Homenagem a Adalberto Gomes Pereira Guerra

Família de Dr. Adalberto Gomes Pereira Guerra junto a seu retrato na parede da Sede do PTB, em 15/09/1995
(Reprodução do texto do discurso elaborado pelos familiares de dr. Adalberto Guerra, feito a 18 mãos, pronunciado pela sua filha Zélia Cristina Castro, na ocasião da aposição de seu retrato na parede da Sede do PTB, em 15 de setembro de 1995).

Hoje, numa homenagem das mais justas, o retrato de Adalberto Guerra ocupa a parede da Sede do Partido Trabalhista Brasileiro, partido em que ele colaborou na criação, cultivou o crescimento, vibrou com as vitórias sem podermos também deixar de registrar que sofreu nos seus momentos difíceis e especialmente, com seu espírito forte e inquieto, lutou para soerguê-lo e protegê-lo de desgastes ou descrédito.

O momento, como não poderia ser, reveste-se para nós de grande significação, especialmente por ser uma homenagem que o coloca nesta parede ao lado de Minervino Fiúza Lima, “o meu amigo Fiúza" como ele se referia, o amigo a quem se uniu pelo ideal, pela dignidade dos princípios que sempre os identificou, consolidando laços que até hoje continuam fortes.

Juntos participaram de significativos momentos das lutas sindicais, do berço e consolidação dessas organizações. Enfrentaram, com coragem, momentos difíceis. Não fazendo qualquer concessão na busca do ideal maior da classe trabalhadora.

Nesse sentido, o Partido Trabalhista Brasileiro em Pernambuco mais que homenageia, elege e aponta modelos a serem seguidos.

Adalberto Guerra foi um trabalhista parece pouco dizer isso mas, numa reflexão mais profunda, é possível entender que esta palavra resume uma trajetória integralmente colocada a serviço de uma causa.

Nascido em Recife, em 28 de agosto de 1909, de família muito numerosa e humilde, muito cedo, aos 9 anos, teve que trabalhar na olaria e no viveiro do sítio onde morava, manifestando desde já o espírito de solidariedade que foi marca de sua personalidade ao longo da vida. Adquiriu como operário precoce, marcas, que, para ele, foram sempre motivo de orgulho: mãos grossas como a dos trabalhadores.

De formação evangélica, estudou no Colégio Americano Batista e no tradicional Ginásio Pernambucano, ingressando posteriormente na Faculdade de Direito onde, em 16 de janeiro de 1937, colou grau como bacharel.

Abraçou o Direito do Trabalho, sem ter estudado essa cadeira na Faculdade, enfrentou as dificuldades próprias dos pioneiros e durante mais de 50 anos, defendeu os Sindicatos e os operários.

Não fazia distinção de classe ou condição social. Aliás, quando o fazia, privilegiava os mais carentes. Cultivou as marcas de sua infância e adolescência, foi simples, humilde, embora destacadamente altivo e obstinado.

Recebeu, ainda em vida, significativas homenagens do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região e da OAB. Recentemente, o Fórum de Vitória de Santo Antão foi denominado Fórum Adalberto Guerra, gesto de reconhecimento do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região por sua dedicação ao Direito do Trabalho e atuação forte e decisiva na organização sindical naquele Município.

Foi antes de tudo amigo. Aliás sua afetividade, à flor da pele se irradiava para todos. Cultivou os amigos, foi fiel. Temos a certeza, de que neste momento está feliz por ver o seu retrato ao lado do grande e fraternal companheiro Fiúza.

A força do compromisso com o operariado lhe levou à politica. Nesse sentido, ela foi na sua vida mais uma circunstância, um instrumento de luta, podendo-se dizer que Adalberto Guerra foi mais um trabalhista que participou da vida política do que um político trabalhista.

0 Partido Trabalhista Brasileiro, legenda que ajudou a construir e da qual nunca se afastou, era o ideário que se identificava com o seu plano de vida. No momento atual, quando a sociedade brasileira convive com a crise oriunda da fragilidade dos partidos, vemos que Adalberto Guerra é modelo a ser imitado.

Defendeu sempre o seu PTB, porque isso significava defender ideias, projeto de sociedade com mais Justiça Social. Foi pioneiro do trabalhismo em Pernambuco quer na advocacia, quer na política. Deixou marcas, plantou sementes.

Deputado em duas legislaturas buscou antes de tudo a fidelidade e a coerência. Seu espírito irrequieto se manifestou em toda plenitude na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Seus discursos eram inflamados, sua luta incessante. As manifestações de rebeldia nos eram narradas com orgulho.

No Partido Trabalhista Brasileiro foi militante e presidente. Na intensa atividade partidária que desenvolveu viveu momentos difíceis, fruto de incompreensões e de interesses menores mas também, através do ilustre Deputado Roberto Magalhães lhe foi dada, segundo ele, a maior alegria de sua vida politica - o Título de Presidente de Honra do PTB. Lembramos com emoção o brilho dos seus olhos ao dizer: “Foi a maior homenagem que recebi porque só Getúlio Vargas teve esse Título. Não sei como o coração aguentou.”

Como filhos e como cidadãos temos profunda gratidão e respeito ao Deputado Roberto Magalhães quer pela felicidade que proporcionou ao nosso pai, quer pelo senso de justiça que motivou o gesto próprio dos homens que engrandecem a política.

Neste texto produzido a 18 mãos, a viúva e os filhos de Adalberto Guerra querem expressar, aos membros do Partido Trabalhista Brasileiro de Pernambuco, o agradecimento pela homenagem que aqui está sendo prestada. Mesmo entendendo que a trajetória política de nosso pai torna tal homenagem imperiosa, não fica diminuído o gesto dos que a concretizaram.

Hoje nos empenhamos em cultivar a sua memória, tarefa sofrida pela inexorável razão da saudade mas possível pelas marcas e sementes que ele plantou.

Adalberto Guerra foi um homem múltiplo. Pedimos desculpas aos presentes se não conseguimos dar maior ênfase, como seria mais adequado, ao político. Embora grandioso em todas as dimensões para nós inevitavelmente se sobressai a dimensão homem e, em especial, Pai. Pai que lutou pela nossa formação e representou segurança mesmo quando a doença o fragilizou fisicamente porque permaneceu espiritualmente forte até seu último momento. Sua figura foi e é a imagem de alguém que conseguiu ser sempre presença marcante, e e que edificou uma ligação que extrapolou o vínculo biológico. Imagem de pai construída no dia a dia.

Deixamos de realçar outras dimensões de sua vida talvez também porque eram nossas concorrentes, tirando-o com muita frequência do nosso convívio ou porque a política e a advocacia eram por nós vividas através de suas alegrias e tristezas e da presença de políticos, operários e líderes sindicais em nossa casa. O nosso pai sempre foi referência maior que os fatos da cena politica. Os episódios eram contextualizados através dele. Nesse sentido nos deu valiosas lições de lealdade, de integridade na vida pública. Foi e é exemplo de dignidade.

Sua figura representa imensa saudade, síntese de uma vida colocada a serviço da Justiça Social e que pode ser traduzida por uma citação do apóstolo Paulo, tantas vezes por ele pronunciada: Combati um duro combate, depositei as armas, guardei a fé.”

Casamento com dona Maria do Carmo de Moraes Guerra - 25 de abril de 1936
Comemoração das Bodas de Ouro - 25 de abril de 1986
Momento em casa ao lado de dona Maria do Carmo