Literatura Açoriana

PARA UM CONCEITO DE

LITERATURA AÇORIANA

A. M. B. Machado Pires (1984)

I — Comecemos por lembrar que a Literatura é simultaneamente documento cultural e expressão autónoma; participa, por um lado, da história cultural, do modo de sentir, reagir e pensar de cada época, nos quais influi e dos quais recebe influência, por outro lado, é uma criação autónoma, que vale por si própria, como entidade de palavras, sem ter de dar conta a uma realidade que lhe é «exterior». O que faz a essência da literatura é não haver nenhum ramo do conhecimento capaz de a abarcar totalmente, como objeto único e específico. Quando leio este ou aquele texto literário concreto, verifico então que naquele espaço de realização linguística, em diferentes graus e ângulos, pode caber a visão do historiador, do economista, do médico, do arquiteto, do biólogo, do sociólogo, do antropólogo, etc. Nenhum saber está excluído ao filólogo, entendido como aquele que analisa uma cultura e uma civilização na manifestação concreta de um texto. Nesse espaço linguístico em que se acumulam e cruzam várias experiências de um presente e de um passado individual e coletivo, estão diluídos todos os saberes humanos e também todas as experiências do homem comum.

É justamente essa plurivalência, essa incompetência absoluta de uma só disciplina para abarcar específica e totalmente a literatura que faz dela matéria tão controversa e tão aliciante. Nem mesmo a teoria literária, conjunto de especulações sobre o fenómeno literário e suas condições, nem a poética, reflexão sobre o engendramento literário, nem a estilística, análise da singularidade de uma dada obra, são de per si ou em conjunto capazes de um ato global de explicação científica da obra literária. Apenas criam conceitos, categorias de análise, linguagens de rigor absolutamente necessárias, instrumentos operacionais, enfim, mas incapazes, em última análise, de dispensar o crítico, o intérprete, o Homem, afinal. Tal como a Medicina não dispensa a intuição do médico, a crítica não dispensa também o ato biológico e mental de adesão ao texto e sua singularidade. O que existe, afinal, não é crítica, mas o crítico, não a ciência da literatura, mas as ciências que iluminam o crítico para melhor ver a obra.

II — Como literatura regional que é, i.é, referida a uma região com peculiaridades, a literatura açoriana não deixa, porém, de dever ter o direito à intemporalidade e à universalidade potenciais de todo o fenómeno literário. O que quer dizer que não basta que se escreva na região ou sobre a região para ser literatura. Aliás: quanto mais verdadeiramente regional mais universal, pois que a expressão de uma verdadeira singularidade é objeto da atenção universal. A existência de uma verdadeira insistimos literatura regional não é uma questão de quantidade mas uma questão de qualidade. Neste sentido não são açorianos os autores nascidos nos Açores ou que deles falam, mas todos aqueles que criam, transmitem ou apelam para uma peculiaridade açoriana, com qualidade literária.

A questão da universalidade do regional foi justamente posta por um açoriano, Vitorino Nemésio, em considerações sobre a obra de Paço de Arcos, em artigo do Diário Popular, «O problema do romance» (8-5-1946). Acha que Paço de Arcos se equivoca ao julgar que Aquilino, contista da Beira, é dificilmente universal porque «as serranias da Beira não interessam ao mundo». Ora não é assim, esclarece Nemésio (que nessa altura já publicara o Mau Tempo no Canal): «O problema da universalidade novelística não se põe em função da prévia notoriedade da matéria contada. A própria obscuridade dos meios e agentes de ação ficta pode servir de estímulo à atenção recetiva da leitura, dobrar o interesse da ação para que o leitor é convidado». E depois de salientar que, para superar a desvantagem da referência ao meio pequeno, «é necessário que o romancista, o novelista e contista imponham com talento ou génio os meios sem prestígio que escolheram e as gentes sem nome que adotaram», Nemésio insiste que «não há um a priori romanceável» e que o Malhadinhas pode ser, no seu carácter forte de pícaro serrano, justamente universal. «Serrania beirã em casa de leitor de Grenoble, que é montanhês alpino? Mas excelente!» Eis como pela força da própria ficção, este se desprende da sua base regional e se alça a símbolo humano universal...

Curioso será notar que juízo semelhante faz Vasco Pereira da Costa nos nossos dias, em artigo do Diário dos Açores, «Regional, Universal e um caso açoriano» (12-1-1984). É precisamente a propósito de Nemésio-Matesinho das Quatro Prisões Debaixo de Armas e de Aquilino-Malhadinhas, que acha comparáveis no seu aspeto de pícaros, que este contista açoriano radicado no continente tece considerações sobre o regional e o universal, partindo do princípio de que a geografia pode não ser obstáculo ao universalismo desde que se verifiquem as tais condições de força e exemplaridade. «É que as obras universais, regionalistas ou não — escreve — estão impregnadas de uma imperecível humanidade». Vasco Pereira da Costa dá, aliás, ao seu artigo, um começo polémico, ao distinguir provincianismos e provincianismos, ao escrever que um certo tipo de provincianismo, o negativo, leva «a escrever com um deslumbramento basbaque», «escrever na caprina crendice de que o mundo termina no adro da igreja e de que no centro desse adro passa o eixo da terra». É, pois, mais uma implicitação de que, em última análise, só a qualidade literária resolve a questão do universal e do regional. Vasco Costa refletia, afinal, sobre o problema açoriano.

