“Em 1858, uma aparição da Virgem Maria foi relatada em Lourdes, França; a Mãe de Deus confirmou o dogma de sua imaculada conceição que fora proclamado pelo para Pio IX havia somente quatro anos. Centenas de milhões de pessoas têm ido a Lourdes desde então na esperança de ser curadas, muitas doenças que a medicina da época era incapaz de tratar. A Igreja católica romana rejeitou a autenticidade de um grande número de pretensas cura milagrosas, aceitando em quase um século e meio apenas 65 (de tumores, tuberculose, oftalmia, bronquite, paralisia e outras doenças, mas nenhuma regeneração de membro ou de medula espinhal rompida). (...) Portanto, a probabilidade de cura em Lourdes é de cerca de uma em 1 milhão; é mais ou menos tão provável ser curado em Lourdes quanto ganhar na loteria, ou morrer no acidente de um avião de linha regular e selecionado ao acaso – inclusive o que se destina a Lourdes.
A taxa de regressão espontânea de todos os cânceres, em conjunto, é estimada entre uma em 10 mil e uma em 100 mil. Se apenas 5% dos que vão a Lourdes ali estivessem para tratar de seus cânceres, deveria haver entre cinqüenta e quinhentas curas ‘miraculosas’ só de câncer. Como apenas três das 65 curas autenticadas são de câncer, a taxa de regressão espontânea em Lourdes parece ser inferior à que existiria se as vítimas tivessem simplesmente ficado em casa. É claro que, se você é um dos 65 casos, vai ser muito difícil convencê-lo de que a viagem a Lourdes não foi a causa da regressão de sua doença...”
(Carl Sagan)