Reflexos da pandemia no mercado de trabalho latino- americano 

Autora: Clécia Dantas

15 dez. 2021.

Foto:  Mercado de rua na cidade do México.

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 A pandemia do coronavirus acentuou um processo que já vinha ocorrendo com  grande intensidade: desemprego e precarização do trabalho. Homens e mulheres no mundo todo sofrem os impactos da crise econômica e a América Latina, com suas fragilidades históricas e com sua instabilidade habitual, foi a região mais afetada do planeta em termos laborais.  Foram cerca 26 milhões de empregos perdidos em todo o território latino só no ano de 2020, a taxa de desemprego na região chegou a 10,5% - a maior desde 2002 que foi de 8,8%.

Os índices de desemprego variam conforme os países. Costa Rica (19,6%), Colômbia (15,1%), Bolívia (8,3%), Equador (5,9%) e Peru (7,6%) foram os que tiveram maior aumento na taxa de desemprego de 2019 para 2020, um aumento de mais de 4 pontos percentuais. Em outros países, nesse mesmo período, também houve o aumento desse índice, mas não ocorreu de maneira menos acentuada, são eles: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Porém, cabe lembrar que o desemprego na região ja vinha aumentando desde 2015. Por outro lado, a Nicaragua chama a atenção por ter revertido sua taxa de desemprego feminino, que até 2019 tinha um percentual de 5,5%, em 2020 alcançou a marca 4,7%.

Com relação ao emprego feminino, a situação tem suas especificidades. A pandemia demandou mais trabalhos ligados ao ‘cuidado’, com doentes na família, crianças em casa, etc. Este contexto, associado ao aumento desenfreado do desemprego diminui a participação das mulheres no trabalho remunerado, interrompendo o avanço contínuo na região da participação das mulheres no mercado de trabalho. Dos 20 países levantados pela Cepal, 14 apresentavam este crescimento até o ano de 2019, o último antes da pandemia do covid-19,

O gráfico a seguir compara a participação masculina feminina e masculina no mercado de trabalho nos anos de 2019 e 2020 em 14 países da América Latina. As duas primeiras barras do gráfico referem-se ao ano de 2019 e as duas ultimas ao ano de 2020, na sequência mulher e homem respectivamente. Chama a atenção no gráfico que em todos os países há uma diminuição generalizada da participação no mercado de trabalho.

De acordo com o gráfico, um dos países que mais sofreu com a perda de postos de trabalho foi o Peru, tanto para homens quanto para mulheres. Estas, tiveram uma uma queda de 64 para 36% da participação no mercado de trabalho entre 2019 e 2020, a maior entre os países da América Latina.

O México, por sua vez, também tem dados muito ruins, sendo o país com a menor participação das mulheres no mercado de trabalho, o que se intensificou com a pandemia. Para os homens, este impacto foi profundo, com um declínio de 77 para 61% durante o período.

O desemprego e a informalidade trabalhista no território latino já eram uma preocupação para a OIT desde 2018,  agora em 2021 a estimativa é de que 70% dos empregos recuperados sejam dentro do trabalho informal, em 2019 a taxa já estava alta alcançando aproximadamente 56,4%.

Menos da metade das mulheres na América Latina encontram-se em um emprego formal nestes dois anos de pandemia. Uma parte das evoluções que estavam em curso para as mulheres latino-americanas no mercado de trabalho se perdeu, tendo que sair do trabalho remunerado ou recorrer ao mercado informal que as deixam numa situação de vulnerabilidade, sem garantias laborais e sem estabilidade financeira.

Chama a atenção que diante do cenário desastroso para trabalhadores e trabalhadoras na América Latina, inclusive com o retorno da fome para a região, não se tem perspectivas de mudanças ou solução. Organizações internacionais, como a  OIT, anunciam preocupação, mas sem atuação concreta. O futuro do trabalho na região apresenta-se como uma conjuntura de difícil solução  diante da crise econômica e das disputas geopolíticas e imperialistas.