É a adjetivação de açoriana que carece de ser analisada. Exploremos a semântica cultural de açoriana:

1 —RELATIVO À REGIÃO

Neste sentido amplo não se contém nem um conceito geográfico, nem político, nem «nacionalista». É apenas a adjetivação proposta ao fenómeno literário ligado aos Açores, à obra ou conjunto de obras ligados à Região pelo

1.1. Conteúdo

1.2. Naturalidade do autor

1.3. Sentido geral da obra

1.4. Produção editorial, atividade institucional, etc.

Neste sentido são literatura açoriana (corpus, produção literária lato sensu) a historiografia, Gaspar Frutuoso ou Drummond, o Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, o Corsário das Ilhas, o Mau Tempo no Canal, como My home is an island, o Monim dum Corisco, o livro bilingue francês-português Açoréènnes editado pela Universidade dos Açores, etc., etc. É literatura açoriana a que se produz dentro e fora dos Açores, qualquer que seja o género ou a língua, seja uma experiência em língua francesa, seja a experiência dos emigrantes expressa em português ou em inglês1. Não necessitamos de caracterizá-la; o que se ganha em extensão, perde-se, porém em compreensão, o que abrange genericamente é um corpus de interesse cultural e institucional não ou nem sempre essencialmente literário.

2 — DE AUTORES NASCIDOS NA REGIÃO

Por este ponto não se colhe nada de pertinente. Que há de açoriana na obra de Antero ou de Teófilo — tirando no caso de Antero difusas referências ao mar e um subconsciente sentimento de insularidade, sobre o qual fala Nemésio em «O Açoriano e os Açores» (em Sob os Signos de Agora, Coimbra, 1932)? O critério de nascença, só por si, nada tem de decisivo e pertinente. No entanto a maioria é nascida na Região, embora muitos dela se ausentem, e talvez por isso a ela mais apelem pela escrita como compensação.

3 — DE AUTORES NÃO NASCIDOS NA REGIÃO, MAS QUE DELA SE OCUPAM

Se contamos, de facto, com o fator envolvimento ou procura de peculiaridade, então temos de reconhecer o valor d’As Ilhas Desconhecidas de Raul Brandão, um continental nortenho que viaja aos Açores em 1924 e estuda a luminosidade, a cor e as gentes dos Açores. O livro, autêntica obra-prima, surgido em 1926, esteve longo tempo esgotado e só agora reaparece (ed. Perspectivas e Realidades, Lisboa, sd.).

Experiência curiosa é também a do professor francês André Siganos (leitor de francês na Universidade dos Açores de 1978 a 1981) com o livro de poemas Açoréènnes (caleidoscópio açoriano), ed. Bilingue — expressão francesa da açorianidade, a que fez seguir um segundo volume, Asíles (Açoréènnes II). Como se vê, a língua, veículo ou carnalidade verbal do poema, não tem nada que ver com a «nacionalidade» literária, antes lhe imprime nas conotações a própria «alma» da língua escolhida sem excluir o valor do referente.

4 — DE AUTORES AÇORIANOS QUE, ESTANDO FORA DOS AÇORES DELES SE OCUPAM SISTEMATICAMENTE, DE MODO DIRETO E INDIRETO

É o caso especial de Nemésio, ao qual teremos de voltar como caso paradigmático que é. É o caso de Cristóvão de Aguiar, cuja Raiz Comovida (I, II, III) é um mundo primordial de vivências e da fala da sua Ilha, em fios de histórias soltas que se unem na imagem de um povo com o qual se identifica. E com uma autenticidade e uma força que lembram Aquilino.

5 — DE AUTORES QUE, ESTANDO DENTRO DOS AÇORES, DELES SE OCUPAM NESSE OU NAQUELE SENTIDO PARTICULAR

É o caso paradigmático de Roberto de Mesquita, que consideramos um dos pilares da açorianidade literária, embora inserido na estética fim de século, nomeadamente no Simbolismo. A ele voltaremos também.

É também o caso de Dias de Melo, com as suas obras ligadas a todo um ciclo da baleia. Dias de Melo publicou em 1958 Mar Rubro e Pedras Negras e em 1976 Mar pela proa. O recente livro: Vida vivida em terras de baleeiros, Angra do Heroísmo, 1983, (à memória do Capitão Anselmo), é mais um documento deste ciclo e de uma literatura regional muito sectorizada. As marcas de oralidade e o estilo «torrencial» do autor dão forte peculiaridade à obra.

