"Poesia útil" e literatura de resistência


A literatura como arma contra a ditadura e a guerra colonial portuguesas, no séc. XX

Poucos, muito poucos foram os poetas que se mantiveram alheios aos anos de ferro e manha da ditadura salazarista. De forma mais explícita ou mais discreta, mais pessoal ou pública, com palavras de indignação, de denúncia ou verrina, raros foram aqueles que não lavraram um pequeno ou grande incêndio nos seus livros, num ou noutro poema, num verso apenas que fosse. (José Fanha in apresentação De Palavra Em Punho – Antologia Poética da Resistência. De Fernando Pessoa ao 25 de Abril. Porto, Campo das Letras, 2004)

Apesar de esta tendência, que aqui designamos como poesia de intervenção, não existir enquanto movimento literário autónomo (e, em rigor, com ela possamos relacionar autores das mais distintas profissões de fé estético-literárias), adotamos a proposta terminológica sugerida por Óscar Lopes: «Em termos de poesia de qualidade, não é possível isolar uma tendência de intervenção política ou de intenção realista, pois ela manifesta-se, e por vezes de modo bem vivo, em obras de sensibilidade tão diferente como as de Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner, Alexandre O’Neill […] Vamos no entanto agrupar um conjunto de poetas cuja fase de consagração se liga a uma clara atitude de polémica ou de crítica social.» (Lopes e Saraiva, 1996:1069 apud Sílvia Cunha, 2008 :47)


ÍNDICE:

O 25 de Abril num minuto


No dia 25 de abril de 1974, um grupo de militares derrubou a ditadura em Portugal e devolveu a liberdade à população.

Num minuto fica a saber como funcionava o Estado Novo e o que aconteceu no dia da revolução (RTP, 2012).

Leitura orientada de obras de intervenção sociopolítica do século XX português

A literatura portuguesa da segunda metade do século XX


Se olharmos a literatura portuguesa notamos que é frequente a história dar as mãos ao universo literário criado pelo escritor. Por isso, julgamos que é possível encontrar na segunda metade do século XX uma nova fase importante da nossa literatura com outra postura e filosofia dos escritores e intelectuais portugueses. O regime ditatorial, a Segunda Grande Guerra (1939-1945), a emigração, a geração de 60, a guerra colonial, das imagens saudosistas e nostálgicas de África, a transição para a democracia são temas constantes que se apresentam como dado histórico, mas que em muitos autores constituiu luta e anseio. Há uma literatura com uma mensagem de consciência.


E se muitos são temas de intervenção comprometida, continuamos a encontrar uma poesia e uma prosa da vida contra a morte, da busca do sagrado, da procura da identidade, dum certo messianismo e utopia, de máscaras, de aniquilamento e de vazio. A literatura portuguesa, tal como a literatura contemporânea do Ocidente, apresenta-se, como a arte, num certo caminho do absurdo, talvez porque o Homem, com tantas descobertas científicas e avanços tecnológicos, não encontrou ainda uma explicação para a vida.


A nossa identidade é uma constante da poesia que, embora abordando muitos temas universais, está atenta às questões que se colocam ao homem e à mulher portugueses. Encontramos a poesia-combate e a que exprime ternura e o amor, a que denuncia e a que reflete sobre a condição humana ou a que alerta para o mundo em que vivemos e a que nos dá a consciência de Povo e de País.

V. Moreira e H. Pimenta, Dimensão Comunicativa 10, Porto Editora, 1997

Portugal sob a égide da ditadura: o rosto metamorfoseado das palavras


Ao longo de cerca de quarenta anos, o regime ditatorial português procurou implementar uma imagem ideológica do país que funcionasse como um meio de congregar toda a população, na medida em que cada português se identificaria com esse retrato. Se a partir de meados do século XIX se criou a consciência de que cada povo teria traços identitários que os distinguiriam de todos os outros, emergindo as chamadas identidades nacionais, no Portugal salazarista vai implementar-se a construção de discursos sobre o país e os seus habitantes que vão privilegiar um conjunto de características reveladas nos portugueses de épocas anteriores, mais concretamente a dos Descobrimentos. Recuperando uma imagem de Portugal que, desde sempre, tem acompanhado o percurso evolutivo deste país, o Estado Novo difunde-o como algo novo e impossível de ser questionado ou refutado uma vez que esse construto emana dos detentores do poder e, por isso mesmo, ele é visto como legítimo. Com o intuito de salvaguardar esses discursos sobre um Portugal heroico, com um destino a cumprir, protegido por Deus desde os primórdios e que deve depositar no Estado a confiança absoluta, dado que só este tem a capacidade para comandar e decidir pelos portugueses; o aparelho de Estado usou como meio de controlo a censura que se num primeiro momento só amputava ou silenciava discursos de carácter político, posteriormente adquiriu competências de tal forma latas e parciais que todo o tipo de discurso era alvo da sua atuação.

É nesse ambiente castrador, opressivo e nefasto à criação artística que os mais variados autores, independentemente do seu posicionamento ideológico e/ou estético, acabaram por construir um conjunto de subterfúgios que lhes permitiam não só escapar ao braço tentacular da censura como implicar o leitor na completa descodificação dos seus textos uma vez que era a este último que competia compreender a total significação dos símbolos utilizados pelos autores para repreenderem os valores impostos pelo Estado bem como para desconstruírem a imagem de Portugal que o regime tão habilmente (re)montara. Ao longo de quase quarenta anos, os mais diversos escritores optaram por ludibriar a máquina censória recorrendo a diversos artifícios que o seu ofício lhes disponibilizava: a reflexão sobre o seu material de escrita, a sua própria função ou a sua vida pessoal; o recurso a metáforas profundamente visuais como os monstros, o medo, os fantasmas; o reaproveitamente de intertextos clássicos, bíblicos ou da lírica trovadoresca; a descrição do reino da Dinamarca e a manipulação de Hamlet de Shakespeare para, a partir deles, revelarem metamorfoseadamente o que eles consideravam ser o verdadeiro rosto de Portugal ou, pelo menos, o outro-rosto, aquele que o Estado arduamente queria rasurar. Durante este período, várias foram as formas encontradas para impedir que o Estado conseguisse tornar inaudíveis as vozes de repúdio e de contestação e, principalmente ao nível da poesia, intensificou-se essa espécie de “criptotransmissão” que transformou a maioria dos poemas em poesia de intervenção. No fundo, o texto poético procurava implodir uma construção que o regime havia feito e revelar o que nela havia de manipulação e falseamento da história pátria; por isso mesmo, alguns autores vão não só questionar os valores do Estado Novo como utilizar os escritores símbolos da pátria e da sua glória, como Camões e Pessoa, de forma a evidenciar o facto de que as suas imagens de Portugal não correspondem à vivência quotidiana da população, haviam ocultado os lados menos positivos do país e que o tinham aprisionado num tempo inexistente: o Portugal dos Descobrimentos que se pretendia recuperar.

A partir da poesia dessa época torna-se notória a intervenção do poeta na realidade que o cerca não só para a modificar, mas para aceder ao poder simbólico – confinado aos detentores do poder político – de forma a derrubar o regime, libertar as palavras da sua clausura e veicular outros quadros do país, mais conformes com a pátria que desejava para si.

Contudo, após o fim da ditadura, os quadros valorativos e os depreciativos do país continuaram a circular como se não fosse possível descobrir uma imagem una de Portugal, como se os portugueses não conseguissem saber quem são ou o que querem ser. Uma taxonomia identitária foi substituída por outra, a censura foi abolida, porém o país não (re)encontrou o seu rosto próprio dado continuar enclausurado num mito que o Estado Novo tão habilmente difundiu e incutiu no espírito dos portugueses: Portugal é um país predestinado que deve apagar o seu presente para retornar à época em que foi grande e glorioso.

Portugal sob a égide da ditadura: o rosto metamorfoseado das palavras.

Paula Morais. Universidade do Minho – Instituto de Letras e Ciências Humanas, julho de 2005

O papel do canto de intervenção (1960-1974)


Porquê canto e não canção ou música de intervenção?


Porque a segunda hipótese alargaria o objeto de estudo a formas musicais tão diversas que originaria uma dispersão que dificultaria bastante -ou, porventura, inviabilizaria o trabalho nos moldes propostos. A opção pela designação de canção de intervenção levaria necessariamente a considerar, por exemplo, cançonetas muito popularizadas como as interpretadas por Fernando Tordo e Tonicha, respetivamente “Tourada” e “Desfolhada”, premiadas nos Festivais RTP da Canção, nos inícios de 1970, onde a crítica social está subjacente. A opção pela denominação de música de intervenção implicaria a inclusão do jazz, e isto se tivermos em conta que em Novembro de 1971, no Festival “Cascais Jazz”, Charlie Haden dedicou o tema “Song for Che” aos movimentos de libertação da Guiné, Moçambique e Angola, o que lhe valeu um interrogatório de sete horas pela DGS. Em 1973, neste mesmo festival, voltou a haver manifestações contra a guerra colonial. Tendo em conta estes aspetos optámos pela primeira designação.


O Canto de Intervenção concretiza uma postura quer do intérprete –que sendo também autor tomou a designação de “cantautor”‑ quer do autor da letra e do compositor, em que o canto assume um papel, torna-se um veículo, um agente, uma arma lúdica, no caso presente, contra o regime, transmitindo mensagens de contestação e resistência. Porque é canto, o poema adquire especial relevo. Entre nós, na década de sessenta, tomou a forma de trova e de balada, consequência duma evolução originária na viragem que o Canção de Coimbra sofre em meados de cinquenta, e que tem entre os seus protagonistas José Afonso. Mas o canto de intervenção tem uma história com antecedentes de muitos séculos, quer no nosso país, quer no Mundo Mediterrânico.

Ler mais: «O canto e o cante, a alma do povo», Eduardo Raposo, 2005.

O canto como instrumento de intervenção social


O canto de intervenção teve as suas origens numa realidade contestada, estigmatizada pela pobreza, pela miséria, pela injustiça social, pela repressão política que imperavam – e que urgia denunciar. O canto ‑ através da música e dos textos poéticos ‑ pretendia provocar a consciência das pessoas e abrir, simultaneamente, novos caminhos para uma mudança que propiciasse substanciais melhorias nas condições de vida das pessoas. […]


A este tipo de canção também se denominou «canção de protesto», «canção de resistência», «canto livre» ou «canção de esquerda». […]


Como alega José Barata Moura, citado por Letria (1999:11), “Falar de canção de intervenção em Portugal é falar também da nossa história, da luta do nosso Povo contra o fascismo e contra o colonialismo, pela consolidação da sociedade democrática na perspetiva do socialismo.”


No canto de intervenção que em Portugal se vem fazendo há já umas dezenas de anos, são, na verdade, os diferentes e variados problemas decorrentes de toda esta ampla movimentação social que multifacetadamente se refletem, segundo perspetivas e compromissos diversos mas no essencial convergente.


Importa destacar em balanço, e em síntese, a nossa memória coletiva partindo da ideia que o canto de intervenção surge como uma das áreas essenciais da Resistência em Portugal. Após proibição do Direito de Reunião e Liberdade de Associação por decreto fascista, a canção abordando temas de carácter económico, social, representava a firma vontade do cantor em resistir às contrariedades dos elementares direitos cívicos dos seus concidadãos. Portugal não foi exceção. Em todo o mundo, o canto reprova a ineficácia e a opressão e valoriza as melhores expectativas com vista à obtenção de uma vida melhor. Os temas surgem dos confrontos existentes entre os trabalhadores e os patrões, muitas vezes, ávidos do poder e do lucro. A miséria e a opressão eram duas forças que mobilizavam os compositores a escrever e a musicar autênticos hinos de revolta.


Numa breve perspetiva diacrónica de oposição a quem representava o poder, podemos salientar o fado de pendor social, por vezes, denominado fado operário ou libertário que surge como forma de concretização até de sublimação das suas naturais ambições das suas lutas, expressão dos seus sentimentos. Raposo (2007:23) refere: “o fado faz então o tratamento lírico de temas sociais como a fome, a miséria, a luta contra os patrões, a fé numa vida melhor no futuro onde a vitória final seria um dado adquirido Um dos primeiros fadistas que se notabilizou neste tipo de fado foi Alfredo Marceneiro. No tema “Cabaré” podemos ouvir: “tinha um filhinho doente quase à morte /e a pobre ganhava a vida, só de fel /cantando a rir tristemente, por má sorte /uma canção de perdida, bem cruel.” Também em “A Janela da Vida” é referido:


“Para ver quanta fé perdida / e quanta miséria sem par /há neste Orbe, atroz ruim. /Pus-me à janela da vida / e alonguei o meu olhar /p´lo vasto mundo sem fim /. Vi dar aos ladrões valores /e sentimentos perdidos /mas que passam por honradas /vi cinismos vencedores /muitos heróis esquecidos / e vaidades medalhadas. / Esse é rico e não tem filhos / que os filhos não dão prazer/a certa gente de bem, /aquele tem duros trilhos /mas é capaz de morrer /p´los filhos que tem.”


