Dalton, John (1766-1844)

John Dalton, o homem providencial

Dalton nasceu em 1766, na remota aldeia de Eaglesfield se dividirmos esta palavra e colocarmos um "s" apostrofado entre elas, veremos que o nome é bem profético: "Campo da águias"; nesse mesmo local nasceram duas águias: uma da literatura, Willian Wordsworth e outra da ciência, John Dalton.

O primeiro foi o lançador do romantismo inglês, o segundo de intelecto precisamente científico contribui para a ciência com uma ideia única, tão duradora e profunda como nenhuma outra.

Dalton era uma pessoa que quando se entusiasmava com uma idéia esta tornava-se uma obsessão, Dalton o mestre escola de uma pequena aldeia iniciou seu caminho na ciência como meteorologista amador, mantendo registros meteorológicos por quase 60 anos, mesmo no dia de sua morte não deixou de registra-los.

Mesmo não distinguindo as cores devido a sua doença peculiar, que ficou conhecida como daltonismo, descreveu a aurora boreal como "um fluído elástico, partilhando as propriedades do aço magnético, e que esse fluído devido à sua propriedade magnética assume a forma de cilindros".

Dalton tinha mais de 30 anos quando vivia uma vida reclusa em Manchester, quando voltou seriamente sua atenção para a química. Ali dirigia uma pequena escola tutorial, especializada em assuntos científicos, onde a instrução era administrada sobretudo com equipamentos caseiros. Levando adiante sua obsessão meteorológica, começou a estudar a composição química do ar, o que por sua vez o levou a uma meticulosa investigação do comportamento e composição dos gases. Seguindo e ampliando as pegadas de Boyle quanto a consistência dos gases, descobriu uma propriedade fundamental dos gases que quando dois ou mais gases são misturados, sua pressão combinada será a mesma que a soma das pressões que cada gás teria se estivesse sozinho, ocupando o mesmo volume. Essa descoberta ficou conhecida como a lei de Dalton.

Em 1788,o químico francês Louis Joseph Proust havia descoberto uma outra importante propriedade dos gases, que poderiam ser aplicadas a compostos de outras substâncias, que ficou conhecida como Aleis das proporções definidas de Prosut , a qual declarava que todos os compostos constituíam de elementos em proporções definidas e simples por peso. Um composto podia ter elementos na proporção 3:1, mas nunca em proporções complexas como 3,21:1 ou 2,8:1. Dalton percebeu claramente que esse fato podia ser facilmente explicado se a noção de gases de Boyle fosse ampliada a toda a matéria, de forma que ela fosse vista como constituída de minúsculas partículas indivisíveis. Se as partículas de um elemento pesassem três vezes mais do as de outro, e o composto fosse formado com uma partícula de um elemento unida a uma partícula do outro, a proporção de seus pesos seria por força precisamente3:1.jamais poderia ser 3,21:1ou 2,811.

Dalton percebeu que essas partículas indestrutíveis, eram as mesmas descritas pela idéia de Demócrito sobres os átomos “que não podem ser cortados” e decidiu dar-lhes o mesmo nome. Porém a genialidade de Dalton levou-o muito a frente, sua teoria não era um simples plágio da ideia do sábio grego Demócrito dos átomos que fora miraculosamente preservada e transmitida através das obras de Epicuro, depois Lúcrécio e finalmente através da única cópia medieval de seu "De rerum natura" (das coisas da natureza), que sobrevivera. Tão pouco foi idêntica a quaisquer versões dela decorrentes do século XVII e XVII (como a de Boyle), nenhuma das quais levara a noção grega substancialmente à frente. Todas essas ideias haviam permanecido completamente especulativas e teóricas. A noção de átomo de Dalton foi científica e prática. Foi usada para explicar os resultados experimentais que haviam levado Proust a formular sua lei das proporções definidas. O conceito de Demócrito fora teórico. Ele postulara também o tamanho e a forma dos átomos. (Por exemplo, os átomos da água eram lisos e redondos, o que a tornava fluida e sem forma permanente) Os átomos de Dalton, por outro lado, diziam respeito puramente a peso. Embora não tivesse nenhum meio de determinar o tamanho real dos átomos, ele descobriu que podia determinar os pesos relativos deles tal como ocorriam em compostos. O que Dalton formulou foi uma teoria quantitativa à química feita por Lavoisier.

