Brown, Herbert Charles (1912-2004)

Herbet Charles Brown


O nome de família de Herbet Charles Brown, era Herbert Charles Brovarnik. Seus pais eram Charles Brovarnik e Pearl Gorinstein. Eles se casaram em Londres. Em 1909 nasceu a irmã de Herbet, Ann. Ele também nasceu em Londres em 22 de maio de 1912. Seus pais eram imigrantes judeus ucranianos de Zhitomir. Pearl (Gorinstein) e Charles Brovarnik emigraram para a Inglaterra em 1908, como parte da vasta Imigração judaica do início deste Século. Em junho 1914 seu pai decidiu se juntar a outros membros de sua família em Chicago, para o desespero de sua mãe, cujos familiares em grande parte permaneceram na Inglaterra. O Nome de seu avô fora anglicizado como Brown e este se tornou o nome de família, nos Estados Unidos. Suas outras duas irmãs, Sophie e Riva, nasceram respectivamente em 1916 e 1918.

O pai de Hebert era um marceneiro e fazia o trabalho de esculpir em madeira. No entanto, não havia trabalho em quantidade suficiente, então ele trabalhou como carpinteiro. A depressão de 1920 convenceu-o a entrar nos negócios e ele abriu uma pequena loja de ferragens em Chicago, na esquina da rua 18 e a rua do Estado, em grande parte, um bairro negro. A família Brown morava em um apartamento no andar acima da loja e Hebert frequentou a Escola Haven em Wabash, na rua 16, com colegas predominantemente negros. Herbert era um bom aluno e na escola anteciparam seu tempo curricular várias vezes, graduando-se com 12 anos de idade. Na verdade, lhe foi oferecido um maior avanço nos estudos, mas ele recusou, pois não queria estar na mesma classe com a sua irmã Ann.

Na graduação, Hebert foi para a Englewood High school, na zona sul de Chicago. Infelizmente, seu pai ficou doente de algum tipo de infecção e morreu em 1926. Após essa perda, Herbert foi forçado a abandonar a escola secundária e atender a loja. Ele era perito em gestão do negócio, mas se aborrecia com essa ocupação, pois estava muito mais interessado em ler.

Sua mãe decidiu que ela mesma iria dirigir a loja e que Herbert deveria voltar para a escola. Assim, Herbet retornou para Englewood High school, onde escrevia para uma coluna de humor no jornal da escola e que ganhou um prêmio nacional por seus textos, mas nunca de fato o recebeu. A família vendeu a loja e Hertbert acabou trabalhando em vários empregos. Era o começo da "Grande Depressão" e um bom trabalho permanente era difícil encontrar.

Herbert Brown não tinha esperança de ir para a faculdade. No entanto, estudar o atraia muito mais do que os biscates que ele poderia encontrar. Ele decidiu tentar todos os esforços para entrar na faculdade. Entrou na faculdade com a intenção de especialização em engenharia elétrica, tinha ouvido falar que a especialização nesta área era muito promissora. Na Crane University tornou-se fascinado com a química. Contudo, Brown mal tinha acabado de completar um semestre quando foi anunciado, em 1933, que a escola seria fechada por falta de fundos. Brown então foi para a escola noturna do Instituto Lewis, fazendo um ou dois cursos e mantendo-se financeiramente trabalhando como balconista em tempo parcial, vendendo sapatos.

Sabendo então que um dos professores da Crane, Dr. Nicholas Cheronis, tinha aberto seu laboratório para vários alunos, para que eles pudessem continuar seus estudos por conta própria, Herbet foi até lá e conheceu uma colega, Sarah Baylen, que tinha 16 anos de idade. Sarah tinha sido a aluna mais brilhante em química na Crane antes da chegada de Herbet. Inicialmente, como escrito por Sarah, ela o odiava uma vez que ela não podia vence-lo na química. Mais tarde ela decidiu se juntar a ele.

Em 1934 a Wright Junior College abriu as suas portas. Brown e Sarah Baylen graduaram-se na Wright Junior em 1935, onde Nicholas Cheronis estava no comando das ciências físicas. Com a ajuda e incentivo de Cheronis, Brown e Sarah entraram na Universidade de Chicago. No anuário de Brown, Sarah previu que ele seria um ganhador do Prêmio Nobel.