O poema de Pedro Homem de Melo apresentado em 1963-“Povo que lavas no Rio”, celebrizado por Amália Rodrigues, também testemunha a importância do fado social – “Povo que lavas no rio /que talhas com o teu machado /as tábuas do meu caixão. /Pode haver quem te defenda /quem compre o teu chão sagrado /mas a tua vida não.”


Assistimos à admiração amorosa confessada, por parte do poeta relativamente ao povo português. Aquele valoriza o seu povo que enfrenta com coragem, com humilde resignação, o sofrimento da pobreza num país fortemente rural vivendo sob o domínio de uma feroz ditadura salazarista. (BELO: 2010, pp. 55-56) […]


O cante alentejano, pelos temas que aborda – o trabalho, a tristeza, a alegria, o sofrimento a miséria, a solidão, a velhice, revela uma determinada resistência ao poder instituído ao longo das gerações. Por norma, são os mais velhos que utilizam esta tão peculiar forma de reagir, porquanto são os portadores das raízes à terra de origem […]


Convém não esquecermos as sucessivas fases da evolução da Música Portuguesa: desde o Fado, dito de Lisboa, passando pelo Cante Alentejano, pelo fado de Coimbra, pela Balada e por diferentes formas musicais do meio urbano, todos contribuíram para o aparecimento de uma raiz genuína. […]


O ano de 1965 e o “cantautor” José Afonso propiciaram o aparecimento da nova forma musical com raiz no fado: a balada. Segundo Manuel Alegre cit. por Raposo (2007:61)


“Tudo mudou. Era um tempo novo, quase vertiginoso. Um ritmo que estava na vida e dentro de nós. Um ritmo que tinha de terá a sua expressão na guitarra, na poesia na canção. Foi então que se deu o encontro da poesia e da música, do poema e da voz. Tudo se transformava em instrumento de luta e de intervenção. A tensão vivida, a energia nova exigiam uma poética nova, uma poética ativa e útil […] A vontade de mudar criava uma nova ética e precisava de uma estética nova. E nasceram as trovas.”


Desta forma, surge a balada. Esta resulta da junção da poesia de carácter mais sentimental, até então, mais elitista com a do género popular adquirindo um cunho sui generis.


A poesia musicada de intervenção teve múltiplos intervenientes quer na poesia quer na música. A nível de poemas musicados notabilizaram-se José Carlos Ary dos Santos, Manuel Alegre, José Jorge Letria, Sophia de Mello Breyner, entre outros. A nível de cantores, podemos salientar Manuel Freire, Francisco Fanhais, Carlos Alberto Moniz, Fausto Bordalo Dias, Janita Salomé, Pedro Barroso entre outros

Excertos de A Poesia Musicada de Intervenção em Portugal (1960-1974): a sua aplicabilidade no Ensino Secundário, José Belo. Vila Real, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 2010

A cantiga era uma arma


Um documentário sobre a chamada música "de intervenção" ou "de protesto" que se seguiu ao 25 de abril de 1974

Título Original: A Cantiga Era uma Arma

Realização: Joaquim Vieira

Produção: Nanook

Autoria: Joaquim Vieira

Ano: 2014

Duração:90 minutos


Com o 25 de Abril e os meses que se seguiram, a chamada música "de intervenção" ou "de protesto" atingiu o seu apogeu. Músicos e poetas puseram-se ao serviço dos novos tempos revolucionários e meteram-se à estrada, de norte a sul do país, para levar a toda a população a mensagem libertadora anunciada pelos capitães no "dia inicial inteiro e limpo". Mensagem que cada um interpretava à sua maneira, dedicando-se de corpo e alma a difundi-la apesar das condições precárias em que se organizavam os espetáculos musicais. Com autoria e realização de Joaquim Vieira, A Cantiga É uma Arma reconstitui toda essa atmosfera, única e irrepetível, a partir do ponto de vista dos que a viveram, contando com os depoimentos inéditos de Carlos Alberto Moniz, Ermelinda Duarte, Fausto, Fernando Tordo, Francisco Fanhais, José Jorge Letria, José Mário Branco, Luís Cília, Manuel Freire, Maria do Amparo, Paulo de Carvalho, Samuel e Sérgio Godinho, além do registo feito na época, em som e imagem, de cerca de meia centena de canções.

Fonte: https://www.rtp.pt/programa/tv/p30965

O Fascismo em Portugal


1. Da ditadura militar ao Estado Novo

Depois da I Guerra Mundial, em que Portugal combateu ao lado dos Aliados (não sem uma forte oposição interna), as classes dominantes do país (grandes latifundiários, banqueiros, oficiais superiores do exército e Igreja) intervieram ativamente para acabar com a República Constitucional, cuja trajetória discorria envolta em sucessivas e insuperáveis contradições. Com o final da Guerra, agravaram-se as questões económicas, financeiras e sociais. Tudo isso alarmou a consciência pequeno-burguesa, base do regime republicano. «Só a ditadura nos pode salvar», começou a ser opinião corrente em 1924. E a ditadura não se fez esperar depois do golpe militar de 28 de maio de 1926, a partir do qual o poder central e local ficou inteiramente em mãos militares.


Contudo, a ditadura militar sofreu alguns reveses, pois nesta altura o aparelho de estado estava completamente desorganizado. Este facto foi causado pela sucessiva mudança de chefes do Executivo, pela impreparação técnica dos chefes da ditadura o que resultou no aumento do défice orçamental, e, por fim, pelo desaparecimento da adesão entusiástica dos primeiros tempos.


A obra da primeira República tem apreciações várias. Para uns, foi um período negativo, que substituiu a autoridade pela demagogia, desorganizou o aparelho de Estado e empobreceu o País. Para outros, não passou de uma época em que se experimentou a governação democrática e que interessou o país pela política.


A 25 de Abril de 1928, Carmona foi eleito Presidente e o Professor Oliveira Salazar ficou encarregado do ministério das finanças, devido à sua perspicácia financeira. Com Salazar o País tomou um novo rumo, tendo mesmo apresentado saldo positivo. A teoria de Salazar era: “Nada contra a Nação, tudo pela Nação.”


Em julho de 1932, Salazar foi nomeado para a chefia do estado, facto que foi aceite da melhor forma.


Em 1933, uma nova constituição com o nome de Estado Novo mudaria a designação militar da ditadura pela civil. Os partidos políticos foram proibidos e instaurou-se uma férrea, mas não invulnerável, censura à imprensa. A maior parte dos intelectuais permaneceram à margem do regime, uma parte em oposição complacente, e outra parte em contestação aberta que, mais tarde, se iria intensificar quando as circunstâncias externas, depois da II Guerra Mundial, foram menos favoráveis ao desenvolvimento do regime, simpatizante da Alemanha derrotada.


Terminada a II Guerra Mundial, Salazar tinha conseguido debelar a crise financeira da nação; contudo, não se instaurou nenhum processo de que pudessem sentir-se beneficiárias as classes mais oprimidas, especialmente os trabalhadores do campo. A guerra fizera emergir, cruamente, as realidades fundamentais até então escamoteadas: a pobreza crónica, a servidão, os poderes corruptos. As massas rebelavam-se, tomavam a iniciativa, ou eram instigadas nesse sentido.

2. A construção do Estado Novo, um estado antiliberal, conservador, nacionalista, corporativo, autoritário e colonial.

O Estado novo teve como base as seguintes organizações:

  • a União Nacional;

  • o Ato Colonial;

  • a Constituição de 1933;

  • o Estatuto de Trabalho Nacional;

  • a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa.

Tal como o fascismo, do ponto de vista ideológico, o Estado Novo era caracteristicamente: Antiliberal, antidemocrático e antiparlamentar.

Conservador: valorizava os conceitos morais tradicionais (Deus, Pátria, Família, Autoridade, Paz Social, Hierarquia, Moralidade, Austeridade). O princípio da autoridade era a base daquele sistema que pretendia formar mentalidade prontas a obedecer e a servir.

De forma a servir os interesses nacionais o Estado Novo:

  • consagrou a ruralidade como centro de todas as virtudes;

  • deu privilégio à igreja católica;

  • reduziu a mulher a um papel passivo a todos os níveis;

  • louvou e comemorou os heróis e o passado glorioso;

  • utilizou as escolas oficiais como meio de formar consciências;

  • valorizou as produções culturais portuguesas.

Nacionalista: procurou organizar um original quadro institucional que conseguisse o apoio da Nação. Assim, a União Nacional encarnaria o espírito da Nação. Salazar considerava a União Nacional, a solução política verdadeiramente nacional, que não partilhava nem dos ideais democráticos nem das experiências democráticas.

Corporativo: era constituído por organizações representativas da Nação, onde se debatiam os interesses dos indivíduos.


A função da família era eleger as chamadas juntas de freguesia e a esta cabia o dever de eleger os municípios. As corporações morais, culturais e económicas incluíam desde instituições de assistência e caridade até Sindicatos Nacionais: Estes últimos concorriam para a eleição de municípios e estavam representados na Câmara Corporativa (sede genuína da representação orgânica).


O Estatuto do Trabalho Nacional teve por base a Carta do Trabalho italiana do Trabalho O Estatuto do Trabalho Nacional defendia que os trabalhadores deviam se organizar em Sindicatos Nacionais de acordo com a profissão de cada um.

Autoritário e dirigista: a valorização do poder executivo refletia o autoritarismo do Estado Novo. Um dos objetivos de Salazar era devolver “independência, estabilidade, prestígio e força” ao poder executivo. Na Constituição de 1933 foi reconhecida a autoridade do Presidente da República como o primeiro poder dentro do Estado. Por seu turno, o Presidente do Conselho de Ministros tinha funções várias: superintender, legislar, propor nomeações e exonerações, referendar os atos do Presidente da República.


A “ditadura do poder executivo evidenciou-se através da subalternidade do poder legislativo. Neste período a Assembleia estava limitada à discussão de propostas que o governo submetia à sua aprovação.


O Estado Novo, além de forte e autoritário foi também intervencionista. Salazar defendia que o progresso económico devia ser conduzido pelo governo.

Colonial: o Ato Colonial de 1930 definiu a política colonial do Estado Novo:

  • deu novo ânimo à missão histórica civilizadora dos Portugueses nos territórios ultramarinos;

  • escolheu a integração política e económica das colónias.

3. A adoção do modelo fascista italiano

Apesar de condenar o totalitarismo dos estados fascistas contemporâneos, o Estado Novo criou um projeto totalizante, recorrendo para esse fim a processos e estruturas político-institucionais próprias dos modelos fascistas, especialmente do italiano.


Deste modo, o Estado Novo:


  • monopolizou a vida política à volta de um só partido;

  • incluiu as atividades sociais, económicas e culturais numa organização corporativa;

  • instituiu um aparelho repressivo que atuava sobretudo através da censura, e, que possuía um corpo policial político - Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE);

  • obrigava o funcionalismo público a repudiar o comunismo e todas as ideias subversivas;

  • possuía um organismo estadual (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho - FNAT) que tinha a função de controlar os tempos livres dos trabalhadores;

  • criou duas organizações milicianas - a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa - com a finalidade de enquadrar as massas;

  • controlou o ensino através da adoção de um livro único que transmitia os valores do Estado Novo;

  • garantiu uma orientação oficial à cultura e às artes,

  • impôs um poder político personalizado na figura do Chefe.



Adaptado de: LASO, J.L.Gavilanes, Vergílio Ferreira - Espaço Simbólico e Metafísico. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1989. PINTO, Ana Lídia et alii, Temas de História 12, vol.1. Porto, Porto Editora, 1995. SARAIVA, José Hermano, História Concisa de Portugal. Mem Martins, Publicações Europa-América, 1986 (10ª ed.) [1ª ed. 1978]

A PIDE existiu. E torturou.


