Formações vegetais e espécies


A cobertura arbórea natural do Concelho de Porto de Mós é constituída por carvalho-cerquinho (Quercus faginea ), azinheira (Quercus rotundifolia .) e sobreiro (Quercus suber ), estando o carvalho-negral (Quercus pyrenaica) restrito a pequenas manchas no limite SW do território (freguesia de Arrimal), bem como por freixo (Fraxinus angustifolia ), na polje de Mira-Minde, e os salgueiros, Salix spp ., às áreas mais húmidas do limite NW (Juncal).

Dada a intervenção humana, estão também presentes manchas arbóreas, introduzidas ou cultivadas como os olivais, os eucaliptais e pinhais. Os olivais dominam no território do Concelho, seguidos do eucaliptal que vem ganhando algum espaço, nomeadamente em áreas de solos mais férteis antes ocupados por culturas temporárias, e, pinhais, que têm vindo a ser reduzidos, quer pela ação do fogo, quer pela reconversão em eucaliptal ou florestais mistas de eucaliptal e pinhal.

Com uma superfície muito reduzida surgem os pomares e vinhas no limite N e NW do Concelho enquanto que os bosques ribeirinhos, pelas características do território, são praticamente inexistentes.


Bosques e bosquetes

Os bosques maduros no Concelho de Porto de Mós estão reduzidos a pequenos fragmentos, raros, e, na sua maioria, invadidos por espécies secundárias e exóticas.

Azinhais e sobreirais

Os azinhais que encontramos no Concelho de Porto de Mós poderiam ser sobreirais que se estenderiam até ao mar, atendendo à preferência do sobreiro por um clima mediterrâneo com influencia oceânica, uma vez que é uma árvore que não suporta temperaturas muito elevadas, associadas à falta de água e frios intensos.

Nos territórios próximos do oceano, o sobreiro (uma espécie calcífuga), torna-se competitivo face à azinheira por razões que se prendem essencialmente com as características do solo.

No território de Porto de Mós a presença do sobreiro abrange todas as freguesias do Concelho embora limitada a indivíduos pontuais ou pequenas manchas , nas áreas de depressão ( excursão 1, 2 e 4), passando para uma posição de dominância face à azinheira a Norte e Oeste do Maciço Calcário, em área onde os solos mais profundos o permitem como é o caso das freguesias de Porto de Mós, Calvaria, Juncal e Pedreiras (excursões 6 e 7).

O azinhal, como floresta potencial, com estrutura e composição florística em bom estado de conservação, é pouco comum, estando restrito no presente a pequenas parcelas, no planalto de Santo António, no limite Sul da Freguesia de São Bento e do Concelho de Porto de Mós junto à localidade de Cabeço das Pombas, e, na depressão da Mendiga, nomeadamente na freguesia de Arrimal junto às localidades de Alqueidão do Arrimal e Bemposta (excursão 1). Os valores de diversidade mais elevados e os taxa com maior interesse para conservação estão concentrados em clareiras onde há abertura do copado e em que estão presentes matos de substituição (Espírito-Santo et al. 2005)

No entanto a azinheira, em árvores isoladas ou pequenas manchas, está presente nos cumes e planaltos, encostas e vertentes expostas, sobre calcários duros e permeáveis, em praticamente todo o território, à exceção de áreas passíveis de encharcar como as definidas nas excursões 4 (Mira de Aire) e 6 (Juncal).

Com o abandono do espaço rural nas áreas mais altas da Serra dos Candeeiros (excursão 7) e a oeste do planalto de Santo António (excursão 8) , os matos altos e posteriormente algumas manchas de azinhal em regeneração, têm tomado novamente posição na paisagem. No entanto, a composição florística e a estrutura das florestas de azinheira é diferente, resultado ,de um histórico impacto da desflorestação e da utilização do fogo.


