A fuga dos Neutrinos... e como "resolvemos" esse problema?


Histórico


A história dos neutrinos está intimamente ligada à resolução de anomalias em medições. Começou com a sua proposição, na década de 1930, por Wolfgang Pauli, como uma tentativa desesperada para salvar a conservação da energia e do momento angular no decaimento beta. Passou pela descoberta de sua massa e da oscilação entre os três sabores como solução para o Problema dos Neutrinos Solares, uma discrepância entre o fluxo de neutrinos solares previsto teoricamente a partir da luminosidade solar e o medido experimentalmente. Até que em meados da década de 2010, anomalias observadas no espectro de antineutrinos emitidos por reatores nucleares fomentaram a hipótese da existência de sabores adicionais de neutrinos, os famigerados neutrinos estéreis. 


A anomalia dos antineutrinos de reatores corresponde a um déficit de cerca de 6% na taxa de detecção de antineutrinos, quando comparadas com as previsões teóricas. O desaparecimento de antineutrinos como uma função da distância percorrida a partir do reator corresponde à fenomenologia esperada do mecanismo de oscilação. Em particular, a oscilação para um novo sabor de neutrino poderia explicar essa discrepância. Contudo, devido aos vínculos impostos pelo setor eletrofraco do modelo padrão, tais neutrinos não poderiam interagir através da interação fraca. Além disso, para serem compatíveis com os dados de neutrinos já coletados, sua massa deveria ser da ordem de 1 eV, cerca de 500 vezes menor do que a massa do elétron. Rendendo-lhes, pois, o nome de neutrinos estéreis.


O Experimento


O experimento STEREO (Search for Sterile Reactor Neutrino Oscillations, algo como busca por oscilações estéreis de neutrinos em reatores) foi desenvolvido para investigar a possível oscilação de neutrinos advindos de um reator nuclear em neutrinos estéreis leves, através da medição do espectro energético dos antineutrinos produzidos pelo decaimento beta no processo da fissão do Urânio-235. O fluxo de antineutrinos resultante é simultaneamente intenso e com um sabor bem determinado, permitindo, pois, a determinação de suas propriedades com precisão. Não à toa, reatores nucleares têm assumido um papel central no entendimento dessas elusivas partículas, contribuindo, como uma alternativa a bombas atômicas, para o seu descobrimento em 1956. 


O detector do STEREO está instalado a 10 metros do reator de pesquisa do Instituto Laue-Langevin (ILL), em Grenoble, na França, que tem uma potência térmica de 58MW. Para detectar os antineutrinos produzidos pelo reator, o detector foi preenchido com 1800 litros de um cintilador orgânico dopado com gadolínio. O cintilador captura os antineutrinos através do decaimento beta inverso, ou seja,