A 25 de Abril de 1994, comemoraram-se os 20 anos do derrube dos 48 anos de ditadura fascista em Portugal. Como comemoração dessa data importante, levaram à televisão um ex-pide, para dar o seu testemunho. Durante o debate o ex-pide defendeu-se tão naturalmente que encobriu todos os maus tratos executados pela PIDE, contradizendo, assim, a declaração de alguns indivíduos que noutras alturas tinham confirmado as terríveis torturas. Sobre esta polémica, leia o texto de Diana Andringa publicado no jornal Público, de 16-04-1994.

Os cortes dos serviços de censura portugueses, durante o Estado Novo


A censura é um instrumento usado por regimes totalitários para impedir que a imprensa e outros meios de difusão de mensagens, incluindo as criativas, como as da arte (pintura, escultura, música, teatro, cinema...) possam pôr em causa a ideologia vigente e fomentar a consciencialização para qualquer revolta contra o regime.

A censura fez parte integrante da nossa História, imperou em muitos períodos, constituiu uma arma de defesa da Igreja e do Estado.

Em junho de 1926, na sequência do golpe militar de 28 de maio, é instituído um regime de censura prévia. Em 1933, a censura é legalmente instituída através da Constituição e do decreto-lei nº22469. Mais tarde, a Lei nº150/72 prevê que os artigos para publicação tenham uma das seguintes anotações: "autorizado", "autorizado com cortes", "suspenso", "demorado", ou "proibido".

Durante o Estado Novo, a censura esteve sempre ativíssima em todas as vertentes culturais. Na imprensa periódica (onde ficou conhecida por "lápis azul") suprimia, alterava, cortava palavras, expressões ou parágrafos inteiros, adiava ou impedia a saída de notícias?

A Comissão do Livro Negro do Fascismo afirmou, em 1984, que durante o regime Salazar/Caetano foram proibidas cerca de 3300 obras.

Escondidos e vendidos apenas a clientes de confiança, em determinadas livrarias era possível adquirir os livros proibidos, numa espécie de jogo do polícia e ladrão.

A luta contra a censura foi feita através da Imprensa escrita, em suplementos literários ou juvenis, nas tertúlias, na imprensa clandestina? mas só a Revolução de abril de 1974 pôs fim à censura em Portugal.


censura”. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-12-08].

O Estado utilizou a censura para controlar a palavra dos mais diversos autores que tinham uma visão do país oposta à do regime. A mera referência a «aspetos económicos e sociais, capazes de refletirem uma sociedade subdesenvolvida, ou de evidenciarem a realidade da difícil vida quotidiana do operariado e dos trabalhadores do campo, ou a luta de classes e o sindicalismo, eram obviamente suscetíveis de conduzir à proibição de uma obra, ou à imposição de cortes mais ou menos extensos no respetivo texto, mesmo quando aquela se reportasse a tempos mais antigos.» (cf. Mutiladas e Proibidas: Para a história da censura literária em Portugal nos tempos do Estado Novo, Cândido Azevedo. Lisboa: Editorial Caminho, 1997, pp. 121-122.)

Durante este período não eram só as palavras dos escritores e/ou dos opositores ao regime que eram violadas e esquartejadas. Mesmo em situações mais quotidianas, como a correspondência de cada português, era notória a interferência da censura já que havia uma primeira leitura que não era a do seu destinatário. Devassada a intimidade de cada pessoa, perdida qualquer possibilidade de compartilhar pontos de vista diferentes, mais não restava do que solicitar ao correio que não matasse as cartas, que não truncasse as palavras que pertenciam a quem as escreveu e não ao censor:


SONETO AO SENHOR CORREIO


Senhor Correio, Senhor Dom Correio,

por favor, por favor, Vossa Excelência

não abra as minhas cartas porque é feio

e tudo o que for feio falta à decência.


Eu leio as suas cartas? Não, não leio.

Se suas cartas lesse era demência.

Senhor Correio, veja se há um meio

de ter um pouco menos de inclemência.


Porque enfim o que escrevo a mim o devo,

Senhor Correio, é meu tudo o que escrevo,

e a tinta expressando as minhas falas.


É qualquer coisa mais que intimidade.

Senhor Correio, sabe que é verdade,

violar minhas cartas é matá-las.

Sidónio Muralha, “Poemas de Abril” (1974)

in Obras Completas do Poeta,

Lisboa: Universitária Editora, 2002, pág. 253.

Miguel Torga (in A Criação do Mundo, 1937-1981) considera, neste contexto, que a monstruosidade acontecera e que ela se perpetuava; a pior tragédia era aquela que convertera os portugueses em exilados dentro da sua própria nação porque “Todo aquele que erguia nela a voz discordante, pertencia à seita maldita”. Nessa pátria encarada como “chão sagrado de amor e de prova”, o ambiente político coercivo e castrador asfixiava todas as vontades que queriam emitir um parecer discordante e “transformara a nação num espaço de terror, onde o silêncio tomava corpo no carimbo da censura, e os inconformados arquejavam sob o pesadelo latente da polícia secreta.”

Portugal sob a égide da ditadura: o rosto metamorfoseado das palavras.

Paula Morais. Universidade do Minho – Instituto de Letras e Ciências Humanas, julho de 2005

Leia os seguintes fragmentos da imprensa portuguesa onde se verificaram intervenções dos Serviços de Censura portugueses e faça uma análise de cada um dos casos de modo a justificar os cortes:



A relação da comunicação social portuguesa com o poder político, antes e depois do 25 de Abril de 1974


Os textos que se seguem permitem-nos conhecer, por um lado, a relação dos órgãos de comunicação social portuguesa do século XX com as forças políticas e, por outro, o papel dos mesmos na divulgação dos valores democráticos.


TEXTO 1:

“Situação da indústria dos media e do jornalismo”


Capítulo do Estudo elaborado para a Representação da Comissão Europeia em Portugal: “Situação do Ensino e da Formação Profissional na área do Jornalismo”, 1996-97.

Autores: Mário Mesquita e Cristina Ponte.

1. Situação da indústria dos media e do jornalismo

1.1. A génese do sistema dos media na democracia portuguesa (1974-1976)

A Revolução de 25 de Abril de 1974 pôs fim ao «exame prévio» institucionalizado pelo salazarismo ao longo de quase cinquenta anos. Abolida a censura, os media passaram a viver em regime de liberdade de expressão.

Os dispositivos herdados do antigo regime - designadamente as empresas públicas de televisão e rádio - mudaram de orientação, mas mantiveram muitas das suas características no plano comunicacional. Novos conteúdos tomaram de assalto as velhas formas: as câmaras da RTP e os microfones da antiga Emissora Nacional difundiam pelo país atos de posse, debates políticos, comícios partidários e reivindicações de comissões de trabalhadores e moradores...

Da euforia da libertação e da possibilidade de escrever sem a sombra do lápis azul do censor passou-se, quase sem transição, a uma luta incessante pelo controlo dos media. Nuns casos visava-se legitimar os partidos políticos e conquistar o eleitorado, noutros utilizavam-se os media enquanto meros instrumentos persuasivos ao serviço de «grandes causas» (1).

Diferentes conceções do jornalismo conduziram a afrontamentos dolorosos. Ao longo dos anos de 1974 e 1975, a comunicação social foi, simultaneamente, lugar de afirmação do poder em construção e palco de luta pela definição do futuro sistema político, económico e social. Algumas forças políticas julgaram que seria possível legitimarem-se através do controlo dos media e da ligação às bases populares, dispensando os mecanismos da democracia representativa (2).

Jean-Paul Sartre disse, durante uma visita a Portugal, no ano de 1975, que a Imprensa portuguesa daquela época, fosse de esquerda ou de direita, «não explica(va) nada» (3). Manipulava comunicados emanados dos centros de decisão militares ou partidários. O Conselho de Imprensa, órgão independente do Governo, criado por iniciativa do novo regime, recorreu a palavras e expressões como «monolitismo» e «tom propagandístico» (4) para caracterizar o discurso jornalístico dessa época.

Na imprensa, na rádio e na televisão imperavam os paradigmas da propaganda, característicos dos anos 30 e 40, que postulavam a sobrevalorização do poder persuasivo dos media. Essas representações e modelos de atuação eram inspirados em «fontes ideológicas ou partidárias» de tendência revolucionária e em experiências de «ação psicológica» ensaiadas pelas forças armadas portuguesas na guerra colonial.

A reivindicação de «controlo operário» sobre o conteúdo de jornais, liderada pelos trabalhadores gráficos, esteve no centro de vários conflitos em empresas jornalísticas. Situações dramáticas de luta pela posse de órgãos de Comunicação Social, como os casos República e Renascença, desencadearam manifestações de rua e levaram à queda de um dos governos provisórios (5). A televisão foi também objecto de polémicas quase permanentes.

Apesar de todos os incidentes ocorridos, o círculo das «novas censuras» nunca se fechou completamente sobre si próprio. Ainda que de uma forma imperfeita e irregular, refletindo os andamentos do processo político, os media contribuíram para a criação do novo espaço público democrático. Desempenharam um papel de pedagogia cívica através da divulgação das regras indispensáveis à preparação dos primeiros atos eleitorais. Conferiram visibilidade aos novos órgãos governativos, aos partidos políticos, aos sindicatos, às personagens civis e militares que ajudaram a instaurar o novo regime. Apesar da turbulência revolucionária que se manifestava nas ruas e nos quartéis, organizaram-se teledebates entre líderes políticos (6). Numa palavra, a orientação dos media oscilava ao sabor das conjunturas e dos equilíbrios, no interior de cada empresa, entre o tropismo propagandístico e o pluralismo democrático.

1.2. A fase de predomínio institucional (1976-1985)

Se os anos do «processo revolucionário» foram assinalados pela preponderância do militantismo, a década seguinte foi marcada por um jornalismo em que predominavam as instituições políticas e os respetivos porta-vozes. A entrada em vigor da nova Constituição, em abril de 1976, assinalou a institucionalização da democracia e do sistema pluralista em Portugal. As lutas pelo controlo dos media prosseguiram, mas num quadro de democracia e pluralismo.

A propriedade estatal da televisão, a pertença ao Estado (Radiodifusão Portuguesa) e à Igreja Católica (Rádio Renascença) das principais estações de rádio e a coexistência do sector público e do sector privado na área da imprensa escrita eram as principais características da comunicação social nesse período de estabilização da democracia portuguesa.

O sector público da imprensa escrita diminuiu os efeitos da lógica de mercado na política editorial dos jornais, sobretudo no período de 1974 a 1980, visto que, no início da década de 80, com o surgimento de novos títulos como o Correio da Manhã (diário) e o Tal e Qual (semanário), afirmou-se, em Portugal, um jornalismo «popular», embora mais contido e prudente do que a imprensa similar britânica e alemã.

Neste período, os semanários - com especial destaque para o Expresso, O Jornal e o Semanário - desempenharam papel político preponderante, afirmando-se como uma imprensa de referência com impacte no domínio da informação política e cultural. A nível dos diários, o Jornal de Notícias, do Porto, retirava grande parte da sua força da excelente implantação no Porto e nas regiões a Norte do País, disputando com o Correio da Manhã o primeiro lugar nacional em vendas e audiência. O Diário de Notícias, mais próximo do estilo dos jornais de referência, mantinha o primeiro lugar nacional em receitas de publicidade, mas perdeu a liderança de vendas no Sul, já na década de 80, em benefício do Correio da Manhã.

Os acontecimentos do período revolucionário deixaram rasto na comunicação social. As movimentações sindicais e laborais no interior das empresas continuaram, em especial na televisão, na rádio e nos jornais dependentes do Estado. Por ironia, os media do sector público, percecionados em 1975 como armas ao serviço de «vanguardas revolucionárias», passaram a ser avaliados pelos políticos, pelas «magistraturas de influência» e pelos próprios jornalistas segundo critérios de pluralismo democrático.

O cronómetro e a fita métrica, como se dizia ironicamente naquela época, constituíam instrumentos essenciais para regular, com precisão, a distribuição de espaços entre partidos políticos e associações sindicais, mas nem sempre esta aritmética conduzia a bons resultados jornalísticos ou garantia a autonomia dos media perante o Governo. Apesar disso, salvaguardava o equilíbrio entre as correntes político-partidárias.

Nesse período de instabilidade governativa, com executivos minoritários ou de coligação, a tendência para a «governamentalização» dos órgãos de comunicação do sector público - com destaque para a RTP - gerou uma polémica interpartidária quase permanente. Constituíram exceção à regra alguns momentos de graça em que preponderou o espírito profissional e foi possível conseguir uma distância crítica perante o governo (7).