Carvalhal de carvalho-negral

Reduzido a duas pequenas manchas situadas junto à povoação de Arrimal , ocorre num contexto particular de temperatura e humidade, em calcários descarbonatados com toalha freática superficial em uma aliança com freixos e ulmeiros. Estes bosques ou bosquetes, caduco- marcescentes (o carvalho-negral jovem mantem as folhas na copa durante o inverno) enquanto os adultos , a par das companheiras freixos, choupos e ulmeiros perde as suas folhas nesse período), apresentam uma orla espinhosa como primeira etapa de substituição composta por silvas (Rubus ulmifolius ), e abrunheiros (Prunus insititia), acompanhados por pilriteiros e loureiros., e um envolvente com prados húmidos e permeáveis um elenco florístico composto por uma grande diversidade de leguminosas como o trevo-dos-prados (Trifolium pratense) ou ervas perenes como a alpista azulada (Phalaris coerulescens) ou a Branca-ursinha (Heracleum sphondylium)

Estas comunidades vegetais assumem uma importância de destaque como bioindicadores e permitem avaliar a vegetação potencial face à destruição das comunidades vegetais circundantes.


Carvalhal de cerquinho

Os carvalhais marcescentes, comunidades vegetais de semi-caducifólias de copado cerrado , assumem uma elevada importância com a sua capacidade de oferecer ciclicamente ao longo da sua vida as folhas e ramos permitindo o enriquecimento e ciclo e nutrientes dos solos, sendo uma mais valia no sequestro de carbono relativamente às espécies de folha perene.

Os bosques maduros de cerquinho (cercais) de Quercus faginea subsp. broteroi, no Concelho de Porto de Mós estão reduzidos a locais perto das povoações, em áreas calcárias sobre solos profundos e algo descarbonatados quase sempre associada à parte inferior das vertentes, ou vales encaixados, em situação de abrigo onde são garantidas as condições de humidade e temperatura ótimas.

A composição do estrato arbóreo dominado por cerquinho, é neste território acompanhado, em situações pontuais, por espécies caducifólias como a zelha (Acer monspessulanum ) como é observável na excursão II, e, frequentemente por espécies perenifólias como medronheiro (Arbutus unedo), ou o aderno-de-folhas-largas (Phillyrea latifolia), a aroeira (Pistacia lentiscus), o loureiro (Laurus nobilis) e o zambujeiro (Olea sylvestris) . (Excursões 2, 3 e 7)

No vale que liga a localidade de Figueirinhas ao Figueiredo (excursão 3) o estrato arbustivo é dominado por espécies sempreverdes mediterrâneas e regista grande densidade com a presença do: folhado (Viburnum tinus), aroeira (Pistacia lentiscus), carrasco (Quercus coccifera), urze-branca (Erica arborea), enquanto que no estrato aéreo é relativamente rico, com um número de espécies escandentes, indiciando uma provável origem subtropical, destes bosques. As espécies trepadeiras mais frequentes: salsaparrilha (Smilax aspera), granza-brava (Rubia peregrina), o arrebenta-boi (Tamus communis), a silva (Rubus ulmifolius), a madressilva-caprina (Lonicera etrusca) e a hera (Hedera hibernica).

O elenco florístico no estrato herbáceo destes bosques maduros de cerquinho é abundante durante as primaveras húmidas e constituído por um grande número de espécies de musgos (briófitos), fetos e um vasto número de espécies de ambientes húmidos e sombrios representado no elenco das excursões 2 e 3

Constata-se que que a diversidade em espécies endémicas com estatuto de proteção está relacionada com a localização destes bosques, nomeadamente que é em áreas menos acessíveis e mais afastadas das populações. como é o caso dos bosques ainda não maduros presentes nas freguesias de Porto de Mós e Alqueidão da Serra, no limite Norte do Concelho, com uma área que liga ao Concelho da Batalha com um potencial interessante e representativo dos cercais portugueses, apesar de uma forte implantação da industria de exploração de inertes.

Por outro lado, a vegetação que substitui por degradação, estes bosques de carvalho -cerquinho, apresentam uma maior diversidade florística, o que revela que determinadas ações de moderada perturbação contribuem para um aumento da diversidade. Esta correlação verifica-se nas áreas de matos em planalto ou nos cumes arredondados, pastoreadas em regime extensivo por pequenos ruminantes (em particular caprinos) e/ou sujeitas a fogo controlado como é o caso das áreas das excursões 3 e 7,

Na faixa de rede primária sujeita a um regime de pastoreio de manutenção (freguesias de Serro Ventoso e Porto de Mós) , e nas faixas de gestão de combustível sujeitas a intervenção de fogo controlado no planalto da Mendiga (Freguesia de Mendiga e Arrimal), constata-se a presença de espécies com estatuto de proteção elevado como é o caso do Dianthus cintranus , Narcissus calcicola, e Euphorbia transtagana, entre outros.

