Kekulé, August (1829-1896)

Friederich Augustus Kekulé

Nasceu em Darmstad, descendente de uma família da aristocracia Boêmia, seu pai era funcionário público e cultivava rosas.

Durante a sua juventude Kekulé tinha interesse em botânica, colecionar mariposas e desenhar; seus amigos o definiam como alguém que aproveitava qualquer ocasião para debater qualquer assunto com senso de humor. Iniciou seus estudos no Instituto Ludivig Georg em Darmstad e era um bom aluno com um dom natural para línguas: aprendeu francês, italiano, inglês e a sua língua natal, Alemão. Em suas qualificações, seus professores destacavam suas habilidades experimentais, seu interesse ativo e sua diligência. Apesar de ter sido um jovem fisicamente fraco, acabou desenvolvendo em 1847, uma grande atividade esportiva até sua graduação. Como ele era um bom desenhista e seu pai era amigo de famosos arquitetos e por atender um desejo de seu pai, se matriculou na Universidade de Giessen com a intensão de estudar arquitetura, porque tinha talento para a matemática e desenho. Depois de assistir palestras de Justus von Liebig, decidiu estudar química e continuou seus estudos em Giessen. Foi na química, entretanto, que a inclinação pela matemática e excelente memória fez dele um estudante ideal para problemas estruturais desconcertantes.

Seu orientador de doutorado foi ninguém menos que Justus von Liebig e dotourou-se em química em 1852. Apoiado por sua rica família, Kekulé desfrutou de um pós-doutorado em Paris, onde conquistou a amizade do eminente químico Charles Gerhardt, que desenvolvou a teoria dos tipos, a qual Kekulé mais tarde, envolveria em sua própria teoria da valência. Ele também se moveu nos círculos científicos de Jean Baptiste Dumas e Charles Wurtz, cuja escola de química orgânica era a única capaz de rivalizar com os antigos institutos alemães. Após seus estudos em Paris, Kekulé mudou-se para Londres, onde de início trabalhou como assistente para John Stenhouse no Hospital São Bartolomeu; e mais tarde trabalhou com Alexander William Williamson.

De 1855 até 1858, continuou seu aprendizado servindo como docente voluntario em Heideberg, e em 1858 foi professor de química na Universidade de Ghent em Bruxelas e terminou sua carreira científica na universidade de Bonn, onde ele atuou de 1867 até a sua morte. Kekulé rejeitou uma oferta da Universidade de Munique como sucessor de Leibig. Baseando suas ideias na de seus predecessores como Williamson e outros, Kekulé foi o principal impulsionador da Teoria Estrutural da química.

Kekulé não foi um mestre experimentalista, mas tornou-se um inspirado pedagogo. Sua mente era a chave para o problemas teóricos. Particularmente para entender a arquitetura dos resultados das novas moléculas orgânicas que os químicos foram isolando do mundo vegetal e animal e criando em seus laboratórios. Foi Kekulé quem trouxe ordem ao caos, dominando o segredo da química orgânica que está contido na tetravalência do átomo de carbono, e que este elemento tem a única capacidade de ligar-se em longas cadeias com muitas combinações possíveis. Com isso tornou-se um dos principais fundadores da Teoria da Estrutura Química.

Foi o primeiro a descobrir o carbono tetravalente em seus compostos, com o potencial de ligações simples, duplas ou triplas e procurou uma representação gráfica de tais ligações. Descobriu também que os compostos aromáticos que contém um grupo de 6 átomos de carbono permanecem inalterados em reações químicas.

Em 1857 ele escreveu os seus postulados: Postulados de Kekulé

1) Os átomos formam um número fixo de ligações: C (4 ligações), N (3 ligações), O (2 ligações), hidrogênio e halogênios (1 ligação). Os átomos de C agrupam-se formando uma cadeia de ligações.

2) Átomos de carbono, oxigênio e nitrogênio podem formar ligações duplas e triplas. Ex: alcanos, alcenos e alcinos, respectivamente.

Essa propriedade do átomo de carbono de se agrupar é responsável pela grande variabilidade dos compostos orgânicos. Bons exemplos de cadeias carbônicas são o Grafite e o Diamante, compostos de carbono de propriedades físicas e químicas muito diferentes “e valor monetário também”.

Em 1865, propôs a fórmula hexagonal do Benzeno, que tornou a suprema contribuição de Kekulé para a química orgânica (C6H6), a mais simples de todas as séries aromáticas dos compostos de carbono, de onde ele desenvolveu a teoria do anel aromático que é de fundamental importância para a química moderna. Em 11 de março de 1890, por ocasião do vigésimo quinto aniversário de sua teoria sobre o benzeno, Kekulé fez um discurso em Berlim em que ele revelou que sua teorias da estrutura dos átomos de carbono no benzeno, foram reveladas a ele em sonhos:

"Eu estava sentado à mesa a escrever o meu compêndio, mas o trabalho não rendia. Meus pensamentos estavam em outro lugar, virei a cadeira para a lareira e comecei a dormitar. Outra vez começaram os átomos ás cambalhotas em frente de meus olhos, desta vez os grupos mais pequenos mantinham-se modestamente à distância. A minha visão mental aguçada por repetidas visões desta espécie podia distinguir agora estruturas maiores, com variadas conformações. Longas filas por vezes alinhadas e muito juntas, todas torcendo-se e voltando-se em movimentos serpenteantes. Mas olha o que é aquilo? Uma das serpentes tinha mordido a própria cauda e a forma que fazia rodopiava trocistamente, diante de meus olhos. Como se tivesse produzido um relâmpago, acordei. Passei o resto da noite a verificar as consequências da hipótese. Aprendamos a sonhar senhores, pois então nos aperceberemos da verdade."