Na televisão pública, os telejornais - com raros períodos de exceção - caracterizavam-se pelo pendor oficioso. A par da comunicação política, a indústria cultural assegurava a «psicoterapia» da nova sociedade democrática, através da «telenovela» de importação brasileira que começava a concorrer com os programas e séries de proveniência norte-americana. Iniciava-se a colonização audiovisual do antigo colonizador pelo ex-colonizado.

1.3. As modificações posteriores à adesão às Comunidades Europeias (1985-1995)

O predomínio das ideologias foi a principal característica do período de 1974-1975 na comunicação social portuguesa. A influência decisiva das instituições - o Governo, a Igreja Católica, os partidos políticos - na definição da orientação dos meios de comunicação social marcou a década seguinte (1976-1985). A fase de 1985 a 1995 poderia caracterizar-se com duas palavras-chave: mercado e desregulamentação.

Após a adesão de Portugal às Comunidades Europeias, em 1985, os sinais de mudança para uma nova era da comunicação começaram a inscrever-se no horizonte. As mutações tecnológicas favoreceram a desregulamentação dos media. Os vídeos e as parabólicas invadiram o mercado português. Emergiram rádios locais - inicialmente ilegais («rádios piratas»). Intensificou-se a polémica sobre a abertura da televisão a operadores privados. Os conteúdos jornalísticos também se modificaram através do desenvolvimento de formas de jornalismo investigativo (8), ao mesmo tempo que se prestava maior atenção a sectores como a economia, a cultura e as novas tecnologias da informação.

Em 1986, Mário Soares foi eleito Presidente da República, mas foi no ano seguinte que se iniciou, em regime de coabitação (o centro-esquerda na Presidência e o centro-direita no Governo), uma nova era na vida política e nos meios de comunicação portugueses. Com o primeiro-ministro Cavaco Silva verificou-se a primeira experiência de governação monopartidária, apoiada numa maioria absoluta no Parlamento, após a entrada em vigor da Constituição. Neste contexto político, teve lugar a construção de uma nova paisagem mediática.

A «reorganização do sector da imprensa», o «reordenamento do espaço radiofónico» e o «fim do monopólio televisivo» foram, no entender do sociólogo Paquete de Oliveira (9), «situações decisivas e marcantes» na evolução da comunicação social. A reorganização da imprensa liga-se às reprivatizações de jornais e ao surgimento de novos títulos, com destaque para o Independente (1988) e o Público (1990). O reordenamento do espaço radiofónico inicia-se com «a explosão das rádios livres ou piratas» (1986) e prolonga-se com «o despontar de novos projetos», com destaque para a TSF (1988). O fim do monopólio televisivo efetuou-se através da abertura da televisão (1992) a dois operadores privados (SIC e TVI).

O sociólogo sumariza os sinais de mudança nos media portugueses, ao longo do primeira metade da década, nos seguintes aspetos: «profunda transformação nas estruturas produtivas e organizacionais da indústria dos media»; «alteração significativa na composição social dos produtores da informação»; «modificação na qualidade do produto informativo em estilo, forma e conteúdo e uma maior catalização dos opinion makers»; «inovação na estratégia de captação de públicos com a prática de novos modelos de interação com a opinião pública»; «adoção de uma estratégia comercial agressiva e de declarada concorrência no mercado»; «um novo relacionamento de interação e valorização dos seus diferenciados "capitais" entre empresas de comunicação social e universidades, particularmente aquelas com ensino específico nestas matérias» (10).

No plano dos conteúdos, a abertura da televisão ao sector privado teve duplo significado. Na área dos programas, provocou o predomínio da ficção (televisiva) importada dos países da América Latina (em especial do Brasil) sobre os produtos da indústria cultural norte-americana e europeia, ao mesmo tempo que, regra geral, eram remetidos para fora das horas de grande audiência os programas que não se integravam nos «géneros» da telenovela, do concurso, do futebol, das variedades ou do reality-show (11).

No domínio da informação, a «desregulamentação» libertou o jornalismo televisivo de certas pressões oficiosas, pondo termo ao monopólio estatal da definição do que é ou não é notícia no pequeno-ecrã, mas aumentou o sensacionalismo e conferiu ao fait divers honras de abertura do telejornal. A televisão pública, financiada com base na publicidade comercial ou no orçamento de Estado, conjugou um certo tipo de «governamentalização» com a subordinação a critérios comerciais (12).

Na paisagem radiofónica, a TSF- Rádio Jornal, primeira rádio de informação, impôs-se com rapidez, apesar das dificuldades em viabilizá-la no plano financeiro. Na imprensa, os diários de referência atingiram padrões de inegável qualidade - em especial, com o surgimento do Público (1990) e os efeitos colaterais que produziu no Diário de Notícias e no Jornal de Notícias - , ao mesmo tempo que os vespertinos Diário de Lisboa e Diário Popular, que tiveram papel relevante nos anos 60 e 70, cessaram a publicação por inviabilidade económica (13).

O jornalismo investigativo teve significativo desenvolvimento, com importantes repercussões políticas, designadamente a demissão de membros do Governo. O semanário O Independente distinguiu-se nesse estilo de investigações jornalísticas.

Multiplicaram-se as publicações especializadas em áreas que vão desde a vida social («jet set») e a programação televisiva a domínios como a moda, a decoração, o cinema, a informática e a Internet. Três jornais desportivos - A Bola, O Jogo e Record - passaram a diários, em 1994 e 1995. Antes disso, publicavam-se três vezes por semana.

Numa época de globalização económica e tecnológica, a situação dos media portugueses não se caracteriza pela originalidade. A especificidade portuguesa reside, sobretudo, na fragilidade de um mercado pequeno e numa discrepância notória - a maior da Europa comunitária - entre as audiências da televisão e a baixa leitura dos jornais de informação geral, em especial os diários (14). Os principais traços da nova ordem mediática são conhecidos: a inflação das imagens, a proliferação de personagens mediáticas, o fascínio do direto, a valorização das dimensões não-verbais, o predomínio dos esquemas binários, a confusão entre a política e o entretenimento...

À informação rarefeita e censurada dos anos do salazarismo sucedeu a inflação de informações. Ao predomínio de critérios políticos e ideológicos nos anos do processo revolucionário contrapôs-se a liderança das perspetivas comerciais. O destinatário implícito no discurso dos media portugueses, nos anos 90, já não é o militante revolucionário de 1975, nem o cidadão-eleitor dos anos 80, mas o consumidor de imagens e narrativas.

Em vinte anos de democracia portuguesa, transitámos, com excecional velocidade, do primado das ideologias, que censuravam as informações quando elas contrariavam os respetivos dogmas, para o recurso a critérios que só valorizam as notícias enquanto mercadorias. Se o exercício da cidadania, em regime democrático, pressupõe informação, reflexão e distanciamento crítico, o sistema mediático existente em Portugal - refletindo tendências que são europeias e mundiais - favorece o sensacionalismo, a personalização e as emoções do direto e do instantâneo...

1. 4. Grupos, empresas e órgãos de Comunicação Social

1. 4. 1. Da preponderância da banca à estatização

[…]

1.4.2. Da propriedade estatal às reprivatizações.

[…]

1.4.3. A nova paisagem dos grupos mediáticos

A abertura da televisão a operadores privados e as reprivatizações na imprensa escrita abriram caminho à formação de novos grupos mediáticos e reforçaram a concentração da propriedade na área, enquanto se iniciavam as participações de investidores estrangeiros em empresas de comunicação portuguesas.

Os media pertencentes ao Estado já não «pilotam» o conjunto da comunicação social, mas mantêm, apesar das privatizações, «uma fortíssima posição», como sublinha Fernando Correia (16), visto que permanecem no sector público a RTP e a RDP, com os seus diferentes canais, a agência Lusa e a TV Guia Editora, especializada em revistas sobre televisão e espetáculos.

Os novos grupos de comunicação, surgidos no final dos anos 80 e início da década de 90, distinguem-se das «empresas de família» anteriores à era marcelista e da dependência direta da banca, características de muitas empresas jornalísticas no período de Marcelo Caetano. O traço distintivo reside na circunstância de serem essencialmente grupos de comunicação baseados numa estratégia multimédia (17).

Por caminhos cruzados - do cinema para a imprensa e da imprensa para a televisão - se formaram os principais grupos atualmente existentes em Portugal. A posição dominante conquistada no domínio da imprensa escrita pela Lusomundo, liderada por Luís Silva, grupo oriundo da distribuição cinematográfica, ao adquirir os dois principais jornais dependentes do Estado - Jornal de Notícias e Diário de Notícias - deu origem àquele que é, atualmente, o principal grupo de comunicação português. A aposta no primeiro canal de televisão privada - SIC - do principal acionista de uma empresa jornalística da empresa escrita, Pinto Balsemão, permitiu constituir a Impresa, outro importante grupo de comunicação.

A Lusomundo, fundada nos anos 50, está presente em áreas tão diversificadas como o cinema (posição dominante no mercado nacional), de onde proveio, o vídeo, a imprensa (JN, DN, Grande Reportagem, entre outros), a distribuição de jornais (Deltapress), a rádio (TSF e Rádio Nova) e a televisão (participação na TVI e TV por cabo). A estratégia deste grupo envolve igualmente uma forte componente internacional, não só na sua área tradicional, mas também na indústria da imprensa, através da associação ao grupo irlandês Independent Newspapers, cuja influência se alarga à África do Sul.

O grupo Impresa, liderado por Pinto Balsemão, nasceu a partir do semanário Expresso. Detém, atualmente, o controlo da SIC, canal de televisão de maior audiência a nível nacional. Possui no jornalismo escrito, além do Expresso, a Capital (único vespertino que se publica em Lisboa) e publicações especializadas - resultantes da associação com a editora brasileira Abril - na área da economia (Exame), do automóvel, da música, da decoração, da moda, da culinária, da banda desenhada e da «vida social» (Caras), entre outras. Lançou-se também, em associação, com a empresa belga Roularta, no domínio dos jornais gratuitos (Publiregiões, destinado à zona de Oeiras).

A par destes grupos, perfilam-se outros de menor dimensão. A Edipresse-Projornal é um caso paradigmático, não só do investimento estrangeiro em Portugal, mas também da transição entre as conceções de empresa jornalística predominantes no período pós-revolucionário e o posterior triunfo do mercado. Único exemplo português de empresa constituída por jornalistas, fundada no ano decisivo de 1975, a Projornal foi adquirida, no início da década de 90, pela Edipresse, principal grupo mediático da Suíça francófona. O seu principal órgão era o semanário O Jornal, que foi substituído, em 1993, pelo magazine noticioso Visão. A Edipresse adquiriu o semanário «popular» Tal e Qual e edita, entre outras publicações, a revista TV Mais.

O grupo Impala especializou-se em revistas «cor-de-rosa», de programação televisiva e outras, com enorme sucesso de difusão, tendo igualmente participação na SIC. A Presselivre tem como imagem de marca o tabloide Correio da Manhã, segundo jornal em expansão nacional (a seguir ao JN), detém igualmente posições importantes na distribuição de jornais (VASP, em sociedade com o grupo Balsemão).

O grupo SONAE, liderado por Belmiro de Azevedo - não propriamente um grupo de comunicação ou mediático, sendo a distribuição e os supermercados a sua principal área de atividade -, detém a maioria do capital do Público, projeto jornalístico fundamental nos anos 90. Além do Público, a Sonae possui participações em diversas estações de rádio.

A SOCI (O Independente e as revistas económicas Fortuna, Valor, Briefing e outras) adquiriu posição dominante na TVI, associada aos suecos da SBS (Scandinavian Broadcasting System).

Merecem ainda referência os grupos Semanário (proprietário, entre outras publicações, do jornal com o mesmo nome), Fórum (Fórum Estudante, Fórum Ambiente, etc.), Ferreira e Bento (revistas especializadas) e Motor Press (publicações especializadas em automobilismo).

Falta mencionar os órgãos ligados a partidos políticos - entre outros, o Portugal Livre (PSD), o Acção Socialista (PS) e o Avante (PCP) - cuja periodicidade é semanária, mas que, após as grandes lutas políticas dos anos 70, possuem uma difusão limitada e circunscrita ao âmbito da militância partidária.

