Silêncio Por Completo


Existe o silêncio externo e interno. Alguns ditam o silêncio como muito barulhento, não é exatamente assim. Quase sempre, durante o silêncio externo o barulho interno se torna alto, durante o silêncio interno o barulho é externo. Vise versa. Quando a situação de ambos os lados, interno e externo, se torna barulhenta pode tornar-se atormentador. Porém, quando esses mesmos lados se põem os dois em silêncio, podem levar à loucura.

Um experimento simples, entretanto, longe de ser básico, é a aplicação do silêncio total. Seja de forma trabalhada ou direta, meditando ou induzindo, o isolamento de sons do lado exterior e interior é perfeitamente possível. O silêncio total. Quando falamos dessa aplicação do silêncio as pessoas costumam achar que é uma coisa boa e, como alguém que experimentou essa sensação, devo dizer, seria bom se esse tal sentimento de silêncio permanecesse sem doer. O problema real não é o silêncio em si, mas o que ele traz. Não parece existir nada demais na sensação do silêncio, até que ela vai passando e o indivíduo se vê no vazio. Como mergulhar a cabeça em corais de praias pequenas, a sensação da água é calmante, a visão é linda, a emoção te enche, tudo parece perfeito até que você sente o baque no pulmão e percebe que não está mais respirando. É nesse instante que percebemos o quanto aquela ideia de paz não é tão real quanto parece, e com a introdução do silêncio é bem parecida.

Assim como o mergulho, existe sim uma certa paz oculta naquilo que é silencioso, naquilo que é um risco, no entanto, para usufruir dessa paz seria preciso uma dosagem adequada e bem administrada que, de forma geral, é quase que impossível. O ser humano é um ser com grande dificuldade de equilíbrio diário. Não somos programadamente capazes de seguir tal medida e ter esse silêncio, ou essa sensação de paz, na dosagem correta que viria a fazer bem para nós. Isso nos leva a acabarmos abusando das doses ou nem as usando. Ação essa que só nos traz de volta ao começo, onde silêncio é dividido externo e interno, um de cada vez, de maneira estável, deixando suscetível a uma reviravolta na qual o silêncio tomaria conta de ambos ou se encerraria por completo e isso é uma das primeiras portas abertas para a insanidade.

Rosabel Poetry

Autora, Poeta & Redatora