Este tipo de intervenção através do pastoreio conduzido nas faixas de gestão de combustível, desenvolve-se num contexto socioeconómico diferente, com as aldeias menos populosas e mais envelhecidas, com um efetivo pecuário muito inferior.

Enquanto a história nos ensina que foi a desflorestação, o pastoreio e o fogo os elementos determinantes para a destruição da floresta, e, que voltar atrás, não é uma solução aceitável, por outro lado constatamos que em áreas concretas, limitadas com metodologias e escalas temporais em que o encabeçamento e a capacidade forrageira a par dos métodos de maneio tenham uma base técnico-científica sustentável, o pastoreio conduzido nas faixas de gestão de combustível, poderá ser considerado como um fator benéfico e favorável ao aumento da biodiversidade.

Trata-se de uma questão em aberto e que nada tem a haver com a famosa e perigosa "limpeza da floresta" a qual Gonçalo Ribeiro Telles generosamente descreveu como "um mito"

Importa referir, que em muitos destes bosques e bosquetes quer de cercais, quer de azinhais, o pinheiro bravo (Pinus pinaster ) introduzido através de povoamentos florestais, disseminaram-se espontaneamente, pelo que é difícil encontrar bosques completamente puros sem quaisquer exemplares de pinheiro. No entanto, tratando-se de formações de carvalhais ou azinhais mais densos, estes mantêm a dominância sendo o aparecimento dos exemplares de Pinus muito esporádico.

Freixial

Formação com um estrato arbóreo dominado por Freixo-de-folhas-estreitas (Fraxinus angustifolia) e carvalho-cerquinho (Quercus faginea) e, uma orla composta por um estrato arbustivo espinhoso, com a presença pontual de borrazeira-negra (Salix atrocinerea) , choupo-negro (Populus nigra) entre outros , capazes de povoar solos argilosos com uma submersão mais ou menos longa durante o inverno, em contraste com altas temperaturas no verão, como é o caso do habitat presente na excursão IV em Mira de Aire.

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Pinhal de pinheiro-bravo

O pinhal de pinheiro-bravo (Pinus pinaster) ocorre um pouco por todo o concelho de Porto de Mós, localizando-se as principais manchas de formações arbóreas dominadas por pinheiro-bravo a N, NW e W do Concelho conforme se pode verificar no âmbito das excursões 3, 7 e 8. Aí podemos encontrar povoamentos adultos dominados por exemplares de grande porte e bom estado de conservação, com vegetação no sub-coberto variável, de acordo com a exposição e as características do solo, como urzais, tojais, medronhal, matos densos e baixos de carvalhiça e pastagens.

Nas áreas de maior altitude, estes pinhais adultos em áreas de baldio, enquadram pequenas bolsas de eucaliptal, normalmente em parcelas rodeadas de muros de pedra solta e que representam a reconversão de culturas de sequeiro outrora cultivadas, fruto de uma alteração socioeconómica e no modo de vida das populações residentes. Estão ainda presentes de forma dispersa exemplares de carvalho-cerquinho (Quercus faginea ) e de azinheira (Quercus rotundifolia), normalmente associados às parcelas delimitadas por muros e observável nas excursões 3 e 9, enquanto na excursão 6, em solos com outras características, a azinheira é substituída pelo sobreiro (Quercus suber). O sub-coberto é variável, dominando as comunidades arbustivas.


Matagais de pré-bosque

Medronhal

Comunidades de árvores de pequeno porte e arbustivas altas de folha lustrosa e persistentes em solos profundos com medronheiro e urze-branca, são, geralmente, representando uma etapa intermédia da sucessão do bosque de sobreiro ou de cerquinho , estando no Concelho de Porto de Mós representado em várias áreas do território com principal destaque para as áreas sub-coberto de pinhal e presentes nas excursões nas excursões 6,7 e 9


Medronheiro e Outras Espécies

Comunidades de árvores de pequeno porte de folhas lustrosas e largas com loureiros , aderno e medronheiros em solos calcários, em locais húmidos e sombrios , normalmente em vales encaixados e representando uma etapa por regressão de uma vegetação pré-existente composta por carvalhal de carvalho-cerquinho

Os medronhais no Concelho de Porto de Mós, encontram-se acompanhados por outras espécies de porte arbóreo, algumas destas, chegam a ter um papel dominante, englobando vários tipos de formações vegetais.