Diferente é o caso da Igreja Católica, que possui o controlo de um vasto conjunto de meios, desde órgãos que são propriedade direta da Igreja, àqueles que lhe estão ligados mas não dependem dela no plano jurídico (18). Existem órgãos dependentes da Igreja que visam sobretudo exercer uma influência persuasiva (19), enquanto outros obedecem a estratégias essencialmente comerciais.

Os órgãos de propriedade direta da Igreja estão normalmente dependentes das estruturas diocesanas e, entre eles, conta-se um elevado número de jornais locais e boletins paroquiais. É ao nível da imprensa regional que se faz sentir com especial vigor a influência da Igreja, desde órgãos de produção artesanal e amadora até estruturas mais profissionalizadas, designadamente os quotidianos Diário do Minho (Braga), Correio da Horta (Faial), A União (Angra do Heroísmo) e Jornal da Madeira que também depende, de forma indireta, do Governo regional (20).

Mais importantes, na perspetiva desta introdução, são os meios comerciais ligados à Igreja de forma indireta, que se encontram federados na Nova - Federação dos Meios de Comunicação Social de Inspiração Cristã, sendo o mais antigo a Rádio Renascença, cujos canais detêm uma posição decisiva nas audiências radiofónicas a nível nacional. A tentativa para transpor para a televisão o sucesso da Renascença foi mal sucedida no caso da TVI, cujas emissões se iniciaram em Fevereiro de 1993, dada a dificuldade que teve em se impor no mercado televisivo e as dissensões que a sua programação suscitou entre os católicos, tendo a Igreja abdicado, em 1997, da sua posição maioritária.

1.4.4. O estatuto dos jornalistas: do salazarismo aos cursos de comunicação

[…]

Texto de Mário Mesquita e Cristina Ponte, “Situação do Ensino e da Formação Profissional na área do Jornalismo” (Estudo elaborado para a Representação da Comissão Europeia em Portugal), 1996-97. Disponível em: http://bocc.ubi.pt/pag/mesquita-mario-ponte-cristina-Cursos-Com1.html

TEXTO 2:

“O fim da Censura em Portugal: consequências na sociedade de informação”


Capítulo do estudo “Portugal: do 25 de Abril de 1974 aos nossos dias”.

Autora: Ana Rita Faleiro.

Universidade de Santiago de Compostela, 2006.

Portugal: do 25 de Abril de 1974 aos nossos dias.

O fim da censura em Portugal ‑ consequências na sociedade de informação.


Como facilmente se poderá calcular, a censura em Portugal teve ao longo de todo o regime um papel extremamente forte e incisivo em vários âmbitos da vida nacional (teatro, música, literatura, educação...). Isto é fácil de se perceber, pois os dirigentes do Estado Novo davam-se conta de que o regime não era bem aceite, de que havia contestações, temendo portanto deixar passar qualquer manifestação de desagrado que se pudesse tornar perigosa para o estabelecimento do regime. No entanto, não devemos pensar que isto é um fenómeno do tempo do Estado Novo, uma vez que em Portugal a censura detém raízes históricas: em relação à imprensa, por exemplo, em 500 anos de história da imprensa, 400 foram dominados pela censura! A primeira memória de censura que existe em Portugal remonta já a 1451, pelo que se pode ver que este é um fenómeno que vai evoluindo ao longo do tempo, vai subsistindo, se vai infiltrando na sociedade, apreendendo livros, condenando peças de teatro[1], fiscalizando sicas, influenciando as mentalidades portuguesas, cortando e censurando por completo artigos ou estudos que maculassem a ideia puritana e completamente religiosa que Salazar pretendia para o nosso país. Podemos ver por exemplo o caso de um inquérito sobre namoro, casamento, relações pré-conjugais e controle de natalidade inquérito sobre namoro, casamento, relações pré-conjugais e controle de natalidade destinado a ser publicado no Notícias da Amadora de 17 de Janeiro de 1968. A propósito de alguns dados divulgados no Anuário Demográfico pedia-se a opinião de alguns jovens sobre aquelas temáticas. Uma estudante universitária, de 18 anos confessava-se «católica mas a favor do controle de natalidade». As estatísticas do Anuário mostravam um decréscimo no número de partos: 221736 em 1964, 214824 em 1965 e 211452 em 1966. Um jovem, estudante e empregado de 16 anos confessava-se a favor das relações sexuais pré-conjugais e do casamento pelo registo por considerar «um erro o casamento pela igreja face à mudança de mentalidade entre os jovens». O artigo é totalmente censurado, como não seria de estranhar.


Em Portugal, a censura passou por várias fases, desde os Índices Portugueses, passando pela Real Mesa Censória, pela censura Liberal (marcadamente política, tal como virá a ser no Estado Novo; não nos podemos esquecer que nesta altura Portugal se digladia entre liberais e absolutistas, sendo que cada um destes grupos, principalmente a partir do estrangeiro, enquanto exilados, detém jornais propagandísticos próprios, que encontram dificuldades em singrar); no entanto, oficialmente, a censura terá acabado com a queda do regime salazarista.


É curioso fazer ressaltar o facto de que a Constituição de 1933 é a única Constituição Portuguesa que, ainda que de maneira contraditória (cf. artigo 20 e 8º 4), defende e justifica o carácter censório do Estado, que deveria ser o que Salazar definia como um rbitro imparcial", que tudo analisasse e julgasse: o artigo 3º declara que a função da censura será “impedir a perversão da opinião pública na sua função de força social e deverá ser exercida por forma a defendê-la de todos os fatores que a desorientem contra a verdade, a justiça, a moral, a boa administração e o bem comum, e a evitar que sejam atacados os princípios fundamentais da organização da sociedade". Para além disso, a censura é oficialmente instaurada sobre panfletos, folhetos e publicações periódicas sempre que nelas existam teor político ou social (decreto 22/469).


Apesar de com a Primavera Marcelista existirem promessas de uma maior abertura do regime, na verdade isso não aconteceu, e o melhor exemplo encontramo-lo quando é exigido que na publicação de artigos que tivessem sido corrigidos não houvesse qualquer marca de que tinham sido censurados/cortados.


Esta censura do Estado Novo é conhecida pelo "Lápis Azul", pois todo quanto era censurado ou cortado era devolvido aos seus autores com correções feitas a lápis azul.


No momento em que se dá o 25 de Abril, no entanto, e tal como em tantos outros aspetos, a censura é abolida pelo menos teoricamente.


O fim da censura vem alterar de maneira substancial o sistema de comunicação social.


Na verdade, este fim da censura vem lançar o país numa desordem informativa, pois com a liberdade de expressão recentemente ganha, deixa de haver proibições sobre o que se diz em termos de política. Partidários de campos diferentes enfrentam-se nos meios de comunicação, lançando a confusão entre o povo. Na fase pós-revolucionária, avultam as incompatibilidades entre as várias tendências ideológico-partidárias, que afetam diretamente os próprios meios de comunicação. Multiplicam-se os conflitos entre administrações e direções com as comissões de trabalhadores e os conselhos de redação, entretanto eleitos. Estes conflitos atingem, por vezes, proporções extremadas e inconciliáveis, como sucede no "caso República”, em Maio e Junho de 1975, que adquire projeção internacional. Os confrontos levam ao encerramento do vespertino que se publicava 62 anos. O que na realidade acontece é uma " lavagem cerebral" político-ideológica feita à população, o que vai originar que a população rapidamente se sinta como uma tima destas "injeções ideológicas". Na realidade, apesar de agora existir liberdade para ver, ouvir, escrever e dizer o que a cada um aprouvesse, é plausível equacionar (ou melhor dizendo, afirmar) se não terá sido esta mesma liberdade a causadora do aumento obrigatório do sentido crítico face ao que os mass media veiculavam, pois na verdade, apesar do "apartidarismo" teórico, na verdade o que se veiculava eram mensagens codificadas, que apenas alguns conseguiam decifrar na sua totalidade mas que bombardeavam ideologicamente qualquer cidadão que ligasse a televisão ou a rádio: lembremos o que nos é dito no volume nono da História de Portugal dirigida por JoMattoso: "Os órgãos de informação assemelhavam-se, na fase inicial, a um puzzle de mensagens contraditórias, misturadas ao sabor da força das lulas partidárias e dos grupos de pressão. A capacidade de análise e seleção era diminuta. A informação era servida «em bruto», mal digerida, tal como saía dos palácios governamentais, das sedes partidárias ou dos quartéis mais influenciados pelas doutrinas políticas” (pág. 363). Segundo Sartre, o mais grave disto tudo é que a imprensa portuguesa não se procurava servir da sua recém-liberdade para explicar alguns acontecimentos importantes da vida política nacional. Na verdade, ela apenas ''bombardeava'' as pessoas com informação, mas não as procurava elucidar sobre o seu significado. Como obviamente se pode perceber, isto apenas vem aumentar o já crítico estado de confusão mental em que Portugal se encontrava no período pós-revolucionário.


No entanto, nem tudo foi tão desorganizado como aaqui se tem dado a perceber. Na realidade, desde que se estabelece como objetivo acabar com os mecanismos repressivos da liberdade de expressão próprios do Estado Novo, a preocupação de legislar esta situação, para que não ficasse um vazio de poder no lugar da antiga censura. É assim que nasce a Lei de Imprensa, a 26 de Fevereiro de 1975, cujo projeto já havia sido delineado desde Agosto-Setembro de 1974[2].


No entanto, esta Lei de Imprensa vem sofrer contestações derivadas do conhecido "Caso República”[3], pois aparece como já ultrapassada (apesar de ter sido promulgada apenas há três meses).


É importante fazer notar a posição de Otelo Saraiva em relação a este conflito sobre a Lei: ele proclama-a como uma lei extremamente avançada em relação a outros países, apesar de reconhecer que, face aos acontecimentos de Março desse ano, ela já se apresentava na realidade como tendo sofrido um grande retrocesso.


Outro ponto fundamental a referir sobre o fim da censura em Portugal está ligado aos acontecimentos do Verão Quente de 1975. Se de facto a censura havia sido abolida, o que pensar do facto de inúmeros jornais terem sido queimados, ao estilo do tempo da Inquisição e do Índex? Foi o caso dos jornais Diário de Lisboa, Diário Popular, A Capital, Diário de Nocias, O Século, Jornal Novo...


Para além disso, estes periódicos enfrentavam-se mutuamente por causa de questões políticas, exercendo um verdadeiro controlo censório uns aos outros, muitas vezes pior do que o controlo existente em tempos de ditadura.


A partir de 1977, muitos jornais periódicos ou semanais são extintos, e resulta curioso verificar que são na sua maioria publicações da ex-Sociedade Nacional de Tipografia, sendo que a partir dos anos 80 são substituídos por publicações de carácter mais "popular". É também nesta década que se implanta de maneira vitoriosa o jornalismo económico, através da edição de suplementos económicos, ao mesmo tempo que surgem títulos especializados na matéria, como o Semanário Económico (1987) e Diário Económico (1989). Vários fatores contribuem para esta situação, sendo um dos mais significativos a integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia, em 1986.


Antes de concluir este ponto sobre o fim da censura em Portugal, toma-se quase obrigatório referir o papel da Constituição de 1976 neste processo de esconjuro dos fantasmas repressivos do Estado Novo.


A Constituição dedica quatro artigos à Comunicação Social, ao longo dos quais se denota a preocupação em compatibilizar os princípios da democrática liberdade de expressão e de pensamento com um sector público de comunicação social muito alargado. Antes das sucessivas revisões, ponto já referido neste trabalho, o que a Constituição defendia era o seguinte:


- Os órgãos de comunicação social deviam ser independentes perante o Governo e a Administração pública (princípio do apartidarismo);


- Os órgãos de comunicação social deviam assegurar a possibilidade de expressão e confronto das diversas correntes de opinião;


- Deveriam ser criados conselhos de informação com poderes para assegurar uma orientação geral dos órgãos de comunicação que respeitasse o pluralismo ideológico.


Para além de lutar contra a censura herdada do Estado Novo, o mais importante a ressaltar é que a Constituição de 1976 luta também contra o controle censório entre jornais sendo o caso mais flagrante, uma vez mais, os acontecimentos do "República", cuja transcrição em cartoons denota una forma de censura operária.


Epílogo: Portugal Hoje

O que podemos concluir de tudo o que foi dito?

