Património Paleontológico

Em Porto de Mós

No meio de um ambiente dominado pela pedra, encontramos testemunhos paleontológicos que possibilitam o remontar de uma história intrincada de ocupação dos espaços ecológicos e de transformações dos cenários ambientais.

- Praia Jurássica de S. Bento Porto de Mós

- localização

Testemunhos: Estrela do Mar Lírio do Mar Ouriço do Mar

Em Portugal o Jurássico define-se claramente por um ciclo sedimentar

No Jurássico Inferior inicia-se a grande transgressão (avanço do mar) que viria a atingir o seu máximo no Jurássico Médio. Durante este período o mar avançou para o interior do país cobrindo extensas áreas em que até então dominara o regime continental e lagunar. Formou-se um grande golfo, alargado para Norte, até ao Vouga.

Ao mesmo tempo, o mar cobriu a orla meridional do Algarve. No final do Jurássico Médio, (159-152.M.a., B.C.) houve um movimento de regressão que levou à emersão de grande parte do território ocupado pelos mares do Jurássico Inferior e Médio.

No Jurássico Superior o mar avançou de novo sobre a orla litoral mas sem atingir os limites alcançados pela grande transgressão do Liásico.

As formações Jurássicas portuguesas distribuem-se por três regiões. A mais importante, a Norte do Tejo, compreende os afloramentos da Estremadura e da Beira Litoral que formam uma grande faixa, mais ou menos contínua, de terrenos margo-calcários, de fácies marinha.

A evolução geológica fez com que esta região se afundasse constantemente, havendo a invasão por águas marinhas e o consequente depósito de sedimentos e lamas de calcário, permitindo o registo desses testemunhos paleontológicos a que se chamam icnofósseis. Muito mais tarde houve uma deformação destes estratos, resultando a elevação da serra de Aire e Candeeiros e o afundamento da Bacia Terciária do Tejo.

As primeiras flores de Portugal

Angiospérmicas do Cretácico da Bacia Lusitaniana (Portugal) - Juncal - Porto de Mós

Kajanthus lusitanicus Mendes, Grimm, Pais & Friis.

O Cretácico português é rico de jazidas de macro, meso e microfósseis de plantas que, desde cedo, despertaram o interesse de estudiosos de vegetais fósseis. O primeiro estudo sobre macrofloras mesozoicas foi realizado por Gaston de Saporta em 1894, onde refere angiospérmicas (plantas com flor) do Cercal, Buarcos-Tavarede e Nazaré. Na mesma época, outros trabalhos foram desenvolvidos em macrofloras do Cretácico Inferior do Grupo de Potomac, nos EUA. Estes trabalhos influenciaram as primeiras discussões sobre a origem e diversificação das angiospérmicas. Carlos Teixeira fez a revisão das floras descritas por Saporta entre 1945 e 1952. Estes trabalhos pioneiros permitiram obter visão geral da vegetação de Portugal no Cretácico, evidenciando mudança drástica entre as floras do Cretácico Inferior, em que predominavam fetos e gimnospérmicas, e as do Cretácico Superior, largamente dominadas pelas angiospérmicas

A partir de 1990, a descoberta de mesofloras constituídas por estruturas reprodutoras de angiospérmicas, em excelente estado de preservação, permitiu obter informações detalhadas sobre as primeiras angiospérmicas do Cretácico. As mesofloras portuguesas são conhecidas do Berriasiano ao Campaniano-Maastrichtiano. As primeiras angiospérmicas, bem caracterizadas, ocorrem no Barremiano superior-Aptiano inferior (≈ 125 Ma). A excelente preservação destas mesofloras permite comparações detalhadas com plantas da flora moderna, possibilitando estudos taxonómicos, estabelecer relações filogenéticas e conhecer a biologia reprodutora das angiospérmicas do Cretácico, incluindo a evolução da flor e das suas funções e modos de dispersão polínica.

Numa das mesofloras de Juncal foi identificada e descrita, pela primeira vez na Europa, uma flor da família Lardizabalaceae (Ranunculales) – Kajanthus lusitanicus Mendes, Grimm, Pais & Friis. Trata-se de flor bissexual, actinomórfica (simetria radial), com pólenes tricolpados in situ, próxima de Sinofranchetia (Diels) Hemsley endémica na China. Foram igualmente descritas três novas espécies do novo género Canrightiopsis Friis, Grimm, Mendes & Pedersen de frutos com pólenes de tipo Clavatipollenites. Corresponde a género em posição evolutiva intermédia entre o género fóssil Canrigthia Friis & Pedersen e os géneros atuais Ascarina Frost & Frost, Sarcandra Swartz e Chloranthus Swartz. Recentemente, foi descrita nova flor bissexual, actinomórfica e com ovário semi-inferior atribuível ao género Saportanthus Friis, Crane & Pedersen. Estas flores são comuns na mesoflora de Catefica e apresentam um conjunto de caracteres que sugere estreita relação com as Laurales da flora moderna.

(Fonte) - Revista de Ciência Elementar - Casa das Ciências - V6/01 Março 2018

Na mesoflora de Vale Painho (Juncal) cuja idade provável corresponde ao Berriasiano, foram recolhidas e formalmente descritas sementes fósseis pertencentes ao grupo das extintas Erdtmanithecales e atribuíveis à espécie Erdtmanispermum juncalense Mendes, Friis & Pais. Estas sementes têm forma ovoide a elipsoide, a base é arredondada, apresentam distinto ápice micropilar pontiagudo e possuem envelope externo constituído por três valvas.

Referência Mendes, M.M., (2020) As primeiras flores, Rev. Ciência Elem., V8(1):008

DOI http://doi.org/10.24927/rce2020.008