“Nosso dia vai chegar, teremos nossa vez. Não é pedir demais: quero justiça. Quero trabalhar em paz, não é muito o que lhe peço. Eu quero um trabalho honesto, em vez de escravidão. Deve haver algum lugar onde o mais forte não consegue escravizar quem não tem chance. De onde vem a indiferença? Temperada a ferro e fogo... Quem guarda os portões da fábrica? O céu já foi azul, mas agora é cinza. E o que era verde aqui já não existe mais. Quem me dera acreditar que não acontece nada, de tanto brincar com fogo, que venha o fogo então. Esse ar deixou minha vista cansada. Nada demais...”
(Fábrica, Renato Russo)
“Quando nascemos fomos programados a receber o que vocês nos empurravam com os enlatados dos U.S.A., das nove às seis. Desde pequeno nós comemos lixo comercial e industrial. Mas agora chegou nossa vez, vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês. Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião, somos o futuro da nação, geração Coca-Cola. Depois de vinte anos na escola não é difícil aprender todas as manhas e o jogo sujo - Não é assim que tem que ser? Vamos fazer nosso dever de casa e aí então vocês vão ver suas crianças derrubando reis. Fazer comédia no cinema com as suas leis.”
(Geração Coca-Cola, Renato Russo)
“O que se espera de uma nação em que o herói é a televisão. Que passa todos os seus meses mal, melhora tudo no Natal. Até presente dá pra dar, só não se sabe o que vai receber: pano de prato ou dedal? Escolha o mais caro que eu quero ver. (...) O que se espera de uma nação em que o herói é a televisão. Que passa todos os seus meses mal, melhora tudo no Carnaval...”
(Mucama, Cidade Negra)
“Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede são tantas vezes gestos naturais (...)
Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos? Será que essa minha estúpida retórica terá que soar, terá que se ouvir por mais mil anos?”
(Podres Poderes, Caetano Veloso)
“Ainda me lembro, aos três anos de idade, o meu primeiro contato com as grades: o meu primeiro dia na escola, como eu senti vontade de ir embora. Fazia tudo que eles quisessem, acreditava em tudo que eles me dissessem. Me pediram para ter paciência. Falhei. Então gritaram: - Cresça e apareça! Cresci e apareci e não vi nada. Aprendi o que era certo com a pessoa errada. Assistia o jornal da TV, e aprendi a roubar p’rá vencer. Nada era como eu imaginava, nem as pessoas que eu tanto amava. Mas, e daí, se é mesmo assim, vou ver se tiro o melhor p’rá mim. (...) Ninguém me perguntou se eu tava pronto, e eu fiquei completamente tonto, procurando descobrir a verdade no meio das mentiras da cidade. Tentava ver o que existia de errado. Quantas crianças Deus já tinha matado. Têm o meu destino pronto e não me deixam escolher. Vêm falar de liberdade prá depois me prender. Pedem identidade p’rá depois me bater. Tiram todas as minhas armas, como posso me defender? Vocês venceram esta batalha, quanto à guerra, vamos ver.”
(O Reggae, Marcelo Bonfá/Renato Russo)