A cobra mordendo a própria cauda é um símbolo habitual em muitas culturas antigas e é chamado de Ouroboros. É um símbolo que tem muitas interpretações e uma delas é a criação do universo. Esta visão, comentou Kekulé, lhe veio após anos de estudo sobre a natureza das ligações do carbono. Este símbolo seria usado muitos anos mais tarde pelos nazistas em sua propaganda ante judaica, como o símbolo da dominação financeira e política mundial dos judeus. É curioso que uma descrição similar do benzeno apareceu em 1866, em uma revista alemã que fazia paródias sobre a academia de ciências da Alemanha, a chamada Revista da Sociedade Sedenta. A descrição consistia de 6 macacos agarrados uns aos outros formando uma circunferência, como a serpente da anedota de Kekulé.

Alguns historiadores sugerem que essa paródia era uma sátira da anedota da serpente, possivelmente já muito conhecida pela transmissão oral de Kekulé, apesar de não haver sido impressa. Outros especulavam que a história de 1890, foi uma re-paródia sobre a dos macacos e não era mais do que uma mera invenção. O discurso de Kekulé, no qual apareceram essas anedotas, foi traduzido para o Inglês. Se alguém toma a anedota como a memória de um evento real, as circunstâncias mencionadas na história sugerem que esta tenha ocorrido no princípio de 1862. A outra anedota que contou em 1890, sobre uma visão de átomos e moléculas dançarinas, que lhe conduziu à sua teoria da estrutura do benzeno (disse ele) enquanto estava montado na parte superior de um carro de tração animal em Londres. Se isso for verdade deve ter ocorrido em 1855. Não nos esqueçamos que segundo seus amigos de juventude, Kekulé gostava de terminar seus debates com alto senso de humor, o mesmo pode ter ocorrido com sua descoberta da estrutura do benzeno.

Em 1885, foi lhe concedida a medalha Copley, que é a medalha de maior prestígio da Real Sociedade do Reino Unido. Em 1895, Kekulé foi enobrecido pelo Kaiser Guilherme II da Alemanha, dando–lhe o direito de adicionar Von Stradonitz ao seu nome de família em referência à uma antiga possessão de sua família em Stradonice, Boêmia.

Kekulé contribuiu para o espetacular crescimento da química orgânica e a indústria química alemã. Seus estudantes eram originários de vários países da Europa, inclusive da Alemanha. Dentre seus estudantes, destacaram-se Jacobus Henricus van’t Hoff, que recebeu o primeiro Nobel em química em 1901, sendo mais conhecido por sua descobertas em Cinética Química, Equilíbrio Químico, Pressão Osmótica e Estereoquímica. O trabalho de Van’t Hoff ajudaram a fundar a disciplina da Físco–química como ela é hoje. Herman Emil Fischer também foi outro aluno de Kekulé agraciado com o Nobel de química em 1902. Ele descobriu a esterificação de Fischer e desenvolveu a projeção de Fischer, uma forma simbólica do desenho de alguns átomos de carbonos assimétricos, considerado o pai da Química orgânica. Adolf von Bayer foi outro aluno de Kekulé laureado com o Nobel de química em 1905, devido a síntese do índigo e a determinação de sua estrutura química. Kekulé e von Bayer mantinham calorosas discussões sobre química que se tornaram famosas nos meios acadêmicos.

Richard Anschutz recebeu seu doutorado na universidade de Bonn por seu trabalho com Kekulé, tornou-se seu assistente e depois foi seu sucessor como professor na universidade de Bonn.

Kekulé em sua biografia, abriu um ponto sobre as várias reivindicações de Archibald Scott Couper, como um descobridor independente da capacidade dos átomos de carbono de se ligarem uns aos outros para formar cadeias. Archibald Scott Couper, químico Escocês, em 1856, foi admitido no laboratório privado de Charles Adolph Würtz, na Universidade de Paris. Couper publicou sua “Nova teoria da Química", (em francês) em 14/06/1858 e logo depois simultaneamente e em detalhes em francês e inglês, em agosto de 1858. A ideia era de que os átomos de carbono poderiam unir entre si seguindo regularmente sua valência e foi publicado independentemente ao documento de Kekulé, que propôs o mesmo conceito. Kekulé já havia proposto o carbono tetravalente em 1857. No entanto, por um desentendimento com Würtz (Würtz duvidou da teoria de Couper), a publicação de Kekulé apareceu antes à de Couper, em maio de 1858; e assim, Kekulé obteve a preferência na autoria da proposta da nova teorias obre os átomos de carbono. Couper confrontou Würtz que o expulsou do laboratório. Após sua grande decepção, Couper sofreu um colapso nervoso e nunca mais se recuperou. Passou os últimos 30 anos de sua vida com problemas psiquiátricos aos cuidados de sua mãe.

BIBLIOGRAFIA

A Short History of Chemistry by J.R. Partington - Dover Publicatios Inc. New York - 1989

The Development of Modern Chemistry - Aaron J. Ihde - Dover Publication Inc. New York - 1989