A constante crise política no Peru


Autora: Juliana Ribeiro

04 novembro 2021

TOPSHOT - Apoiadores do professor esquerdista Pedro Castillo comemoram no centro de Lima a proclamação oficial dele como presidente eleito do Peru em 19 de julho de 2021. - Pedro Castillo foi proclamado presidente eleito do Peru seis semanas após uma votação polarizadora cujos resultados foram atrasados ​​por alegações de fraude eleitoral de seu rival de direita, Keiko Fujimori. (Foto de Janine Costa / AFP) (Foto de JANINE COSTA / AFP via Getty Images).

Nos últimos anos o Peru vem passando por uma crise jamais vista na história do país, com fechamento de congresso, impeachment e prisão de vários presidentes, confrontos entre os órgãos Executivos e Legislativos, renúncia de juízes e magistrados do Supremo Tribunal, e até mesmo o suicídio do ex-presidente Alan García quando descobriu que iria ser preso. As eleições de 2021, com a nomeação de Pedro Castillo parece não ter acalmado os ânimos e a instabilidade política permanece.

Contextualizando um pouco, em 30 de setembro de 2019, o ex-presidente Martin Vizcarra, dissolveu o Congresso do país utilizando o artigo 134 da própria Constituição, e com isso os mandatos dos parlamentares foram suspensos até uma nova eleição legislativa, marcada para janeiro de 2020. Os parlamentares eleitos em 2020 só tiveram o mandato de um ano e não puderam se candidatar em 2021. Algumas horas depois do presidente suspender o parlamento, o mesmo (já suspenso) determinou a suspensão do presidente, concedendo a posse à sua vice, e, durante um dia, o Peru ficou com dois presidentes, porém no dia seguinte a vice, Mercedez Araóz, renunciou ao cargo pedindo que uma nova eleição fosse feita.

Assim como no Brasil, foi criada uma Operação Lava Jato, tentando associar a empresa brasileira Odebrecht com corrupção de políticos. e dentre eles, estavam os nomes dos 4 últimos presidentes do Peru, além da líder do principal partido do país. Vale lembrar que, o sistema político no Peru funciona diferente do sistema Brasileiro, enquanto os mandatos presidenciais aqui são de 4 anos, lá totalizam 5 anos, sem possibilidade de reeleição imediata. A figura do Presidente da República é fundamental para o governo peruano, então, o fato de todos os presidentes peruanos eleitos no século XXI estarem presos ou sendo investigados demonstram o esforço de diferentes setores, nacionais e internacionais, de gerar instabilidade politica no país.

Todo esse cenário político desfavorável levou ao ex-presidente Martín Vizcarra a substituir 11 de seus 18 ministros em 2020 e sofreu impeachment em novembro de 2020, por denuncias de corrupção. Com sua destituição, o presidente do parlamento Manuel Merino assumiu a presidência da republica, mas por apenas 5 dias. Merino renunciou com a forte mobilização popular acusando-o de golpe. Rafael Sagasti foi eleito, então, como presidente interino pelo parlamento, ficando no cargo até as eleições de 2021. Assim, em uma semana, o Peru teve três presidentes.

Em julho de 2021, Pedro Castillo, ligado ao partido Peru Livre, obteve uma vitória presidencial surpreendente nas eleições. Considerado um candidato de  uma esquerda minoritária, pouco conhecido, foi eleito com apoio popular. Porém, apenas 69 dias após assumir o cargo, forçou a renúncia de seu primeiro ministro, Guido Bellido, braço-direito de Vladimir Cerrón, líder da coalizão que levou Castillo à presidência e, além disso, substituiu 6 de seus 19 ministros, optando por um quadro de ministros mais direitista.

Essa tática foi considerada uma traição e os líderes do partido do presidente decidiram romper as ligações com o governo. Cerrón afirmou que o partido não daria um voto de confiança ao Gabinete, o qual passou a ser dirigido por partidos políticos ligados a ONGs americanas, denunciando o papel do imperialismo na instabilidade do Peru.



Para saber mais:  


El comércio - Vladimir Cerrón: “Nuestro cálculo era pasar la valla, no planificamos un triunfo presidencial”: https://elcomercio.pe/politica/actualidad/vladimir-cerron-nuestro-calculo-era-pasar-la-valla-no-planificamos-un-triunfo-presidencial-nndc-noticia/