A teoria atômica de Dalton afirmava que todos os elementos consistiam de átomos minúsculos, indestrutíveis. Avançando em relação a Lavoisier, ele sustentou que todas as substâncias compostas eram simples combinações desses átomos.

Essa ideia sensacional transformou nossa compreensão da matéria. Durante os dois séculos que se seguiriam à sua descoberta, a ciência iria progredir além de toda a imaginação. A luz de descobertas posteriores, a teoria de Dalton foi corrigida, mas suas premissas básicas continuam fundamentais para a nossa compreensão atual da física e da química. De fato, o físico quântico do século XX Richard Feynman, afirmou que se a raça humana fosse aniquilada e pudesse transmitir uma única sentença de conhecimento científico, ela começaria com as palavras ”Todas as coisas são feitas de átomos“.

Tendo estabelecido que os átomos dos diferentes elementos tinham pesos relativos uns aos outros, o passo seguinte foi estabelecer um marcador. Como o hidrogênio era o elemento mais leve, Dalton fixou seu peso como um peso nocional relativo de 1. Isso significava que que o peso de todos os outros elementos podiam ser calculados relativamente a esse número. Como por exemplo, Dalton usou a água, que já fora estabelecida como um composto de oxigênio e hidrogênio, em proporções por peso de 8 :1. Supondo que a água consistia de um átomo de oxigênio e um átomo de hidrogênio, isso significava que um átomo de oxigênio pesava oito vezes mais do o de hidrogênio. Assim Dalton atribui ao oxigênio o peso atômico de oito (Neste caso estava de fato enganado, pois o peso atômico do oxigênio é 16. A água contém dois átomos de Hidrogênio, mas Dalton não estava ciente disso) Desse modo, montou uma tabela de pesos atômicos, listando cada elemento com seu peso em relação ao hidrogênio.

A suprema importância da teoria atômica de Dalton foi rapidamente reconhecida em todo o mundo científico. Exceto por uma série de conferências públicas ministradas em seu costumeiro estilo desenxabido. Dalton continuou a viver uma vida simples, quase sempre em Manchester, esquivando-se de honras públicas. Mas estas foram despejadas sobre ele , quer quisesse ou não. Foi eleito para a Royal Society, secretamente, contra seus desejos expressos. A filiação a instituições como essa era contrária á sua religião. As notificações que o correio trazia de sua eleição para academias prestigiosas de toda a Europa ficavam sem resposta.

Mundialmente famoso apesar de todas as suas tentativas de evitar esse infortúnio, Dalton faleceu em 1844 aos 67 anos. Seu desejo de um funeral quacre simples, atraiu mais de 4000 pranteadores e uma centena de carruagens. A Grã Bretanha ingressara na era vitoriana: a respeitabilidade, a reverência por celebridades e cerimônias pias (especialmente funerais) eram elementos centrais dos etos da classe média ascendente. Além disso, durante a Revolução Industrial, Manchester deixara de ser uma cidadezinha mercantil para se tornar a segunda maior cidade do mundo, tinha uma população de mais de um terço de um milhão, (Londres, na época a maior cidade do mundo, tinha uma população de cerca de dois milhões. Contudo, Manchester era a principal cidade em mais de um sentido: foi o primeiro lugar da terra a crescer aceleradamente, transformando-se numa enorme área urbana caoticamente espalhada, em consequência do rápido crescimento industrial, um fenômeno que iria se disseminar por todo o globo durante o século seguinte)

O funeral de Dalton foi uma celebração de orgulho cívico e também da ciência, que havia tornado isso possível. Também a ciência se tornara respeitável, até meritória. Um dos desejos de Dalton, contudo foi respeitado: seus olhos foram preservados na esperança de que um dia seria descoberta a causa de sua cegueira para as cores. Passados 150 anos de sua morte, amostras de DNA mostraram que ele não possuía os genes que produzem o pigmento sensível ao verde em olhos normais.

Bibliografia

P. Strathern, J. Zohar O sonho de Mendeleiev a verdadeira História da Química, 2002.

A Short History of chemistry J R Partington Macmillan and CO London 1951

História da Química Bernard Vidal Edições 70 Lda Lisboa 1986

The Historical Development Of Chemical Concepts Roman Mierzecki Polish Scientific Publishers Varsóvia 1985