Sarah comprou um livro de Alfred Stock sobre hidretos de boro e silício, como um presente de formatura para Brown. Ele aprendeu com o livro que hidretos de boro eram preparados em apenas dois laboratórios no mundo. Um deles era o laboratório de Alfred Stock em Karlsruhe, Alemanha, e o outro era o laboratório de H. I. Schlesinger, da Universidade de Chicago. Brown então prestou um exame para uma bolsa de estudos na Universidade de Chicago, e para seu espanto, pouco do exame foi dedicado à química, física e matemática, que tinham constituído a maior parte dos seus estudos. Em vez disso, o exame enfatizou temas gerais: história, arte, música, literatura, etc. Temas que ele nunca tinha estudado formalmente. Ele fez o melhor que pôde e ficou agradavelmente surpreso quando recebeu uma meia bolsa de estudos.

Ele entrou na Universidade de Chicago no outono de 1935, acompanhado de sua namorada, Sarah. Este foi o momento em que o presidente da Universidade, Robert Maynard Hutchins estava colocando em pauta o princípio de que aos alunos deveriam ser autorizados se adiantarem nos seus cursos o mais rapidamente possível. Brown completou dois anos de estudos em três trimestres e obteve o seu título como bacharel em ciências em 1936, demonstrando o que seria a sua propensão ao longo de sua vida, o trabalho duro e sua energia inesgotável, fazendo um grande número de cursos (até dez por trimestre) e completar o seu trabalho de curso. Nesse mesmo ano ele se tornou um cidadão naturalizado dos Estados Unidos. Brown não queria fazer o trabalho de pós-graduação. Ele queria encontrar um emprego e se casar com a sua namorada. No entanto, um químico orgânico famoso, Julius Stieglitz, então Emérito, chamou Brown em seu escritório e pediu a ele que reconsiderasse a sua decisão. Ele previu um futuro favorável como um químico de pesquisa. Hebert discutiu o assunto com Sarah e ela concordou que o casamento podia esperar.

Sarah e ele se casaram "secretamente" em 06 de fevereiro de 1937. Eles eram tão inocentes que não perceberam que os casamentos eram publicados nos jornais diários. Consequentemente, o casamento deles era um segredo para o fim de semana. Seu invejável casamento durou mais de 67 anos.

Herbet recebeu seu Ph.D. em 1938. Infelizmente (talvez felizmente), ele não encontrou emprego na indústria. O professor Morris Kharasch ofereceu-lhe uma bolsa de pós-doutorado da Eli Lilly no valor de US$ 1600,00. Isto se tornou o início de sua carreira acadêmica. Ele deveria trabalhar no isolamento do princípio ativo da glândula pituitária, mas o trabalho com as glândulas era lento. Então ele começou a trabalhar na possível clorossulfonação de hidrocarbonetos com cloreto de sulfurilo. Depois de seu ano com, Morris Kharasch, o professor Schlesinger convidou-o para ser seu assistente de pesquisa com o posto de instrutor, substituindo Anton B. Burg, que estava de mudança para a University of Southern California. Consequentemente, Brown foi um exemplo incomum de um químico que terminou em trabalho acadêmico, porque não podia encontrar uma posição industrial.

O posto como instrutor envolvia a função de professor, orientando estudantes de pesquisas de Schlesinger e o trabalho na resolução de problemas de pesquisas de Schlesinger. Quando o tempo e a energia permitiam, Brown também fazia a pesquisas independentes com alunos de mestrado.

Brown se tornou um professor na Universidade de Chicago em 1939, e ocupou o cargo por quatro anos. Ele estava suficientemente interessado nos hidretos de boro; assim assumiu o trabalho de pós-graduação sob a orientação do professor Schlesinger, que tinha um programa ativo em química de boro. Suas várias contribuições mais significativas na área da química de boro incluem a co- descoberta do borohidreto de sódio (1972) com seu orientador de doutorado e pós-doutorado.