É no sopé da serra dos Candeeiros , em Freguesia de Pedreiras, (excursão 7) que encontramos a versão mais desenvolvida de características pré-bosque de medronhal no Concelho, no sub-coberto e na orla de pinhal maduro de pinheiro bravo (Pinus pinaster), a par de outras áreas outrora ocupadas por eucaliptal revertidas para medronhal, com um porte arbóreo e elevada densidade de copa, e, com, a presença no sub-coberto de espécies como a gilbardeira (Ruscus aculeatus), a salsaparrilha-bastarda ( Smilax aspera ) ou a ruiva-brava (Rubia peregrina).

Esta versão de medronhal pré-bosque pode ainda ser observada em outras áreas do Concelho numa versão fragmentada de pequenas áreas sujeitas a uma intervenção recente de corte de matos nas freguesias de Serro Ventoso (excursão 3) e em Alcaria junto ao parque de merendas, o que representa um reconhecimento por parte de autarcas e proprietários privados na valorização destas formações, e, um bom augúrio para uma floresta mais adaptada e resiliente para o futuro

Formações arbóreas de pequeno porte dominados por pilriteiro (Crataegus monogyna)

Estas formações surgem no concelho de Porto de Mós em formatos de pequenos bosques muito densos , em áreas abrigadas, normalmente em vales encaixados e frescos como é o caso do Vale de Espinho (excursão 3) numa etapa de colonização de linhas de água outrora cultivadas, ladeadas por cercais nas encostas

Formam sebes na orla espinhosa dos campos agrícolas associado a outras espinhosas como o abrunheiro bravo (Prunus spinosa) em Arrimal (excursão 1 e polje de Mira - Minde - excursão 4 ), em ambientes húmidos, em solos calcários na orla de bosques de carvalho-cerquinho (Quercus faginea ) com loureiros (Laurus nobilis) em Alvados (excursão 2) e, em solos siliciosos, na orla de bosques mistos de carvalhos (Quercus faginea ) e salgueiros (Salix sp) onde incluem espécies como a madressilva-das-boticas (Lonicera periclymenum) , e silvados de Rubus ulmifolius (excursão 6).

Também estão presentes na bordadura de carvalhais húmidos e sombrios de carvalho-negral (Quercus pyrenaica ) com freixos e choupos em solos ricos em nutrientes, onde por vezes formam sebes que incluem a presença da ameixieira (Prunus insititia), rosa-cania (Rosa canina ), e sabugueiro (Sambucus nigra.) em Arrimal, (excursão 1)

Na polje de Minde (excursão IV) observa-se ainda a presença de marmeleiros (Cydonia oblonga) na orla dos freixiais, em valas , acompanhados por outras espinhosas como a rosa-canina, o pilriteiro e o abrunheiro-bravo.


Carrascais

Formações arbóreas de pequeno porte dominadas por carrasco (carrascal), constituem uma das dominantes da paisagem vegetal, no Concelho de Porto de Mós

Estas formações dominadas por carrasco e aroeira, acompanhados por outras formações de porte medio arbustivo ,dão origem a matagais altos e densos, localizados no território ,na orla ou sub-coberto de pinhal ou carvalhal adulto (expedição 2, 7 e 9).

Na vertente W da Serra dos Candeeiros (excursão 7), na orla do medronhal e a coberto de pinhal, nas encostas sombrias e solos frescos surgem formações co-dominadas pela murta (Myrtus communis ) e urzes, representando uma etapa de transição para cotas superiores, mais expostas, e, onde o carrasco (Quercus coccifera), passa a ter um papel dominante, acompanhado por outras espécies de porte arbóreo que incluem a aroeira (Pistacia lentiscus) , a urze-das-vassouras (Erica scoparia), lentisco bastardo (Phillyrea angustifolia), englobando vários tipos de formações vegetais, observáveis em outras áreas de matos altos presentes nas excursões 3 e 7.

