Lavoisier, Antoine (1743-1794)

Antoine Lavoisier: Um homem entre o Iluminismo e a Revolução Francesa

Antoine Laurent Lavoisier, nasceu em 26 de Agosto de 1743, em Paris, de uma família de classe média alta. Durante seu crescimento, a França estava em plena efervescência intelectual conhecido como o Iluminismo francês, que se iniciara com Descartes. Os primeiros volumes da Enciclopédia de Diderot, começavam a ser publicados e esta enciclopédia pretendia ser um “dicionário racional e sistemático”, para a propagação das artes e das ciências, que agora estava ocorrendo por toda a Europa. Os colaboradores desta obra incluíam a nata da intelectualidade francesa do século XVIII: Voltaire, Rousseau, Montesquieu, o matemático d. Alembert, o filósofo Condillac. Diderot insistiu que o futuro da ciência residia na experimentação.

Os enciclopedistas pretendiam combater a repressão sufocante da Igreja e o rei Luís XV, pelas extravagâncias desastrosas de sua numerosa corte em Versalhes, a menos que o iluminismo se difundisse e se fizessem reformas abrangentes a catástrofe social, que despontava no horizonte seria inevitável

Em 1764, com 21 anos, Lavoisier apresentou seu primeiro artigo para a academia Francesa de Ciências e em 1766 ele foi premiado com uma medalha de ouro pelo rei da França, por um ensaio sobre os problemas do desenvolvimento urbano de iluminação pública de Paris. Lavoisier era tão talentoso que aos 25 anos, recebeu uma nomeação provisória para membro da “Académie Royale des Sciences”. Em 1769, ele trabalhou no primeiro mapa geológico da França. O passo seguinte de Lavoisier, foi investir seu dinheiro na Fermé Géneralé, que era uma empresa terceirizada pra cobrar impostos em nome do rei, que se já eram abusivos, tornavam mais abusivos em vistas da Ferme Generalé, arrecadar esses impostos sobre comissão usando arrecadadores com seus métodos corruptos, fazia da Fermé Generalé uma das mais odiadas instituições do país. Lavoisier tornou-se genro do sócio majoritário da Fermé, ao casar-se com sua filha Marie Anne Pierrete Pauzle, uma jovem de 13 anos. Apesar de ser uma casamento ás pressas, pois havia um outro pretendente nobre, mas falido, que estava sendo empurrado para a jovem Marie Anne, por pressão real. Foi um casamento que realizou a ambos, Marie Anne seria sua principal colaboradora como tradutora e ilustradora de suas obras. Com o apoio financeiro do sogro e o auxílio da esposa, Lavoisier pode dedicar-se tanto a sua carreira administrativa como as pesquisas científicas.

Em 1775, Lavoisier foi nomeado um dos quatro comissários da pólvora, para substituir uma empresa privada que era até então fabricava esse material para o governo.

Com o seu sucesso financeiro, Lavoisier criou uma fazenda modelo que estabeleceu em suas terras em Orleans e mais a organização para o alivio dos famintos que implantou por toda essa região, compensou em pequena parte os impostos arrancados do povo pela Fermé, a ferro e a fogo.

Os talentos que Lavoisier demonstrou em seu trabalho para a Fermé, logo lhe valeram uma posição de destaque como acionista, pois empregou toda a herança que recebera na Fermé, juntamente com o seu sogro que era sócio majoritário amealhando considerável quantia que lhe possibilitaram continuar suas pesquisas científicas, além de possibilitar ao casal Lavoisier uma vida social agitada, pelos famosos jantares fornecidos aos seus convidados em sua residência, no Arsenal de Paris, onde Lavoisier era diretor da administração da pólvora. A estes compareciam cientistas e intelectuais eminentes entre seus convidados ilustres figuraram, como Benjamim Franklin e Thomas Jefferson.