Schlesinger, que ajudou a modernizar a química dos organoboranos, com a exploração sistemática e o desenvolvimento metodológico da redução de uma ampla variedade de compostos orgânicos usando boroidreto de sódio, bem como outros borohidretos e hidretos de alumínio relacionados. Além disso fez a descoberta da hidroboração e os desenvolvimentos subsequentes de métodos sintéticos orgânicos à base de hidroboração e o desenvolvimento da alilboração assimétrica, a crotilboração, e reações relacionadas com um grupo de métodos largamente utilizados para a formação de ligações C-C.

Como um estudante de doutorado no laboratório de Schlesinger na Universidade de Chicago, Brown estudou as reações do diborano (B2H6). Este projeto alternativo acabou por ser bastante frutífero e resultou em dez artigos (1939-1942). Estes versavam sobre a cloração, a clorossulfonação e cloroformilação de uma variedade de compostos orgânicos e alguns trabalhos fundamentais sobre a estereoquímica e isomerização de radicais livres.

Foi durante este período, como resultado de projetos de pesquisa em tempo de guerra, que Brown e seus colegas primeiro sintetizaram borohidreto de sódio (NaBH4). Poucos anos depois, o grupo de Schlesinger sintetizou o hidreto de lítio e alumínio (LiAlH4). Estes dois compostos e os derivados desenvolvidos por Brown, durante os próximos trinta anos tiveram um enorme impacto na síntese orgânica.

Em 1940, eles começaram a pesquisar compostos volátei de baixo peso molecular de urânio para o Comitê de Investigação da Defesa Nacional. Brown e Schlesinger sintetizaram com sucesso o urânio volátil usando o diborano. O laboratório foi solicitado a fornecer uma grande quantidade do produto para o teste, mas o diborano estava em falta. De fato, naquele tempo o diborano, um gás, era feito em apenas dois laboratórios no mundo, os de Stock e o de Schlesinger. Em ambos os laboratórios o processo era difícil e os rendimentos muito baixos. O trabalho de Brown envolveu a redução de aldeídos, cetonas e ésteres usando o diborano (B2H6), e foi certamente um precursor da revolução liderada por Brown, que eventualmente teria lugar em química orgânica. Nesta época, Schlesinger estava pesquisando as reações de diborano para entender porque o composto mais simples entre hidrogênio e boro é B2H6 em vez de BH3.

Quando Brown começou sua própria pesquisa, observou as reações do diborano com aldeídos, cetonas, ésteres e cloretos de ácido. Descobriu que diborano reage com aldeídos e cetonas para produzir dialcoxiboranas, os quais são hidrolisadas pela água para produzir álcoois. Até este ponto, químicos orgânicos não tinham um método aceitável de redução carbonilas sob condições brandas. No entanto, seu trabalho publicado em 1939 recebeu pouco interesse. O diborano era de difícil preparação para ser útil como um reagente sintético.

Brown descobriu que o hidreto de lítio reage com o trifluoreto de boro em éter etílico, o que lhes permitiu produzir diborano em maiores quantidades. Hidreto de lítio estava em falta, então Brown e Schlesinger precisaram encontrar um procedimento que lhes permitisse a utilizar hidreto de sódio. Em vez disso, eles descobriram que o hidreto de sódio e o borato de metila poderiam reag para produzir trimetoxiboro de sódio, que substituiu com sucesso o hidreto de lítio.

Logo eles foram informados de que não havia mais necessidade de urânio volátil, mas parecia que o borohidreto de sódio poderia ser útil na geração de hidrogênio. Eles começaram a procurar uma síntese mais barata e descobriram que a adição de borato de metila ao hidreto de sódio à 250 °C produziu borohidreto de sódio e metóxido de sódio. Quando acetona foi utilizada numa tentativa para separar os dois produtos, descobriu-se que o borohidreto de sódio reduziu a acetona. O borohidreto de sódio é um agente redutor brando que funciona bem na redução aldeídos, cetonas, e cloretos de ácido. O hidreto de lítio e alumínio é um agente redutor muito mais poderoso, que pode reduzir praticamente qualquer grupo funcional carboxila.

