganismo responsável por causar a doença. Hoje sabe que a raiva é causada por um vírus demasiado pequena para ser vista com os microscópios disponíveis a Pasteur.

Pasteur precisava de uma fonte confiável de material infeccioso para seus experimentos. Ele obteve o material por ter vários homens manter um cão raivoso. Ele então pessoalmente, forçou boca do animal aberta, para recolher a saliva em uma garrafa. Infelizmente injetar saliva de animais infectados não produziu de forma confiável a raiva em animais de laboratório.

Dedica-se ao estudo da raiva e pela experimentação conclui que o vírus rábico não está somente na saliva, pois pelo processo de inoculação comprova sua presença no cérebro. Obtém pelos meios anteriores utilizados, a vacina, e a aplica em animais. Satisfeito com os resultados obtidos resta-lhe ainda responder à pergunta feita pelo Imperador do Brasil D.Pedro II por carta, se no ser humano a vacina já poderia ser aplicada.

É mundialmente conhecido o caso do rapazinho alsaciano de nove anos, José Meister, que em Julho de 1885, foi mordido catorze vezes por um cão com a doença da raiva. A mãe suplicou a Pasteur que lhe salvasse o filho. Até à data ninguém sobrevivera a estas mordeduras, o cientista esteve hesitante, porque ainda só testara a sua vacina em animais e era um risco enorme experimentá-lo num ser humano. Pasteur disse mesmo ao seu colega de investigação Emílio Roux, que estava disposto a servir ele próprio de cobaia para poder testar a reação. Porém surgiu esta emergência e Pasteur passou momentos de angústia até se decidir. E pensou: se o rapaz morre depois de vacinado? Como as hipóteses de sobrevivência sem vacina eram nulas, arriscou. Luís Pasteur era químico e hoje diríamos biólogo, mas não era médico, por isso não podia ser ele a ministrar a vacina sob pena de ser processado. Pediu então ao DR Grancher, seu assistente que o fizesse. Sessenta horas depois de ter sido mordido, José Meister recebeu a primeira de 12 injeções antirrábicas, que lhe foram sendo injetadas uma após outra sob apertada vigilância. Família e cientistas aguardaram várias semanas, por fim o jovem sobreviveu. Este jovem ficou para sempre agradecido a Pasteur. A repercussão do sucesso da vacina antirrábica, foi tal que a Academia das Ciências desenvolveu um projeto para criar uma instituição de investigação (futuro Instituto Pasteur) que foi bem acolhido no estrangeiro, tendo o próprio czar Alexandre III, contribuído com cem mil francos para a construção do Instituto Pasteur, devido que a vacina salvara a vida de dezesseis russos. O Instituto foi inaugurado em 15 de Novembro de 1888, contendo um grande dispensário para o tratamento da raiva e centro de ensino.

Este fato é ilustrado pela estátua que mostra um menino lutando contra um cão raivoso, que enfeita os jardins do Instituto Pasteur. Fato ocorrido em 1892, verdadeiro e parte integrante da biografia do protagonista.

Aos 70 anos recebeu da III República Francesa, uma grandiosa homenagem na Sorbonne, estando presentes representantes dos Governos de Itália, Rússia, Suécia, Alemanha e Turquia. Deve-se à rainha D. Amélia de Orleães e Bragança, de origem francesa teve a iniciativa de abrir em Portugal o primeiro Instituto Pasteur.

Luís Pasteur morreu a 28 de Setembro de 1895 e a viúva opôs-se a que fosse para o Panteón, onde repousam os notáveis de França. No ano seguinte passou a repousar numa cripta especialmente concebida para ele no Instituto Pasteur. As cerimónias fúnebres ocorreram em 05 de Outubro no Palácio de Versalhes e tiveram as honras de um funeral de Estado. O cortejo fúnebre saiu da basílica de Nôtre-Dame e o presidente da República Feliz Faure esteve presente. O rei D. Carlos de Portugal, fez-se representar pelo seu ajudante de campo e o elogio fúnebre coube a Poincaré, ministro da Instrução. Pasteur ocupa um lugar cimeiro na Ciência mundial do séc. XIX. Em 1940, na 2ª Guerra Mundial, quando as tropas de Hitler invadiram a França, um grupo de militares quis forçar a entrada do Instituto Pasteur, onde repousa numa cripta os restos mortais de Pasteur. José Meister era o responsável pela segurança e ao verificar que não conseguia impedir os nazistas entrarem, suicidou-se (os cientistas nazistas tinham a paranoia de estudar os cérebros de pessoas consideras génios). Mas o cérebro de Pasteur não foi roubado, dessa forma com o seu suicídio, José Meister impediu que o corpo do homem que o salvara fosse profanado.

Pelo mundo foram criados Institutos que levam o nome de Luís Pasteur e como o instituto original na França até o dia de hoje, se dedicam as pesquisas e a produção de vacinas.

Conta-se como verídico o seguinte episódio:

Um senhor de 70 anos viajava de trem tendo ao seu lado um jovem universitário, que lia o seu livro de ciências.

O senhor, por sua vez, lia um livro de capa preta. Foi quando o jovem percebeu que se tratava da Bíblia, e estava aberta no livro de Marcos.

Sem muita cerimônia o jovem interrompeu a leitura do velho e perguntou:

-O senhor ainda acredita neste livro cheio de fábulas e crendices?

-Sim, mas não é um livro de crendices. É a Palavra de Deus. Estou errado?

-Mas é claro que está! –retrucou o jovem. -Creio que o senhor deveria estudar a História Universal. Veria que a Revolução Francesa, ocorrida há mais de 100 anos, mostrou a miopia da religião. Somente pessoas sem cultura ainda crê que Deus tenha criado o mundo em seis dias. O senhor deveria conhecer um pouco mais sobre o que os nossos cientistas pensam e dizem sobre tudo isso.

-É mesmo? E o que pensam e dizem os nossos cientistas sobre a Bíblia? – perguntou o velho demonstrando o interesse de quem quer aprender um pouco.

-Bem respondeu o universitário-, como vou descer na próxima estação, falta-me tempo agora, mas deixe o seu cartão que eu lhe enviarei o material pelo correio com a máxima urgência.

O velho então, cuidadosamente, abriu o bolso interno do paletó e deu o seu cartão ao universitário. Quando o jovem leu o que estava escrito, saiu cabisbaixo sentindo-se pior que uma ameba.

No cartão estava escrito:

"Professor Doutor Louis Pasteur, Diretor Geral do Instituto de Pesquisas Científicas da Universidade Nacional da França".

BIBLIOGRAFIA:

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Revista Eletrônica de Ciências. Louis Pasteur: UM CIENTISTA HUMANISTA. Visitado em 26 de setembro de 2009.

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