6 — DE AUTORES QUE VIVENDO DENTRO DOS AÇORES, SE PREOCUPAM COM A INSULARIDADE COMO «PRISÃO» — E POETIZAM A EVASÃO

(...) «o eterno e permanente carcereiro — o Mar», — segundo Manuel Ferreira, O Barco e o Sonho. Contos Açorianos, (1979). Ou «o barco na distância:/Olhos de fome a adivinhar-lhe, à proa,/Califórnias perdidas de abundância» — poema «Ilha», Pedro da Silveira, em A Ilha e o Mundo, Lisboa, 1952. Ou ainda o conto de Diogo Ivens, «Viagem Certa», in Viagem, 120, dezembro, 1949. Trata-se do tema da evasão de uma ilha que aprisiona, o desejo agónico e frustrado de emigrar («Um barco para a América — Partir»), até à última e inevitável viagem de todo o ser humano. Um notável documento da angústia insular, em que a expressão do partir é quase um refrão, com uma carga agónica enorme.

7 — A LITERATURA ORAL E TRADICIONAL QUE NOS REVELA?

Ao que parece, esta é apenas um repositório conservador da literatura tradicional, sem sensíveis alterações nem marcas locais. Importa, porém, estudá-la, constituindo-a como uma linha de investigação.

Mas a adjetivação açoriana, se não se basear fundamentalmente numa questão de conteúdo e peculiaridade, apenas obtém a sua força semântica do fator geográfico, do afastamento e condição de ilhas, ou de um empenhamento meramente político — o que nos parece pouco.

Acaso é menos peculiar o caso do Alentejo em Fialho, em Manuel da Fonseca, em José Cardoso Pires, Urbano Tavares Rodrigues, para só citar alguns? Ou de Aquilino para a Beira? Ou de Torga para Trás-os-Montes? E acaso se procura com tão grande empenho distinguir uma literatura alentejana, ou beiroa, ou transmontana? Não são estas marcas regionais, modalizações da sensibilidade no Homem e da Língua num todo expressivo linguístico-cultural?!

Será possível distinguir de todo apenas com um quadro de referências regionalistas? Em todas essas obras não se tem muitas vezes encontrado os falares, o léxico e os costumes? E dentro dos próprios Açores não há também falares tão diversos e modos de ser distinguíveis? No empenho linguístico localista, na «tentação foneticista» de Nemésio no Mau Tempo no Canal ou das Quatro Prisões Debaixo de Armas, ou de Cristóvão de Aguiar na Raiz Comovida?!

E no entanto, não é por estas razões que consideramos açoriana a obra destes últimos citados, mas por outras razões bem mais fundas... Fica, assim, deliberadamente complicado um problema sócio-literário, como complicado, diverso, proteico e imprevisível é todo o fenómeno literário.

Por isso, preferimos usar a expressão literatura de significação açoriana quando queremos acentuar a existência de uma literatura ligada à peculiaridade açoriana por acharmos demasiado genérica, ambígua e incaracterizante a designação de «açoriana»2.

III — Vejamos agora o que possa ser a açorianidade literária, para usar uma categoria de análise que Vitorino Nemésio criou — açorianidade, a partir de um decalque do termo hispanidad, do seu mestre Miguel de Unamuno. Usou-a Nemésio, como se sabe, em 1932, quando escreve

«(...) Um dia, se me puder fechar nas minhas quatro paredes da Terceira, sem obrigações para com o mundo e com a vida civil já cumprida, tentarei um ensaio sobre a minha açorianidade subjacente que o desterro afina e exacerba» (...), (Insula, n.° 7/8, julho/agosto 1932).

Um dia que não veio. Mas no «limite de idade» civil e no outro, adivinhado e próximo, brincando com as linguagens de rigor das ciências da natureza, Nemésio havia de disfarçar uma confissão final de homo viator da palavra que compra o silêncio e o respeito pela busca da «ilha perdida» — ilha mítica perdida no passado arquetípico da infância e sempre buscada, resgatada e sublimada pelo ofício da palavra.

[…]

«Compro o silêncio que se me deve

Por ter cumprido a palavra,

Trabalhado nas palavras,

E por elas merecido a terra leve.»

Poema «Requiescat» (in limite de idade)

(datado de 15-6-1971)

Nemésio é pois, acima de tudo um escritor-poeta, que «viaja» nas e pelas palavras, por dentro dos caminhos lúdicos, numa espécie de alquimia de conceitos e significantes, explorando ambiguidades, polivalências, restituições ao sentido etimológico, alusões, metáforas inesperadas. Mais do que um homem que viveu a Presença, a projeção de Fernando Pessoa, o Surrealismo, ele é o criador literário suficientemente independente para fazer da linguagem em si mesma um espaço lúdico no qual insere a sua «ilha ao longe», a sua «pedra de memória», os seus cais e mares simbólicos, que significam afinal a sua condição de ilhéu desprendida da carnalidade geológica da ilha concreta e alçada a Ilha (com maiúscula): uma ilha global, feita de sensações e reminiscência, vozes do passado e apelos do presente, de partidas e revisitas — um cais de partida para a grande aventura verbal de autoconhecimento de todo o Poeta.