Durante seus anos como assistente de Schlesinger, Brown começou um projeto em efeitos estéricos que traria atenção considerável da ampla comunidade química. Este trabalho foi motivado em parte por observações que ele fizera enquanto um estudante de graduação, e em parte por que ele considerava uma negligência na literatura química o papel desempenhado pelos fatores estéricos sobre o comportamento químico. O trabalho começou com estudos qualitativos das estabilidades relativas de uma série de compostos de adição trialquilborano-alquilamina.

Brown e seus colaboradores descobriram que o aumento do tamanho dos grupos ligados ao nitrogênio causariam instabilidade nos compostos de adição. Por exemplo, o composto de trimetilamina-trimetilborana é mais estável do que o composto trietilamina-trimetilborano, porque o equilíbrio da equação encontra-se voltado mais para os reagentes separados neste último.

Brown, começou um estudo quantitativo de longo prazo do calor de formação dos compostos de adição de aminas-boranas e demonstrou a importância dos efeitos estéricos nesses sistemas. Ele finalmente identificou três formas de repulsões estéricas, que estão estreitamente associadas com o seu nome: repulsão frontal, de fundo e interna. Brown falou sobre estes estudos na primeira Conferência sobre Mecanismos de reação Orgânica na Universidade de Notre Dame, em 1946 e, novamente, voltou ao mesmo assunto na terceira Coferência da Universidade do Noroeste em 1950.

Naquela época não se conseguia uma nomeação definitiva com estabilidade em uma Universidade, antes do fim de dez anos de trabalho. Brown, já tinha visto um número de indivíduos que haviam permanecido em Chicago como instrutores durante nove anos sem uma nomeação definitiva e em seguida foram pressionados a encontrarem um novo emprego em outro lugar. Brown decidiu evitar esta situação. Assim, ele perguntou ao professor Schlesinger sobre uma decisão quanto ao seu futuro no Departamento. Quando Schlesinger voltou com a notícia de que não havia futuro na Universidade de Chicago, Brown decidiu encontrar outro trabalho.

Felizmente, Morris Kharasch tinha um bom amigo, Neil Gordon, que tinha acabado de ser nomeado Chefe de Departamento da Universidade de Wayne, em Detroit (Neil Gordon, o originador das Conferências de Pesquisas Gordon), o qual tinha dado a Morris Kharasch sua primeira posição na Universidade de Maryland, na década de 1920. Neil Gordon foi convencido a dar a Brown uma posição em Wayne como professor Assistente. Brown finalmente obteve sua primeira posição acadêmica independente como professor assistente na Universidade de Wayne em Detroit em 1943. Ele estava com 32 anos. Em 1946 Brown tornou-se Professor Associado, uma vez que a sua pesquisarapidamente estabeleceu-o como um pesquisador ativo, prolífico e pioneiro. Brown ficou na faculdade de Wayne de 1943 à 1947. Neste período ele publicou dezoito trabalhos, estabeleceu uma reputação na comunidade de química orgânica pela criatividade e produtividade, e teve um filho, Charles Alan, que também se tornou um químico.

Em 1947, Brown foi convidado para a Purdue University pelo Chefe do Departamento de Química, Henry B. Hass, como o professor de Química Inorgânica. Originalmente sua pesquisa abrangeu físico-química, orgânica e inorgânica e ele teve alunos em todas as três áreas. No entanto, como o Departamento tornou-se mais organizado em divisões, tornou-se necessário fazer uma escolha, e ele elegeu trabalhar principalmente com colaboradores em química orgânica. Quando Brown foi para a Universidade de Purdue, em 1947, ele trabalhou para encontrar borohidretos mais fortes e hidretos de alumínio mais brandos, que podussem dar um espectro maior de agentes redutores. A equipe de investigadores da Purdue descobriu que a mudança do íon metálico do borohidreto de lítio, de magnésio, ou de alumínio aumentava a capacidade de redução. Também foi verificado que a introdução de substituintes alcóxi no hidreto de lítio e alumínio diminuíam a capacidade de redução. Eles desenvolveram com sucesso uma ampla gama de agentes de redução.