Nas encostas de maior exposição solar, (expedição 3) estes matagais dominados por carrasco, são acompanhados por outras combinações tendo como companheiras o lentisco bastardo, o zambujeiro , e, o medronheiro, ou pascoinhas(Coronilla glauca), giesta-amarela (Cytisus striatus), e o jasmineiro-do-monte (Jasminum fruticans) , (expedições 3, 6, 7 e 9), enquanto que, nos vales húmidos, encaixados e com maior ensombramento, e solos mais desenvolvidos, juntam-se outras companheiras como o folhado (Viburnum tinus), o aderno (Phillyrea latifolia) e o sabugueiro (Sambucus nigra) presentes nas excursões 3 e 7, numa etapa de substituição de bosques de carvalho-cerquinho.


Formações densas de carrasco

Formações densas dominadas por carrasco com porte intermédio (entre o arbóreo e o arbustivo) com capacidades para rebentar por toiça após perturbação (resiliência ao fogo) presentes nas excursões 3, 7, e 9) apresentam um elenco florístico variável com muitas outras espécies de arbustos como o zambujeiro (Olea europaea), pilriteiro (Crataegus monogyna), espargo-bravo (Asparagus aphyllus ), aderno-bastardo (Rhamnus alaternus ) , ou, o Quercus x airensis , um hibrido entre a azinheira e o carrasco e importante endemismo das Serras de Aire e Candeeiro.

De notar que a proliferação de algumas espécies destes matos com destaque par o zambujeiro, se deve , também, à ação dos dispersores de sementes, nomeadamente aves da família dos turdídeos, (residentes e migradoras) que encontram nestes matos refúgio e alimento no decurso das suas invernadas.


Matos - Os matos mediterrânicos predominam neste território.

Matos baixos calcícolas

Os matos baixos calcícolas presentes nas excursões 2, 3, 5, 7, 8 e 9 representam uma etapa de substituição por degradação de formações densas com dominância de carrasco em solos decapitados por erosão provocada pelo pastoreio e fogo, são caracterizados por afloramentos rochosos e coberturas pedregosas , colonizados por tomilhais, alecrinais e tojais , e um elenco florístico de grande diversidade que integra, entre outros Salvia sclaroides , e fenótipos diferentes de Anthyllis vulneraria (especiação simpátrica) . Estes matos baixos e abertos, dominados por grande quantidade de arbustos calcícolas, também considerados "matos de cheiro" apresentam um elenco de inúmeros endemismos lusitanos.


Tojais, giestais e urzais

Tojal de Ulex Jussiaei com Erica scoparia em solos decapitados derivados de calcários descarbonatados com Anthyllis vulneraria, Salvia sclareoides e Lactuca viminea ente outras espécies formando uma etapa subserial de carvalhal de Quercus faginea, (excursão 2 e 5)

Tojal/urzal de Erica scoparia com Quercus airensis em solos derivados de calcários com Rosmarinus officinalis, Thymus sylvestris, Teucrium capitatum, Quercus coccifera, Olea europaea , Orobanche sp., e Daphne gnidium, numa etapa subserial de azinhal com Lonicera implexa presente no território das excursões 7 e 8.

Urzal-tojal denso em clareiras e na orla de pinhal maduro de Pinus pinaster com a torga (Calluna vulgaris) , urze-vermelha (Erica australis), sanganho, (Cistus psilosepalus) tojo (Ulex minor) e tojo-arnal (Ulex europaeus), com urze-branca (Erica lusitanica ) nas clareiras e nas margens de linha de água na área selecionada para visita na excursão 6


Giestais de giesta-amarela (Cytisus striatus ) com companheiras o tojo-arnal (Ulex europaeus) e a gilbardeira (Ruscus aculeatus) encontramos na orla e clareiras de bosques de carvalhos nas excursões 1 (negral) e 2 e 3(cerquinho) , ou nas encostas pedregosas no sopé da Serra dos Candeeiros e orla de pinhal maduro de Pinus pinaster na área selecionada para visita na excursão 7.

Urzais e tojais termófilos em charnecas húmidas

Formações arbustivas de urzes e tojos característicos de solos profundos ácidos e húmidos dominados por botões-de-freira (Erica ciliaris) e tojo-molar (Ulex minor).

