Libertando o Indivíduo Possessivo


Pelas ideias de John Locke podemos ver o homem em seu estado de natureza usufruindo de uma construção de liberdade onde a ausência de imposição de poder trairia a igualdade. As pessoas têm muito disso hoje, é comum pensar no homem primitivo como um sujeito livre. Vamos imaginar por um momento o que seria uma sociedade primitiva na visão de um homem moderno: todos vivem da natureza, dispondo dos mesmos recursos e oportunidades, ninguém tem poder sobre ninguém, não há melhores ou piores apenas os indivíduos por eles próprios. Para Locke, dentro dessa mesma ideia, cada ser humano seria então possuidor da liberdade, igualdade e garantia de vida. Caberia então a cada indivíduo defender esses direitos. Ou seja, você é livre até onde consegue ser.

Essa foi, sem dúvida, uma amostra crua, vamos tentar aprofundar mais. É bonito pensarmos na liberdade e suas diversas formas, entretanto, como tudo na vida, há aqueles poréns que temos de considerar. Gosto de vir arrumando as coisas pelo início. Afinal, de onde veio o Indivíduo Possessivo? E mais importante, por que ainda está aqui?

Um foco importante na filosofia de Locke era tentar entender como os homens passaram de seu estado de natureza para uma sociedade organizada por leis, governos e regulamentos de poder. A impressão que dá é de que estou citando a sociedade que tínhamos antes desta como desorganizada e desprovidas de relações de poder. Errado. Já foi estudado e comprovado por dezenas de ciências que o ser humano vive em sociedade a muito mais tempo do que podemos imaginar. Está no nosso biológico a necessidade de semelhantes.

Através do reino animal podemos observar o que seria uma sociedade humana primitiva. Pegue qualquer criatura também gregária como nós e veja como funciona a sua sociedade. As divisões são amplas, mas no geral, aquilo que normalmente temos é: machos e fêmeas, jovens e velhos, grandes e pequenos, todos com funções divididas de acordo com as suas capacidades, a fim de promover o bem do grupo como um todo. Por fim, um líder, geralmente macho, que se sobrepõe aos outros tomando as decisões mais difíceis, por exemplo, deixar um filhote doente para trás antes que ele infecte o restante. Essa divisão existe no interno biológico desses animais e de certo modo no humano também. O que nos tirou disso? A ideia de posse nada mais é que o desejo de controle. Quando nos focamos na atitude de resistência, “isso está errado!”, “não têm que ser assim!”, “eu faria melhor”, criamos dentro de nós essa revolta. Por qualquer razão que seja, passamos a desejar o controle. Desafiamos nossos líderes sejam eles nossos pais, nossos padrões ou mesmo nosso governo. Quando essas perguntas vêm, quando esse desejo vem, é que o indivíduo possessivo nasce dentro de nós. Esse estado de desejo absoluto traz à tona uma nova persona que muitas vezes não é real, porém, é muito mais poderosa do que nós sozinhos seríamos e isso nos faz desejá-la mais do que a nossa versão original do que realmente somos.

Rosabel Poetry

Autora, Poeta & Redatora