Em 1947, Schlesinger publicou "Hidretos de lítio e alumínio e Gálio e algumas de suas aplicações em Química Orgânica e Inorgânica", na qual descreveu a síntese do hidreto de lítio e alumínio, um composto que ele e seus colegas de trabalho tinham preparado em suas pesquisa, durante a Segunda Guerra Mundial. Este reagente sólido, o qual cedo se tornou disponível comercialmente, pode facilmente reduzir compostos contendo carbonilas e carboxilas. De fato, após a introdução do LiAlH4, o procedimento de redução tinha se tornado relativamente simples e os produtos eram facilmente isolados em rendimento muito elevado. O principal problema com o reagente era a sua alta reatividade e, portanto, não seletivo, e reduzia quase todos os compostos que continham uma ligação C=O.

Weldon Brown, da Universidade de Chicago, trabalhou com hidreto de lítio e alumínio e recolheu dados sobre a sua utilização generalizada em síntese orgânica. Em 1951 ele publicou "As reduções por hidreto de lítio e alumínio"; uma extensa revisão citando centenas de exemplos da utilização do composto nos poucos anos que tinha sido disponível.

O Borohidreto de sódio, que tinha sido sintetizado em 1942 no laboratório de Schlesinger, mas cuja síntese não fora publicada até 1953, quando Herbet Brown finalmente encontrou tempo para escrever sobre o trabalho desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial, era um agente redutor muito brando e seletivo e só reduziria aldeídos e cetonas aos álcoois correspondentes . Depois de se mudar para a Universidade de Purdue, Brown compartilhou a patente com Schlesinger sobre a preparação do borohidreto de sódio e começou um programa projetado para aumentar a reatividade do borohidreto de sódio e diminuir a reatividade do hidreto de lítio e alumínio. Como em quase todos os seus grandes projetos de investigação, Brown e seus colaboradores fizeram alterações sistemáticas para os dois compostos, cuidadosamente observando e registrando os efeitos das mudanças. Ao longo de um período de trinta anos, eles desenvolveram uma série de agentes redutores, que cobriam todo o espectro de reatividade do borohidreto de sódio (muito seletivo) ao muito reativo (e não seletivo) hidreto de lítio e alumínio.

Enquanto engajados nos estudos de redução, um dos pós-doutorandos de Brown, B. C. Subba Rao, observou um resultado anômalo. Durante a redução de um éster contendo uma ligação dupla C=C, mais diborano foi consumido do que era necessário para o éster sozinho. Descobriu-se que o diborano não só reduziu o éster a um álcool, mas também se adicionou à uma ligação dupla C=C. Outras investigações mostraram que o diborano e outros agentes de hidroboração, como são hoje chamados, podem ser adicionados à uma ligação dupla C=C e que rapidamente e facilmente, o produto resultante pode ser oxidado para se obter um álcool. A adição de diborano foi regioespecfíca, isto é, o hidrogênio e o boro adicionados à ligação dupla ligação formava apenas um entre dois isômeros constitucionais possíveis. O hidrogênio sempre adicionado ao átomo de carbono mais substituído da ligação dupla. Além disso, a adição acontecia sem rearranjo. A adição se mostrou estereoespecífica; isto é, os elementos de hidrogênio e boro se adicionaram no mesmo lado da ligação dupla, que era geralmente o lado menos impedido.

Esta reação de dois passos é agora chamada de hidroboração-oxidação e é uma reação que converte alcenos em álcoois e é anti-Markovnikov. A regra de Markovnikov afirma que, na adição de hidrogênio e uma hidroxila à uma ligação dupla C=C, o hidrogênio é adicionado ao átomo de carbono menos substituído da ligação e o grupo hidroxila é adicionado ao átomo de carbono mais substituído da ligação. Na hidroboração-oxidação ocorre á adição oposta, isto é, anti-Markovnikov.

Muitos consideram a hidroboração a única importante descoberta feita por H. C. Brown. Ele muitas vezes, em tom de brincadeira, mencionou a clarividência de seus pais em dar-lhe o H, o C e o B como as iniciais do seu nome, que correspondem aos três elementos envolvidos na hidroboração.