Estas formações ocorrem na Freguesia do Juncal, na margem de uma linha de água, de uma forma pontual, em fragmentos isolados de tojais-urzais húmidos, sem continuidade, num habitat diferenciado de todo o envolvente, e, com um elenco florístico bastante interessante como se observa na excursão 6.

Trata-se de um habitat delicado, potencialmente ameaçado com ações que alterem o regime hidrológico a montante e, pela presença de espécies invasoras de porte arbóreo como a haque-picante (regularmente referenciada como Hakea sericea , embora possívelmente se trate da Hakea decurrens, estão ainda a decorrer estudos para confirmar), ou os silvados (Rubus ulmifolius)


Estevas e roselhas; uma família unida

Sargaçais - Matos baixos, dominados por Roselha-grande Cistus albidus em clareiras e orla de bosques de carvalho negral e azinhal (excursão 1) , e carvalho cerquinho (excursão 3), em locais de exposição a Sul, com um clima ameno no Inverno e quente no Verão em solos calcícolas

Estevais - Matos e matagais xerofílicos dominados pela esteva (Cistus ladanifer ) e saganho mouro (Cistus salvifolius) sob coberto de sobreiros e cerquinho, ou pinhal sobre solos pobres e ácidos (excursão 6) . Observa-se ainda alguns fragmentos destes estevais em calcários descarbonatados com populações muito densas, na colonização de zonas ardidas ou perturbadas com alguma frequência como é o caso do planalto da Mendiga (excursão 8) e o sopé da Serra dos Candeeiros (excursão 7)

Matagais baixos densos dominados pela associação do diferentes espécies da tribo Cistus (C. crispus; C. salvifolius; C. albidus), acompanhadas por Lavandula stoechas, Rosmarinus officinalis e Salvia sclaroides em clareiras expostas a sul e solos erosinados derivados de terra rossa representando uma etapa subserial por degradação de cercais, que pode ser observado na excursão 3


Prados naturais, ou nem tanto

A par dos prados e pastagens naturais surgem no Concelho de Porto de Mós áreas de prados e pastagens semeados com espécies forrageiras destinadas ao gado bovino, ovino e caprino. A dispersão das sementes pelo vento e pelos excrementos dos animais domésticos que percorrem os trilhos nos espaços mais naturais provoca uma dispersão destas plantas por todo o território, a par das sementes à base de aveia distribuídas pelas associações de caçadores, e aos proprietários de pequenas parcelas para compensar as perdas provocadas essencialmente pelo coelho-bravo.

Dos prados e pastagens naturais destacam-se:

Arrelvados vivazes de gramíneas altas como as saudades ( Agrostis castellana )em locais onde é possível a acumulação de alguma humidade a nível do solo, dominado por trevos como o trevo-comum (Trifolium pratense ), na excursão 1 (Arrimal)


Prados secos seminaturais em substrato calcário em áreas planas e solos mais profundos (excursão I e II), com uma "rotina" de incêndios (excursões 3, 7 e 8). Estas formações vegetais carecem de solos mais profundos do que os outros habitats herbáceos, o que, tendo em conta as características da região , é mais escasso. Ocorre em manchas pequenas e entre as espécies presentes salientam-se pela sua maior abundância o braquipódio-bravo (Brachypodium phoenicoides), o panasco (Dactylis glomerata), espadana-dos-montes (Gladiolus illyricus) e algumas espécies de orquídeas.


Prados rupícolas calcários ou basófilos (meios de ph básico), caracterizados por solos incipientes, com muitos fragmentos de rocha, e ausência de vegetação arbustiva densa, dominados por plantas suculentas do género Sedum sp num mosaico que integra outras formações vegetais, e, que corresponde, à etapa inicial de sucessão de diversos tipos de vegetação sobre solos calcários em zonas temperadas mediterrânicas.

Estas formações dominadas por suculentas têm por companheiras o Thymus zygis, e outras plantas protegidas como Dianthus Cintranus (nas excursões 3,5,7 e 8) ou Narcissus Calcicola,(excursões 3, 5 e 7), também presentes em outros habitats.