É ainda a marca da insularidade assumida em vivências pessoais inconfessáveis que confere a originalidade ao Mau Tempo no Canal, romance de espaço e de tempo social, mas simultaneamente intemporal pela açorianidade de clima, cor e alma humana. Romance épico-telúrico que faz da natureza personagem e cúmplice, e do homem símbolo e tipologia. Do homem que fica e do homem que parte. De Roberto que regressa como de Margarida que parte, teorizando na amurada do navio sobre o amor à terra... como se Nemésio falasse dentro dela.

Só por este tipo de aprofundamento, o regional deixa de ser particularismo pitoresco e narcísico para ganhar universalidade, e assim valer a lei do «quanto mais regional mais universal».

Talvez não seja por acaso que foi o próprio Nemésio quem puxou do limbo da ignorância o poeta Roberto de Mesquita, ao dedicar-lhe um significativo estudo, «O Poeta e o isolamento: Roberto de Mesquita», na Revista de Portugal, n.° 6, Coimbra, janeiro 1939, depois inserido em Conhecimento de Poesia, Bahia, 1958, 2.a ed., Lisboa, Verbo, 1970. Nemésio que, no Corsário, tem um capítulo intitulado justamente «Isolamento: solidão de ilha» — como que a atestar a solidão característica de uma ilha que para o caso das Flores de Mesquita era ainda mais ilha e mais solidão. E, no entanto, os estudos de Nemésio, os de Marcelino Lima, Eduíno de Jesus, Pedro da Silveira, J. Prado Coelho e Tomás da Rosa provam o justificado interesse por esse poeta florentino que, a despeito do isolamento, soube aproveitar a influência de Antero, de Baudelaire, de Verlaine, de Eugénio de Castro, até de Cesário Verde (no poema «Fidalguia», que com fino recorte crítico Eduíno de Jesus revelou em estudo contido em Vértice, n.° 448 maio/junho 1982).

Não resta dúvida que essas Almas Cativas, vibrações pampsiquistas de uma alma das coisas intuída na Natureza-irmã ou no claustro de Santa Cruz, traziam mais que um exemplo da poesia simbolista num canto remoto do arquipélago: eram também a carta de alforria de uma sensibilidade e de uma estesia que impressionisticamente colhiam também, talvez pela primeira vez, a «açorianidade» — na «vibração suave das trindades», no «bilioso acordar das perspetivas/por esta macilenta e gélida alvorada» («Alvorada Saturniana»), a paisagem cinzenta e baça, «a tarde azul no lânguido torpor» (que lembra o azorean torpor definido no Mau Tempo no Canal anos mais tarde), enfim, uma garra especial de autêntico poeta que em poucos poemas capta uma atmosfera e documenta com personalidade uma estética. Para tal, como se vê, não foi preciso escrever muito nem teorizar uma temática pitoresca e regionalizante...

Com efeito, parece-nos que Roberto de Mesquita e Nemésio, porque poetas, de facto, porque intuindo uma atmosfera específica, são os dois grandes pilares da açorianidade literária, num processo literário descontínuo. Um, vivendo isolado numa ilha para a qual ir à Horta era quase ir ao Paris das redondezas..., o outro, embora longe, porque transportou na mente e no seu gigantesco écran verbal os elementos necessários para exprimir a insularidade. Como se vê, a literatura açoriana não tem, afinal, uma continuidade e uma relação social ou institucional com o meio, pode nascer dentro ou fora do arquipélago: contando que seja, antes de mais, literatura e não simples escrita relativa aos Açores...

A literatura dita açoriana é, porém, um fenómeno descontínuo, não resultado de um processo. Descontínua porquê? Porque não há uma evolução, uma linha histórica progressivamente afirmada: há fenómenos isolados, dentro ou fora do arquipélago, presos ou não a instituições, mais fruto do acaso de que um processo ou de um movimento global insular. Porque, enfim, como diz muito bem João de Melo no artigo «Há ou não uma literatura açoriana» (no volume n.° 448, Vértice, Maio/Junho 1982): «A situação geográfica do arquipélago açoriano é o primeiro grande fator de condicionamento da sua produção cultural» (pág. 242). Uma população distribuída desigualmente, fragmentada, com origens diversas e destinos diversos, contida numa unidade de arquipélago mas numa diversidade de ilhas, talvez, com certo exagero, não muito — Povo(s) açorianos, não Povo conceito etno-político que contém apenas uma entidade cultural ideal, não de facto. Assim ao longo de séculos se foram criando núcleos, focos culturais, mais ou menos acesos pela chama da moda e da imitação bem-intencionada da cultura literária importada do Continente. O que nada tem de deprimente, se atentarmos que esse fenómeno é o resultado de um desejo de atualização de uma região bastante esquecida da iniciativa oficial central.