Em primeiro lugar, parece-me lícito poder-se afirmar que a revolução de 1974 não foi tão benéfica como ainda se ensina grandemente nas escolas. Na realidade, ensina-se que 1974 é o ano da restauração da liberdade individual, por assim dizer, mas em relação ao período conturbado que se lhe sucedeu, muito pouco é dito, pelo menos num ensino não superior; e se tivermos em conta que apenas uma parte dos jovens segue estudos superiores em História, podemos concluir que uma parte importantíssima da nossa história que não é conhecida, que não é estudada, que não é aprofundada. Deste trabalho, pode-se concluir que na realidade a revolução vem lançar o país num estado de anarquia política e social que resulta num clima de pré-guerra civil (O verão quente de 1975).

No entanto, é facto que restaura muitos direitos fundamentais ao homem liberdade de expressão, de pensamento, liberdade cultural, liberdade eleitoral. Apesar do clima de desordem política, a verdade é que as eleições passaram a ser livres, e já não manipuladas (logo, passaram a ser úteis lembremo-nos que antes, tal como nos diz Schmitter, a experiência de eleições nacionais de mais de quarenta anos foi a repressão, manipulação, exclusão, distorção e da fraude pura e simples, métodos pelos quais o regime conseguiu ganhar todas as eleições para todos os cargos disputados sem exceção). […]

De facto, o 25 de Abril veio restaurar liberdades individuais... mas lançou o país numa desordem política, social, económica da qual ainda não recuperou.

Porém, ainda que seja esta a situação, creio que, para responder à questão por mim colocada no prólogo deste trabalho, apesar de sem vida terem existido elementos negativos decorrentes dos acontecimentos de 1974, o 25 de Abril terá sido algo benéfico para Portugal, pois creio ser preferível a liberdade à censura, a democracia ao autoritarismo, os erros políticos tomados ingenuamente por se acreditar nos políticos à manipulação de resultados e eleições.

Capítulo “O fim da Censura em Portugal: consequências na sociedade de informação", in “Portugal: do 25 de Abril de 1974 aos nossos dias", Ana Rita Faleiro. Universidade de Santiago de Compostela, Junho de 2006. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/23343794/A-sociedade-Portuguesa-no-pos-25-de-Abril-algumas-consideracoes

________________

[1] Lembremos por exemplo, em período da " Primavera Marcelista", o que aconteceu com a adaptação da peça de Almeida Garrett, O Arco de Sant' Ana, em que os Serviços de Exame Prévio do Porto a censuram, dizendo: "Não pode dizer que foi proibida; pode no entanto dizer-se que não vai à cena”.

[2] Não nos podemos no entanto esquecer que esta lei foi aplicada ao nível da comunicação escrita; o regime legal do audiovisual só aparece em 1979, e penso que seja isto que pode explicar a situação atrás já explicada neste ponto do trabalho, sobre a confusão mental e desorganização que reinavam nos mass mediatelevisão, rádio...

[3] Conflito aberto entre a CCT (ou seja, a Comissão Coordenadora de Trabalhadores) e a Administração/chefia de Redacção deste periódico: a CCT acusa estas últimas de estarem a tentar tomar o periódico num meio aberto de apoio ao Partido Socialista, que quando sabe do que se passa e quando se dá conta que as instalações do "República" são fechadas (o conhecido cerco), se concentra à sua porta para apoiar a antiga direcção. O ministro da Comunicação Social, Correia Jesuíno, é chamado ao local e proclama que, à luz da Lei de Imprensa de 1975 que cortara a censura a direcção e a chefia do jornal poderiam fa-lo sair da prensa como quisessem. Na minha opinião, o facto mais chamativo neste conflito prende-se aos gritos de protesto dos apoiantes socialistas entre os quais podemos situar nem mais nem menos que Mário Soares ‑ contra o MFA, Álvaro Cunhal... ou seja, contra quem mais lutou pela liberdade que agora lhes permitia ter o apoio de um periódico. Parece-me no mínimo paradoxal.

TEXTO 3:

“A grande expansão da televisão”

Artigo da revista trimestral do Curso de Comunicação Social - ISPV - ESEV: Forum Media nº 5.

Autoras: Ana Lourenço, Elisabete Costa e Teresa Teixeira.

A-grande-expansao-da-televisao.pdf

TEXTO 4:

A Comunicação Social em Portugal no Século XX - Fragmentos para a História de um Servidor de dois Amos”

Artigo publicado em Panorama da Cultura Portuguesa, Coord: Fernando Pernes, Porto, Afrontamento, 2002.

Autor: Francisco Rui Cádima.

Disponível no sítio [IRREAL TV], 27.2.08.

A COMUNICAÇÃO SOCIAL EM PORTUGAL NO SÉCULO XX ‑ FRAGMENTOS PARA A HISTÓRIA DE UM SERVIDOR DE DOIS AMOS

Artigo de Francisco Rui Cádima

(in Panorama da Cultura Portuguesa, Coord: Fernando Pernes, Afrontamento, Porto, 2002)

A história da comunicação social portuguesa do século XX é fundamentalmente a história do discurso dos grandes meios de comunicação, sendo que esse é sobretudo um relato do modo como os mass-media se confrontaram com as inquietações de um real que jamais habitou pacificamente com os media que tinha. […]

O paradigma deste modelo mediático podia ser dado por um qualquer grande título da história da imprensa portuguesa, por exemplo, sendo normal identificar ao longo da sua história os diferentes compromissos que foram sendo assumidos pelos seus responsáveis, ora servindo o reacionarismo monárquico, ora aceitando a modernidade republicana, para depois se deixarem enfeitiçar pela arrogância integralista e fascista, voltando a cantar loas à liberdade nos anos de Abril, claudicando por momentos perante o estalinismo, para depois de re-situarem de novo, institucionalmente, na política do tempo e nos seus jogos de bastidores. […]

OS MEDIA E SALAZAR

[…]

Durante o Estado Novo e até praticamente aos anos 70, as diferentes estações, oficiais e privadas, mantiveram modelos narrativos estereotipados, sendo as grandes armas o relato de futebol, a nacional-canção e os boletins noticiosos sobre recortes de imprensa oficiosa e telexes de agência, sempre subordinados às conveniências do censor, quer na informação quer na programação. Daí que tivesse surgido em 1963, em Argel, a Rádio Voz da Liberdade, com a participação activa de Manuel Alegre, muito ouvida nos círculos oposicionistas portugueses, com emissões regulares duas a três vezes por semana, em onda média e curta. […]

Primeiro ao tempo de Salazar e mais tarde com Marcello Caetano, a RTP foi sempre, juntamente com a imprensa oficial e com a Emissora Nacional, o principal porta-voz da política do Estado Novo [9]. Nessa medida, enquanto modelo protocolar e instrumento de propaganda, a televisão foi, necessariamente, a par do sistema repressivo policial e do sistema censório, um dos elos fundamentais do campo comunicacional do sistema monopartidário, campo esse também historicamente responsável pela manutenção de um regime político cujo fim se anuncia a 25 de Abril de 1974, ao fim de 48 anos de ditadura. […]

A história dos media em Portugal está inevitavelmente ancorada numa outra história absolutamente dramática na história moderna e contemporânea portuguesa - a história da censura. Como se sabe, a censura foi uma das armas decisivas para a quase perenidade do regime, foi uma das suas bases determinantes: «a arma mais temível de Salazar - a sua arma absoluta - foi sempre a censura prévia», como dizia Mário Soares [14]. Oliveira Marques é da mesma opinião: «(...) de todos os mecanismos repressivos a censura foi sem dúvida o mais eficiente, aquele que conseguiu manter o regime sem alterações estruturais durante quatro décadas» [15]. O pensamento de Salazar neste domínio fica bem retratado numa passagem da biografia de António Ferro: «modificar pouco a pouco, pacientemente, as paixões dos homens, atrofiando-as, calando-as, forçando-nos temporariamente a um ritmo vagaroso, mas seguro, que nos faça descer a temperatura, que nos cure da febre». […]

Voltando ao tema da censura, designadamente na informação televisiva, é óbvio que se tratava de um sistema fundamentalmente aplicado pelos próprios «jornalistas» e ainda pelos «chefes de serviço» de departamento, em última instância pelos responsáveis ou comissários políticos coordenadores dos servos noticiosos. No que concerne em particular às formas de representação do aparelho político dominante no final da década, é um facto que se confrontou com uma informação subserviente, em boa parte provinciana e amadora também. Como referimos, «assim se institucionalizava progressivamente um modelo burocrático de informação feito de militâncias e de dificuldades na apropriação de um novo discurso de propaganda, o qual vinha completar não só o modelo censório instituído, como ainda os canais de informação privilegiados pelo regime e pela sua estratégia totalitária - a sua imprensa oficial e oficiosa e as rádios estatal e oficiosa.» [18]

[…] a verdade é que ao tempo de Marcello Caetano a RTP é explícita e assumidamente um "instrumento" de uma acção política propagandística no domínio de informação televisiva, a qual, de facto, sobretudo a partir de meados dos anos 60, tem já um impacto significativo no campo dos media no plano nacional, quer pela cobertura da RTP, quer pela audiência atingida, que nos anos 60 não teria ultrapassado o milhão de telespectadores. […]

OS MEDIA DE ABRIL

Estando na rua a Revolução dos Cravos, assim de alguma forma legitimada pelas massas populares, os media ao serviço do regime rapidamente se rendiam ao movimento dos capitães. […]

Uma das primeiras consequências da Revolução foi o afastamento dos jornalistas próximos do anterior regime bem como as medidas de «saneamento» designadamente na rádio e na televisão pública. […] Quanto à programação começa desde cedo a verificar-se um princípio de novidades no domínio cultural e político com programas que procuravam seguir o debate democrático emergente na sociedade portuguesa. […]

A televisão fazia agora o pedagogismo da revolução vigente. Castrim escrevia então: «(...) Televisão, eu te amo. Beijo-te os pés de que descalçaste os sapatos carregados de lama de 17 anos. Em ti me revejo a construir-me e a construir o tempo. Agora, a tua emissão foi emoção. Raiz popular a nascer num televisor que para sempre se julgara estéril. Eu te amo, televisão» [21].

Entretanto, o governo, através de um despacho de 16 de Setembro de 1974, mandava a RTP dar cobertura «com o devido relevo, às actividades dos órgãos de Estado», considerando que a sua programação «deverá veicular a acção do Governo contribuindo para a tornar acessível ao Povo Português».

Na Imprensa, depois do Expresso ter surgido a 6 de Janeiro de 1973, propondo-se «contribuir para que se alcance em Portugal a liberdade de informação - liberdade de informar e de ser informado», a era democrática via surgir um conjunto de conflitos profissionais e políticos designadamente n'O Século e no Jornal do Comércio que marcavam a nova actualidade e alguma «memória do medo» dos anos de brasa. Mário Mesquita, escrevia então no República: «Duas tendências censórias paralelas percorrem o jornalismo português. Uma primeira traduz-se numa demissão instintiva da função crítica que lhe deveria caber (...). A segunda é mais restrita, menos nacional, muito partidária e traduz-se numa luta subterrânea que, desde o 25 de Abril, com maior intensidade após o 28 de Setembro, se vem travando, em surdina, pelo controlo dos meios de comunicação social (...). Por vezes, transparece em comunicados, moções e contramoções, para não falar de certas crónicas telestalinistas que por aí pululam» [22]. Problema que no fundo era ilustrado de forma superior por Ramalho Eanes quando assumia anos mais tarde: «Tentámos tratar a comunicação social utilizando modelos de intervenção militar, portanto, explicando menos e impondo mais» [23], ou quando Mário Soares falava de «intromissões na imprensa diária, na Rádio e na Televisão que manifestam um certo desejo hegemónico» [24].