Desde o início Lavoisier adotou uma abordagem moderna da química afastando-se completamente do método alquímico, onde tudo era na base do empirismo sem levar em conta as quantidades das substâncias em uso. Lavoisier pesava escrupulosamente tudo que usava em suas experiências científicas, dessa forma as mudanças ocorridas não eram só explicadas, mas também medidas. Apesar desses cuidados de início Lavoisier inclinou-se para a teoria dos quatro elementos, pois ao observar que a água posta a ferver por horas a fio num balão acabava por produzir um minúsculo sedimento. A água parecia conter terra e podia também se transformar em ar pela fervura. Mas ele chegou a conclusão que a teoria a dos quatros elementos, sob o comportamento químico, não explicava coisa nenhuma. Lavoisier pegou então um recipiente hermético e água pesando-os separadamente e ferveu á água durante 101 dias e quando novamente pesou a água constatou que ela pesava o mesmo peso do início da experiência. Quando pesou o recipiente constatou que seu peso era ligeiramente menor e a diferença era exatamente igual ao peso do sedimento. A “terra” não viera da água, mas fora extraída do vidro do balão pela fervura. A última prova dos quatro elementos soçobrou de vez.

Lavoisier voltou sua atenção para o discutido problema da combustão: aqueceu em um balão chumbo, após o aquecimento constatou que havia se formado além do chumbo uma ferrugem, a qual segundo a teoria vigente o chumbo libertara o seu flogístico para se tornar ferrugem, até que o ar do recipiente absorvera tanto flogístico quanto podia; então o processo cessara, porque o ar estava saturado de flogístico. Após esse experimento Lavoisier pegou todo o material. (contendo chumbo, ferrugem ) e os pesou e constatou que o peso era o mesmo que antes de ser aquecido. Em seguida pesou o chumbo e sua camada de ferrugem e descobriu como outros antes dele, que a camada de ferrugem e o chumbo pesavam mais do que o metal que havia sido antes pesado. Lavoisier concluiu que mais alguma coisa dentro do recipiente devia ter perdido uma quantidade similar de peso. Só podia ter sido o ar. Mas se o ar diminuíra, isso teria significado a existência de um vácuo parcial no recipiente. Lavoisier repetiu a experiência e descobriu que quando abria o recipiente hermético ouvia-se um sibilar de ar se precipitando no recipiente, assim concluiu que ele contivera realmente um vácuo parcial .

Lavoisier demonstrara que quando se aquecia um metal ele se combinava com uma substância material dotada de peso, e que não havia nada de principio imaterial, ou flogístico.

Em agosto de 1774, Priestley isolou um ar que parecia completamente novo, mas não teve a oportunidade de prosseguir suas experiências com o “novo gás”, porque estava prestes a acompanhar Lord Shelburne, em uma excursão pela Europa, de cujos filhos se tornara preceptor particular. Em Paris no entanto, reproduziu a experiência para outros cientistas entre os quais se encontrava Lavoisier. Este captou imediatamente a vastíssima significação daquela descoberta como podia ser esse gás “ ar deflogísticado “, quando ele já havia provado que não havia nenhum flogístico.

Assim que Priestley voltou á Inglaterra, Lavoisier dando mais uma vez mostras de seu oportunismo, ”a primeira quando se casara com Marie Anne e agora se apossando da idéia de Priestley, continuou então com alguns experimentos mais sofisticados e descobriu que o “ar deflogisticado” estava presente em todo ar: Lavoisier colocou sobre uma vela um vaso de vidro emborcado, com a borda sob a superfície da vela. Á medida que a vela se queimava, a água se elevava gradualmente dentro do vaso, a vela estava consumindo parte do ar, e ele observou que a vela sempre se apagava quando a água ocupava um quinto do volume do vaso.

Lavoisier conclui que o ar era compostos por dois gases diferentes, na proporção de um para quatro. A quinta parte que era usada na combustão, era o chamado “ar deflogisticado” de Priestley. Lavoisier compreendeu que quando alguma coisa queimava, não liberava nenhum flogístico mítico, e sim combinava com o “ar deflogisticado”, que consistia um quinto do ar.