Assim, como aliás fez o investigador Pedro de Oliveira, podemos dividir uma literatura que ele considera açoriana distinta da Continental e global portuguesa, em períodos e movimentos, com certa amplitude3:

1 — Neoclássicos.

2 — Simbolismo.

3 — Modernismo l Futurismo. (Luís Francisco Bicudo é o primeiro divulgador, a nível nacional, do Manifesto Futurista de Marinetti, no Diário dos Açores, 5-8-1909).

4 — «Página Glacial», do Jornal A União, de Angra do Heroísmo, tendo como principal responsável Carlos Faria (de 1968 a 1974). «Cultura não curricular», como lhe chamou Santos Barros. Determina toda uma geração nova: Álamo de Oliveira, Ivone Chinita, João de Melo, Santos Barros. Quase todos os mais novos de então publicaram naquele suplemento literário, aberto ao neorrealismo, ao concretismo, etc. O assunto carece de um estudo à parte, que, nomeadamente, tenha em conta o período que se vivia sociopoliticamente em Portugal naquelas datas.

Foram em grande parte as considerações de Nemésio sobre os Açores e a tipologia do povo açoriano em «O Açoriano e os Açores» (conferência, 1928, depois in Sob os Signos de Agora, 1932) e sobre a Açorianidade, que inventou (Insula, n.° 7/8, 1932), que fizeram despertar a consciência já latente de uma literatura e de uma cultura da peculiaridade açoriana. Nemésio, de resto, desenvolvia criativamente os fermentos de interesse e as chamadas de atenção de Raul Brandão com As Ilhas Desconhecidas (1926), de Leite de Vasconcelos (Mês de Sonho, 1925). Posteriormente de Hipólito Raposo (com o Descobrindo Ilhas Descobertas, Lisboa, 1942). Havia, pois, um movimento de interesse cultural e de divulgação dos Açores, que agora conhecia expressão através de escritos que lá fora iam ganhando projeção, enquanto cá, um homem de talento, trabalho e rigor, modestamente fechado na sua ilha e na sua própria modéstia, Luís da Silva Ribeiro, pegava no conceito nemesiano de açorianidade e com ele engendrava importantes considerações sobre o Homem açoriano e a sua circunstância (vejam-se os Subsídios para um Ensaio Sobre a Açorianidade, Angra do Heroísmo, 1964, com prefácio de João Afonso, também poeta, ensaísta e crítico).

Embora um tanto impressionisticamente, Luís Ribeiro tentou ligar literatura, modo de ser e cultura, sendo a sua obra valiosa sobretudo pelos materiais carreados e pela argúcia do seu espírito. Mas Luís Ribeiro é, mais uma vez, a prova provada do isolamento da cultura individualizada e até socialmente incompreendida, apenas com o notável vínculo institucional do criado Instituto Histórico da Ilha Terceira e do seu Boletim. A ideia mestra, porém, ficou.

Em 1944, sob o impulso do desejo poético de recuperação do mundo arquetípico insular e com um entusiasmo de dar às letras nacionais uma obra de ficção que falasse dos Açores, Nemésio publica o Mau Tempo no Canal, obra marcante na ficção nemesiana e na cultura açoriana. Eduíno Borges Garcia saúda nele «o grande passo para a literatura açoriana»; como uma espécie de hora que chegou, acrescentando que o regional se universaliza4. O que, afinal, acontecera era um livro de ficção sobre os Açores e impregnado da tal insularidade, mas publicado fora, no contexto das letras nacionais/continentais, sem verdadeira relação institucional, processual ou sociocultural com o meio açoriano. Aliás tê-lo-ia escrito Nemésio se vivesse ou tivesse vivido até 1944 nos Açores?! Não podemos saber, mas podemos perguntar... E perguntamos, também: quantos açorianos a leram, suportaram os seus difíceis pormenores geo-humanos e linguísticos, os difíceis parentescos das personagens? Que ilhas se reconhecem mais na obra? Assim, uma obra que serve de bandeira para muitos e espécie de epopeia para certos combates de prioridade literária, duvido que seja verdadeiramente compreendida e suficientemente lida nos próprios Açores... Reencarnado na estrutura de uma telenovela, talvez conseguisse maior público nestes tempos difíceis em que a televisão e o cinema obrigam a reequacionar a literatura em termos de ocupação lúdica.

E, no entanto, talvez não seja o Mau Tempo no Canal a maior expressão da açorianidade nemesiana em prosa... Lembremos que o Corsário das Ilhas ainda aguarda uma leitura crítica à altura e uma segunda edição revista por Nemésio já há longo tempo preparada só agora acaba de sair (Livraria Bertrand). Consideramos o Corsário indispensável para o conhecimento dos Açores e da sensibilidade nemesiana. O Corsário é, aliás, mais um diário íntimo que um livro de viagens, embora não pareça à primeira vista.

