Consciência Negra


No dia 20 de novembro, em todo território nacional, é comemorado o Dia da Consciência Negra. Uma data usada para nos recordar da importância de refletir a respeito da posição dos negros, principalmente dos afrodescendentes, diante de uma sociedade de preconceito e racismo.

A data deste dia foi escolhida especificamente por ter sido o dia da morte de Zumbi dos Palmares. Grande guerreiro da história brasileira, um dos pioneiros na resistência contra a escravidão e o líder do maior quilombo do período colonial, o Quilombo dos Palmares. Uma comunidade formada por escravos negros que haviam conseguido de alguma forma escapar de seu estado de escravidão nas fazendas, prisões e senzalas brasileiras.

Nos dias de hoje, há uma devida consciência quanto à humanização negra. Certamente nada comparado aos tempos de Zumbi, onde um ser humano podia, pela lei, tomar posse de outro como uma mercadoria, pagando por um devido preço de acordo com a aparência deste. Se pararmos para analisar os fotos e recordarmos esses tempos de dor e aflição, onde negros eram tratados como animais sujos e deflorados, mentalmente e culturalmente inferiores aos olhos do homem branco, podemos dizer que evoluímos muito. No entanto, teria esse conceito e visão das pessoas sido deixado para trás junto dos momentos de horror? Ao que tudo indica, infelizmente não.

Os negros representam hoje, assim como naquela época, a grande maioria da população. Cerca de 54% do país. E apenas 17% possuem alguma riqueza composta de bens de vida valiosos.

Em uma visita rápida ao presídio podemos constatar que 60% dos criminosos são de etnia negra. Algo que não parece surpreender a ninguém. Mas e quando dizemos que 71% das vítimas de homicídios são negros. Pessoas inocentes e honestas, que estavam apenas, como diz um velho ditado, no lugar errado e na hora errada. Isso surpreende? É provável que a muitos sim.

Esses dados mostram, em teoria, o que seria o rebaixamento dos negros diante da sociedade. Mas porque um rebaixamento tão alto? Por que das pessoas que não têm vidas minimamente decentes a maioria é negra?

A resposta é simples, apesar de lamentável. A verdade está no fato de que é muito mais fácil para uma pessoa branca subir de classe social do que para uma pessoa negra. O mercado de trabalho, assim como redes de ensino e etc, continuam a serem cercados por uma extrema descriminação. Selecionando para alguns em específico, privilégios que deveriam ser de todos. Tornando cada vez mais difícil a conquista de educação, emprego e oportunidades. Destruindo assim como a vida de milhares que dependem de sucesso para continuar vivendo sem ter que se rebaixar a níveis indesejados.

Existem vários pontos tristes envolvidos dentro dessa realidade, a maioria nem pode ser citada aqui, mas há um em particular que gostaria de ressaltar. O ponto de vista das crianças. Desde pequenas ensinadas a julgar a si mesmas sem perceber. Forçadas a conhecer sua realidade e saber que terão que lutar muito e enfrentar uma sociedade inteira de preconceitos e racismo se quiserem ter algo melhor do que aquilo com o que estavam quando vieram ao mundo.

Em 1988 foi declarado e assinado por lei que qualquer tipo de descriminação com pessoas de diferente sexo, idade, cor, gênero, religiosidade ou cultura era estritamente proibido e geraria punições. Isso é algo aliviante de saber. Porém, como em muitas outras leis devemos pensar primeiramente “e quanto aqueles que sofrem calados? Que não denunciam?”.

Fazer uma denuncia sobre alguém por ter lhe ofendido pode parecer algo precário e desnecessário, talvez por isso muitos não o façam, mas não deixa de ser a melhor forma de proteção legal que conhecemos até então para corrigirmos aqueles que ainda minimizam a população negra. As pessoas que realmente precisam mudar nessa história. Pois podem estar pagando, pedindo, brincando ou sendo apenas mais um personagem irrelevante na vida do outro, é preciso reconhecer que em pensamento geral as ideias que pessoas modernas têm a respeito deste assunto e as ideias do tempo de Zumbi dos Palmares, para nossa tristeza, talvez não sejam tão diferentes assim.

Rosabel Poetry

Autora, Poeta & Redatora