Lavoisier deu o nome a esse elemento de oxigênio, (que significa gerador de ácido, pois naquela época (1778), acreditava-se que esse gás estivesse presente em todos os ácidos e não houvesse ácidos sem a presença do oxigênio) e publicou um artigo descrevendo o papel do oxigênio no processo da combustão, omitindo qualquer menção ao papel vital de Priestley. em sua descoberta. Para comemorar a “vitória” de Lavoisier, madame Lavoisier vestido uma túnica das antigas sacerdotisas gregas em um de seus famosos jantares que se tornou um cerimonial racional científico, queimou cerimonialmente as obras de Becher e Stahl num altar diante de um grupo de luminares científicos, convidados para o evento.

Com o advento da Revolução industrial a ciência agora estava emergindo como um fenômeno social, e cada nação queria se beneficiar dela sem permitir que outras nações fizessem o mesmo: Os Britânicos por exemplo tentavam bloquear a exportação de qualquer nova maquinaria, bem como de tecnologia ou mesmo de operários qualificados até a metade do século XIX.

Para ao alemães a teoria do flogístico era obra de seu grande químico Stahl. Que sabiam os franceses sobre ciência? As rivalidades se sobrepunham, Cavendish e Priestley se aferraram obstinadamente à teoria do flogístico que seu trabalho tanto fizera para derrubar.

Após ter a combustão como fato reconhecido, Lavoisier demonstrou também que a respiração era um processo similar, durante a inspiração o oxigênio era inalado e o ar fixo (dióxido de Carbono) era exalado. Existem diversos desenhos das experiências de Lavoisier sobre a respiração usando cobaias humanas. Em todos os experimentos de Lavoisier nada era deixado ao acaso, tudo era precisamente medido. O sujeito da experiência era analisado a uma temperatura variável de 25 a 12 graus centígrados, “alimentado” e em jejum. E assim por diante.

Lavoisier havia decifrado o mistério da combustão: oxidação que ao se queimar produzia cinzas, ao enferrujar formava ferrugem e na respiração formava dióxido de carbono.

Porém não existia uma nomenclatura única nem para as substância e nem para os elementos químicos. O oxigênio por exemplo era chamado por outros de ar fixo e muitos nome alquímicos estavam em uso. Havia tintura disso óleo daquilo, essências de todo quanto há.

Quick Silver e Hidrargírio eram dois dos muitos nomes do mercúrio, assim o dióxido de chumbo, Alume era o nome popular para o sulfato de potássio e alumínio.

Em 1783, Lavoisier descobriu o Hidrogênio e deu de vez um ponto final na teoria que considerava a água como elemento. Em 1786, Guyton de Morveau, apresentou seu projeto inicial de revisão da nomenclatura a Lavoisier, Bertholet e Fourcroy. Estes se entusiasmaram com o projeto e durante as discussões sobre a nova nomenclatura, Guyton de Morveau converteu a teoria antiflogístico de Lavoisier.

Lavoisier introduziu duas modificações no projeto inicial de Guyton de Morveau: baseou as denominações na sua teoria antiflogístico e sublinhou que a nomenclatura deveria refletir a natureza das substâncias.

A nova nomenclatura de Lavoisier, tinha um conteúdo “ideológico”, pois quem a aceitasse estaria aceitando a teoria do Oxigênio, unificadora dos fenômenos: de oxidação, combustão e acidez.

A nova nomenclatura foi apresentada em quatro sessões públicas: da Academia Real de Ciências entre abril e Junho de 1787, sob forma de memórias que comporiam a obra "Método de Nomenclatura Química".

Segundo Guyton de Morveau, a nomenclatura sistemática proposta nesta obra, foi em grande parte a partir de raízes gregas e cada nome deveria dar uma idéia das propriedades das substâncias químicas designadas.

Em 1789, Lavoisier publicou seu Tratado Elementar de Química, utilizando a nova nomenclatura. A lista dos elementos que traçou em sua obra citou 33 elementos, oito deles entre os quais “Magnésia” e “Cal”, revelaram depois serem compostos (óxido de magnésio e óxido de cálcio). Apenas dois estavam completamente errados, estes que ele chamou de “luz e calórico", hoje são sabidamente formas de energia. Embora seu efeito negativo tenha sido menor do que o flogístco, essa idéia do “calórico” iria estropiar a pesquisa do calor por mais 50 anos.