A 26 de Fevereiro de 1975 surge a Lei de Imprensa do novo regime. […]

OS MEDIA E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO REGIME

Ainda no final dos anos 70, e em termos mediáticos genéricos, o facto mais relevante, o programa-tipo que emerge no final do PREC é, ao contrário de todas as expectativas que se pudessem ter na altura, a telenovela brasileira. […]

A verdade é que foram exatamente as forças políticas mais liberais, de centro e centro-direita que no início dos anos 80 defendiam já a liberalização do audiovisual em Portugal. Conforme refere Mário Mesquita [52], foi preciso um rápido desenvolvimento da televisão por satélite no nosso país, da tradicional adesão à televisão espanhola sobretudo nas zonas do interior e da raia, e, claro, a adesão à Comunidade europeia, para esta questão ganhar uma nova importância no espaço mediático e político. […]

O início dos anos de 80 ficava assim fundamentalmente caracterizado pelo esvaziamento progressivo da Informação/2. De facto, com a saída do cineasta Fernando Lopes da direção da RTP/2 passou a imperar um regime de «caça às bruxas» na televisão. O também alcunhado «maccarthismo saloio da RTP», no dizer do candidato à PR, Meneses Alves, foi a nota saliente neste início de uma das eras de maior de manipulação informativa na televisão do Estado. […]

No caso português, cujo monopólio televisivo, pelas razões aduzidas, foi prorrogado um tanto inexplicavelmente - ao ponto de ser um dos últimos países europeus (incluindo os do Leste) a liberalizar a sua lei de televisão -, o dispositivo técnico e instrumental manteve, de uma forma geral, as características do modelo estrutural de sempre. […]

A informação televisiva portuguesa no período que antecede imediatamente a liberalização estava claramente afeta ao «Estado laranja». Foram os social-democratas os grandes beneficiários da informação televisiva diária do Canal 1 da RTP, nos dois últimos anos antes do aparecimento da concorrência. Com efeito, analisados os dois anuários da televisão pública dos anos de 1990 e 1991, verifica-se não só o largo destaque para o PSD e o Governo em conjunto, como também uma esmagadora presença do sistema político-partidário na informação «nacional», o que significa que, comparativamente, a sociedade civil mal esteve representada.

Acresce que comparando o tempo de emissão dos órgãos do poder e dos partidos políticos com o tempo de emissão dos parceiros sociais, conclui-se que neste âmbito se esteve muito longe de um «acordo social» em matéria televisiva. […]

Pode caracterizar-se esse velho modelo (em termos de estrutura, não há grandes diferenças entre o «antes» e o «depois» do 25 de Abril) da seguinte maneira: aberturas ora com o sistema político-partidário ora com a atualidade trágica e o «fait-divers»; redução do nacional à grande política, às confederações patronais e às centrais sindicais; grande desproporção de meios (e mensagens) entre os correspondentes do internacional e as paupérrimas delegações regionais no plano nacional; puro abandono da sociedade civil, das minorias (a não ser quando dá um bom reality-show), o mesmo para a cultura e a educação, ausência quase generalizada do jornalismo de investigação. Em traços largos, têm sido estes os conteúdos, as grandes categorias e os protagonistas do dispositivo do Telejornal, praticamente desde que há televisão em Portugal.

A verdade é que não é através dos telejornais que os portugueses conhecem a experiência social. Sabe-se que a vitalidade de uma sociedade é a do seu sistema educativo e comunicacional. A informação-espetáculo, os reality-shows encenados e o sensacionalismo são um fator grave de distorção do real e de exposição do individual. Não visam a produção de informação mas sim de audiências. Esperava-se que a guerra das audiências não contaminasse designadamente o temeroso reencontro da televisão pública com o mundo, mas esse foi de facto um puro engano.

A 6 de Outubro de 1992 e a 20 de fevereiro de 1993, respetivamente, começavam pois as emissões regulares dos dois canais privados de televisão portugueses - a SIC (Sociedade Independente de Comunicação) e a então TVI/Quatro (Televisão Independente), participada maioritariamente por organismos da Igreja Católica portuguesa. Com o arranque dos dois canais privados, terminava um longo ciclo de predomínio do monopólio do Estado, assegurado desde 1957 pela Radiotelevisão Portuguesa. […] Porém, em Setembro de 1990, a direção de programas, na brochura de promoção da RTP expunha novos argumentos: o Canal 2 seria para 'minorias qualificadas', acreditando-se que o desafio da TV privada poderia «ser vencido com dois canais públicos igualmente fortes, polarizadores das atenções do país e espelhos de uma realidade nacional bem viva». […] Eram feitos grandes investimentos em programação, considerada «uma das melhores da Europa». […]

E como se tem vindo a verificar um pouco por toda a Europa, por razões que têm a ver designadamente com a conquista das audiências, as televisões públicas europeias introduzem nas suas grelhas uma oferta de programas cada vez mais concorrencial, apenas cumprindo as atribuições e competências de um serviço público «mínimo».

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Notas:

[9] Cf. CÁDIMA, Francisco Rui, Salazar, Caetano e a Televisão Portuguesa, Editorial Presença, Lisboa, 1997.

[14] SOARES, Mário, Portugal Amordaçado - Depoimento Sobre os Anos do Fascismo, Lisboa, Arcádia, 1974, p. 151-152.

[15] MARQUES, Oliveira, História de Portugal, Vol. II, 4ª edição, Lisboa, Palas Editores, p. 299.

[18] CÁDIMA, op. cit., p. 52.

21 CASTRIM, Mário, «Eu sou um revolucionário do quilé», Canal da Crítica, Diário de Lisboa, 27 de Maio de 1974­.

23 Cf. entrevista a Mário Mesquita citada no seu artigo «Estratégias liberais e dirigistas na Comunicação Social de 1974-1975 - da Comissão Ad Hoc à Lei de Imprensa», Revista de Comunicação e Linguagens, nº 8, Lisboa, Dezembro de 1988, p. 89.

24 SOARES, Mário, «MFA é o Garante da Democracia», in Democratização e Descolonização - Dez Meses no Governo Provisório, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1975, p. 220.

25 Cf. editorial de José Saramago no Diário de Notícias de 17 de Abril de 1975, «O Voto dos Bispos», tb. in SARAMAGO, José, Apontamentos, Lisboa, Seara Nova, 1976.

52 MESQUITA, Mário, «Os Meios de Comunicação Social», Portugal - 20 Anos de Democracia (coord. de REIS, António), Lisboa, Círculo de Leitores, 1993, p. 393.

Fonte: Artigo “A Comunicação Social em Portugal no Século XX - Fragmentos para a História de um Servidor de dois Amos”, in Panorama da Cultura Portuguesa, Francisco Rui Cádima, Coord: Fernando Pernes, Porto, Afrontamento, 2002. Disponível no sítio [IRREAL TV], 27.2.08, http://irrealtv.blogspot.com/2004/06/comunicao-social-em-portugal-no-sculo.html

Aferição de conhecimentos sobre a literatura comprometida do século XX, em Portugal



1. Tendo por base os excertos a seguir transcritos, sistematize a informação recolhida referente:


    • à conjuntura sociopolítica da época;


    • às características da produção literária.



TEXTO A

Depois da I Guerra Mundial, em que Portugal combateu ao lado dos Aliados (não sem uma forte oposição interna), as classes dominantes do país (grandes latifundiários, banqueiros, oficiais superiores do exército e Igreja) intervieram activamente para acabar com a República Constitucional, cuja trajectória discorria envolta em sucessivas e insuperáveis contradições. Com o final da Guerra, agravaram-se as questões económicas, financeiras e sociais. Tudo isso alarmou a consciência pequeno-burguesa, base do regime republicano. «Só a ditadura nos pode salvar», começou a ser opinião corrente em 1924. E a ditadura não se fez esperar depois do golpe militar de 1926, a partir do qual o poder central e local ficou inteiramente em mãos militares. A classe militar viu-se, porém, rapidamente incapaz de resolver os problemas técnicos e financeiros do país à beira da bancarrota, optando por recorrer, em 1928, a um catedrático de Economia da Universidade de Coimbra, o Prof. Oliveira Salazar, que em pouco tempo conseguiu equilibrar a economia, estabilizar a moeda e disciplinar a administração financeira. Em 1933, uma nova constituição com o nome de Estado Novo mudaria a designação militar da ditadura pela civil. Os partidos políticos foram proibidos e instaurou-se uma férrea, mas não invulnerável, censura à imprensa. A maior parte dos intelectuais permaneceram à margem do regime, uma parte em oposição complacente, e outra parte em contestação aberta que, mais tarde, se iria intensificar quando as circunstâncias externas, depois da II Guerra Mundial, foram menos favoráveis ao desenvolvimento do regime, simpatizante da Alemanha derrotada […]. A guerra fizera emergir, cruamente, as realidades fundamentais até então escamoteadas: a pobreza crónica, a servidão, os poderes corruptos. As massas rebelavam-se, tomavam a iniciativa, ou eram instigadas nesse sentido; era necessário minar os muros de indiferença dos poderosos, com os quais o artista costumava pactuar como resíduo dos tempos do mecenato. Frente a essa arte decadente, os neo-realistas mudaram radicalmente o rumo, deixando de publicar jogos verbais e paradoxos, apara passar a publicar a tragédia do homem contemporâneo, embora numa dimensão ligada exclusivamente ao colectivo na sua vertente económica e social, excluindo, ou olhando com desconfiança e receio, a tragédia metafísica do homem como ser que existe.

J. Laso, Vergílio Ferreira, Espaço Simbólico e Metafísico



TEXTO B

O neo-realismo foi a fórmula literária e ideológica em que assentou o projecto inter-pessoal de uma geração que considerou, como primeiro dever, intervir mediante o procedimento que nesse momento lhe era possível, acelerar o pro-cesso histórico de redenção da classe oprimida.

Outras coisas que contribuíram para a articulação deste movimento literário foram: a Guerra Civil Espanhola, o franquismo e o salazarismo peninsulares; as tensões ideológicas,, em que o marxismo é introduzido, pela primeira vez, como base doutrinal.[…]

A sua aspiração política, implícita e explícita, era de intervenção contra o fascismo reinante.

J. Laso, Vergílio Ferreira, Espaço Simbólico e Metafísico



TEXTO C

Por se sentir ameaçado na sua capacidade de resistir ao desvio à mentalidade tradicional, o Estado Novo fez da censura aos livros e aos autores uma longa cruzada contra a liberdade de expressão.

No momento em que o advogado Duarte Teives protestava pelo facto de os agentes da PIDE terem levado da sua biblioteca as obras completas de Racine, recebeu uma firme e inabalável resposta: «Lenine, Estaline, Racine é tudo a mesma coisa». Quão caricata era a censura imposta pelo Estado Novo…

E caricata porquê? Pela inexistência de critérios coerentes (chegaram apreender-se livros pelo título, como foi caso de O Vermelho e O Negro, de Stendhal) e pela facilidade com que se adquiriam obras em livrarias como a Barata ou a 111, onde os intelectuais tinham à sua disposição, embora encapotadamente, as novidades de Sartre, Beckett ou Vailland.

Não poderá, porém, deixar de se referir a sua eficácia, em alguns casos contundente, no combate à liberdade de expressão, tendo em conta que a censura se inseria num sistema educativo condicionado por directrizes orientadas no sentido da promoção de uma mentalidade considerada «adequada», que excluía o insubmisso, o concorrente ou o «herege».

Ana Gastão, DN, 5/4/1994



TEXTO D

As livrarias eram locais de perdição, e os livros o próprio pecado original. Para a censura fascista e o seu braço executante, a PIDE, o importante era policiar o pensamento. O que os olhos não lêem, nem o coração nem a inteligência o sentem. Por isso, editar, distribuir ou vender livros em Portugal era tarefa aparentemente inglória – mas digna de despertar um feroz empenho de uns quantos Quixotes, que não receavam avançar contra moinhos de vento da ignorância.

Barata, Público, 11/6/1994



TEXTO E

Para a maioria dos portugueses, o 25 de Abril foi algo difícil de descrever. Nuns casos porque se viveu tão intensamente que não se tem ainda a capacidade de distanciação, noutros porque ainda não se tinha idade para compreender o que era a ditadura que acabou naquela data.

Antes do 25 de Abril era viver com medo, suspeitar de um vizinho ou de um colega, ver as prepotências e o que estava mal, recear uma polícia política, poder estar preso sem julgamento ou sem culpa formada, só por pensar de maneira diferente, ter de gastar quatro anos da juventude numa guerra injusta.

Joaquim Letria, Textos na Agenda 90/94



TEXTO F

Insistindo, pois, no «conteúdo», considerando a escrita como «forma» e desprezando a pesquisa sobre a linguagem como «formalista», os neo-realistas criaram para si próprios uma insustentável ortodoxia que, principalmente os poetas, foram quebrando lentamente à medida que mais intimamente se iam reconhecendo mais como Poetas que como sociólogos e à medida que a escrita se tornava um meio autónomo de comunicação e de luta, e não só um «veículo para», ao «serviço de». É o caso paradigmático de Carlos de Oliveira que reescreve vezes sem conta os seus textos e os torna cada vez mais autónomos, criativos, inquietantes e abstractos, mais carregados de temperatura informativa e por isso mais duradoiros e actuantes. No caso da poesia de Carlos de Oliveira note-se a supressão de pontos de exclamação, de interjeições e reticências, como factores da intervenção textual que este poeta sobre a sua própria obra realiza, recriando-a assim. […] Esta re-escrita tardia reflecte um novo estado de espírito do autor, que fica ilustrado pela alteração de


«Aos que virão depois de mim

caiba em sorte outra esperança:

e sejam estes versos

achas no lume da esperança!»


para


«Aos que virão depois de mim

caiba em sorte outra esperança:

o oiro depositado

Nas margens da lembrança.»

