Trechos da reportagem "Procura-se Jesus Cristo" da Revista Superinteressante (Editora Abril) de Abril/96 (por Ricardo Arnt)
“Não são apenas religiosos nessa busca. São filólogos, lingüistas, arqueólogos, paleógrafos e historiadores juntando peças milimétricas de um enorme quebra-cabeça. Eles querem recompor a face, a biografia e o ambiente habitado por um homem de carne e osso. Um homem que hoje é chamado de Jesus histórico.”
O aspecto comercial: “Em 1993, 12 808 brasileiros visitaram Jerusalém. Em 1995, o número dobrou: 26 537 (...) Em três meses, a marca de televendas Homeshopping vendeu 15 000 ‘Cruzes da Natividade’, um crucifixo com uma minúscula redoma de vidro que, segundo os vendedores, contém um fragmento da gruta de Belém (onde, supõe-se, Jesus teria nascido). O comprador recebe um certificado do Museu de Israel garantindo a autenticidade da pedrinha.”
“Para a maioria dos pesquisadores os reis magos, o presépio e a estrela de Belém são invenções dos evangelistas para identificar o nascimento de Jesus com a vinda do Messias, que já era anunciado no Velho Testamento.”
“Os estudiosos (muitos deles, homens de fé cristã) sabem que os evangelhos oficiais da Igreja dão mais testemunho de fé do que de verdade histórica.”
“Para resolver certas contradições e discrepâncias e ajustar o foco da ciência sobre o chamado Jesus histórico, as próprias instituições religiosas financiam estudos e mais estudos. (...) Há 4 800 schoalars pesquisando as Escrituras, só nos Estados Unidos. Há 80 000 livros sobre Jesus e 1 000 cursos universitários sobre ciência e religião, no mundo.”
“O fundamentalismo religiosos precisa da ciência. Seu apelo moral não será persuasivo se parecer incoerente. Para convencer, nos dias de hoje, a religião precisa ao menos ser compatível com a ciência”. Robert Russel, diretor do Centro de Teologia e Ciências Naturais, de Berkeley, Califórnia.
“É preciso lembrar que (os evangelhos) não foram escritos como relatos históricos, no sentido moderno, isto é, como uma transcrição factual de eventos, e sim como narrativas de caráter religioso.” Rabino Henry Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista.
“Há várias reconstruções de Jesus: o Jesus revolucionário, o Jesus poeta, o Jesus filósofo etc. A mesma informação pode ser combinada e recombinada. O problema é que a figura que emerge de Jesus tende a ser o reflexo ideal do investigador”. Luke Johnson, The Real Jesus (Harper, NY, 1996)
“A grande quantidade de textos era um problema para a Igreja que estava nascendo. Havia muitas comunidades, ritos e evangelhos diluindo a doutrina e favorecendo o aparecimento de dissidências e heresias. Por isso, aos poucos, tornou-se necessário escolher alguns e canonizá-los, tornando-os santos.”
“Durante séculos, os monges copistas reproduziram esses textos a mão, às vezes reelaborando-os segundo as conveniências da doutrina”
“Do século II ao século XV as únicas cópias existentes dos livros estavam nos conventos. Eles agregavam o que queriam”. Maria Luiza Corassim, professora de História Antiga na Universidade de São Paulo.
“Havia um grande anseio apocalíptico na Judéia, no século I. Esperava-se ardentemente a vinda do Messias, aquele destinado a libertar Israel dos romanos. Com o Messias, viria o fim do mundo, o reinado de Deus na Terra e uma nova era para o povo escolhido. Profetas maltrapilhos anunciando o fim dos tempos e pregando a salvação era o que não faltava.”
“Em 132, um novo auto-proclamado messias, Shimon Bar Kosib, que mudou o nome para Bar Kochva, Filho da Estrela, liderou outra revolta, de três anos.”
“É notável o contraste entre a importância de Jesus para a posteridade e sua insignificância nos registros da época.”
“Jesus era um camponês rústico das montanhas, que usava metáforas ligadas à agricultura, como a ‘beleza dos lírios do campo’ e a separação ‘do joio do trigo’, e evitava pregar em cidades grandes.”
“Na tradição judaica, os homens ficavam doentes porque pecavam e a cura era monopólio divino”
“O culto do messias pacífico, cujo reino não era desse mundo e que oferecia salvação à humanidade toda, inclusive aos romanos, expandiu-se. Frente à ortodoxia judaica, o cristianismo ‘despolitizou-se’, diluindo sua identidade para ampliar o diálogo com as culturas. Em compensação, conquistou o mundo.”
“Como outros, ele também possuía uma consciência crítica do seu tempo e não deixou de mostrar o que lhe parecia contraditório na vivência religiosa e social da época.” D. Paulo Evaristo Arns.
“Suas críticas aos romanos imperialistas e às elites locais por certo eram severas, duras. Mas não promovia a luta armada. O amor radical como caminho da justiça decidida era sua vida.” Milton Schwantes, pastor luterano de Guarulhos e coordenador do Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião.
“Como não se voltar para ‘um Deus de compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor e fidelidade, que guarda seu amor a milhares e tolera a falta, a transgressão e o pecado?” D. Paulo Evariso Arns.
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