Vários anos, antes de eclodir a revolução francesa, um jovem havia proposto um ensaio sobre a gonorreia na universidade de Saint Andrews na Escócia, em 1775 e foi feito médico honorário por aquela universidade, em 1776. Voltou a Paris, onde acabou por ser médico particular do conde d Artois e com seus proventos montou um laboratório, logo ele estava publicando trabalhos sobre fogo e calor, eletricidade e luz, porém quando ele apresentou seus trabalhos a Academia de Ciências da França, e ele não conseguiu ser aceito como membro. Coube ao acadêmico Lavoisier informar a rejeição de seus trabalhos, bem como a sua não aceitação como membro da academia, afirmando que seu artigo era tão desprovido de mérito científico, que não chegava nem mesmo a ser errado. Esse jovem era Jean Paul Marat, que recebera por diversas vezes visitas de Benjamim Franklin e era amigo de Goethe, o qual sempre considerou a rejeição de Marat por parte da Academia Francesa, como um exemplo flagrante de despotismo científico.

A revolução de 1789, encontrou em Lavoisier um partidário moderado (sua posição de sócio da Fermé Generalé pode ter influído nisso) ainda assim disposto a colaborar com o novo regime .

Como representante da cidadezinha de Romorantin-Lanthenay, nas assembleias provinciais apresentara em 1788, uma série de propostas progressistas, liberando os camponeses do trabalho obrigatório e gratuito nas construções de estradas, acabando com as prisões arbitrárias e com a censura à imprensa. Os revolucionários por sua vez pareciam interessados em contar com a colaboração de tão ilustre figura pública. Assim em setembro de 1789, três meses após a queda da Bastilha, Lavoisier foi chamado a participar do Banco da França, encarregado de Supervisionar a emissão dos assignats, uma espécie de papel moeda do governo garantido pelas propriedades confiscadas da Igreja.

Em 1790, integra o comitê de cientistas incumbido de estabelecer o sistema decimal de pesos e medidas. Em 1790, é chamado junto com outros cinco economistas para o Comitê do Tesouro Nacional.

No entanto outras forças trabalhavam contra ele. De início foram apenas incidentes isolados embora perigosos. No dia 12 de Julho de 1789, antevéspera da Tomada da Bastilha, o povo amotinado atacou as tão odiadas muralhas de Paris, mandadas construir pelo rei Luís XVI, por sugestão de Lavoisier para reprimir o contrabando de mercadorias, nas quais haviam sido gastas fortunas em portas ornamentais. Em 13 de julho de 1789 a multidão correu ao arsenal em busca de pólvora, mas encontra somente apenas a metade do estoque, o resto já tinha sido transferido para a Bastilha, não se sabe se Lavoisier ordenara a transferência, se é que ocorreu, ou se ocorreu por ordem superior. Seja como for, Lavoisier ficou marcado como o homem que tentou esconder a pólvora da revolução, um pecado capital.

Logo no mês seguinte, houve um novo incidente, uma barcaça seguia da Cidade de Nantes para a cidade de Metz, quando foi interceptada por um grupo de revolucionários. Lavoisier esclareceu que a pólvora era para uso industrial e não para uso militar e mandou liberar as barcaças. Uma confusão de ordens e mal entendidos deixou o povo furioso e Lavoisier foi conduzido à Guarda Nacional, sendo ameaçado de enforcamento, em cada lampião de iluminação pública pelo caminho; o incidente termina por aí e segue uma breve calmaria.

Ás vésperas da revolução Francesa em 1788, Marat deixou a ciência para o lado e usou sua pena mordaz a serviço da política em seu jornal “O Amigo do Povo”, onde desancava seus desafetos e opositores políticos entre eles Lavoisier. Marat não esquecera o que ocorrera quando de sua tentativa de admissão á Academia de Ciências.

Em fevereiro de 1791, Marat escreve um artigo em seu jornal, que Lavoisier é o rei dos charlatães, químico aprendiz, que se proclama pai legítimo de todas as descobertas. Como não tem ideias próprias, baseia-se nas ideias de outrem. Banqueiro explorador... Coletor de impostos chefe ... Esse lordezinho que tem uma renda anual de 40.000libras, aquele que aprisionou Paris numa muralha, que custou 30 milhões aos pobres. Marat termina seu artigo lamentando que Lavoisier, não tenha sido enforcado num lampião de iluminação pública.

