Briófitos

As briófitas - o grupo de plantas que inclui as hepáticas, as antocerotas e os musgos atuais têm uma linhagem antiga. São os parentes modernos das primeiras plantas terrestres, que fizeram a transição de viver na água para colonizar solo encharcado há mais de 450 milhões de anos.


Não é pouca coisa, esse evento mudou literalmente o curso da história do nosso planeta, permitindo que a vida como a conhecemos. Esses minúsculos pioneiros ajudaram a estabelecer o solo e contribuíram com oxigênio para nossa atmosfera, criando ricas paisagens terrestres onde outras plantas e animais poderiam eventualmente surgir e florescer. Aprender mais sobre briófitas e sua relação com outras plantas terrestres ajuda a entender melhor como nosso mundo funciona.


Plantas Primitivas

Como as primeiras plantas terrestres, as briófitas têm alguns traços primitivos incomuns. Ao contrário das plantas evoluídas mais recentemente, elas são não vasculares , carecem de um sistema circulatório para transportar água e alimentos por todo o tecido. É por isso que vivem apenas em ambientes húmidos, onde podem absorver os nutrientes diretamente nas suas células.


Carecem de sistemas estruturais complexos como as verdadeiras raízes, caules e folhas que evoluíram com as plantas modernas , o que significa que as briófitas raramente crescem mais do que alguns centímetros de altura. Em vez disso, eles formam "tapetes" densos e espalhados que cobrem o solo, as rochas e as árvores das florestas tropicais e temperadas ao redor do mundo. As briófitas também não florescem ou produzem sementes, em vez disso crescem de esporos. Como uma semente, um esporo desenvolve-se em um embrião. Mas, ao contrário de uma semente, o esporo não contém comida para ajudar o embrião a crescer


Papel Ambiental

Para estes organismos minúsculos, muitas vezes impercetíveis, as briófitas têm uma grande tarefa. Ajudam a transformar o terreno rochoso e árido em solo nutritivo, onde as sementes de outros tipos de plantas podem criar raízes. Além disso, as esteiras de briófita agem como esponjas e filtros, ajudando a absorver o escoamento, prevenir a erosão e purificar as águas subterrâneas.

As briófitas também oferecem microhabitats que são essenciais para a sobrevivência de uma enorme diversidade de animais. Muitos tipos de invertebrados, como insetos, vermes e outros organismos que são importantes para a saúde do solo, vivem em esteiras de briófitas. E várias espécies de pássaros, roedores, anfíbios e répteis usam briófitas como locais de caça e também como materiais para a construção de ninhos.


Briófitas e humanos

Uma das descobertas recentes mais fascinantes sobre as briófitas é sua utilidade para os humanos. Por serem tão pequenas, as briófitas respondem rapidamente às mudanças no ambiente. Ligeiras flutuações na qualidade do ar e da água podem afetar drasticamente sua saúde, tornando-os excelentes indicadores de poluentes, mudanças climáticas e até mesmo aquecimento global.


As briófitas também possuem propriedades biológicas interessantes com potencial para serem utilizadas como agentes antimicrobianos e antifúngicos, repelentes de pragas e até mesmo relaxantes musculares. Da mesma forma, pesquisas recentes revelaram que estruturas únicas de hepáticas (chamadas de "corpos oleosos") contêm compostos químicos poderosos que se mostraram eficazes no tratamento de certos tipos de células cancerosas - e até mesmo de HIV e AIDS!



ALTERANDO AS PRIORIDADES DE CONSERVAÇÃO

Ambientes que abrigam o maior número de plantas e animais raros geralmente comandam as classificações de conservação mais altas. No entanto, a avaliação da diversidade de uma região é moldada pelos tipos de organismos que os pesquisadores procuram e para onde olham. Como resultado, as áreas normalmente consideradas prioritárias para proteção são os locais onde os cientistas coletaram a maior parte dos dados - muitas vezes, locais de alto perfil que abrigam espécies específicas.

Mas e as regiões inóspitas ou remotas do mundo onde poucas explorações ocorreram?

E quanto às espécies difíceis de encontrar ou percebidas como menos atraentes?

Eles garantem uma prioridade mais baixa simplesmente porque não são tão conhecidos?

O que estamos aprendendo sobre briófitas está revelando um preconceito em como estudamos plantas e animais e definimos "pontos críticos de biodiversidade".


Tamanho e destaque contam

No mundo científico, as espécies maiores e mais vistosas costumam ser as mais bem estudadas. Por exemplo, nos últimos 20 anos, mais de 80% das publicações sobre conservação animal foram dedicadas a vertebrados (animais com coluna vertebral), apesar de esse grupo representar menos de 5% das espécies animais conhecidas. E entre os vertebrados, pássaros e mamíferos são o foco de 70% dos artigos científicos, embora peixes, anfíbios e répteis representem 70% dos animais conhecidos com coluna vertebral.