Mas um outro caso típico do escritor desligado do processo autor-meio, sobretudo em virtude deste, é o de Almeida Firmino. Este exemplo é o do escritor de origem continental «naturalizado» açoriano pela longa permanência (a açorianidade nunca ninguém deverá considerá-la exclusiva dos açorianos-natos, sob pena de ridículo chauvinismo...): é o autor à procura de editor e de leitor, verdadeiramente escritor no sentido de sobrepor a necessidade de escrever às agruras da realização editorial. Na Narcose (obra poética completa, ou seja, reunida sob aquele título genérico) se encontra outro testemunho de experiência literária, reunindo fios de experiências literárias diversas, que vão desde o neorrealismo ao concretismo, de Nemésio a Régio e inclusive alguns ressaibos do poeta das Almas Cativas. Um exemplo do que Nemésio patenteara na Varanda de Pilatos e Martins Garcia analisou como a «loucura insular» vem agora em versos como estes

«Falta-nos a terra,

Falta-nos o mar,

Falta-nos a voz

Com que protestar.

Sequestrados vamos

Adiando a viagem,

Nós, na ilha, ficamos

A ceifar coragem.»

(Poema intitulado «Nós, na ilha», obra citada, p. 39)

Sujeitos ambos, Firmino e Mesquita, «à prova do fogo da insularidade» — como escreve Álamo de Oliveira no Prefácio da edição de Narcose, da Secretaria Regional da Educação, Angra, 1982, p. 15.

À exceção de algumas reflexões teóricas feitas por Eduíno Borges Garcia (artigo citado, 1953), por Rui Galvão de Carvalho («Possibilidade de uma literatura de significação açoriana», Insula, XII, 1956), de alguns artigos de José Enes sobre Nemésio e sobre Rui Galvão de Carvalho na revista Atlântida e de Eduíno de Jesus em estudo crítico sobre a Obra Poética de António Moreno (1960), a discussão teórica sobre a literatura açoriana dá-se a partir do contexto sociopolítico após 25 de Abril. A carga inevitável de reivindicação e ideologia que impregnou o repensar de toda a vida portuguesa, continental e regional, levou a um equacionamento de valores, a petições de princípio, à preconceituação de questões que, afinal, são bem mais simples do que parecem, mesmo quando inseridas nas grandes problemáticas de fundo da Arte, do lado da criação como do lado da receção. É bom salientar que o fenómeno, embora não possa ser tratado com total «assepsia» ideológica, como diz João de Melo, também não pode ser sustentado por questiúnculas polémicas ideologizantes.

Repare-se como se deu um aumento de produção literária — lato sensu estes últimos anos. Em 1977 Pedro da Silveira faz surgir uma Antologia da Poesia Açoriana (Lisboa, Bertrand, 1977); João de Melo compila uma Antologia do Conto (Antologia panorâmica do Conto Açoriano, séculos XIX-XX, Lisboa, 1978), duas coletâneas que desempenharam papel importante na consciência de uma produção literária referida aos Açores, muito embora os dois compiladores estejam em oposição, o primeiro defendendo uma literatura açoriana desde sempre, numa região que supõe sempre colonizada, João de Melo contrariando aquela opinião no prefácio da sua antologia como num extenso artigo em Vértice, 448, maio/junho, 1982 (número inteiramente dedicado à literatura açoriana, quer com trabalhos críticos, quer com trabalhos de criação). Pelos anos de 1978, 79 e 80 se multiplicam artigos e ensaios de Santos Barros, João de Melo, Eduíno de Jesus, Cristóvão de Aguiar, João Gaspar Simões, etc. Basta consultar o citado artigo de João de Melo na Vértice para vermos a bibliografia específica a respeito.

Mas o cerne da questão continua a ser deslocado da essência do fenómeno literário para os seus «arredores» — isto é, a relação com o meio, a «fidelidade» ao referente, a reivindicação regionalista, descritivo-paisagística ou folclórica, a tipologia humana, etc.. Não são literários os textos que atiram as suas redes ao grande mar das peculiaridades e descritivismos, mas os que efetivamente o são: aqueles que não dependem do tema mas do modo, da essencialidade linguística em fusão com o tema. Porque na literatura de língua se trata: e assim, com mais ou menos «dialetismo», estamos perante um fenómeno de produção de escrita em língua portuguesa e da linguagem em geral como meio de arte e expressão.

