O acusado:
- Quando percebi que eles poderiam me causar problemas futuramente, fui obrigado a atacar. A verdade é que, se começassem a se multiplicar demais, a ocupar muito espaço, logo estariam querendo reivindicar seus direitos, no lugar onde eu vivo! Ora, é o meu lar, e não deles (legal e historicamente). Além do mais, ninguém daria a mínima importância se eu os exterminasse. Afinal, ninguém tem por eles o menor apreço pois não fazem nada de bom. No princípio pensei em eliminar apenas os mais velhos, e fazer com que os outros fugissem de medo. O problema é que, se os que sobrevivessem fossem muitos, poderiam querer se rebelar para se vingar. Então, à medida em que iam aparecendo, eu acabava tendo que matá-los. Você acaba matando o guerreiro, o corajoso, o covarde, a mulher, a criança... Aí você decide que tem que acabar com todos, e já não sente mais o pouco de piedade que chegou a sentir enquanto matava o primeiro. E exterminar o grupo passa a ser uma convicção. Chega uma hora em que você tem a impressão de que eles estão até contra-atacando, e tudo o que você tem a fazer é se defender.
A Vítima:
- Estávamos nós, ao cair da tarde, cumprindo a rotina de nosso dia-a-dia em nossa comunidade, com nossos filhos, vizinhos e parentes. Alguns saiam para buscar comida enquanto outros cuidavam dos menores, ensinando-lhes o que é importante saber sobre a vida. De repente, surge algo inesperado, algo que nós não entendíamos direito o que era, mas que, como um exército demolidor, destruía a tudo que encontrava pela frente, o que nós havíamos demorado gerações para construir. Tal qual um deus inflado por sua ira era esta força, imbatível, onipotente, em sua sede de destruição e morte, matava um a um o nosso povo, destruindo nossas casas, esmagando nossos filhos. Matava sem a gente entender o porquê. Não sabíamos o que tínhamos feito de errado. Não entendíamos o porquê de tanto ódio. Afinal, nunca pretendemos fazer mal a ninguém.
OS FATOS
Homem:
- Hoje destruí uma colônia de aranhas. Quando vi a primeira, até que simpatizei com ela, parecia tão inofensiva. Apareceu outra e deduzi que fosse um casal. Confirmei minha suposição quando vi um filhote. A partir daí, comecei a dar mais importância ao fato. Preocupava-me se sua população não acabaria crescendo um pouco demais – o que lhes tornaria mais fortes e resistentes. Perguntava-me o que isso poderia significar, afinal, não sabia certamente se eram do tipo venenosas, nem tão pouco se poderiam realmente me fazer mal a ponto de não podermos dividir o mesmo ambiente. A verdade é que tive de recorrer às memórias que tinha, daquilo que as pessoas haviam me ensinado a respeito do assunto. Sempre me disseram (familiares, amigos e até professores) que existem seres que são nocivos a nós. E era praticamente senso comum que aqueles seres que lá estavam, habitando minha despensa, eram nocivos. Pessoalmente, não tinha nada contra eles. Mesmo assim, eu os matei.
Aranha:
- Depois de muito procurar, decidimos nos instalar naquele local, pois nos oferecia segurança. Queríamos nos proteger do tempo: um lugar quente e seguro, com pouca movimentação, para gerar nossos filhotes. Só decidimos que ficaríamos ali por mais tempo quando vimos que o lugar era protegido de predadores e havia comida para todos. Não teríamos que roubá-la, nem prejudicar a ninguém. Um dia então, sem entendermos direito o por quê, foi tudo destruído.
(Paulo A.C.B.Jr.)
(Não esqueça que segundo os nazistas os judeus também eram nocivos)