O mesmo se constata para as plantas: a maioria das publicações botânicas apresentam espécies que florescem e têm sistemas vasculares (circulatórios) - embora esse grupo seja uma minoria em muitas partes do mundo. Estudos recentes de hepáticas, musgos e outras plantas sem flores estão ajudando a treinar o "olho científico" em espécies que antes eram "invisíveis", trazendo equilíbrio para a equação da conservação.



Familiaridade gera interesse

Atualmente, cerca de 30% das publicações com foco na conservação concentram-se no hemisfério norte, especificamente nas florestas da América do Norte e Europa. Embora isso possa ser devido ao fato de que espécies que vivem em áreas mais habitadas do mundo podem enfrentar maiores ameaças e inspirar maior simpatia do público por causa de sua familiaridade, há uma "desvantagem". Surgiu a crença de que as áreas mais distantes do equador abrigam menos espécies e, portanto, são de menor preocupação.


Pesquisas feitas por cientistas revelaram que a diversidade de formas de vida menores, como líquenes, briófitas, insetos e outros invertebrados, na verdade aumenta em direção aos pólos da Terra, onde poucas espécies grandes sobrevivem. E espalhar a palavra sobre a beleza e o valor ecológico dos organismos que vivem nessas florestas em miniatura é importante para estimular o interesse público, o cuidado e a ação de conservação em regiões do mundo antes ignoradas.





Os briófitos estão entre os grupos de plantas que iniciaram a colonização do meio terrestre. São, portanto, plantas essencialmente terrestres, vulgarmente conhecidas por musgos que representam uma divisão do reino Plantae com cerca de 14000 espécies, constituindo aproximadamente cerca de 5% das plantas do planeta.

A dimensão os briófitos varia desde tamanhos microscópicos até mais de um metro, e, apesar de apresentarem na sua maioria cor verde, algumas apresentam outras colorações (esbranquiçada, vermelha, acastanhada e até quase preta).

São plantas altamente dependentes do grau de humidade, e, por isso, apresentam ciclos de vida fugazes e estratégias eficazes da redução da perda de água por evaporação, em especial em habitats de extrema e prolongada secura.

Os briófitos são plantas sem sistema condutor especializado (excepção para espécies do género Polytrichum que apresentam um feixe condutor na zona central do caulóide).

A brioflora de Portugal Continental integra um total de 704 taxa (incluindo espécies, subespécies algumas variedades consideradas taxonomicamente importantes). Compreende cerca de 40% das espécies europeias e quase 65% de todos os briófitos ibéricos sendo estes organismos indicados como um dos grupos de plantas mais antigo, com grande importância ecológica, fundamentais para a manutenção da biodiversidade dos ecossistemas. São também importantes bioindicadores da qualidade ambiental.

(fonte: Helena Espanhol, Cristiana vieira e Ana Séneca - Briófitas do Ribeiro de S. Pedro de Moel - Vertigem - Associação Promoção do Património, Março 2008)

Dos 704 taxa conhecidos em Portugal continental, 513 são musgos e 191 hepáticas incluindo as antocerotas.

Segundo o estatuto de conservação dos briófito em Portugal, 12 são considerados Regionalmente extinto (RE), 42 Criticamente em perigo (CR), 80 Em perigo (EN), 78 Vulnerável (VU), 30 Quase ameaçado (NT), 11 Atenção especial (LC-att), 57 Informação insuficiente (DD), 58 Informação insuficiente - novos (DD-n), e, 336 Pouco preocupante (LC).

A Região

Em termos dos habitats da Directiva (93/43/EEC) mais representativos incluêm-se os habitats 9230, 9240, 9330, 8210, 8220, 6210, 6280 e 6230, que estão presentes na região do PNSAC e no Concelho de Porto de Mós, verificando-se a existência de uma correspondência entre o nivel de sensibilidade de habitat e o estatuto de ameaça, os taxa mais ameaçados encontramse em habitats sensiveis e de alto risco.

Este ponto é particularmente importante na interpretação de modelos de destribuição de agregados de espécies que podem fornecer informações úteis para uma avaliação das comunidades de briófitos presentes em determinada região.

Como exemplo, os resultados preliminares com dados de 2009 para as espécies consideradas Boreal-Alpinas (elenco que integra as espécies mais ameaçadas dadas as alterações climáticas previstas), projectam o seu desaparecimento em 2100 da região de Porto de Mós.

Porto de Mós conta com 12 taxa com estatuto de ameaça presentes na lista vermelha dos Briófitos, a sua maioria em habitats sensiveis e de alto risco.