DIPTAS BRIJMOHAN

PT

Encontramos a expressão máxima da mentalidade não-histórica na cultura hindu, através do conceito de Brahman. Este é um espírito divino, pois “antes do início já era… e seria sempre”.

“O “terror da história” torna-se cada vez mais difícil de suportar na perspectiva das diversas filosofias historicistas. É que todo o acontecimento histórico encontra o seu significado último na sua própria realização. A recusa da história pelo homem arcaico, a sua recusa em se situar num tempo concreto, histórico, revela um cansaço precoce, uma aversão ao movimento e à espontaneidade, colocado entre a aceitação da condição histórica e dos riscos que ela implica e a sua reintegração nas formas da Natureza ele optaria por essa reintegração. O homem das civilizações arcaicas pode orgulhar-se do seu modo de existência, que lhe permite ser livre e criar. Ele pode ser mais do que foi, pode anular a sua própria história. O homem foi criador no plano cósmico, imitando essa cosmogonia periódica. Todo o oriente rejeita a noção da irredutibilidade ontológica do existente, se bem que parta de uma espécie de existencialismo. O oriente não aceita o destino do homem como definitivo e irredutível. As técnicas orientais esforçam-se por abolir ou ultrapassar a condição humana, nesse aspecto podemos falar não só de liberdade ou de emancipação, mas também de criação, porque se trata realmente de criar um homem novo e de o criar num plano supra-humano, um homem deus, que o homem histórico nunca imaginou poder criar.” (O Mito do Eterno Retorno, Mircea Eliade)

No Hinduísmo, Brahman é a última realidade do universo, a causa final de tudo o que existe. É uma unidade por trás de toda a diversidade, é o princípio cósmico. Nas diferentes escolas filosóficas e nos milhares de textos Hindus, encontramos diversas leituras sobre Brahman. Brahman diferente de Atman (Deus Interior), Brahman idêntico a Atman (Alma), no fundo, está conectado espiritualmente a toda a existência, está em todo o lado e em cada ser humano. Brahman sem atributos filosóficos é Nirguma Brahman, está para além de qualquer descrição ou conceptualização, é o oceano sem ondas. Brahman com atributos filosóficos é Saguna Brahman. É o oceano com marés e ondas, a manifestação da presença divina. Em algumas escolas filosóficas Saguna Brahman pode ter forma, é imortal e eterno. A forma pessoal encontra-se em diferentes Deuses Supremos: Narayana, Vishnu e Krishna. Krishna é a forma original de Deus, superior a todas as outras expressões divinas, já que todas emanam dele. É uma manifestação temporária na terra.

As gerações de seres humanos sucedem-se umas após outras, cada geração oscilando brevemente como uma onda para depois se desfazer na praia, dissolvendo-se no anonimato da morte. Descobrir o sentido no mistério da existência é o derradeiro desafio da vida. As nossas personalidades são representações nesta imensa tragicomédia humana, o drama da própria vida em que somos simultaneamente co-autores e actores. Devemos ser testemunhas da nossa própria história e não devemos confundir o nosso papel com aquilo que somos na realidade. Tal como as ondas que se esbatem na terra e desaparecem, todos os momentos da nossa vida são uma morte: o “eu” do momento morre para nunca mais renascer. Apesar de a vida não consistir em mais do que funerais, não me concebo a mim próprio como morrendo a cada momento, uma vez que não me igualo aos meus momentos individuais. O hinduísmo propõe um ser extenso, que vive vidas sucessivas da mesma forma que uma vida singular vive momentos sucessivos.

No oceano (Universo), as almas individuais abrem o seu caminho através da água até desaparecerem na atmosfera, alcançando a iluminação (libertação). O processo pelo qual o Atman (Deus Individual) passa através de uma sequência de corpos é conhecido por reencarnação, passagem interminável dos ciclos da vida, morte e renascimento. A passagem faz-se através de uma série de corpos cada vez mais complexos até que, por fim, alcança o corpo humano. O Atman (Sopro Vital) atingiu a autoconsciência, e com este estádio vem a liberdade, a responsabilidade e o esforço. Quando o Atman (Alma) entra num corpo humano, saboreia os prazeres dos sentidos. A conquista social, riqueza, fama e poder tornam-se um programa de ambição pessoal e deve ser visto como um jogo, meramente um jogo da condição humana. Para o Hinduísmo o único bem que pode satisfazer é um bem infinito e eterno, cuja consciência possa transformar toda a experiência. A "bolha de ar" aproxima-se da superfície da água até à libertação final. Muitos dizem que o Atman (Deus Interior) identifica-se com Deus, outros pensam que mantém uma diferença entre a alma e Deus, uma linha no oceano que proporciona um vestígio de identidade pessoal.