Brown, que raramente recuou em uma discussão quando sentia que os fatos estavam do seu lado, envolveu-se em uma pequena escaramuça no início de 1950 com Christopher Ingold, um dos pais fundadores da fisico-química orgânica, sobre a importância relativa dos efeitos estéricos na formação de alcenos durante a hidrólise unimolecular de halogenetos de alquila terciários. Numa série de artigos em 1948, Ingold e seus colegas de trabalho mantinham que os efeitos estéricos eram raramente importantes para determinar os produtos de reações unimoleculares e que o fator dominante envolviam efeitos electrônicos. Em um artigo em 1950, com Roslyn Fletcher, Brown desafiou esta visão e ofereceu os resultados de uma série de experimentos em apoio à sua posição. Ingold iniciou uma polêmica com Brown em um artigo em 1953 intitulado: “A desimportância comparativa da repulsão estérica nas eliminações unimoleculares de olefinas". Isso levou à uma resposta em cinco artigos de Brown em 1955, culminando com um estudo intitulado "A Importância da Repulsão Estérica na extensão e Direção das Eliminações Unimoleculares". Essa discussão com Ingold apenas serviu como uma luta preliminar para o que viria a se tornar a mais famosa controvérsia da química orgânica do século XX.

O problema do íon não clássico: no início dos anos 1930, o conceito de carbocátion, um íon orgânico de carga positiva sobre um átomo de carbono deficiente em elétrons, foi introduzido. Esta nova ideia provou ser extremamente útil no desenvolvimento da teoria orgânica, em particular, na descrição detalhada de mecanismos de reação. Os carbocátions foram propostos como intermediários em muitas reações para explicar as taxas de rearranjos estruturais e as consequências de natureza espacial. Em 1949, Winstein e Trifan sugeriram que alguns dos seus resultados poderiam ser melhores descritos pela introdução de um novo intermediário incomum, que foram rotulados de íons não-clássicos.

Uma vez introduzida a ideia, o íon não clássico foi usado por muitos outros para explicar, o que pareciam ser, resultados anômalos. Brown, cuja filosofia básica era "a natureza é simples", desafiou o conceito de íons não clássicos em um artigo provocador intitulado "Estados de Transições Tensos", em 1962. Ele estava seguindo o princípio da navalha de Occam, que é aplicado a todos os modelos científicos: não deve-se aumentar, para além do que é necessário, o número de entidades necessárias para explicar qualquer coisa. Ele afirmou essencialmente que todos os resultados para os quais o íon não-clássico fora invocado, poderiam facilmente ser explicados usando íons clássicos e, é claro, os efeitos estéricos. O debate, com Brown em um lado e a maioria dos físicos-químicos orgânicos de outro, continuou por quase duas décadas e produziu uma enorme quantidade de pesquisa, em grande parte extremamente inventiva com respeito à tecnologia. Paul Bartlett, em seu livro, “Íons não Classicos" de 1965, escreveu que a importância do debate era: "levar a uma extensão da teoria de ligação de valência e definir ligações químicas deficientes em elétrons, como pode ser visto em compostos de boro e carbocátions".

Brown publicou um livro em 1977, "O problema não clássico" e quase uma centena de publicações sobre o assunto. Infelizmente, a disputa também produziu algum abuso verbal e amargura considerável. A questão nunca foi totalmente resolvida a contento de todas as partes, mas o íon não clássico permaneceu um conceito útil para o arsenal do químico orgânico. Como outro resultado do seu interesse em efeitos estéricos, Brown examinou a substituição electrofílica dos compostos aromáticos substituídos com alquila. Ele descobriu que o aumento do tamanho dos grupos alquila nesses sistemas aumentava a proporção do produto menos impedido estericamente, demonstrando mais uma vez o papel que efeitos estéricos desempenham nas reações orgânicas.

Ampliando o seu interesse para o problema geral da substituição electrofílica, Brown e seus colaboradores desenvolveram uma teoria quantitativa que pode ser usada para prever as taxas de uma variedade de reações. No processo, ele definiu um novo substituinte para a constante de Hammett, chamada de σ+, ampliando dessa forma consideravelmente a aplicabilidade da equação de Hammett, que era uma ferramenta poderosa para prever os efeitos de tais substituintes. O trabalho de Brown nessa área foi revisado em detalhes em "Um tratamento quantitativo dos efeitos diretivos em Substituição Aromática," um artigo de 1963, escrito conjuntamente com L. M. Stock.