Prados e arrelvados vivazes, pastoreados, pisoteados, temporariamente inundados, em solos argilosos, enriquecidos em azoto orgânico e mineral. que sofrem grande dissecação no verão, na excursão 4(Mira de Aire)


Pastagens anuais, e clareiras de matos abertos com a predominância de braquipódio e vulnerária ( Brachypodium distachyon ) e (Anthyllis vulneraria), uma pastagem endêmica dos calcários portugueses presente no território da excursão III


Ao abrigo das pedras:

Da vegetação casmofítica (que se abriga nas fendas das rochas), destaque para os fetos como o avencão (Asplenium trichomanes), a avenca-negra (Asplenium onopteris) , a douradinha (Ceterach officinarum), e o polipódio, (Polypodium cambricum), presentes nas áreas das excursões 3, 7 e 9 , assim como o feto-dos-carvalhos (Davallia canariensis (L.) Sm.), que a par das fendas das rochas ocupa também espaços frescos e sombrios na base de velhas oliveiras como se regista no território da excursão 8.


Nas fendas profundas em lajes calcárias horizontais ou pouco inclinadas surge um elenco em mosaicos de vegetação arbustiva composto por zambujeiro (Olea europaea), aderno-bastardo ( Rhamnus alaternus) , ruiva-brava ( Rubia peregrina), gilbardeira ( Ruscus aculeatus), salsaparrilha (Smilax aspera), (observável no território das excursões 3, 5 e 9, e herbáceas, onde estão presentes algumas das relíquias da flora vascular deste território, como é o caso como de Saxifraga cintrana, e Narcissus calcicola , representando belos endemismos lusitanos dos Calcários Centro e Sul de Portugal.

Nas cristas calcárias, e afloramentos rochosos onde as condições escassas do solo permitem o desenvolvimento do tomilho (Tymus sp.), forma-se um mosaico com o "carrascal"; rico em espécies com interesse para a conservação como a Inula montana, anserina-amarela (Linaria supina ), Delphinium pentagynum, unha-de-gato (Ononis reclinata) e Ononis pusilla ) observável nas excursões 3 e 9


Nas vertentes rochosas com vegetação adaptada à colonização de paredes verticais ou muros de pedra (vegetação casmófita), surge nas excursões 3, 5 e 9 na continuidade dos afloramentos rochosos e áreas de lajes calcárias , incluindo, no elenco, outras espécies protegidas pelo anexo II e IV da Directiva Habitats, designadamente a arabeta-sadina ( Arabis sadina (Samp.) Cout.) e, assembleias Iberis procumbens Lange subesp. microcarpa Franco & P.Silva.


Vegetação de zonas húmidas: lagoas, cursos de água e outras zonas húmidas

Lagoas- Os dois espelhos de água presentes na depressão da Mendiga vulgarmente chamados de Lagoas do Arrimal, são notáveis exemplos de dolinas depressões de origem cársica, em forma de funil, em que "o bico" atinge os lençóis freáticos, com duas massa de água, permanente, enriquecidas em nutrientes como fosfatos e nitratos, e, com vegetação que se desenvolve no leito e que inclui o ranúnculo-aquático (Ranunculus peltatus ) e a tábua (Typha domingensis ) (excursão 1)


Charcos temporários - Áreas inundadas de Inverno e secas no Verão (as vezes não secam na totalidade) , sem vegetação arbórea, que surgem em pequenas depressões de solos argilosos compactados em áreas de altitude com formações vegetais complexas que integram diferentes comunidades com um calendário florístico tipicamente primaveril, com a presença de diferentes espécies do género Isoetes sp. diversificando, para as áreas menos expostas a submersão, com outras espécies ruderais (excursão 9 Covão de Oles), ou no caso de áreas pastoreadas por ovinos com a presença da erva-de-febra (Poa pratensis L.) e saudades (Agrostis castellana Boiss. & Reut.) nas excursões 3 e 4.


Juncal de Juncus valvatus , em pequena depressão na margem de de lagoa com águas claras e vegetação submersa com um fundo argiloso, compactado em prados de solos encharcados de origem calcária, húmidos, e não salgados. Esta planta endémica do nosso País, é considerada “vulnerável”, sendo “rara” a nível global. No Concelho de Porto de Mós, a população conhecida encontra-se limitada a uma pequena depressão nas margens da lagoa de Alvados (excursão 2).