Wöhler, Friederich (1800-1882)

FRIEDERICH WÖHLER

Filho de um cirurgião veterinário, Friederich Wöhler frequentou escolas públicas de Frankfurt e foi aprovado em exames que permitiram seu ingresso na universidade de Heideberg (uma das mais prestigiadas da Alemanha), onde se formou em medicina.

Quando ainda na escola, entretanto, adquirira grande interesse por química elementar e mineralogia. Enquanto estudava em Heidelberg, assistiu as aulas de Leopold Gmelin, experiência que o levaria, mesmo já tendo um diploma de medicina, a trocá-la pela química. Seguindo um conselho de Gmelin, escreveu uma carta para o químico sueco Jöns Jakob Berzelius, indo trabalhar em seu laboratório em Estocolmo por um ano e aprendendo os inúmeros métodos analíticos do mestre da química experimental.

Wöhler desenvolveu uma grande amizade com Berzelius e traduziu para o alemão seu influente livro didático de química, bem como os seus relatórios anuais de avanço da química. O próprio Wöhler era um autor prolífico de livros didáticos; seus escritos em química orgânica tiveram em torno de quinze edições durante sua vida.

Em 1825, Wölher foi convidado a ocupar o cargo de professor na escola vocacional municipal de Berlim, onde permaneceu até 1831. Wöhler obteve seus primeiros grandes sucessos no laboratório dessa instituição, como as sínteses do alumínio puro e da ureia.

No ano de 1827, conseguiu produzir alumínio puro por meio da redução do cloreto de alumínio com potássio, segundo a reação:

3 K + AlCl3 à Al + 3 KCl

Assim tornou-se possível investigar as propriedades do elemento descoberto dois anos antes, pelo dinamarquês Hans Christian Örsted. Como produto da redução do cloreto de alumínio, Wölher obteve um pó cinzento, que brilhava ao ser pulverizado com água. Na presença de oxigênio puro, o metal queimava liberando grande quantidade de calor e com uma chama muito clara. Na reação com bases, formava hidrogênio, além de formar diversos compostos com outros elementos.

Pouco tempo depois, Wöhler dedicou-se à produção do berílio e do ítrio e foi o primeiro a obter ambos os metais em forma pura. O berílio foi produzido por meio da redução do cloreto de berílio com potássio e o ítrio por meio da redução do cloreto de ítrio (III), também com potássio, a matéria prima mineral havia sido enviada por Berzelius, da Suécia. As descobertas destes elementos devem-se aos químicos, Filandês, Johan Gadolin e francês, Louís Nicolas Vauquelin. Vauquelin produzira óxido de berílio a partir dos seus minerais em 1798; Gadolin obtivera ítrio na forma de seu óxido, em 1794.

A teoria do Vitalismo afirmava a impossibilidade da síntese artificial de compostos orgânicos, supostamente demasiado complexos e produzidos apenas por organismos vivos, por meio de uma força vital presente dentro das células vegetais e animais sob a forma de uma chama perene, invisível e misteriosa.

Em 1828, Fiedrich Wöler aquecendo cianeto de amônio obtinha a ureia:

NH4 CNO à CO + NH4.

Em 1824, Wöler já obtivera ácido oxálico sem a utilização de matéria-prima orgânica. A síntese da ureia, em 1828; todavia foi um marco importante na derrubada da teoria do vitalismo.

Em 22 de fevereiro de 1828, Wöhler escreveu uma carta à Berzelius, compartilhando a novidade de que conseguira, “produzir ureia sem que ela fosse dos rins de humanos ou de outros animais: o cianeto de amônio é ureia”.

Ao final da carta acrescentou: ”esta síntese da ureia é um exemplo de que podemos produzir uma substância orgânica a partir de materiais inorgânicos“. A ureia fora obtida dos vapores de uma solução aquosa formada pela reação entre o cianeto de potássio e o sulfato de amônio, dois sais inorgânicos, produzindo cianeto de amônio, que aquecido, dava origem a cristais brancos muito parecidos com aqueles da ureia encontrada na urina.

O próprio Berzelius era um adepto da teoria do vitalismo e juntamente com outros químicos da época, afirmava não acreditar na síntese artificial da ureia. Sob o argumento que Wöhler utilizara sais inorgânicos preparados com materiais orgânicos, como chifres e sangue.

Outro ponto que chamara a atenção de Wöhler e Berzelius, ainda mais que as questões pertinentes á teoria do Vitalismo, era a possibilidade de se produzir cianeto de amônio e ureia a partir dos mesmos reagentes. Estavam diante de um caso de Isomeria, conceito introduzido por Berzelius em 1830; e utilizado atualmente para indicar o fenômeno em que dois compostos diferentes possuem a mesma fórmula molecular, mas diferenças estruturais.

De 1825 à 1831, Friedrich Wöhler ocupou o posto de professor de química da recém criada escola técnica em Berlim, onde ele permaneceu até 1831. Nesta época conheceu Justus Liebeg e se tornaram amigos e colaboradores pelo resto de suas vidas, juntos realizaram várias pesquisas. Uma das primeiras, senão a mais antiga, foi a pesquisa publicada em 1830, a qual provou o polimerismo entre os ácidos cianídrico e ácido cianúrico.

Em 1829, Wöhler produziu o fósforo elementar usando cinzas de ossos. Nos anos seguintes ele trabalhou com uma série de procedimentos para isolar novos elementos. Podem ser ressaltados ainda seus trabalhos na produção de Silício e Acetileno, bem como na descoberta do Carbeto de cálcio.

A mais famosa foi sobre as do óleo de amêndoas amargas (benzaldeído), o radical benzoil (1832) e sobre o ácido úrico C5H4N4O3, que foram de importância fundamental na História da Química Orgânica. Mas a maioria de sua obra permanece na química inorgânica; o isolamento dos corpos elementares e a descoberta de suas propriedades, era um dos seus objetivos favoritos.

Em 1825, ele obteve o alumínio em pó. Em 1845, com a melhoria de seus métodos, ele obteve glóbulos de alumínio metálico. Nove anos depois, Henri Etienne Sainte-Claire Deville, ignorando a obtenção dos globos de alumínio de Friedrich Wöhler, adotou os mesmos métodos em seu esforço para preparar o alumínio em escala industrial. Wölher se tornou então colaborador de Deville e se uniram em uma pesquisa que foi publicada entre 1856 e 1857, que produziu o boro adamantino.

Pelo mesmo método com o qual ele obteve o alumínio (por meio da redução de alumínio com potássio), Wöhler obteve o berílio e o ítrio metálicos.

Assuntos particulares chamou-o para Kassel, onde logo se tornou professor da Escola Técnica Superior. Em 1836, ele foi nomeado para a cátedra de química da faculdade de medicina em Göttingen, também mantendo o cargo de inspetor das farmácias do reino de Hanôver. Esta cátedra ele manteve até sua morte, em 23 de setembro de 1882.

Um problema para o qual ele retornou repetidamente foi a separação do Níquel e Cobalto de seus minérios. No curso de sua longa prática laboratorial, realizou numerosos processos de preparação de produtos químicos puros e métodos de análises exatos.

O catálogo da Sociedade Real enumera 276 monografias escritas por ele, além de 43 monografias em que ele colaborou com outros autores.

A teoria do Vitalismo viria a ruir lentamente conforme outros cientistas conseguissem sintetizar vários outros compostos orgânicos, a partir de materiais inorgânicos. Uma das sínteses mais importantes seria a do ácido acético, em 1845 por Hemman Kolbe.