“São sete horas da manhã, vejo o Cristo da janela. O sol já apagou sua luz, e o povo lá embaixo espera, nas filas dos pontos de ônibus, procurando aonde ir. São todos seus cicerones, correm pra não desistir dos seus salários de fome e a esperança que eles têm - nesse filme, como extras - todos querem se dar bem.
Num trem para as estrelas. Depois dos navios negreiros, outras correntezas.
(...) Estranho o teu Cristo Rio, que olha tão longe além. Com os braços sempre abertos, mas sem proteger ninguém...”
“Toca o interfone, eu mando subir. É alguém com flores eu já fico a mil. Morro de dores da dor mais vil, mas corro até o elevador pra ser gentil. Ao fã sem nome digo: as flores não se tocam, vivem pra si, e pr’os passarinhos e pr’o vento. Foi por amor o assassinato da flor...
De manhã cedinho o sangue escorre. Foi por amor...
Flores são flores vivas no jardim...”
“E ser artista no nosso convívio, pelo inferno e céu de todo dia. A poesia que a gente não vive. Transformar o tédio em melodia...
E se eu achar tua fonte escondida, te alcanço em cheio o mel e a ferida, e o corpo inteiro feito um furacão: boca, nuca, mão, e a tua mente não...”
“Eu vi a cara da morte e ela estava viva...”
“Paro no meio da rua, alguém pergunta as horas (ou então vai matar)... Freiras lésbicas assassinas me vigiam do décimo andar.
...Tem sempre um lugar onde você não está.”
“A burguesia não tem charme nem é discreta com suas perucas de cabelos de boneca. A burguesia quer ser sócia do Country. Quer ir a Nova York fazer compras.(...) A burguesia tá acabando com a Barra. Afundam um barco cheio de crianças, e dormem tranqüilos. Os guardanapos estão sempre limpos, as empregadas uniformizadas. São caboclos querendo ser ingleses. A burguesia não repara na dor da vendedora de chicletes. A burguesia só olha pra si. A burguesia é a direita, é a guerra.”
“Te pego na escola e encho a tua bola com todo o meu amor. Te levo pra festa e testo teu sexo com ar de professor. Faço promessas malucas tão curtas quanto um sonho bom. Se eu te escondo a verdade, baby, é pra te proteger da solidão. Faz parte do meu show.”
“Meu partido é um coração partido, e as ilusões estão todas perdidas. Os meus sonhos foram todos vendidos, tão barato que eu nem acredito. Eu nem acredito que aquele garoto que ia mudar o mundo freqüenta agora as festas do ‘grand monde’.
...Meus heróis morreram de overdose. Meus inimigos estão no poder.”
“O teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer. E o meu, poesia de cego, você não pode ver. Não pode ver que no meu mundo, um troço qualquer morreu, num corte lento e profundo, entre você e eu. O nosso amor a gente inventa pra se distrair. E quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu...”