Trechos da reportagem da revista “Época” de 14/04/2003 intitulada “A família oculta de Jesus” (por Antônio Gonçalves Filho)
“Textos rejeitados pela Igreja dizem que o avô de Cristo era um rico comerciante de gado, a avó era estéril e que Maria teve outros filhos.”
“A mais recente obra sobre a vida familiar de Cristo (...) Tiago, irmão de Jesus, contesta o dogma da virgindade perpétua de Maria e assegura que essa não é afirmada em nenhuma passagem do Novo Testamento.”
“O autor, Pierre-Antoine Bernheim, apresenta Tiago, chamado o Justo, como irmão uterino de Cristo, morto 30 anos depois de sua crucificação. E vai além: sustenta que Tiago, martirizado, foi até mais influente que Pedro na Igreja primitiva, justamente pelo parentesco com o Messias. Pedro e outros apóstolos defendiam a difusão da mensagem cristã para uma comunidade unificada de judeus e gentios. Tiago, não. Temia, segundo o estudioso Bernheim, que isso pudesse provocar um movimento de renovação dentro do judaísmo ou criar uma religião afastada de suas raízes.”
“São Jerônimo jamais aceitou que Tiago fosse irmão de Jesus. Era seu primo, segundo o tradutor da Bíblia. Tiago seria filho de uma irmã de Maria que tinha o mesmo nome, Maria de Cléofas. A tradição católica admitiu sua teoria e acabou adotando-o como Tiago Menor, por oposição a Tiago Maior, filho de Zebedeu, ambos santos.”
“(...) o jornalista A. N. Wilson, autor de Jesus, um Retrato de Homem (...), recorre ao Evangelho de São Marcos para afirmar que Jesus fazia parte de uma grande família e teve quatro irmãos – Tiago, José, Simão e Judas – e duas irmãs. E mais: lembra que praticamente todas as referências à família, tanto nos evangelhos canônicos como nos apócrifos, são de conflito. Os parentes de Jesus seriam briguentos. Nesses textos, observa Wilson, Jesus surge como homem rude, que repreende a mãe, abandona o lar, renuncia à família e parte para pregar.”
“Adulto, Jesus abandonou o anonimato e começou a pregar, seguindo a carreira do primo João Batista. As relações com a família nunca foram cordiais, revelam os apócrifos. A mãe ficou aflita por Jesus ter se perdido na cidade aos 12 anos. Ele não a consolou, mas repreendeu-a. Mesmo Marcos, o evangelista do Novo Testamento, narra um episódio em que a mãe e os irmãos de Jesus tentam interromper uma pregação sua e este, irritado com quem o alertou da presença familiar, pergunta: ‘Quem é minha mãe? E meus irmãos?’ (Marcos 3, 31-35). Bernheim, autor de Tiago, irmão de Jesus, julga que a pergunta seca seria uma resposta à oposição familiar a seu comportamento subversivo, que colocava em risco os parentes. ‘Designando os que estão sentados em volta dele como sua verdadeira família, ele indica claramente que sua família biológica não faz parte daqueles que cumprem a vontade de Deus’, observa Bernheim.”
“Assim como existem dois pais (Deus e José), também existem dois Jesus para os historiadores. Um seria Cristo. Outro seria o judeu Yeshua, condenado à morte por desafiar os romanos e o Templo de Jerusalém em plena Páscoa. O historiador Flávio Josefo escreveu sobre sua morte. Ele também conta que o sumo sacerdote Anás convocou uma sessão do Sinédrio e obrigou Tiago, ‘o irmão de Jesus, chamado o Cristo’, a apresentar-se diante dele. ‘Qualquer leitor sem preconceitos concluiria que Maria e José tiveram outros filhos’, diz o autor do polêmico livro O outro Jesus, Antonio Piñero, da Universidade Complutense de Madri. Para o estudioso, Maria teve relações normais com José depois do nascimento prodigioso de Cristo.”
“Piñero refere-se ao episódio descrito no evangelho canônico de Lucas, quando Maria encontra finalmente o filho perdido de 12 anos, discutindo no Templo com eruditos e doutores da Lei. E por que não pregando aos irmãos? ‘Porque eles não acreditavam em Jesus e, em algum momento, tentaram mesmo boicotar sua carreira’, responde o catedrático. Não conseguiram.”
Nota: não acredito que os textos apócrifos possam gozar de maior credibilidade do que os próprios textos reconhecidos pela Igreja. A maioria das teses sobre o tema deve ser considerada como mera especulação. Assim como os canônicos, estes textos carecem de evidências seguras.
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