Em 1959, Brown se tornou professor honorário, em 1960 se tornou professor de Pesquisa e em 1978 se tornou professor emérito e mesmo assim continuou a trabalhar com um grande grupo de pós-doutorandos. Embora Brown não estivesse diretamente envolvido, seu trabalho sobre organoboranos foi fundamental na descoberta em 1978 por Negishi, e do extenso desenvolvimento subsequente, do acoplamento de Suzuki, a partir de 1979 por A. Suzuki (um pós-doutorando de Brown), que é um dos métodos mais amplamente utilizados para a formação da ligação carbono-carbono. Notavelmente, Brown também estava envolvido ativamente na produção industrial de uma vasta gama de reagentes organoboranos utilizados nesta reação.

Brown publicou cerca de 1300 publicações científicas, vários livros e várias dezenas de patentes, com média de cerca de 20 publicações ao ano durante quase sete décadas. Além de vários bioquímicos, incluindo V. du Vigneaud em 1955, Brown foi o segundo químico orgânico norte americano a ganhar um Prêmio Nobel depois de R. B. Woodward, em 1965. Brown dividiu o Prêmio Nobel de Química em 1979 com G. Wittig.

Além do Prêmio Nobel, Brown também recebeu numerosos outros prêmios e reconhecimentos. Como exemplo, ele foi eleito para a Academia Nacional de Ciências, em 1957, e recebeu a condecoração do imperador do Japão da Ordem do Nascente estrela de ouro e prata, em 1989. Em 1998 foi também criado o prêmio “Herbet Charles Brown“, que é concedido pela American Chemical Society (ACS) pelo trabalho mais criativo em metodologia sintética. Ainda em 1998 o periódico semanal Chemical and Engineering News publicada pela ACS citou-o como um dos melhores contribuidores para o desenvolvimento das empresas de produtos químicos durante os últimos 75 anos. Brown também recebeu 14 doutorados honorários, incluindo um da Universidade de Chicago em 1968.

Em reconhecimento das suas grandes realizações e contribuições para a Universidade de Purdue, um dos dois principais edifícios da química recebeu o seu nome e foi nomeado Edifício Brown, e todo o departamento de química foi rebatizado como Laboratórios de Química Herbert C. Brown.

Além de ser um cientista de ponta, Brown era um excelente mentor para aqueles que eram suficientemente auto-motivados e fundamentalmente bem equipado para prosseguir a investigação em uma forma lógica e racional. Ele próprio possuía o tipo da mente lógica e racional reservada apenas para os melhores cientistas. Um dos primeiros projetos sugeridos por Brown para Negishi tratou da hidroboração cíclica de dienos e trienos, que tinha sido anteriormente investigada por outros pesquisadores bem conhecidos no campo, principalmente em motivos racionais.

Brown questionou a acuracidade de várias atribuições estruturais e estereoquímica de compostos orgânicos da literatura. De fato, investigações detalhadas de alguns dos compostos apontados por Brown, eventualmente, levaram Negishi e Suzuki a corrigi-las. Outra lição que ele incutiu era não só fazer a pesquisa, mas também para viver com otimismo eterno, claro que não de forma quixotesca, mas com bem calculado racionalismo. Este foi facilmente a mais importante lição que as pessoas que trabalharam aprenderam com ele. Em seu grupo de pesquisa Brown esperava ativamente e vigorosamente realizar novos projetos de pesquisa e ser bem sucedido e produtivo. No entanto, ele estava longe de ser um "escravo do trabalho". Uma de suas políticas inequivocamente clara era "seu tempo lhe pertence". Ele dizia abertamente e repetidamente aos membros de seu grupo que não acreditava no valor de despender muito mais do que oito horas por dia nos laboratórios. Em vez disso, ele enfatizou a importância de um bom raciocínio, planejamento, preparação e execução de experiências de laboratório de uma forma altamente eficiente e oportuna da interpretação dos resultados. Em suma, ele esperava que cada um dos membros de seu grupo fossem químicos de sucesso, trabalhando em conjunto com ele e no máximo de seus potenciais. Ele mesmo dizia antes de sua partida em viagens frequentes, "Não trabalhem demais”. No entanto, muitos dos membros do grupo na década de 1960 foram de alguma forma motivados a trabalhar mais durante suas ausências, talvez para mostrar que eles eram capazes de fazer bons trabalhos mesmo em sua longa ausência.