E aí, excetuadas as obras que noutras línguas traduzem uma experiência de açorianidade, o que há a notar é o maior ou menor grau de envolvimento de uma escrita de língua e cultura portuguesa com as vivências insulares, a capacidade de relação escritor-meio, a intensidade do processo cultural (que não é muito grande, pois que boa parte dos escritores açorianos pelo tema escrevem lá fora...}; são estas algumas das variáveis que devem ser tidas em conta ao falar-se de literatura açoriana. O fenómeno literário não começa e acaba do ato da escrita ao papel da edição: continua no circuito do consumo, do leitor ao crítico, da recensão ao jornal, da literatura às artes, da singularidade em que nasce à coletividade que o reclama, divulga ou rejeita. Assim, enquanto ato de escrita, pode ser-se mais insular fora dos Açores e passar-se totalmente desconhecido da consciência cultural açoriana se não se for lido, amado, discutido nos próprios Açores. A questão da literatura açoriana não está necessariamente no facto de se saber se se deve chamar ou não açoriana: está na essência conferida pela qualidade literária, na procura consciente e voluntária pelos próprios açorianos, enquanto leitores, está na inserção no todo do fenómeno cultural do Arquipélago. Se os Açores fossem independentes, a adjetivação de açoriana teria de ser uma adjetivação de nacionalidade, ainda não necessariamente de qualidade.

Cremos que se deve fazer apelo a boas antologias.

Quando se pretende fazer uma antologia, jamais se deve cair na fácil tentação de confundir antologia — etimologicamente «escolha», conjunto de «flores» — com Corpus, conjunto (indiscriminado) de textos, mediante cujo conceito é possível reunir escritas perfeitamente datáveis e efémeras com outras que alcançam intemporalidade dentro da sua própria temporalidade. A escrita literária, como todo o ato de cultura, é essencialmente seletivo e operante: depura-se, desliga-se do efémero, desprende-se da própria intencionalidade do autor, em que a verdadeira escrita é mais instinto que intenção. Os Açores precisam de boas antologias históricas e literárias que lhe conquistam um grau de universalidade e de divulgação que toda a cultura exige. A sua riqueza histórica e documental humana, como fenómeno global, assim o exige; a nossa condição insular e a nossa reforçada esperança assim o merecem. Mas um processo cultural não se faz só de empenho e de apologética: faz-se do esforço, paciência e de amálgama de circunstâncias que nenhum historiador pode prever. Já temos património suficiente para enriquecer a língua portuguesa, o país e a Região, na sua especialidade: menos em quantidade do que se julga, mas bem mais em profundidade para quem saiba ver...

A Secretaria Regional da Educação e Cultura tem contribuído muito positivamente com a coleção Gaivota para a divulgação de autores e textos: ensaio, poesia, ficção — numa série que nos permitimos porém sugerir que obedeça a um critério de géneros e admita, por exemplo, uma subdivisão. Por outro lado, parece-nos altamente desejável a organização de boas antologias, capazes de servir o ensino em Portugal ou no estrangeiro.

O Centro de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade de Brown ofereceu, a partir de 1977-78, uma cadeira de «Azorean literature», que tem sido desde então, sem interrupções, cremos, da responsabilidade do professor e também escritor e ensaísta Onésimo Teotónio de Almeida, com recentes pontuais intervenções de Martins Garcia, também professor e escritor, crítico e ensaísta com notória obra sobre Nemésio.

Na cadeira de Onésimo, o conceito de literatura está mais tomado como corpus («conjunto de escritos» — justifica Onésimo), procurando assim alargar a cadeira em história cultural dos Açores e conhecimento do homem açoriano, contribuindo, por um lado muito positivamente, para divulgação dos Açores, mas por outro «alargando» a literatura dos «arredores» em que ela se perde na interdisciplinaridade e na abordagem não específica de vários ramos do conhecimento. De resto, Onésimo publica A Profile of lhe Azorean (Brown University, sd), com intuito de divulgar um conhecimento do homem açoriano: «(...) in áreas where azorean immigrants are concentrated there exists a real need for a greater degree of understanding of certain aspects of Azorean life and culture.» (p. 115).

Igualmente da responsabilidade de Onésimo é uma antologia bilingue The sea within. A Selection of Azorean Poems (seleção, introdução e notas de Onésimo, traduções de George Monteiro), Gávea Brown, 1983. Mais de uma vintena de autores de poemas, que são assim postos perante os problemas da tradução, Álamo de Oliveira, Antero de Quental, Armando Cortes Rodrigues, Borges Martins, Cristóvão de Aguiar, Carlos Faria, Eduíno Jesus, Emanuel Félix, Emanuel Botelho, José Enes, João Afonso, João de Melo, Martins Garcia, Marcolino Candeias, Pedro da Silveira, Roberto Mesquita, Santos Barros, Urbano Bettencourt, Vasco Pereira da Costa, Vitorino Nemésio. Notamos nesta antologia mais uma preocupação estética e representativa da literatura feita por açorianos que uma preocupação documental e regionalista — o que nos parece caminho certo, por muito discutível, (e todas as antologias o são!...) que seja a escolha, que não levou, como se pode ver, a um livro muito volumoso. Onésimo prestou um bom seviço aos Açores e à literatura em geral.