O cerco vai se fechando, Lavoisier não percebeu ou não quis perceber que a maré política estava mudando. Em maio, a Assembléia Nacional dissolve a Fermé Generalé e dá um prazo de dois anos, para que os coletores acertem suas contas, devolvendo ao Estado os ganhos indevidos. Em 1792, Lavoisier é constrangido a se demitir de suas funções no Tesouro e no Arsenal. E Antoine de Forucroy, logo ele que fora tão amigo de Lavoisier e pede que os acadêmicos façam um expurgo de certos membros culpados de monarquismo ou de falta de civismo.

A essa altura, a Academia de Ciências já não estava recebendo subvenções e Lavoisier sustentava do próprio bolso seus colegas sem recursos, gastou com isso 20.000 libras. Já era o tempo do Tribunal Revolucionário de Robespierre e Saint Just, líderes do jacobinos, o partido mais radical da revolução francesa que entrara no período conhecido com o "Reino do Terror" ou simplesmente "Terror", que durou de agosto de 1792 até 27 de julho de 1794, o rei Luís XVI já havia sido guilhotinado em 21 de Janeiro de 1793, Marat, o feroz inimigo de Lavoisier, havia sido morto por Calota Corday, em 13 de Julho de 1793, Maria Antonieta fora guilhotinada em 16 de Outubro do mesmo ano . Lavoisier é aconselhado por amigos que deixasse a França, mas contrariamente ao bom senso resolve ficar. Em 24 de novembro de 1793 é decretada a prisão de todos os antigos coletores da extinta Fermé Generalé. Lavoisier poderia ter escapado. A polícia foi procura- lo nos apartamentos do Arsenal de Paris, onde ele não residia havia mais de um ano. Avisado por amigos escondeu-se na casa de um amigo humilde, ex-zelador da academia de ciências. Três dias mais tarde, sabendo que seu sogro já estava preso, reaparece e é logo detido.

Depois de um mês e meio na prisão de Port libre, os coletores foram transferidos para o prédio que abrigara a sede da Fermé Generalé, que fora transformada em prisão. Ali trabalharam mais um mês, no acerto de contas com o Estado. O relatório final dos coletores ficou no final de janeiro de 1794, uma comissão de auditores concluiu em 5 de maio desse ano que eles desviaram 32 milhões de libras e assim sendo, deveriam comparecer diante do Tribunal Revolucionário.

Não havia muito que Marie Anne pudesse fazer por seu pai Jacques Paulze, no entanto fez todas as diligências possíveis para a libertação de seu marido. Falou com vários de seus colegas e amigos cientistas. Inicialmente colegas de Lavoisier fizeram pressão para sua libertação. Mas a medida que os meses foram passando. Cessaram as manifestações por receio de serem acusados de traição, o que era certamente possível e Marie Anne nunca lhes perdoou tal atitude.

Finalmente Marie Anne se encontrou com Antoine Dupin, o instrutor do processo contra os antigos membros da Fermé Generalé. O objetivo do encontro era criar um julgamento à parte e menos severo para Lavoisier, ou até mesmo permitir sua fuga da prisão. No entanto o encontro correu mal, na medida em que Marie Anne se recusou a ser submissa. Há referências que ela foi arrogante e agressiva, acusando Dupin de ser corrupto, a atuação de Marie Anne destruiu qualquer hipótese de salvação para Lavoisier. Várias pessoas acusaram Marie Anne, de ser a responsável pela morte de seu marido

Na noite de 05 de maio de 1794, certo do que o esperava, Lavoisier escreveu a um primo, com resignação e ironia: "Tive uma carreira longa e feliz, sobretudo feliz. Que mais eu poderia desejar? Os eventos com os quais estou envolvido provavelmente me pouparão os dissabores da velhice. Hei de morrer em plena posse de minhas faculdades".

