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As Literaturas em Língua Portuguesa (Das origens aos nossos dias)

José Carlos Seabra Pereira. Lisboa, Gradiva, dezembro de 2019 (1.ª edição)



Passaram já mais de seis décadas desde que surgiu nas livrarias aquele que viria a ser o livro de referência para o estudo da literatura portuguesa, uma obra com uma visão de síntese, sem deixar de ser rigorosa, abrangente, sem deixar de se pautar por critérios de inquestionável qualidade científica, destinada a todos os estudantes e estudiosos da literatura escrita em Portugal, sem deixar de ser exigente e fundamentada: a História da Literatura Portuguesa, da autoria de dois nomes grandes da Universidade portuguesa, António José Saraiva e Óscar Lopes.

Esse foi o livro que acompanhou gerações e gerações de estudantes (e de estudiosos) na reflexão sobre a literatura portuguesa, independentemente do nível de estudos em que o utilizavam e dos objetivos que visavam. Era o seu Vade Mecum e assim se manteve até hoje; e manterá, sem dúvida.

Desde a primeira publicação, entretanto, o mundo mudou e o panorama do estudo da língua portuguesa também. O número de estudantes da nossa língua aumentou enormemente, do mesmo modo que se alargou o espaço (os territórios) onde a estudavam. Hoje, aprende-se português em todos os continentes e em muitos países nos quais, há seis décadas atrás, isso seria quase impensável. Alguns exemplos são particularmente significativos, como seja o da Ásia, em particular da República Popular da China, onde o Português é estudado em mais de quarenta universidades e por mais de seis mil estudantes (Macau incluído, claro).

Ora, como é sabido, é tarefa vã, redutora e metodologicamente errada estudar a língua sem, com ela, refletir sobre as culturas que nela se exprimem e, por essa mesma razão, as literaturas que nela se escrevem. Ora, o Português é língua de muitas culturas e muitas literaturas, pelo menos tantas quantos os países que a falam (bem mais do que eles, em boa verdade). Se nos ativermos à literatura, a aprendizagem da língua portuguesa tem de andar de par com um olhar sobre os textos e escritores que dela fizeram uso, em África, ou melhor, nas várias Áfricas, por serem plurais os territórios do Português e suas literaturas, no Oriente, particularmente em Macau, em Timor e na Índia, e no Brasil. Em todo o mundo em que se aprende Português, nos cinco continentes, o interesse de ensinantes e aprendentes recai, em grande medida, sobre todos esses territórios e culturas e não apenas sobre Portugal.

Todo este raciocínio nos leva, como facilmente se depreende, à conclusão de que faltava ao olhar sabiamente traçado na História da Literatura Portuguesa de António José ·saraiva e Óscar Lopes, um aspeto essencial, no que respeita ao seu uso no ensino do Português como Língua Estrangeira: um olhar igualmente breve, mas não menos atento e rigoroso, para as outras literaturas de língua portuguesa.

Precisávamos, pois, de uma obra que não se limitasse à Literatura Portuguesa, mas que se alargasse, de forma abrangente, às demais literaturas de língua portuguesa. Mas precisávamos, igualmente, de que tal obra tivesse em conta esse público alvo muito específico que são os milhares de aprendentes do Português mundo fora, com os seus condicionalismos próprios: um público heterogéneo, com patamares de conhecimento muito assimétricos, com interesses diversificados. Ou seja: uma obra acessível, mas rigorosa, útil a quem se limita à superfície das coisas, mas não menos instrumental para quem pretende descer mais fundo na sua reflexão e no seu conhecimento. […]


Carlos Ascenso André, “Prefácio” a As Literaturas em Língua Portuguesa (Das origens aos nossos dias), José Carlos Seabra Pereira. Lisboa, Gradiva, dezembro de 2019 (1.ª edição)
As-Literaturas-em-LP_Indice.pdf
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