Este parece-nos ser, pois, um caminho para a busca de uma literatura açoriana em sentido lato, enquadrando a açorianidade nas exigências de qualidade literária e nas peculiaridades de sensibilidade perante o referente. Em todo o caso, a «açorianidade literária [fica] integrada na literatura portuguesa», como escreve J. H. Santos Barros5, que acrescenta também que literatura açoriana pode ser uma expressão aceite ou consagrada pela tradição — mas não a usa com conotação separatista ou chauvinista (sic). Isto é — usa a expressão literatura açoriana sem preconceito (como diz Álamo de Oliveira no citado prefácio a Narcose de Almeida Firmino).

Será curioso lembrar como Fernando Cristóvão, em ensaio intitulado A Literatura como sistema nacional (Rennes, 1980), discute vários critérios que têm servido para fundamentar nacionalidade literária: o critério linguístico, o critério temático-estilístico, o critério jurídico-político, o critério histórico-geográfico, concluindo pela insuficiência de todos eles, e contrapondo a exigência da literatura como sistema comunicativo Aos três elementos da comunicação linguística — emissor, mensagem, recetor faz corresponder respetivamente: autores e instituições a que se liguem/ obras e seu contexto de editoras, livrarias e bibliotecas / leitores ou público, em cujo contexto caem hão só os leitores comuns, mas os críticos, os professores, os investigadores. Este todo é necessário para criar uma «consciência coletiva de integração», «um património reconhecido como próprio», (p. 373). É também de referir que Fernando Cristóvão exige, para além dos «aspetos documentais ou de reflexo», a literariedade ou função poética ou seja, a qualidade literária de que temos vindo a falar. Há, pois, afirma ainda, dois problemas distintos a ter em conta; «o da qualidade literária (...) e o da sua pertença a uma estrutura e corpus de âmbito nacional», (p. 364).

IV — Conclusão. O que confere estatuto a uma literatura é, repetimos, o ser literatura, o atingir, pelo elo indissociável conteúdo/expressão, espécie de corpo e alma, um valor simultaneamente histórico-documental e estético. Estético pela dupla realização de um todo de conteúdo/linguagem, histórico-documental por ser ipso facto um documento de época, geração e gosto. Isto é, pois, fazer convergir História, Sociedade, Arte e Linguagem, num processo global consciencializado.

Só assim o regional se universaliza, sem deixar de ser regional, desprendendo-se do preconceito. Alguém disse, a propósito de Cecília Meireles: «a primeira condição para um poeta ser brasileiro é ser poeta e não rimador de palavras indígenas»6.

Da literatura, como dos poetas, se poderá dizer: nascitur, non fit, nasce, não se fabrica. É certo que, como qualquer fenómeno cultural, estimula-se, condiciona-se, protege-se, promove-se. Mas a real condição da literatura é a de nascer e viver com as vicissitudes de um Povo, é a de conquistar a intemporalidade por vias e razões que nem sempre a razão explica. Para além da vontade política ou da proteção institucional, embora sem as excluir, está a força imprevisível da liberdade criadora. O fenómeno literário estuda-se a posteriori, não se predetermina: depura-se com o tempo, segue a rota do destino de uma cultura, um pouco como a «Bouteille à Ia mer» de Alfred Vigny.

Ponta Delgada, Agosto, 1984.

antónio manuel bettencourt machado pires

“Para Um Conceito de Literatura Açoriana”

in Raúl Brandão e Vitorino Nemésio: Ensaios.

Coleção: Temas Portugueses

Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1987

(Data da Impressão: fevereiro de 1988) pp.53-70

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Notas:

1 Esta não muito abundante, pelo menos a conhecida, como se demonstra em Eduardo Mayone Dias, A Literatura Emigrante Portuguesa na Califórnia, separata da revista Arquipélago, número especial, 1983.

2 Por curiosidade histórica: a 1.ª vez que apareceu a designação «Literatura Açoriana» — em 12 de maio 1852, Revista dos Açores, n.º 72, Ponta Delgada, mas sem intenção caracterizadora, apenas inventariante.

3 Prefácio a Antologia da Poesia Açoriana, Lisboa, Bertrand, 1977.

4 Eduíno Borges Garcia, «Por uma autêntica literatura açoriana», separata do Jornal A Ilha, Ponta Delgada, 1953.

5 Lavrador de Ilhas – I, Coleção Gaivota, n.º 74, 1981, pp. 19-20.

6 Cassiano Ricardo, in Ocidente, volume VII, 1939.


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Projeto concebido por José Carreiro.

1.ª edição: http://lusofonia.com.sapo.pt/acores/acorianidade_pires_1984.htm, 2008.

2.ª edição: http://lusofonia.x10.mx/acores/acorianidade_pires_1984.htm, 2016.

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