A nossa vida é um sonho, uma "lufada de oxigénio" que ascende ao céu, é meramente um sonho no qual nós acordaremos para a "verdade real" quando morremos, quando o nosso sonho termina. Diz-se que o que é mortal existia antes e existirá depois, o que é mortal será imortal. Tudo é transitório. O meu corpo também é como uma "alma" elevando-se no oceano, desaparecerá como tudo o que está sujeito à decrepitude. O que é um ser humano, só um corpo? Ou também uma personalidade que inclui pensamentos, recordações resultantes de uma trajectória única de experiências de vida? Subjacente ao ser humano e animando-o está uma reserva de ser que nunca morre, e não tem fronteiras na consciência e na felicidade. Está escondido e chama-se Atman (Eu Próprio), não é mais que brahman, a divindade que se encontra em cada um de nós.

EN

We found the highest expression of non-historical mentality, in Hindu culture through the concept of Brahman. This is a divine spirit, because "before the beginning was already ... and would always be."

"The "terror of history" increasingly difficult it becomes to bear the perspective of the various historicist philosophies. It is that all historical events find its ultimate meaning in their own achievement. The refusal of history by the archaic man, his refusal to be within a specific time, historical, reveals an early fatigue, an aversion to movement and spontaneity, placed between the acceptance of the historical condition and the risks it entails and their reintegration in the forms of nature he would opt for such return. The man of the archaic civilizations can be proud of their mode of existence, allowing it to be free and create. It can be more than it was, you can undo your own story. The man was creator in the cosmic plan, imitating this periodic cosmogony. All the east rejects the notion of ontological existing irreducibility, although leave a kind of existentialism. The East does not accept the destiny of man as definitive and irreducible. The Eastern techniques strive to abolish or exceed the human condition in this respect we can speak not only of freedom or emancipation, but also creative, because it really comes to creating a new man and to create in an superhuman plan, a god man, that historical man never imagined could create. "(The Myth of the Eternal Return, Mircea Eliade)

In Hinduism, Brahman is the ultimate reality of the universe, the ultimate cause of everything that exists. It is a unity behind all diversity, is the cosmic principle. In the different philosophical schools and thousands of Hindu texts, we find several readings on Brahman. Brahman different from Atman (Interior God), Brahman identical to Atman (Soul), in the end is spiritually connected to all existence is everywhere and in every human being. Brahman without philosophical attributes is Nirguma Brahman, is beyond any description or conceptualization it is the ocean without waves. Brahman with philosophical attributes is Saguna Brahman. It is the ocean with tides and waves, the manifestation of the divine presence. In some philosophical schools Saguna Brahman may have form, it is immortal and eternal. The personal form we encounter in different Supreme Gods: Narayana, Vishnu and Krishna. Krishna is the original form of God, superior to all other divine expressions, as they all emanate from it. It is a temporary manifestation on earth.

Generations of human beings follow one after another, each generation wavering briefly as a wave and then discard at the beach, dissolving into the anonymity of death. Discover the meaning in the mystery of existence is the ultimate challenge of life. Our personalities are representations on this immense human tragicomedy, the drama of life in which we are simultaneously co-authors and actors. We must be witnesses of our own history and we must not confuse our role with what we really are. As the waves are rendered down into the earth and disappear, every moment of our life is a death: the "I" of the moment dies never to be reborn. Although life does not consist of more than funerals, I do not conceive myself as dying every moment, since it does not equal me to my individual moments. Hinduism proposes an extensive being, who lives successive lives in the same way that a natural life lives successive moments.

In the ocean (Universe), the individual souls open their way through the water to disappear into the atmosphere, reaching enlightenment (liberation). The process by which the Atman (Single God) passes through a sequence of bodies is known as reincarnation, endless passing of the cycles of life, death and rebirth. The passage is through a series of increasingly complex bodies until it finally reaches the human body. The Atman (Vital Breath) reached self-consciousness, and this stadium is freedom, responsibility and effort. When the Atman (soul) enters in a human body, is savoring the pleasures of the senses. Social achievement, wealth, fame and power become a personal ambition program and should be seen as a game, merely a game of the human condition. For Hinduism the only good that can satisfy is an infinite and eternal and whose conscience can transform the whole experience. The air bubble comes close to the water surface to the final liberation. Many say that the Atman (God within) is identified with God; others think it keeps a difference between the soul and God, a line in the ocean which provides a personal identity trace.

Our life is a dream, an oxygen bubble that ascends to heaven, is merely a dream in which we wake up to the real truth when we die when our dream ends. That what is mortal is said existed before and will exist after, what is mortal will be immortal. All is impermanent. My body is also like a bubble rising in the ocean; it will disappear as everything is subject will decrepitude. But what is a human being, only a body? Or also a personality that includes thoughts, memories resulting from a single trajectory of life experiences? Underlying the human and animating it is a reservation being that never dies, and has no boundaries in consciousness and happiness. It is hidden and is called Atman (Myself) it is no more than Brahman, the divinity that is in each of us.