Monstros de Estrelas


A Noite Estrelada é meu quadro favorito do Van Gogh, vencendo por pouco de A Roda dos Prisioneiros, que também é uma obra intensa e reflexiva do pintor. Ressalto isso por uma razão muito simples, no mundo das artes, principalmente no período impressionista, vemos artistas que têm a dor como uma inspiração seja ela interna ou nos arredores das suas convivências. A agonia, medo, depressão e entre outros, são até hoje gatilhos artísticos poderosos. É claro para nós que Van Gogh usou isso também, mas ele tinha um elemento diferente nesse quadro em questão. Costumo dizer que: “Há pessoas por aí que levam tapas e desenham demônios, Van Gogh viu o inferno e pintou estrelas”. Já usei essa frase em vários livros, artigos e conversas com prazer.

Conhecendo os manicômios do século XIX como hoje nos são apresentados, posso citar pelo menos dez tormentas que Van Gogh poderia ter pintado lá dentro e entre todos ele escolheu a vista de uma janela, um nascer do sol ainda com estrelas e uma lembrança. Tal lembrança o fez tirar seus elementos da Noite Estrelada Sobre o Ródano e viver mais um dia tal céu. Verdade seja dita, a dor pura não pode ser ocultada, ela grita por cima das cores fortes e do traço angustiante, porém, tal essência inicial não deve ser ignorada e gosto de pôr A Noite Estrelada em primeiro lugar pois nunca tal obra disse tanto de um artista sem retratos, sem figuras humanas, sem expressões, apenas a intensidade de um homem acabado beirando o declínio. Um fracasso aos próprios olhos e nos bate-bocas que não desejava mais ouvir. Podem dizer que o gênio se foi em 1890, para mim seu fim aconteceu em 1889 quando entre o desespero do precipício ele arriscou uma última esperança e pintou seus monstros em estrelas.

Rosabel Poetry

Autora, Poeta & Redatora