28J: doze anos do golpe em Honduras e a inauguração  do golpismo pós-crise de 2008 na América Latina


Autora: Natália Salan Marpica 

28 jun. 2021

Daniel Ortega, Hugo Chavez, Manuel Zelaya e Martin Torrijos na comemoração da revolução sandinista, em 2007, na Nicarágua


O dia 28 de junho de 2009 é um marco político para a história de Honduras, e também para a América Latina, pois inaugurou um novo ciclo de golpes de Estado, perpetrados com o apoio dos Estados Unidos, nos países com governos de esquerda da região. Na data em questão, militares entraram na casa do presidente hondurenho Manuel Zelaya e o forçaram a sair do país. Desde então, entre ataques violentos e fraudes eleitorais, os golpistas nunca mais saíram do poder.

Zelaya é um dos raros casos de políticos de direita que se deslocaram para a esquerda durante o exercício de seu mandato. Após se aproximar de Hugo Chaves e Daniel Ortega, aderir ao Petrocaribe e a Alba, promover medidas de distribuição de renda, o então líder hondurenho foi retirado do poder. Atualmente, o ex-presidente integra o Partido Libre, fundado em 2011 como um frente de esquerda contra o golpe de Estado de 2009.

Doze anos após o golpe, o país está mais pobre, mais endividada e mais dependente. A imensa quantidade de pessoas que se desloca a pé saindo do país rumo aos Estados Unidos, no que ficou conhecido como “caravanas migrantes”, denuncia a deterioração social produzida pelo golpe de Estado

Juan Orlando Hernandez, o atual presidente de Honduras, foi eleito em 2014 e reeleito em 2018, pelo partido nacional hondurenho (o mesmo que assumiu em 2010 após o golpe, quando Porfirio Lobo tornou-se presidente), sob inúmeras denunciais de fraude, até mesmo por parte da OEA. Envolvido em escândalos ligados ao de trafico de drogas, seu irmão, Tony Hernandez, foi recentemente condenado à prisão perpetua nos Estados Unidos, somando Honduras aos outros países controlados por narco-políticos.

Honduras recentemente mudou sua embaixada em Israel para Jerusalém, aludindo que agora opera de acordo com interesses imperialistas. Cabe lembrar que a própria Hillary Clinton, secretaria de Estado do governo Obama, assumiu o papel dos Estados Unidos na organização do golpe, em seu livro ‘Hard Choices’, afirmou: Elaboramos a estratégia de um plano para restaurar a ordem em Honduras e garantir que eleições livres e justas pudessem ser realizadas de forma rápida e legítima, o que tornaria a questão de Zelaya discutível.”.

A partir do evento que ocorreu em Honduras, outros países da região foram, um a um, vendo os governos de esquerda saírem de forma polêmica, mostrando a tendência continental dos golpes. Diferentes estratégias têm sido usadas para um mesmo desfecho: promover governos de direita submissos aos Estados Unidos (seja com Trump, Obama ou Biden), perseguições judiciais, avanços militares e, cada vez mais, o uso de mercenários, com o intuito de consolidar as mudanças políticas. A data de 28 de junho é, portanto, o aniversário da guinada política na América Latina pós-crise de 2008.

 

Para saber mais:


Livro de Zelaya sobre o golpe: El Golpe 28J - José Manuel Zelaya Rosales https://www.scribd.com/document/439790853/El-Golpe-28J-Jose-Manuel-Zelaya-Rosales-pdf


Entrevista de Zelaya ao Diário da Causa Operária: https://www.youtube.com/watch?v=cZ33FidU0_E&t=2106s


Reportagem sobre o golpe hondurenho e suas consequências: https://thetricontinental.org/pt-pt/dossie-39-honduras/


Artigos sobre o golpe: http://centroderecursos.alboan.org/ebooks/0000/1331/4-MUN-HON.pdf