Fora da arena de pesquisa Brown foi uma pessoa verdadeiramente solidária. Brown e Sarah foram muito generosos doadores. De fato eles viveram uma vida muito invejável. Eles vividamente demonstraram que com capacidade, dedicação e otimismo eterno, um homem e uma mulher juntos podem fazer algumas conquistas notáveis, tornar-se mais feliz, com o tempo (em seus 80 anos) e também tornar-se rico o suficiente para retornar parte de sua riqueza para a comunidade.

Herbet Brown, foi um dos gigantes pioneiros na área da química organometálica. Morreu de um ataque cardíaco em 19 de dezembro de 2004, aos 92 anos idade. Sua esposa, Sarah Baylen Brown, morreu em 29 de maio de 2005 aos 89 anos de idade. Da família somente restou seu único filho Charles A. Brown da Hitachi Ltd., e sua família.

Brown foi autor dos livros:

A hidroboração (1962)

Boranos em Química Orgânica (1972)

Sítese Orgânica via Boranos (1975)

O problema do Íon não-clássico (1976)

Aspectos do Mecanismo da Química Organometálica (1978, com James H. Brewster)

Hidroboração (1979)

Reagentes de borano (1988, com Andrew Pelter e Keith Smith)

BIBLIOGRAFIA:

O Departamento de Química da Universidade Purdue, em West Lafayette, Indiana, está na posse de "Lembrando HCB.: Memórias de colegas e alunos de Herbert C. Brown" Além das memórias, ele também contém um artigo de James Brewster em pesquisas de Brown e bibliografia de Brown através do Departamento de Química de 1977. Purdue também tem "Herbert C. Brown: “Uma vida na Química ", que homenageia o Prêmio Nobel de Brown. Ele contém reimpressões de três artigos que cobrem seu trabalho com boranos, seu discurso do Nobel, um extrato de seu livro autobiográfico, Boranos em Química Orgânica (1972), e uma nota biográfica por James Brewster. A fundação Herança Química, na Filadélfia detém "História Oral com HC Brown", a transcrição de uma entrevista de Brown por Leon Gortler em 1982.

Síntese Orgânica via Boranos. New York: John Wiley, 1975. Essencialmente "como um livro para os químicos", cobrindo a formação e utilização de organoboranos. Contém súmulas curtas da síntese e reações de organoboranos e procedimentos específicos para muitas sínteses. Finholt, Albert E., AC de Bond Jr., e Hermann I. Schlesinger., hidreto de alumínio e lítio Gálio hidreto e algumas das suas aplicações em Química Orgânica e Inorgânica, Journal of the American Chemical Society 69 (1947): 1199-1203.

Cooper, KA, ED Hughes, CK Ingold, e BJ McNulty. "Mecanismo de reações de eliminação. Parte VI. Introdução a um grupo de artigos. Formação da olefina unimolecular a partir dos Sais tert-butilo e terc-amil-sulfónio ", Journal of the Chemical Society (1948):. 2038-2042. Primeiro de dez artigos desta edição da revista. Papel XVI, o documento final desta série, discute os mecanismos de reações de eliminação em grande detalhe.

Hughes, Edward D., Christopher Kelk Ingold, e VJ Shiner Jr. "Mecanismo de reações de eliminação. Parte XVII. A comparativa desimportância da Tensão Estérica nas eliminações em olefinas unimoleculares "Journal of Chemical Society (1953):. 3827-3832.

Nos Aspectos do Mecanismo e da Química Organometálica , ed. J. H. Brewster, Nova Iorque: Plenum, 1978.

E. Negishi. Formação seletiva da ligação carbono-carbono através de Transição Metal Catálise: É níquel ou Palladium Melhor que cobre.