(Poema «Elegia de Coimbra»)

In As Vanguardas na Poesia Portuguesa do Séc. XX, E. Castro.



TEXTO G

Sophia vê o seu país como um país ocupado, que não poderá seguir a sua própria lei – condição para manter vivo. É ocupado pela violência social e política que tudo proíbe, tudo impede, só encontrando silêncio, solidão, monstruosidade e fome. […]

A problemática do tempo, na poesia de Sophia, associa-se predominantemente à cidade, à experiência de duas guerras mundiais e da guerra colonial dos anos 60.

Helena Santos, Sophia de Mello Breyner – Uma Leitura de Grades



TEXTO H

Mas Mário Dionísio era, na memória de amigos e colegas, o escritor socialmente empenhado, o intelectual ligado ao Partido Comunista, o teórico do neo-realismo e ainda o combatente anti-fascista que sempre havia lutado contra o regime de Salazar.

E.P.Coelho, Público, 27/11/1993



TEXTO I

Jorge de Sena participara, com efeito, num golpe revolucionário abortado, que teve lugar em 12 de Março de 1959. Houve prisões e ninguém sabia ao certo se algum dos presos teria indicado nomes, o que deixava os ainda livres num estado de natural nervosismo. […] Ia começar o seu longo exílio que só terminaria com a sua morte. Nele iria ganhar uma experiência mais vasta e também mais dolorosa e alguma coisa iria perder, pelo caminho: uma pátria – um lugar: mesmo pequeno –, uma nacionalidade, uma inserção.

Portugal ficava para trás, como um espinho, um pretexto permanente de meditação dolorosa, uma punição imerecida…


Eugénio Lisboa, Jorge de Sena

CHAVE DE CORREÇÃO

1. Sistematização da informação sobre A CONJUNTURA SÓCIO-POLÍTICA


TEXTO A:

Envolvimento na I Guerra Mundial: problemas sócio-económicos.

Golpe militar dá origem a uma ditadura militar a que se segue uma ditadura civil (Estado Novo; Salazar) com muitas proibições e censuras.


TEXTO B:

A intervenção pública do movimento neorrealista teve como causas:

  • a classe social desfavorecida

  • a guerra civil espanhola

  • franquismo

  • salazarismo

  • migração interna

  • tensões ideológicas (marxismo)


TEXTOS C, D, E, G ,H, I :


O Estado Novo de modo a policiar o pensamento fez censura aos livros e aos autores e promoveu um sistema educativo que excluía o insubmisso.

Antes do 25 de Abril era viver com medo, suspeitar de um vizinho ou de um colega, ver as prepotências e o que estava mal, recear uma polícia política, poder estar preso sem julgamento ou sem culpa formada, só por pensar de maneira diferente, ter de gastar quatro anos da juventude na guerra com as províncias ultramarinas.


Sistematização da informação sobre as CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO LITERÁRIA:


O Neorrealismo1 foi uma fase transitória para muitos poetas e escritores:

– temática: luta de classes;

– combate: pela sociedade nova (sem classes);

– resistência: ao fascismo.

A literatura neorrealista é denominada comprometida politicamente e de intervenção, no sentido de ser um «veículo para», estar «ao serviço de».

Fases do Neorrealismo:


1.ª fase (1940-50) - «A Poesia é só uma!»

Preferência pelo conteúdo em prejuízo da forma, não havendo, por isso, no princípio, grandes preocupações de índole estética.

2.ª fase (1950-60) - Poesia como «meio» autónomo de comunicação e de luta.

___________________________

(1) Realismo do séc. XIX: critica a vida e as preocupações da burguesia citadina (usura, adultério, educação, ambição, etc);

Novo Realismo da década de quarenta do século XX: interessa-lhe a classe social desfavorecida (conflito social, consciência de classe, decadência e corrupção dos estratos dominantes, etc).

2. Elabore uma exposição sobre o tema “o 25 de Abril de 1974 e a sociedade em mudança”, em que considere os seguintes aspetos:


  • Reconheça que com o 25 de Abril de 1974 houve uma evolução da sociedade portuguesa e identifique os fatores de mudança.


  • Refira a importância deste acontecimento para a consolidação da democracia na Europa e para a independência das ex-colónias.


  • Demonstre qual o papel da comunicação social na divulgação dos novos valores democráticos e a sua relação com o poder político.


  • Refira o nome e o contributo de personalidades ligadas à cultura (poesia, música, teatro...) que intervieram ativamente na luta pela instauração da democracia em Portugal.


  • Faça a interpretação de uma obra artística em que se verifique esse empenhamento sociopolítico.

Ligações externas



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Breve historia da censura literária em Portugal. Graça Almeida Rodrigues. Lisboa, Ministério da Educação e Ciência, Instituto de cultura e língua portuguesa, Coleção Biblioteca Breve, 1980.

1996

Atrocidades da Guerra Colonial. As fotografias censuradas”, Notícias Magazine nº 199, 17-03-1996. Suplemento de: Jornal de Notícias nº290/108, Diário de Notícias nº 460484 e Diário de Notícias (Madeira) nº 49569.

1998

Papel sociocultural e político do canto de intervenção na oposição ao Estado Novo (1960-1874), Eduardo M. Raposo. Universidade Nova de Lisboa, 1998.

1998

Percursos Africanos: A Guerra Colonial na Literatura Pós-25 de Abril”. Margarida Calafate Ribeiro. Portuguese Literary & Cultural Studies 1, 1998, pp. 125 -152.

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2000

No Plaino abandonado um Poeta Cercado: a guerra colonial na poesia de Fernando Assis Pacheco”. Margarida Calafate Ribeiro. Actas do VI do Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas, Rio de Janeiro, UFRJ/ UFF, 2000.

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2002

A Comunicação Social em Portugal no Século XX - Fragmentos para a História de um Servidor de dois Amos” in Panorama da Cultura Portuguesa, Francisco Rui Cádima, Coord: Fernando Pernes, Porto, Afrontamento, 2002.

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A memória literária da ditadura: autoridade, identidade, liberdade”, Clara Rocha. Ipotesi – Revista de Estudos Literários. Juiz de Fora: Programa de Pós- Graduação em Letras da UFJF, V. 7, n. 2, 2003, p. 29-39.

2003

Fantasmas e Fantasias Imperiais no Imaginário Português Contemporâneo. Margarida Calafate Ribeiro e Ana Paula Ferreira (orgs.) Porto, Campo das Letras, 2003.

2005-04-25

O canto e o cante, a alma do povo”, Eduardo Raposo. Este estudo faz parte da tese de mestrado publicada em 2ª edição, revista e aumentada, em 2005-04-25 (Público, Lisboa)

2005-07

Portugal sob a égide da ditadura: o rosto metamorfoseado das palavras. Paula Fernanda da Silva Morais. Universidade do Minho – Instituto de Letras e Ciências Humanas, julho de 2005.

2006

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O 25 de Abril na Literatura para Crianças e Jovens, Maria Augusta da Fonseca Pires Figueiredo. Lisboa, Universidade Aberta, 2006.

2007

A emergência das Mulheres repórteres nas décadas de 60 e 70, Isabel Ventura, Universidade Aberta, 2007.

2007

Poesia da guerra colonial – uma ontologia do ‘eu’ estilhaçado. Projeto do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, 2007-2009.

2008

Caminhos da memória. Redação: Artur Pinto, Diana Andringa, Helena Pato, Joana Lopes, João Tunes, Maria Manuela Cruzeiro, Miguel Cardina, Raimundo Narciso e Rui Bebiano, 2008-2010.

2008

“já não se fazem revoluções assim” ‑ A Imagem Documental na Construção da Memória do 25 de Abril de 1974, Manuel Alfredo da Silva Lourenço Brázio. Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, 2008.

2009

Culturas de protesto em Portugal na imprensa periódica (1968-1970). Paulo Rodrigues Ferreira. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2009.

2009

O Movimento dos Capitães, o MFA e o 25 de Abril: do marcelismo à queda do Estado Novo, Luís Pedro Melo de Carvalho, Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2009.

2010

A Poesia Musicada de Intervenção em Portugal (1960-1974): a sua aplicabilidade no Ensino Secundário, José Manuel Cardoso Belo. Vila Real, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 2010.

2010-08-20

Fado, Folclore e Canção de Protesto em Portugal: repolitização e (con)sentimento estético em contextos de ditadura e democracia”, Susana Sardo. Artigo resultante de uma conferência proferida na Universidade do Rio de Janeiro, em 2010-08-20.

2012

Arquivo eletrónico de textos do Centro de Documentação 25 de Abril.

2012

Sobre a escrita e a leitura: a sedução autorreferencial em Ora esguardae e A costa dos murmúrios”, Sílvio Renato Jorge. Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Palavra e imagem n.º 44, p. 381-391, 2012.

2012-04

O paraíso pode esperar: a geração sem memória em Olga Gonçalves”, Sandra Guerreiro Dias. Impossibilia nº3, abril de 2012, págs. 164-182.

2012-11

Versos e gritos: memória poética da guerra colonial”, Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi. Abril - Revista do Núcleo de Estudos de Literatura Portuguesa e Africana da UFF, Vol. 5, n° 9, novembro de 2012.

2013-07

Para um estudo da memória e identidade portuguesas com António Lobo Antunes, Jorge Manuel de Almeida Gomes da Costa. Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Letras - Centro Regional das Beiras, julho de 2013.

2013-09

A simbologia das palavras: os sentidos implícitos nas canções de Zeca Afonso e a revolução silenciosa”, Albano Viseu. In: Revista 3 do CEPHIS (Centro de Estudos e Promoção da Investigação Histórica e Social de Trás-os-Montes e Alto Douro), setembro de 2013. Coimbra, Terra Ocre edições/Palimage.

2014

Análise do filme Natal de 71de Margarida Cardoso”, Heloíse Inês Guesser. FCSH/UNL [2014-01-31]

2014-04

Revista Crítica de Ciências Sociais 68. Número temático: “As mulheres e a guerra colonial”:

África no feminino: As mulheres portuguesas e a Guerra Colonial”, Margarida Calafate Ribeiro

Amor em tempo de guerra: Guerra Colonial, a (in)comunicabilidade (im)possível”, Helena Neves

As mulheres e a Guerra Colonial: Um silêncio demasiado ruidoso”, Maria Manuela Cruzeiro

Até ao fim do mundo: Amor, rancor e guerra em Hélia Correia, Maria Manuel Lisboa

Dois depoimentos sobre a presença e a participação femininas na Guerra Colonial”, Margarida Calafate Ribeiro

Dois olhares e uma guerra”, Laura Cavalcante Padilha

Incoincidências de autoras: Fragmentos de um discurso não só amoroso na literatura da Guerra Colonial”, Roberto Vecchi

Re-escrevendo a História: A Costa dos Murmúrios de Lídia Jorge e L’Amour, la fantasia de Assia Djebar”, Ana de Medeiros


2014-04-01

"40 anos do 25 de Abril, 40 documentos", Arquivo Distrital do Porto.

2014-04-12

"25 de Abril. 40 anos" (volume 1), EXPRESSO REVISTA nº 2163.

2014-04-18

"25 de Abril. 40 anos" (volume 2), EXPRESSO REVISTA nº 2164.

2014-04-25

"25 de Abril. Quando a PIDE foi surpreendida", EXPRESSO REVISTA nº 2165.

2020-09-30

O canto alentejano: formas de resistência e horizontes de expetativa”, Dulce Simões. Revista Memória em Rede, Pelotas, v.13, n.24, Jan/Jul.2021 – ISSN- 2177-4129

LUSOFONIA - PLATAFORMA DE APOIO AO ESTUDO A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO

Projeto concebido por José Carreiro

1.ª edição: http://lusofonia.com.sapo.pt/literatura_portuguesa/literatura_engajada_PTsecXX.htm, 2011-12-08

2.ª edição: http://lusofonia.x10.mx/literatura_portuguesa/literatura_engajada_PTsecXX.htm, 2016

3.ª edição: https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/literatura-portuguesa/literatura_engajada_PTsecXX, 2021