Para defender os coletores no processo por atividades contra-revolucionárias, o estado havia nomeado quatro advogados, que, antes do julgamento, só conseguiram falar por quinze minutos com cada acusado. Aberta a sessão pelo Juiz Pierre André Coffinhall, vice presidente do Tribunal Revolucionário. Um dos advogados tentou ler um documento favorável a Lavoisier, mas teve a palavra cassada pelo juiz.(o sobrenome desse juiz em Inglês quando desmembrado: cofiin hall era um mau presságio = coffin caixão de defunto hall salão = salão do caixão) Quatro horas depois os jurados deram sua sentença: com exceção de três réus todos foram condenados á morte na guilhotina. Coffinhall entrou para a história como tendo na ocasião referindo-se a Lavoisier, que a república não precisa de cientistas.

Apenas uma delegação do Liceu de Arte, enviou a Lavoisier uma cora de flores na véspera de sua execução, a consolação da amizade registram os anais do Liceu, para coroar a cabeça prestes a tombar. Lavoisier e seu sogro foram executados na madrugada do dia 08 de maio de 1794 .

Informado de sua morte o matemático Joseph Louis la Grange, cunhou a frase: "em um instante cortaram-lhe a cabeça, talvez outra igual não surja na França num século".

Deputados da convenção e outros políticos de destaque, ameaçados pela sombra da guilhotina tramaram uma conspiração e prenderam Robespierre e Saint Just no dia 27 de julho de 1794, e mais vinte partidários, o mesmo número dos condenados e executados no processo da Fermé Generalé, sendo todos executados no dia seguinte, em 28 de Julho de 1794.

Em 1795, foi inaugurado um busto de Lavoisier, com a inscrição "vítima da tirania", mas então já tinham sido guilhotinados o juiz , o promotor e cinco jurados que atuaram no julgamento de Lavoisier.

Logo após a morte de Lavoisier, Marie Anne tentou recuperar os relatórios feito pelo marido e aprendidos pelo governo, enquanto estava preso. Em 1803, usando o seu próprio dinheiro publicou a primeira edição da Memories de Chimie. Em 1805 saiu a segunda edição. Desta forma Marie Anne fez tudo o que pode para restaurar o nome do primeiro marido.

Em 19 de novembro de 1801, Marie Anne conheceu Benjamim Thompson em Paris e eles mantiveram contato por correspondência e em 1803 fizeram juntos extensas viagens pela Baviera e Suiça, em 1804 o casal passou a viver junto, apesar de Thompson ser inglês, Ane Marie conseguiu licença para que ele residisse na França. Em 24 de outubro de 1805 eles se casaram, devido a incompatibilidade que surgiu com a convivência devido a duas personalidades tão diferentes, enquanto Thompson falava somente de Física Marie Anne gostava de outros assuntos. Thompson era muito introspectivo, enquanto Marie Anne, gostava de festas e estar rodeada de toda atenção.

Marie Anne deve ter se ressentido, enquanto com Lavoisier ela participava de seus experimentos químicos, tal não se dava com as experiências físicas de Thompson, a gota d'água foi quando as experiências de Thompson apontaram que o elemento calórico do extinto Lavoisier, não existia como elemento. Em 1809 de comum acordo se divorciaram.

Marie Anne continuou a perpetuar a memória de Lavoisier até o fim de sua vida, chegando a manter o sobrenome do marido após o seu segundo casamento. Continuou a realizar encontros sociais e festas, convidando artistas e cientistas. Manteve-se como figura importante da sociedade parisiense até sua morte em 10 de fevereiro de 1836, aos 78 anos de idade.

Bibliografia

O sonho de Mendeilev - A verdadeira História da Química - Paul Strathern Jorge Zahar. Editor - 2002

A revolução Francesa Através da Imagem Herculano Gomes Mathias Editora Tecnoprint S. A. - 1989

A Short History Of Chemistry - J.R. Partington Macmillan and co, Limited Lodon -1951

The Historical Development Of Chemical Concepts Roman Mierzecki Polish Scientific Publishers Wasóvia - 1985

História da Química - Bernard Vidal Edições 70 lda Lisboa Portugal - 1986

Texto desenvolvido por: Sidney Cormanich