A derrota dos Estados Unidos no Afeganistão e a América Latina 


Autora: Natalia Salan Marpica

03 setembro 2021

Visita do Conselheiro de Segurança Nacional  dos EUA Jake Sullivan ao Brasil

https://br.usembassy.gov/pt/visita-do-conselheiro-de-seguranca-nacional-jake-sullivan-ao-brasil/ 

A derrota dos Estados Unidos no Afeganistão animou os povos oprimidos pelo imperialismo ao redor do mundo. O Hamas, partido guerrilheiro da palestina, não tardou em parabenizar Mullah Abdul Ghani Baradar, que responde pelo Talibã e afirmou que a derrocada estado-unidense é "um prelúdio para o fim de todas as forças de ocupação, a principal das quais é a ocupação israelense da Palestina”.

Até mesmo os jornais internacionais que representam os interesses dos países ricos não contiveram críticas pela humilhação imposta pelos atrasados afegãos à superpotência, deixando exposta a fragilidade do sistema.

Na América Latina, sabe-se que o enfraquecimento dos Estados Unidos tem sempre um gostinho bom para os que defendem a soberania nacional e gera calafrios nos capachos do imperialismo.

Nicolas Maduro foi, como sempre, o mais entusiasmado: 

“A política intervencionista e belicista do império no mundo fracassou, é o que ficou evidente. Os Estados Unidos se retiram do Afeganistão, 20 anos após a ocupação militar, deixando um país em guerra civil. É terrível! O que eles queriam com a Venezuela." 

Enquanto o golpista Juan Guaidó, produto artificial do imperialismo americano na Venezuela, está com medo: "As imagens do que está acontecendo no Afeganistão têm sido devastadoras: medo, desespero e os direitos fundamentais novamente em risco. Elevamos nossa voz em respeito às liberdades mais básicas que temos como seres humanos e que devemos sempre defender."

Embora Bolsonaro seja alinhado e até bata continência para a bandeira norte-americana, sua postura tem sido reservada. O Itamaraty soltou uma nota oficial protocolar e até o momento o Brasil não aderiu ao movimento de receber refugiados afegãos, apesar da pressão. A aproximação com Trump, que estava conduzindo a retirada das tropas do Afeganistão de forma mais eficiente, deve ter deixado Bolsonaro confuso: o enfraquecimento de Biden é positivo para Trump, mas o enfraquecimento dos Estados Unidos é ruim para Bolsonaro, que depende do suporte imperialista. 

Lula desde 2001 se declarava contrario aos ataques americanos ao Afeganistão. Apesar disso, e de sempre ter apoiado Julian Assange, preso por ter exposto os crimes de guerra do exercito americano no Afeganistão, não fez declarações relevantes. Brincou com Bolsonaro e Talibã se unirem no isolamento

Diaz Canel, de Cuba, lembrou que Fidel alertou que esta guerra duraria 20 anos no caso da população afegã tentar reagir de forma inteligente. Fidel, e o povo cubano, sabia que seria possível derrotar o imperialismo decadente dos Estados Unidos. A incrível resistência da pequena ilha caribenha ao ataque imperialista nestes 60 anos e a vitória de um país extremamente subdesenvolvido, como o Afeganistão, podem ser símbolo de esperança para aqueles que buscam soberania ao próprio país. Entretanto, não se fez declarações mais enfáticas.

Colômbia, México, Costa Rica e Chile aceitaram receber refugiados afegãos, que em geral foram os colaboracionistas com o governo americano. Alberto Fernandez pouco falou e, nas decisões oficiais, acompanhou os Estados Unidos. Pinera mostrou mais apoio, recebendo refugiados, mas suas falas também são bastante moderadas, considerando seu alinhamento e posicionamento de extrema direita: "Una lección de Afganistán es que cuidemos nuestras instituciones democráticas”, declarou.

Cabe destacar que na América Latina, ao longo destes 20 anos de guerra, somente El Salvador fazia parte da coalizão de apoio aos Estados Unidos. Nem mesmo Colômbia ou Republica Dominicana, que apoiaram a guerra do Iraque, se aliaram contra o Afeganistão.

Não nos esqueçamos que semanas antes da caótica retirada americana do Afeganistão (16/08) , o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan esteve no Brasil, com Bolsonaro (05/08), e na Argentina, com Alberto Fernandez (06/08). Sullivan está sendo apontado como um dos principais responsáveis pelo fracasso, mas sua vinda neste período tão conturbado sugere expectativas para América do Sul neste cenário.

A falta de ousadia e de discursos enfáticos das lideranças, tanto de esquerda como de direita, sobre a humilhação dos Estados Unidos mostra que o continente está tímido e inseguro em se posicionar. Não acompanharam os Estados Unidos de maneira entusiasmada e tampouco comemoram festivamente sua derrota. Ao que parece, há neste momento, dificuldades para os latino-americanos enxergarem a situação com clareza e agirem com solidez para aproveitar o momento de crise do sistema.


Para saber mais:


De Afganistán a la Argentina: ¿afectará el fracaso de EE.UU. a América Latina?


O ex-chanceler Celso Amorim comenta o Caos no Afeganistão:  https://www.youtube.com/watch?v=626EWMKfRxE